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Estocolomo entre o céu e o mar

Escrito por  Ana Bernardo


A arquitetura beija intensamente a natureza. Comovida, a água circundante contempla o par apaixonado numa harmonia sem fim. Assim é Estocolmo. Uma fusão genial de paisagem e urbanismo. De antigo e moderno. Um hino à beleza.

“Vigiada” por um arquipélago de 24 000 ilhas, a capital da Suécia revela todo o seu esplendor contemplada da água. A bordo de um dos muitos barcos da cidade, “navego” até ao século XIII. A sua data de origem. Fascinada, deixo-me abraçar pelos magníficos edifícios que me seguem o olhar. O Palácio Real (Kungliga Slottet), por exemplo. Considerado o maior palácio real do mundo, encerra  locais fascinantes como o Tesouro Real e diversos museus. Imponente e bela, a fachada de influência italiana acena-me da outra margem. Assim como o Museu Nacional. Com coleções extraordinárias de pintura sueca dos séculos XVII e XVIII, entre outros tesouros, é o mais importante museu de arte do país. E o “Skansen”. Primeiro museu ao ar livre do mundo (inaugurado em 1891), alberga mais de 150 casas tradicionais e outros exemplos da cultura nacional. Um local idílico para miúdos e graúdos.

O barco prossegue a sua dança sedutora. Inebriada pela magia que se sente no ar, sigo o ritmo frenético do canal. Cheira à frescura do verão. Ao mês de Julho. E ao meu gelado de amoras do norte. Ao longe, escuto gargalhadas e acordes de guitarras. Diversos jovens nadam nas praias arenosas. Com cerca de 20 graus, a água dos canais é perfeita para um mergulho.

Entre raios luminosos, uma praça desponta no pano azul do céu. Stortoget. A”praça grande”. Situada no coração da cidade velha, aloja a fascinante Bolsa. A sua construção, aprovada em 1887, foi atrasada 100 anos devido às múltiplas guerras. Desde 2001 que o Museu do Prémio Nobel faz desta a sua casa. Enquanto contemplo o piso superior – onde a Academia Sueca realiza as suas reuniões desde 1786 – um outro edifício ancora na minha memória. A Câmara. Inaugurada em 1923, é o símbolo de Estocolmo e palco das cerimónias anuais do Prémio Nobel. Na sala azul. E na sala dourada, com as suas mais de 17 milhões de peças de mosaico dourado. Foi aqui que José Saramago recebeu a distinta homenagem. Estávamos em 1998. Recordo-me bem da primeira frase do seu magnífico discurso: «O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever».

Pelos caminhos da história

A tarde dá os primeiros passos. Após um longo passeio pelo encantador parque Djurgarden (local de caça real no século XVI), é tempo para restabelecer energias. O meu apetite avassalador não permite grandes escolhas. Sem demora, entro num dos muitos restaurantes da capital. Parece ser frequentado por pessoas locais. Um bom indício. Opto por um sandre grelhado, pescado no arquipélago de Estocolmo, com camarões e rábano ralado. Para sobremesa, uma divinal panqueca com geleia caseira. A escolha perfeita.

O próximo destino é o Vasamuseet. Considerado o mais popular da Suécia, foi inaugurado em 1990 e tem panfletos em português. As mais de duas horas na longa fila para entrar valem bem a espera. Criado por Rafael Moneo, aloja o navio de guerra Vasa. Afundado em 1628 e restaurado após mais de 300 anos, está 95% intacto. O resgate do navio naufragado torna-se a recompensa de um trabalho moroso conduzido pelo arqueólogo marinho Anders Franzén. Deslumbrada, contemplo o leão da proa. Com quatro metros de comprimento e 450 quilos, simboliza o rei Gustav II Adolf, fundador do Vasa e conhecido por “Leão do Norte”.

As horas navegam nas águas do tempo. Bafejada por este sopro de cultura, sigo até”Stadsholmen”, na Cidade Velha (“Gamla Stan”). Emaranhado de ruas da Idade Média, reúne atrações de inquestionável interesse histórico. Mårten Trotzigs Grä, por exemplo. Com uma largura de 90 cm, é a rua mais estreita da cidade. Caminhando por livrarias, lojas, igrejas, museus, pontes e palácios perco a noção do tempo.

A noite cai e traz consigo a quietude. Estocolmo está mais bonita do que nunca. As enigmáticas ruas “acanhadas”. O sorriso aberto dos suecos. A arquitetura genial. O céu eterno. O mar infinito. Suavemente, falo com esta terra mágica. Mas, shhhhh...apenas com o olhar. As palavras são, por vezes, redundantes. Enquanto saboreio um ponche sueco numa adega medieval, penso na frase brilhante de José Saramago: «O silêncio ainda é o melhor aplauso».

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