A minha casa parece às vezes um filme a preto e branco. Uns grupos acima dos 45 anos e outros com menos de 30 anos, todos ao mesmo tempo. É uma grande mistura de cores. Gosto disso. São muito activos, gostam de estar na água todo o dia, chegam a casa e convivem se for necessário toda a noite, falam muito. Com estas pessoas sentes que estas a rejuvenescer, todos os dias dou uma volta ao globo, sentado na minha cadeira.
Maktub é um poiso para a minha tribo, quando há regatas, passam por aqui esses miúdos malucos, meus amigos, que percorrem grandes distâncias em barcos tão pequeninos, respeito-os muito por isso. De dois em dois anos, encontrámo-nos aqui. Convivemos. Contámos histórias. A minha casa, agora também, recebe outro tipo de radicais, os do parapente, que pairam ao longo da montanha e os do btt. São jovens doidos que descem de bicicleta pelas encostas, não sei bem como, porque não há caminhos traçados para esse efeito e ainda acolho, os caminheiros. Os que andam a pé pelas levadas e pelos percursos pedestres de grande beleza que existem por esta zona. Não sou um guia formado, mas de vez em quando reúno um grupo de pessoas e fazemos três dias de marcha. Gosto muito de andar a pé. Ou estou no mar, ou na montanha. Vou-me equilibrando-me assim. Agora tenho um bar, que também se chama Maktub, no Paul do Mar. É um local especial, onde não há televisões, nem outro tipo de distracções, é um sítio onde sem conheceres ninguém começas a conversar. A música é reggae e também é a minha cara. É a minha outra casa.
Depois há o Sebastião, Sebastian para os estrangeiros. Se vieres até a minha casa vai conhece-lo. É um cão muito especial, já sulcou os mares, partilhou mil aventuras comigo e com a milha filha, a Andreia. Só o acolhi, porque ela mo pediu. Ele gosta do mar. Como todos os meus filhos. É um óptimo companheiro de viagem. Rosna quando pressente que algo está mal. Não faz as suas necessidades na embarcação, prefere ir até a proa. Agora que está mais velho, gosta de estar mais em terra. Às vezes desaparece durante dias seguidos, vai com as pessoas de quem gosta percorrer a montanha, ou até a casa de alguns vizinho, um dia até saiu uma fotografia dele no Diário de Noticias ficámos surpreendidos, é o animal mais amistoso que conheço. Só ladra a três pessoas. Não gosta delas. São de cá e como foram maldosos com ele, o Sebastião não esquece. Ele é conhecido em toda a ilha. No mundo. Ele até já entrou no metro de Madrid e nunca houve problema. Só lhe falta falar.
E a Andreia, a minha filha. O meu braço direito no Maktub. Uma marinheira consumada e praticante de surf. Todos os meus filhos foram ensinados a gostar do mar. Ela não é excepção. Tudo começou por um castigo, ela não estava a progredir na escola e veio comigo numa viagem. Ela é a senhora da casa, que providência tudo, inclusive tratamentos de belezas para as nossas hospedes. Por isso, se gostou do que leu, venha até aqui e seja feliz.