Trata-se de uma crónica diferente das restantes porque abordo a minha experiência pessoal durante uma tarde de filmagens.
Vou ser franca quando recebi o convite da produção de “balas e bolinhos” para assistir a um dia de filmagens fiquei deveras entusiasmada. Sempre quis viver essa experiência porque simplesmente gosto de cinema. Devo confessar que tinha uma ideia um tanto quanto romântica do que seria estar no set, rodeada de actores, técnicos e do realizador. Mas, deixemo-nos de divagações e vamos ao que interessa…A minha história têm início no Cace Cultural do Porto, numa tarde cheia de sol, ponto de encontro para todos os fãs da saga destes quatro malandros, a quem a produção decidiu brindar com a oportunidade de participar num casting como figurantes para este último capítulo. A adesão foi muita, em particular do sexo masculino e de várias idades. Nova partida rumo à Gondomar local escolhido para uma cena de exteriores. Um terreno de cariz rural está na base desta cena muito importante e cheia de acção. À chegada há um grande frenesim de gente que está a ultimar o acampamento de ciganos. Nada foi deixado ao acaso e é só isto que vou adiantar. Não vou descrever o cenário, porque dei a minha palavra a produção que não iria revelar em demasiado para que a surpresa seja total. E vai ser! Vamos então ao que interessa.
Em Gondomar
O realizador, Luís Ismael, semi-caracterizado para as filmagens do dia, “discute” com os técnicos o melhor local para montar a câmara. Aqui faço um pequeno parêntese, num filme com está natureza, muito low cost, por norma são rodados dois takes em que a câmara de filmar é posicionada de forma diferente. Isto porquê? Para que o realizador, durante a montagem do filme possa dispor de dois planos diferentes, porque se algo correr mal com um deles, haja pelo menos um take suplente. Ou apenas para poder optar pelo melhor. Sinto muito se os decepcionei até aqui. Isto não é um filme do Steven Spielberg, com dezenas de ângulos da mesma cena. Esta é uma produção à portuguesa, sempre à rasquinha e com muita boa vontade de todos. Enquanto decorre este compasso de espera, de decide não decide, monta ou não a câmara e onde, os actores João Pires e Jorge Neto e os figurantes dirigem-se ao local onde a especialista em guarda-roupa e a maquilhadora se encarregam de “dar vida” aos personagens que vão participar das filmagens. Um a um todos têm de passar por esta área para serem caracterizados. Mas eis que surge um imprevisto. Embora tenham aparecido algumas figurantes femininas, foram apesar de tudo eram em número insuficiente para a cena em causa, um contra-tempo facilmente resolvido pelo próprio staff feminino da produção. Passo a explicar, qual é a maior virtude portuguesa? Não, não é o que estão a pensar! Ou talvez sim! É a nossa capacidade de desenrascanço. E é isso que acontece também no “balas e bolinhos”. Faltam figuras femininas? Uma das raparigas responsáveis pelo catering passa a ser uma das personagens e se for necessário improvisa-se uma frase. Foi o caso. Toda a gente que integra a equipa é multifunções, até os cameramen fazem às vezes de carpinteiros para a montagem dos cenários se tal for necessário. É uma equipa coesa fruto de uma cumplicidade construída ao longo de onze anos. A estreia do primeiro filme foi em 2001. Imaginem. A paixão é tal que alguns dos jovens que integram actualmente a equipa técnica “cresceram” no set de filmagens, literalmente. Depois desta explicação muito lamechas do espírito de equipa que se vive nas filmagens, mas que é e friso a mais pura das verdades, é necessário fazer um novo ponto de situação temporal.
Após uma tarde ensolarada de espera eis que finalmente se vislumbra o verdadeiro inicio das gravações programadas para o dia. Apesar de todo o buliço em volta do acontecimento, o facto é que é uma seca. Espera-se e desespera-se muito. Só depois de tudo pronto é são filmadas as cenas. Nesta em particular, as personagens Tone, o Rato e o Bino vão ao encontro de novos sarilhos com os ciganos. E sinto muito decepcionar a malta, mas tudo acontece rapidamente. Ouvem-se as indicações do director de cena, grita-se silêncio, logo depois acção e em minutos que parecem meros instantes fica tudo pronto. Não é nada romântico pessoal! A sério. Depois nova espera para recolocar as câmaras para o plano seguinte e saí mais um take. Sabem o que vós digo? Mais vale esperar pelo filme e assistir a última e mais excitante saga dos quatro malandros mais famosos do cinema português! E não pensem que não gostei de lá estar, foi maravilhoso, mas prefiro a cadeira e as pipocas da praxe. Bom cinema!