
É o maior e mais sumptuoso exemplo do barroco em Portugal. Nasceu de mais uma promessa de um rei português.
Enfim, chegou o mais glorioso dos dias. A data imorredoira de vinte e dois de Outubro do ano da graça de mil setecentos e trinta, quando el-rei D. João V faz quarenta e nove anos e vê sagrar o mais prodigioso dos monumentos que em Portugal se levantaram, ainda por acabar, é verdade, mas pela catadura se conhece o catacego. Assim, José Saramago termina o seu memorial do convento. Mas, retrocedamos um pouco no tempo. Tudo começa com: Era uma vez, um rei que prometeu levantar um sumptuoso templo e um cenóbio anexo, como promessa ao senhor, altíssimo e sereníssimo tanto no céu, como na terra, em troca de um herdeiro. A previsão cumpriu-se, mas não da forma que o rei mais desejava, nasceu uma menina, como o prometido é devido e para evitar à cólera de Deus, num lugar outrora chamado de sítio da vela, mandou o nosso soberano construir um magnífico monumento artístico que haveria de causar assombro as gentes desta e de outras terras.
Passados 281 anos, dez meses e quatro dias, o convento de Mafra é um projecto colossal, que engloba, um convento, um palácio e uma basílica numa área estimada em 40,000 m2. À entrada, temos de recuar perante os 232 de altura da sua fachada ladeada por dois torreões imponentes. Percorremos o corredor marmóreado que nos conduz ao palácio. A sala amarela era um dos locais favoritos de convívio dos soberanos. Um dos outros compartimentos a dos troféus com as suas paredes cravejadas de hastes de veados e cervos que os reis caçavam na tapada que faz parte deste monumento.
Regressámos ao corredor, ouve-se a marcha cadente dos pés no mármore, diante de nós ergue-se imponente um portão, abre-se ruidosamente, somos ofuscados momentaneamente pela luz, de repente aparece um corredor que nunca mais acaba ladeado por livros. Milhares. É a biblioteca do palácio profusamente decorada com motivos barrocos, que alberga 40, 000 edições, sendo muitas delas raras. Tem nada mais e nada menos do que 88 metros de comprimento. É o sonho de qualquer estudioso e uma das mais belas da Europa.
O convento que antes foi mosteiro chegou a albergar 330 frades. Possui uma das maiores cozinhas que já vi na minha vida. Têm mesas com capacidade para sustentar bois inteiros. A lareira ocupa uma vasta área, já que eram confeccionadas grandes refeições ao mesmo tempo e os não menos famosos doces conventuais. Outra curiosidade é o riacho, sim leram bem, passa uma levada que termina num pequeno lago artificial, é água do rio, onde os frades pescavam directamente para a mesa e ao mesmo tempo lavavam os alimentos. As celas são pequenos compartimentos alinhados uns ao lado dos outros, todos idênticos e parcos em mobiliário. Os claustros são adornados por belos jardins geométricos e pensar que foram precisos 52,000 homens para construir este monumento.