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Para sempre Eslovénia

Escrito por  Ana Bernardo


É a história de uma jovem perdida pelos encantos de Ljubljana, embalada pela penumbra dos lagos que circundam esta cidade.

São 17:00. Sentada no meu terraço, escuto repentinamente um barulho. Olho à minha volta. Um corvo gigante contempla-me. Sem receio, aproxima-se de mim.

- «Olá!» O meu primeiro pensamento é abandonar o recinto. Será que estou a ter uma alucinação?

- «Não tenhas medo. Não faço mal».

- «Tu...tu falas?»

- «É verdade. Sou um corvo sobredotado. Queres que te conte uma história?»

- «Uma história? Daquelas de encantar?»

-«De certa maneira. É sobre a viagem de uma portuguesa à Eslovénia feita há dez anos. Reza assim:

(...) Era uma vez uma cidade chamada Ljubljana. A capital da Eslovénia. Numa das suas praças, o poeta romântico France Prešeren contempla a imagem de Julija Primic. O olhar é de pedra, mas cheio de afecto. A barreira de um amor impossível desmorona-se com a construção de uma estátua. É a homenagem que a Eslovénia presta ao seu maior poeta. Uma espécie de jura de veneração eterna que lembra o drama português de D. Pedro e D. Inês.

A noite em Ljubljana é uma exaltação, mas de tranquilidade. Com cerca de trezentos mil habitantes,  é das cidades mais seguras da Europa. Será bonita? A herança medieval, as influências renascentistas e as fachadas de «Art Noveau» embelezam as ruas, sem dúvida. Mas Ljubljana dispensa paixões arrebatadoras. Para ser amada como merece, tem de ser saboreada lentamente. Através do paladar da noite e do «Slivovka», um brandy de ameixa muito popular.

O lago de encantar

A manhã acordou mal-disposta, mas as quedas de água de Vintgar, a menos de duas horas de carro de Ljubljana, brilham mesmo sem sol. Dentro do automóvel, o diálogo ajuda a conhecer a alma dos eslovenos. É importante falar dos dez dias de guerra que, embora sem consequências materiais relevantes, deixaram marcas. Das batalhas em redor da capital, no aeroporto, em Maribor. Das bombas que os aviões lançaram. Da agonia das pessoas nos esconderijos.

A Eslovénia vai fazer dez anos no próximo dia 25 de junho de 2001. Considerada um exemplo de sucesso nos Balcãs, quer fazer parte da União Europeia. Neste tempo de mudança, há que preservar a identidade nacional.

Nos Alpes Julianos, no limite do Parque Nacional Triglav (um dos mais antigos da Europa), o Lago Bled guarda velhas lendas. Diz-se que a ilha situada no meio do lago foi criada há séculos pelas fadas que aí viviam. Do outro lado, avista-se o hotel de luxo que hospedou o Marechal Tito nos tempos do comunismo.

Piran e o regresso a Ljubljana

«Aqui sou a pessoa mais feliz do mundo. Vou amar-te para sempre, Eslovénia». Jim, USA. As palavras que este americano gravou nas ameias fazem sentido. No topo da fortaleza, Piran, uma cidade medieval, repousa feericamente sobre o Adriático. Do cais, erigida sobre a colina, avista-se a bonita Igreja de S. Jorge, protetor de Piran. E de Ljubljana.

De volta à capital, descobre-se o castelo. Já importante nos tempos dos romanos, é hoje um centro vital da cidade. As escadas em caracol, que exibem o dragão associado à vida de S. Jorge, vão até à torre. Entre outros locais, contempla-se «Tromostovje», as três pontes que atravessam o rio Ljubljanica. O parque Tivoli, na parte ocidental, em direcção a Zagreb. A igreja de Trnovo.

Ao descer a encosta, uns corvos inesperados fazem lembrar Lisboa. A  imagem de Santo António na igreja dos franciscanos também. Assim como o livro de Fernando Pessoa que a empregada da livraria comenta: «Um grande poeta português - a inquietude da alma, a angústia interior».

O regresso a Portugal é daqui a umas horas. No número nove de Stari trg, o nome do Bar «Nostalgija» (nostalgia) define bem o estado de espírito. As saudades antecipam-se à partida, mas é impossível congelar o tempo. No aerorporto de Brnik, um dos aviões da Adrian Airways está pronto a descolar. A Eslovénia mal desaparece da janela e já apetece voltar. Para entender a sua outra face. Descobri-la por dentro e por fora (...)

- «Gostaste«?

- «Muito. Deixa-me adivinhar - tu eras um dos corvos do Castelo de S. Jorge».

- «É verdade», responde.

- «O final é impreciso. Bem, a Eslovénia tornou-se, de facto, membro da União Europeia. E a rapariga portuguesa? Regressou?»

- «Não sei. Emigrei para outras terras. Já não vou à Eslovénia desde 2001. Nunca estive em Portugal. Sabes, tenho de ir. Espero que a história te tenha aquecido a alma. Adeus.».Com a alma «aquecida», penso em Ljubljana. E no meu amigo corvo, um extraordinário contador de histórias. Fantasia ou realidade, há memórias que o tempo nunca desbotará.

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