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Pelos trilhos da madeira

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Faça uma caminhada pelas montanhas da Madeira e conheça a verdadeira ilha, a menos conhecida. Venha conhecer a sua beleza natural.

Percorrer as montanhas é um desafio que só é acessível para alguns. As levadas e trilhos que serpenteiam a ilha da Madeira constituem um desses reptos em termos de capacidade física e mental. Vou nesta crónica referir, o percurso que engloba o pico do Areeiro, com 1817 metros até à montanha mais alta do arquipélago, o Ruivo, com 1861 metros de altitude. É um passeio inusitado pelo facto de ligar as duas montanhas mais altas da Madeira. É acima de tudo um percurso que não pode ser empreendido por pessoas com vertigens e problemas de coração. Vou passar a explicar porquê.

A nossa jornada tem início pela manhã muito cedo, o sol está coberto pelas neblinas matinais que tapam a montanha, na Pousada do Pico do Areeiro. O trilho é feito de pedras que nos guiam até a nossa primeira paragem o miradouro, o ninho da manta. A partir deste ponto a montanha engole-nos e põem-nos à prova. São vários quilómetros de paisagem agreste, quase sem vegetação em que somos bafejadas constantemente pelo vento impiedoso. Há que ter um cuidado redobrado, qualquer passo em falso e podemos cair pelos precipícios que nos rodeiam ao longo do caminho. A grande cordilheira central é avassaladora, somos meros pontos numa paisagem que nos subjuga. A montanha é o protagonista. A rocha irrompe pelas falésias que entre-cortam as encostas. A vegetação rasteira pinta de verde o cenário e seguimos com a sensação nítida da nossa insignificância, perante este templo natural tão imponente. Faz-nos mesmo acreditar na intervenção divina, tal é a beleza que nos rodeia.

No vale da Fajã da Nogueira, momento ideal para uma paragem. Nesta latitude, podemos avistar algumas das aves mais raras da ilha, os patarros e as famosas freiras da Madeira, mas elas devem dar o ar da sua graça apenas a alguns privilegiados, nomeadamente, o autor do nosso guia, Raimundo Quintal, porque nós não tivemos sorte nenhuma! Nem sequer uma manta, a maior ave de rapina do arquipélago. A prova de fogo avizinha-se. São escadas escavadas na montanha, às centenas, que é necessário descer. Exige um grande esforço físico redobrado, por parte dos músculos das pernas. Não é nada fácil, acreditem. E não, não contei os degraus. Mas, a dolorosa não termina aqui. Aproxima-se a subida para o Pico Ruivo. E neste ponto da narrativa adianto que já só dizia mal da minha vida, porque sentia dores nas pernas. Um caminhante é um masoquista. Só pode. Não há outra explicação para sofrer de forma consciente e propositada.

A subida até o pico mais alto da ilha é um dos trilhos mais duros do percurso por um único motivo, já estamos cansados e a subida é bastante íngreme, mas o final vale a pena. É preciso penar para verdadeiramente apreciar a beleza que nos circunda. É literalmente ter a sensação de estar no topo do mundo, onde só se ouve o silvo do vento, a nossa respiração ofegante e a natureza selvagem. É a montanha verdejante, que nos envolve por todos os lados. Sentamo-nos e saboreamos o momento em silêncio. Depois rimo-nos às gargalhadas pelo simples facto de termos conseguido. Neste ataque de loucura momentâneo, os estrangeiros que terminaram o percurso, também nos acompanham com largos sorrisos. Palavras para quê!

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