Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Uma nova página

Escrito por 

 

É agora um dos novos pontos turísticos de Portugal e em boa hora.

Dizem que não se deve retornar aos lugares onde fomos felizes, porque nunca se consegue replicar esses momentos, esse ideal de felicidade que fica para sempre colado no tempo, por mais que tentemos. E é verdade. O que se esquecem de acrescentar é que não importa, porque a vida não é apenas uma série de peças de um puzzle imutável e estático, é o que é, um continuum finito de alegrias, decepções, amores, desamores, abraços, lágrimas e tristeza. Sem ser por esta ordem, estejamos entendidos. E é sobre um local em particular de que quero falar, da invicta. Recentemente revivi os seus recantos, becos e vielas e deparei-me com uma nova cidade, menos bairro, mais cosmopolita, e embora ainda se oiçam os impropérios de todos os dias, o Porto esta a mudar e ganha novas tonalidades em todos os sentidos. A cidade que eu conheci poderia parecer mais sombria de aparência, mas escondia no seu ventre gentes de uma generosidade sem limites. Acolhiam-nos com os braços abertos e se fosse preciso carregavam-nos quase ao colo, como se fossemos da família e é certo que sou dada a um certo exagero, mas, neste caso nem tanto.
Era uma mistura de vila e cidade, onde todos se cumprimentavam à saida dos prédios, conhecíamos as meninas do "pingo doce" pelo nome, sabíamos contar as histórias dos loucos que pairavam no nosso lado da rua e onde se discutia em alto e bom, numa alegra algazarra colectiva, os resultados do futebol, ou as últimas idiotices proferidas pelos políticos, enquanto erámos apertados a cada paragem do autocarro, durante a lufa-lufa matinal. As lojas com as suas tábuas gastas pelos tempo, rangiam para nos saudar, os cheiros a tempo mofento brindavam memórias infantis as nossas narinas e lá do fundo vinham os sorrisos simpáticos e a frase da ocasião: menina, em que posso ajudar?

 

 

E não é que tenha tudo desaparecido, mas muito se alterou. O Porto ganhou outro fôlego, graças as hordas de turista trazidos pelas companhias low cost. O centro da cidade é agora dominado por edifícios renovados que fazem as delícias dos visitantes, as antigas livrarias de bairro, as lojas de tecidos e de bric-a-brac foram substituídas por restaurantes, bares e lojas de souverniers. Ouvem-se pelas ruas arrufos de gente em várias línguas e em muitos locais em vez do habitual bom dia, já se diz: hello! E não é que seja mau, os prédios ganham cores mais alegres, quem diria, que por baixo da sua imperturbável verticalidade arquitectónica houvesse tanta beleza, mas, e há sempre um mas, ainda estou francamente indecisa se em algum dos casos o resultado foi o melhor, os musgos esverdeados e tons esbatidos conferiam um certo ar de dignidade secular aos edifícios da urbe. O comércio tradicional quase desapareceu, embora haja alguns honrosos resistentes, os espaços que morreram com os seus donos foram substítuidos por lojas com artesanato urbano e há uma maior aposta em produtos made in Portugal. Ao meu ver tudo isso é muito bom. E...vem aí outro mas, a cidade parece que vai perdendo a sua identidade, vai-se camuflando pelo menos. E nem o São João escapa. A maior festa da invicta, onde mal se podia se respirar tal era o mar de gente que se acotovelava pelas vielas estreitas da Ribeira até a Foz, onde em cada recanto se vendia sardinhas assadas e bejecas e dançava ao som dos hits da música popular portuguesa, agora, não só tem menos gente, como multiplicam-se as festas temáticas, com diferentes sonoridades, onde já se bebe vodca, mojitos e caipirinhas de fartura e pouco a pouco vai-se perdendo a tradição. Não sei se é bom, ou mau, é diferente, percebem?

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