Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

terça, 01 janeiro 2013 15:26

O duo dinâmico de você na tv

É um programa de entretenimento que preenche as manhãs e cuja emissão é da responsabilidade do canal privado com maior sucesso ao nível nacional, a TVI.

Apresentado por Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira, este programa de televisão que anima as manhãs dos portugueses é um sucesso de audiências há já vários anos. E porque? Devido a dinâmica criada pelo duo de apresentadores e o facto de se dirigir a um público mais sénior. Se repararem e podem até argumentar que não é o caso, mas a empatia entre Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira é patente e genuína, e isso transparece para o ecrã. O facto de se rirem em conjunto, de não se atropelarem durante as entrevistas em busca de mais estrelato, torna-os o duo dinâmico com maior sucesso da televisão portuguesa. São o Batman e Robin que toda a gente gosta de ver em acção para um público mais idoso, com ênfase para o feminino. Se repararem até a audiência é exclusivamente constituída por senhoras pelos vistos reformadas, ou não, que estão lá todos os dias em estúdio, tanto assim é que os apresentadores já as tratam pelos nomes próprios tal é a familiaridade.

As rubricas do programa são outro dos pratos fortes. As histórias de carência social e humano, de lágrima no canto do olho, são uma das mais-valias porque conseguem sempre comover quem as vê e são picos de audiências. Mesmo nestes momentos, os apresentadores procuram ser sóbrios, sem caírem na tentação de caírem no exagero.

O grupo das revistas cor -de -rosa é aquele que menos se compreende. São egozinhos a desfilar e que nada acrescentam. São criaturas que nada tem para dizer e que estão lá só para mostrar o resultado de plásticas bem-feitas que não pagaram, um vestuário emprestado que não compraram e um com uma falta de imaginação total. Deprimente!

Outro dos pontos altos é sem dúvida os casos policiais que seguem as agendas jornalísticas. Todos os crimes por mais hediondos que sejam são apresentados e comentados por um painel de especialistas. E são sem dúvida o momento mais esperado do final das manhãs, e pode-se argumentar que é um horror, crimes de faca e alguidar, mas o ser humano tem a tendência para o mórbido e não vale a pena fingir o contrário. Basta recordar que quando há um acidente grave nas estradas portuguesas, os automobilistas abrandam para ver a tragédia.

Resumindo e concluindo, pode-se dizer que é telelixo, mas sinto muito as audiências são soberanas e no caso de você na Tv, não há sombra para dúvidas eles vieram para ficar por muito mais anos.

http://www.tvi.iol.pt/vocenatv/programa/iol/1146170-5349.html

terça, 01 janeiro 2013 15:25

O açúcar da juventude

Trata-se da série juvenil com maior longevidade da televisão privada em Portugal e é ainda um grande sucesso televisivo junto das camadas mais jovens.

Os morangos com açúcar podem ser definidos como um fenómeno de audiências. É incrível a quantidade de jovens que param de fazer tudo, para ver esta série de televisão que já catapultou vários actores para a ribalta. Apesar das constantes mudanças de cast e das inúmeras mudanças de histórias, o público é o único vértice deste triângulo amoroso que permanece fiel. Mas, o que tem este programa de tão especial para atrair os mais novos? Um dos pontos fortes é o guarda-roupa, sim, parecem surpreendidos, mas é verdade. Os trapinhos que os miúdos usam estão sempre na berra, é o último grito da moda que todas as adolescentes de Portugal querem copiar. Depois, há a trama. As várias histórias de curtes, namoros pegados, de ódio mortal e paixão assolapada que pululam constantemente ao longo dos episódios. Poderá argumentar-se que o esquema é sempre o mesmo, e é. Mas, em equipa vencedora não se mexe. Quem disse que o amor juvenil tem de ser fácil?

A linguagem é outra das mais-valias deste programa juvenil e que muita celeuma tem levantado por parte dos educadores. Sim, eles usam expressões como fixe, bué de mal, e está tudo na maior. Não é o português que os pais esperam que aprendam, mas é desta forma que comunicam, no dia-a-dia, entre eles e isso é preciso não esquecer. Daí o genial desta série e o seu segredo mais bem guardado. Os miúdos identificam-se com as personagens em todas as vertentes. Na forma como falam, o que pensam e como se vestem. E não vale a pena doirar a pílula e dizer que os adolescentes não são assim, porque o são e há deles muito piores. E aí esta um aspecto a melhorar. Nem sempre se retrata a realidade pura e dura e deveriam.

A violência no namoro foi uma dessas questões abordadas no programa e muito mal. O final reservado aos dois personagens deixou muito a desejar porque desresponsabilizou quase por completo o agressor, algo que nunca deveria ter acontecido. Foi pouco sério e leviano a evolução deste quadro juvenil. Os jovens ao verem na série que nada aconteceu, que o comportamento agressivo que ele demonstrou não teve quaisquer consequências de maior, leva-os a pensar que este tipo de atitudes é normal. Acho pertinente que se fale sobre tema, já que estudos apontam para o aumento de casos de agressão físicas nas raparigas no namoro em Portugal. O que condeno é o embrulho cor-de-rosa. A rapariga perdoa-lhe e vivem felizes para sempre em Londres!

terça, 01 janeiro 2013 15:24

Os mágicos

Mais do um programa de ilusionismo é um concurso que visa eleger o melhor truque de magia da noite. Um desafio que Luís de Matos aceitou sem hesitações.

Sempre gostei de mágicos e sempre acompanhei o trabalho de Luís de Matos. Ao longo de algumas décadas, eu e os portugueses em geral fomos assistindo ao crescimento profissional deste mestre da ilusão. Uma carreira que começou com pequenos apontamentos de magia, era o Luís de Matos muito jovem, e agora sim já me sinto velha, e que ao longo do tempo foi evoluindo de forma natural até o culminar de mais do que um programa de ilusionismo em nome próprio e com muito sucesso devo acrescentar.

Depois do prémio de melhor ilusionista da década, qual foi o próximo passe de mágica do artista da ilusão? Participar numa espécie de concurso onde o público vota o melhor “truque” mágico da noite. É um formato televisivo pouco frequente, acho que até inovador, mas não deixa de ser interessante, porque todos os mágicos que participam, e são os melhores do ramo, têm de constantemente surpreender a audiência presente na sala e os que estão em casa.

O programa tem o mérito de ser um produto televisivo de qualidade porque há um tema para todos os “concorrentes”, um convidado, os mágicos mostram o melhor truque e a audiência vota. Escusado será dizer que estou sempre a torcer para que o Luís de Matos ganhe. Não porque seja português, bem talvez um bocadinho, mas porque ele procura sempre fazer mais e melhor. Ele merece ser reconhecido pelo profissionalismo com que cria, prepara e ensaia os truques de magia que apresenta.

O mesmo se pode dizer dos colegas que com ele concorrem, sem excepção, todos procuram criar a melhor ilusão e sacar do público os famosos uaus e as expressões do tipo: como raios é ele fez isto? O apresentador com o típico humor inglês compõe o conjunto que faz com que o programa seja um bom momento televisivo. Mas, agora reconheço, estou sempre torcendo para que o Luís de Matos seja o vencedor!

terça, 01 janeiro 2013 15:23

Conta-me como foi

Trata-se de um dos maiores êxitos da televisão portuguesa dos últimos tempos. Uma série que descreve um Portugal oprimido pela ditadura de Salazar.

É sem sombra de dúvida a minha série de televisão preferida. E vou claro, dizer porquê. Retrata de forma exímia uma era, um país que desconhecia por completo, ou seja, um Portugal sob a égide de uma ditadura, através do olhar de uma criança. Sou de uma geração que não conheceu, felizmente, qualquer tipo de opressão política, sempre vivi em democracias e fui com verdadeira curiosidade que comecei a ver um país que desconhecia por completo. A família Lopes é o protótipo de qualquer agregado familiar, ou remediado como eles próprios se intitulam e bem, da classe média portuguesa do final dos anos 60. E nós somos os vouyers privilegiados de um tempo dominado pelo medo. Tudo nesta série de ficção é de uma qualidade superior, apesar de se tratar de um conteúdo televisivo adaptado de um original espanhol, não houve, felizmente, um copy paste. Pelo contrário, “conta-me como foi” têm uma dinâmica própria, com um argumento consistente, um cenário cuidado, fruto de uma pesquisa extensa sobre a época.

O trabalho dos actores é outra das suas mais valias. Devo dizer que todo o elenco e maravilhoso. O trabalho de caracterização da Rita Blanco, a matriarca da família Lopes, é um portento. Ela é a génese das mães portuguesas, modesta, muito galinha, terna e ao mesmo tempo lutadora. O Miguel Guilherme, o pai Lopes, dispensa palavras, conheço o trabalho deste actor, nos palcos, no cinema e na televisão, e há algo que ele simplesmente não sabe fazer, é faze-lo mal. A avô, retratada pela excelente actriz, Catarina Avelar, é simplesmente maravilhosa. Quanto a Rita Blutt e o Fernando Pires, respectivamente a Isabel e o Toni, as suas estreias televisivas não poderiam ter sido mais auspiciosas. O Luís Gamito, o Carlos e narrador já na idade adulta destra história, é a jóia da coroa de um grupo de actores magníficos. E os adjectivos são poucos, acreditem. O elenco de suporte também não fica em nada atrás, são actores de primeira água.

Outro dos pontos altos deste programa de ficção é a forma como a dinâmica da família Lopes acompanha a evolução histórica do nosso país, das suas convulsões sociais, económicas e políticas. O mesmo espanto e incompreensão infantil do Carlos perante a ditadura é quase o mesmo para nós, felizmente graças ao 25 de Abril de 1974, nunca vivemos esse período. Assistimos também ao nascimento da televisão pública em Portugal, a preto e branco, e como a caixa que mudou o mundo, também passa a mudar os hábitos dos portugueses. A música têm também um papel não menos fundamental nesta série. Ouvimos, ao longo de cada episódio, os maiores êxitos que marcaram o cenário musical da altura. Ironicamente, também se nota a falta de alguns dos grupos que marcaram a história da música mundial, o caso dos Beatles, precisamente porque a nação estava fechada ao mundo.

Creio que esta série e a sua homóloga espanhola que granja igual sucesso no país vizinho, deviam ser alvo de um estudo sociológico para explicar o porque de um sucesso tão retumbante. Nostalgia de uma era? Ou simples curiosidade do público? Veja e decida.

terça, 01 janeiro 2013 15:22

A alma e a gente

O programa do professor José Hermano de Saraiva discorre sobre a história das várias localidades de Portugal. Um programa que já devia ter ido a vida há muito tempo.

Será possível que ninguém com responsabilidades na programação da RTP, ainda ache aceitável emitir mais um programa do professor Hermano Saraiva? Não tenho nada contra a história, já gostei de ver as emissões anteriores com outros títulos, mas já chega. Quantas vezes por ano temos de ser confrontados com as mesmas “histórias” sobre as várias zonas de Portugal? Há uma geração inteira que cresceu com o professor, eu incluída, e que já está farta. Não acham confrangedor, ouvir, sim, ouvir a placa dentária do digníssimo historiador bater enquanto vai dizendo pela milésima vez, o mesmo que disse em ocasiões anteriores? Sim porque como ele improvisa e não escreve um guião, é natural que repita uma e outra vez a mesma coisa.

Há audiências que ainda justifiquem a sua manutenção na grelha televisiva? Porque não mudam o nome do programa para Saraivassaurious? Ainda me recordo com uma certa nostalgia, que os meus professores diziam-nos, aliás proibiam-nos de ver os programas dele, devidas as inúmeras incorrecções históricas que ele alegremente veiculava nos seus programas. Fomos proibidos de comprar os livros de história publicados por José Hermano de Saraiva, devido aos erros de contextualização. Sim, ele já admitiu em várias ocasiões, nas inúmeras emissões que nos brindou ao longo dos anos, que de facto fazia uma interpretação de alguns dos eventos históricos, porque segundo dizia, não havia dados literários, ou de outra natureza que sustentassem o contrário. Eu sempre achei um argumento pouco consistente, já que a falta de dados não implica romancear a história. Mas, esquecendo um pouco os conteúdos, será possível que não haja mais ninguém, de preferência mais jovem, com telegenia, que não possa apresentar um programa da mesma natureza, com outro tipo de formato? É que não há alma e gente que aguente tanto tédio.

terça, 01 janeiro 2013 15:19

A irreverência chega a RTP

O canal público finalmente aposta em novas audiências. É a geração Internet merece destaque na programação regional.

Ao longo dos anos a RTP-Madeira produziu muitos programas que só tinham um público, os emigrantes. A temática era a mesma, com as mesmas tradições, as mesmas receitas, os mesmos ranchos folclóricos e as mesmas caras. Não em interpretem mal, eu sou à favor da preservação das tradições regionais, mas quantas vezes temos que ver a mesma receita tradicional do bolo de mel ao longo de vários anos?

O canal público quase sempre ignorou o público mais jovem, com algumas excepções pontuais, mas nada de muito bom. Até o Irreverência. Este programa, em particular, chamou-me à atenção, não porque eu seja o seu público-alvo, mas porque está muito bem pensado.

As temáticas abordadas são actuais, o blog que foi criado para o efeito serve de suporte para os debates. Uma opção muito acertada, já que chegamos a uma era em que as novas gerações comunicam única e exclusivamente através das novas tecnologias. Os apresentadores são ambos jovens, finalmente uma imagem de frescura, para animar os fins de tarde da RTP-Madeira, e quero salientar o trabalho da Marta Machado. Considero que esta jovem apresentadora pode vir a ter futuro na televisão, não só pelo à vontade que demonstra à frente das Câmaras, mas também porque coloca questões aos convidados de um forma pertinente e simpática. O apontamento de humor é sempre uma mais-valia para o programa, e nisto sou suspeita, porque gosto muito do trabalho dos 4Litro. E as rubricas que vão sendo apresentadas ao longo do programa são interessantes. Se me permitem a ousadia, deviam escolher temas de debate mais controversos e que estão na agenda das notícias de Portugal e o mundo. Por último, acho que o público deveria participar de uma forma mais pró-activa no programa. Quando surgem os grandes planos, a malta parece às vezes que está a morrer e isso prejudica a dinâmica do programa. Mas, no geral, e contra todas as expectativas, gosto. A produção da RTP- Madeira esta de parabéns!

www.rtp.pt

segunda, 31 dezembro 2012 23:11

A incitadora


Filipa Venâncio percorre na sua obra artística os objectos arquitectónicos que povoam as nossas realidades. Uma temática que expressa na sua pintura de forma constante ao longo dos seus vinte anos de carreira. São formas que a seduzem e que visam também jogar diversos olhares.

Pelo que pude verificar existe toda uma “viagem” pelos prazeres.

Filipa Venâncio: Sim, neste trabalho procurei representar a envolvência, a atmosfera, deste lugar.

Há também uma busca pelas formas, pela geometria nas casas, porquê é que essa temática te atraiu?

FV: Não é uma temática que me atraiu apenas agora, ou seja, é um interesse que tenho desde há muito tempo, a casa enquanto objecto arquitetónico. É algo que sempre me seduziu e que percorre todo o meu trabalho. Se olharmos para a minha obra ao longo destes vinte anos, em que tenho trabalhado continuamente na pintura, a casa é um elemento muito importante de uma forma ou de outra. Sempre. Portanto, também aqui elas tinham de aparecer.

Porquê o espaço casa é tão importante para ti? É o conceito por detrás do objecto, ou é por ser uma questão meramente geométrica?

FV: Não é apenas uma questão meramente geométrica, a mim interessam-me as casas pelas suas memórias, seduzem-me as mais antigas e abandonadas. Outras vezes, é apenas enquanto arquétipo e isso também sempre me interessou.

Então, porque apenas pintar o exterior?

FV: Neste trabalho é só o exterior, a última exposição que fiz no museu de arte contemporânea, foi precisamente ao contrário, fiz uma espécie de visita aos espaços do museu que são muitos e decidi simula-lo como se fosse uma casa, chamei-lhe “andar modelo”, e aí poderíamos encontrar telas que representavam os espaços interiores do museu, mas como possibilidades para viver, como se fosse uma residência.

Outra das tuas temáticas preferidas é a natureza.

FV: Sim, aparecem apontamentos de paisagem, de animais.

segunda, 31 dezembro 2012 23:09

O não convencional

Joaquim Miguel é um jovem designer português que aposta na concretização de objectos do quotidiano com materiais não convencionais. Uma conceptualização intuitiva que aplica a tudo que cria, em particular, no mobiliário, uma área que o fascina.

Como te definirias como designer? Verifiquei que tem diversas valências.

Joaquim Miguel: Não sei, eu gosto do desenho, tenho formação em design industrial, escolhi várias áreas do design, não apenas uma temática.

Qual é a tua área preferida então?

JM: O desenho de mobiliário.

O que tem diferente em termos de concepção artística?

JM: O que tem de criativo são os diversos materiais que podemos utilizar. É muito bom mudar a aparência de um objecto do quotidiano. Dar-lhe outro enquadramento, outra visão. Eu gosto de mudar-lhes o aspecto através de materiais não-convencionais.

Qual dos materiais que utilizaste apresentou mais dificuldades em termos de concepção?

JM: Eu usei num armário os tacos de pavimentar o chão. Reaproveitei-os, porque por norma, esse material é apenas usado nos pisos e eu achei que era mal empregue quando deixava de ser usado. Olhei-os de uma forma diferente, foi recupera-los para uma peça de mobiliário que envolve muito mais trabalho em termos de design.

segunda, 31 dezembro 2012 23:08

Anjos da guarda


É o paradigma da nova colecção de Teresa Brazão, no Funchal ateneu café, que ilustra um grande introspecção entre o passado e o presente, o presente e o futuro, contendo personagens religiosas que figuram os seus pensamentos. É também a vivência de sonhos aliados à condição de menina, a um desejo de protecção, como descreve, a própria filha Cristina Brazão.

O que a levou a pintar de novo, montar uma exposição depois de quase vinte anos?

Teresa Brazão: Eu só agora estou a fazer uma exposição, mas isso não quer dizer que tenha parado de pintar, eu pintava de vez em quando, só que durante a vida tem várias fazes e nem sempre temos disponibilidade mental para produzir uma quantidade adequada e suficiente que tenha todos os quadros tenham a ver uns com os outros. Tem de haver uma mensagem comum. Aproveitei a oportunidade agora que a minha filha decidiu abrir este espaço muito bonito e cuja estratégia de divulgação será o “casamento” com actividades culturais.

Mas, qual foi o tema central, que inspirou tudo isto?

TB: Eu fiz sessenta anos este ano e nós passámos a vida inteira a pensar em coisas que não são importantes, a partir de uma certa idade temos de vê-la de outra maneira. Já vivemos a parte mais activa da nossa existência e questionámo-nos, o que vamos fazer agora? E o que acontece as pessoas que estiveram connosco neste percurso será que continuam? Será que estão do nosso lado? Será que é fruto da nossa imaginação? É este tipo de discurso que tento transmitir as pessoas, são motivações mais metafisicas e foi isso que me fez pintar. Foi ver que neste momento que tenho uma essência completamente diferente. Os meus pais morreram, já tenho quatro filhos criados e seis netos, chegou a altura de pensar nas coisas de outra maneira.

É porque a morte também se aproxima que motiva essa reflexão? A ideia de final, de uma etapa que se encerra?

TB: Talvez, ou talvez porque chegámos a uma altura da vida em que tudo tem de ser relativizado, é como se tivéssemos passado a maior parte do tempo com pequenas coisas sem importância nenhuma, o que é importante é superior a isso tudo, são os afectos, é o amor, a relação entre as pessoas que cá estão e também as que não estão.

Há muito de ilha na sua pintura ou não?

TB: Nós como somos ilhéus temos sempre alguma coisa da ilha na nossa pintura, porque quando a fazemos é sempre uma parte de nós que fica. O facto de vivermos numa ilha faz com que as pessoas sejam construídas de uma determinada maneira, somos rodeados por água de todos os lados, é um espaço limitado e faz com que as pessoas se desenvolvam num determinado parâmetro. Acho que terá com certeza algo de aquilo que pensámos num determinado momento: que estamos perdidos no meio do Atlântico, embora tendo algumas portas que nos permitem sair daqui, temos de vencer essa limitação, abrir a nossa mente para impedir as limitações geográficas e forçosamente temos de ultrapassar isso.

As cores que utilizou é uma paleta de tons terra e quentes, tem alguma coisa a ver com a ilha?

TB: Sim tem a ver. O facto de todas as cores relacionadas com o cor-de-rosa e cor terra tem a ver com uma ligação a parte física. Esta história de se atribuir o tom rosa as meninas e o azul aos meninos resulta de conceitos medievais postos de parte que defendiam que os rapazes eram mais ligados as grandes questões, aos céus e as mulheres a parte terrena. Senti que teria de fazer isto assim, embora haja um quadro em tons de azul, porque sou mulher e a minha feminilidade acaba por estar presente nos meus trabalhos. Também a minha identidade e a relação das pessoas que me rodeiam que é feita dessa forma.

segunda, 31 dezembro 2012 23:06

A fábrica de esculturas

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Mão de fogo é uma fundição de bronze, mas não só. É um espaço de desenvolvimento artístico que transforma uma visão num objecto tridimensional. É também um entorno multidisciplinar onde os artistas ampliam as suas competências técnicas na escultura.

O projecto mão de fogo como é que começou?

Rui Palmas: Começou há dez anos, foi um projecto pequenino, a ideia era ter uma produção artística de bronze, num processo que teria lugar em Montemor-o-Novo. Erámos três amigos no início que trabalhávamos com os escultores da zona de Lisboa, depois crescemos e adquirindo novas máquinas. O nosso raio de acção começou a aumentar e a ter mais encomendas, começámos a ter mais clientes estrangeiros e até que há dois anos juntámos a alfa arte que nos permite ter uma equipa ampliada. Trabalhámos essencialmente para escultores, artistas plásticos e arquitectos.

Quando se juntaram era porque eram artistas e necessitavam de um espaço?

RP: Não somos artistas, somos técnicos um pouco apaixonados pela arte. Pegámos nesses projectos e tornamo-los tridimensionais. Muitas vezes os artistas têm dificuldades, quando fazem um esboço e vão as oficinas para que as pessoas traduzam o conceito, a linguagem, há uma dificuldade de comunicação. O que fazemos é conseguir olhar para a ideia e transforma-la em bronze, ou noutro material qualquer. A partir daí fazemos os desenhos técnicos, realizámos bases estructurais para as peças, ou seja, acompanhámos desde princípio até o fim todo o processo.

Fale-me um pouco da parceira alfa arte, como é surgiu?

RP: Estávamos a ter algumas dificuldades porque as nossas instalações eram muito pequenas e a alfa arte dispõem de um espaço e equipas maior, vieram até Montemor-o-Novo conhecer o nosso projecto e depois surgiu o convite para trabalhar com eles. Há trabalhos a decorrer tanto em Bilbao como cá.

A escolha de Montemor-o-Novo foi uma casualidade ou não?

RP: A escolha recaiu na sua ruralidade. Aliás a mão de fogo está instalada na quinta dos meus pais. Cresci e vivi sempre nesta zona.

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