Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

quarta, 02 janeiro 2013 11:59

Viagem pelo 116

fátima spínola josé zyberchema

Depois de uma busca incessante encetada por um espanhol e um português, surge o número 116, da rua de Santa Maria, no Funchal. A casa de acolhimento de dois grupos inusitados, os “bolo do caco” e os “mad space invaders”. Venha e siga-me por este ressuscitar de um edifício cheio de histórias para contar.

Escondida entre para-sóis brancos surge uma entrada, duas facetas do ser humano, a noite e o dia, o espírito e a carne, que nos convidam com um sorriso à mona lisa e escancaram as portas para uma escadaria que nos conduz a um espaço fraturado pelo tempo, pelas vicissitudes próprias da sua existência, coberto de dejectos de outras vivências que cobrem o seu útero. São toneladas de cartão, de objectos perdidos, de areias, de tocos de madeira que, inundam os 13 metros por 60 metros de quadrados, que tem de cessar de existir no 116. Xavier lança o desafio entusiasticamente, uma semana no máximo para levar á cabo uma limpeza geral. Impossível, pensam as “Fátimas” de serviço. Há muito por fazer e nem sequer sabem muito bem por onde começar. O jovem de caracóis sonhadores insiste: é possível, nós conseguimos. Todos olham incrédulos para aquilo que parece ser uma tarefa dantesca digna de hércules, uma montanha de entulho que chega quase até o tecto, mas se dúvidas havia estás ficaram à porta e o trabalho começa…

fátima spínola fátima spínola

Os elementos maioritariamente femininos dos dois grupos munidos de um entusiasmo contagiante põem mãos à obra com a ajuda preciosa da equipa de limpeza da Câmara do Funchal. Nas hostes destes homens esta um titã de quase dois metros de altura e peso considerável, pouco dado à conversa, apelidado carinhosamente de Obélix, que simplesmente ergue as vigas com mais de 5 metros de comprimento deixadas ao olvido, como se de plumas se tratassem. Os colegas habituados a esta força quase sobrenatural, riem-se, louvando as qualidades do homem e ainda o encorajando para pegar em mais peso. O colosso não se fazia de rogado, grunhia qualquer coisa imperceptível entre dentes e ia buscar um toco ainda mais pesado, para gaúdio dos colegas e do espanto geral dos voluntários.

A sua única poção mágica era…água! Estavam à espera de outra coisa? Pois é. Lamento muito. Aposto que não estavam contavam com isto? E esta hein?

quarta, 02 janeiro 2013 11:58

O outro 25 de abril

É um relato ficcionado sobre o sentimento que invadiu os portugueses quando ouviram a palavra revolução na diaspora.

A primeira pergunta que se faz no nosso país quando se aborda a revolução dos cravos, é : Onde estavas no 25 de Abril de 1974? As respostas variam para quem de perto ou não assistiu a este momento histórico. Nenhuma perspetiva é igual à anterior. Do que nunca se fala é dos milhares de portugueses que estavam emigrados. O que sentiram quando ouviram falar de uma mudança tão radical num país tão calado, tão mudo e acanhado pelo medo. A resposta? Perplexidade e uma certa desconfiança perante um acontecimento no mínimo inverosímil. Uma revolução em Portugal? Nah. Estava tão cético que no final da jornada de trabalho telefonei mesmo para a minha irmã, Maria do Amparo, para saber se era mesmo verdade o que vinha nos jornais. Ouvia e mesmo assim não ousava acreditar no impensável, que o meu calejado povo tivesse colocado um ponto final no regime e acabado de um vez por todas com a miséria de vida em que vivíamos. Muitos depois de confirmarem, como eu, a coragem dos que ficaram, choraram lágrimas misturadas de alegria e tristeza. A liberdade tinha chegado ao nosso país à beira mar plantado, ao mesmo tempo relembravam o penoso caminho que os tinha trazido até ali.

quarta, 02 janeiro 2013 11:56

Xelb, a muçulmana

É uma das cidades mais belas do barlavento algarvio. No passado foi a capital do reino muçulmano em solo luso.

A história de Silves escreve-se nas pedras que remontam ao tempo dos fenícios e mais tarde dos romanos, mas é a sua herança muçulmana que deixou marcas intemporais na colina mais alta da cidade. O seu castelo avermelhado domina a paisagem urbana, testemunha secular silenciosa de imensas convulsões sociais e batalhas sangrentas entre árabes e reis cristãos que almejavam conquistar este rico entreposto comercial na foz do rio Arade.  O seu interior é dominado por uma cisterna gigante com uma abóbada abaulada e cinco arcos de volta inteira. No topo avista-se a cidade e as colinas em redor, deixando antever a dificuldade da sua conquista, que quase determinou a sua destruição tal foi a violência dos ataques. Mas, não foram as forças humanas que arrasaram e ditaram a decadência de al Xelb planeada cuidadosamente por califas muçulmanos, foi o terremoto de 1755 que arrasou esta urbe que desde então, foi perdendo o seu esplendor e influência.

Só mais tarde no século XIX com a implementação da indústria corticeira é que Silves ganha um novo folêgo e retoma o seu antigo orgulho perdido. Do seu passado glorioso para além das edificações ficaram as lendas de reis mouros e princesas cristãs que se perpetuaram no imaginário infantil. Delas, reza uma que vou contar pelo seu encanto odorífero e visual, Ibne Almundim, rei de Silves e poeta, encontrou entre os seus prisioneiros das suas muitas batalhas uma beleza nórdica, de cabelos dourados e olhar azul penetrante de seu nome Gilda. Comovido pela sua fragilidade alva e hipnotizado pela sua estranha beleza, o monarca mouro decide casar com esta princesa vinda do Norte longínquo. Após o desenlace, ela tomba de saudade profunda, suspirando pelos cantos do palácio, ansiando pelas paisagens brancas da sua terra natal que nunca mais avistou. O rei sensível a sua dor manda plantar amendoeiras até os confins do reino. Na primavera, a rainha perante um mar de flores brancas recupera as forças e a alegria de viver. Desta história o único legado que ainda se conserva são as amendoeiras em flor e as deliciosas receitas de doces que são um autêntico ex-libris da gastronomia algarvia.

quarta, 02 janeiro 2013 11:49

A carta

É uma cápsula no tempo na primeira pessoa sobre a vida numa ilha perdida no oceano.

Há 40 anos atrás vivia num mundo perdido entre as vagas do mar, fustigado pelos ventos suões e abraçado pelas torrentes de neblina. O quotidiano era temperado, como o tempo, nem muito quente, nem muito frio. As horas perdiam-se no seu vagar, não havia hora marcada, o despertar dependia da aurora e do canto do galo e o adormecer nos ocasos que se escondiam do olhar por detrás de uma linha em tons de azul traçada pelo oceano. As notícias escassas do Continente vinham através de cartas rasuradas que tinham de arder, sem verdadeiramente terem cumprido a sua missão. O medo não tinha fronteiras, era maior que a distância que nos separava da capital da nação.

Vivíamos fingindo que éramos gente, mas não passávamos de ilhéus que dependiam de si mesmos para sobreviver numa espécie de grande rochedo flutuante. A natureza e as estações eram as nossas aliadas nesta luta, mas a ilha também exigia sacrifícios que ficavam impressos sob a forma de cruzes brancas nos acantilados. Pobres almas que tropeçavam nos precipícios de basalto camuflados pela tardia madrugada, em mais uma jornada de árdua labuta encaminhado a preciosa água das levadas que mataria a sede das pequenas colheitas. A terra era fértil e daí brotava o sustento das famílias constituídas apenas de mães, os filhos ainda pequenos e os velhos. Era um lugar quase desprovido de mancebos jovens e capazes. Os navios eram os culpados, partiam rumo a um novo mundo, com promessas de abundância e riqueza, levando consigo os nossos homens em fuga em busca dessa quimera que traria mais fartura e menos privação. Mas, chega de memórias sussurradas. Mas, elas teimam e recordo como a luz escasseava no horizonte e tentava acabar de bordar os lençóis para o enxoval da minha sonhada filha, ainda não conhecia o rosto do seu pai, nem o seu nome, mas viria, assim como a minha mãe sabia que eu iria nascer e a minha avó pressentira que iria parir uma menina. Sempre haverá Marias na nossa família. Era preciso preparar tudo antes da tua vinda, que não queria que fosse madrasta como o foi para mim. Relembro que uma vez por semana tinha de partir em direcção à cidade no horário que levava mais de uma hora para chegar. Custava dois escudos amealhados com grande sacrifício. Era uma viagem ondulante, feita de curvas, contracurvas e paragens pelo caminho para recolher mais povo que abalava para o Funchal em busca de sustento. A meio do caminho adivinhava-se a carga excessiva. A máquina ressentia-se expelindo fumos negros e um odor a óleo queimado que nos acompanhava até à saída. Chegados ao nosso destino, era grande a confusão de sacas de sarapilheira e cestos de vimes carregadas de frutos, vegetais que seriam vendidos no mercado dos Lavradores. Eu esperava pela minha vez, entre empurrões e gritos impacientes pela minha encomenda bem embrulhadinha com os preciosos panos que bordava meticulosamente, com excepção dos teus, esses estavam guardados numa arca perfumados com bolas de naftalina para não serem comidos pela traça. Na volta, o dinheiro do meu trabalho embora parco, servia para comprar mais tecido, farinha e fermento para amassar o pão que a tua avó moldaria com as suas hábeis mãos.  E o tempo passa, quarenta anos para ser mais precisa, depois de também eu ter partido e ter retornado, tudo mudou para melhor. A modernidade deixou a sua marca nas curvas da ilha. Mas, os ilhéus, os ilhéus, esses permanecem perdidos nas brumas do nevoeiro, continuam sem ser avistados no longínquo Continente.

quarta, 02 janeiro 2013 11:48

Piódão, a mais histórica de portugal

É uma das aldeias mais bonitas do nosso país, recheada de histórias por contar.

Situada na encosta do Açor, no centro do país, esta aldeia histórica ao contrário de muitas que se esvaziaram ao longo do tempo, não é habitada por ruínas e fantasmas, mas sim pessoas orgulhosas do seu passado e das suas tradições que não deixaram morrer. Piódão não é de acesso fácil, é preciso subir com persistência os acessos sinuosos, é como uma mulher difícil que se faz desejar, de quem ouve falar, é como uma fascinação crescente que nos invade, uma vontade indomável para a conhecer, para a ver. Lembra um pouco a ilha com os seus socalcos retidos pelas pedras centenárias e as suas casas afundadas nas montanhas, misturando-se com a paisagem que decora as colinas com os seus tons terra, camufladas com os seus líquenes esverdeados.

quarta, 02 janeiro 2013 11:46

A sevilhana

É uma das cidades mais fascinantes da península ibérica e carregada de um passado histórico multi-cultural.

Sevilha, a capital da Andaluzia, é como uma cidade encantada povoada por memórias mouriscas e por cavaleiros andantes. Pela languidez das “Carmens” que encontrámos em cada esquina, bamboleando-se em ritmo lento banhadas por longos cabelos negros e miradas perfurantes ocultadas pelos seus abanicos. É a arena dos “Dom Juan” com a sua masculinidade descarada que piscam os olhos a todo o instante, brindando com piropos esfuziantes as caras mais larocas. São tão cintilantes como esta urbe que nos acolhe na sua discreta imponência bafejada por uma cálida brisa com cheiro a maresia, embora do mar nem sinal, daqui apenas se avista o calmo Guadalquivir que nos dá as boas vindas.

Ao passear pelas suas vielas, penetrámos num labirinto de ruelas cobertas por deliciosas e refrescantes sombras, uma das entradas das "reales Alcázares", sempre acompanhados por uma alegre algazarra que nos hipnotiza não pelo som, mas pelas reminiscências árabes que decoram os arcos dos edifícios encavalitados. Perdemos a noção do tempo. É de todo supérfluo. É preciso olhar para não esquecer as alçadas decoradas de cintas de azulejos coloridos e rendilhados alvos que desembocam na catedral de Sevilha, um dos seus ex-libris, e da sua Giralda. O gótico esplendoroso e despudorado domina a outra hora paisagem urbana da mesquita moura. À que fazer fila para entrar no templo religioso que se alça desafiante até os céus, tanto que é possível subir até o seu cimo em busca de redenção. Próximo, esta "Avenida de la Constitución" povoada por fachadas coloridas de quase perder a vista, tanto que o estómago se faz anunciar com protestos ruídosos. Nem de propósito a cervejaria "100 montaditos" fica ao virar da esquina, com as suas pequenas sandes e cervejas gradas, num preço muito low cost, muito ao gosto português. Mas, atenção é preciso ir cedo, à procura é muita e o tempo de espera é imenso.

quarta, 02 janeiro 2013 11:43

As 25 fontes

É mais um trajecto pelas entranhas da floresta laurissilva. Siga-me por este verde deleite.

É um dos percursos mais agradáveis pela floresta laurissilva. No meu barómetro de perigosidade, de zero á dez, oito. Fique! Prometo que não o assusto desta vez. Bem, talvez um pouquinho. Uma das atracções destes trajectos são também os turistas. São uma “fauna” muito engraçada, imprevisível e irresponsáveis, porque nunca ouvem os avisos que lhes são fornecidos gratuitamente quanto aos perigos da montanha. Regra número um, como medida de precaução nunca deve ir sozinho, pode perder-se e ninguém sabe por onde anda, duas pessoas chamam mais à atenção e entreajudam-se. Segundo, a mochila deve ter o essencial, vestuário quente devido a imprevisibilidade meteorológica da ilha, comida, um cantil, uma máquina fotográfica, uma lanterna, um telemóvel, uma espécie de bordão e um mapa. Terceiro, calçado adequado e atento ao que o rodeia. Agora sim esta pronto para mais uma aventura. Contudo, neste passeio tenho que recuar um pouco no tempo. Em tempos fui escuteira e como tal participei em muitos acampamentos e calcorreei muitos caminhos, veredas e levadas. As minhas façanhas pedestres eram sempre encetadas com um grupo fabuloso de amigos, do qual destaco para esta história, um, o Miguel. Em todos os passeios que fizemos, o meu amigo e companheiro de caminhadas acrescia ao peso da sua mochila um kit de primeiros-socorros e cordas, caso houvesse algum infeliz incidente. Bem, como já devem estar fartos de saber, (bem deduzo na minha insana modéstia que leram as minhas restantes crónicas), alguém pode “escorregar” pelas reentrâncias da montanha que nos enfeitiça, distrai e… upps, acontece uma potencial queda mortal.

Posto esta pré-sequela temporal, voltemos ao percurso das 25 fontes que tem início no Rabaçal, na Calheta. É facílimo encontrar o trilho, porque tem mesmo uma placa em madeira assinalando o começo de uma viagem inolvidável. É um caminho de água. Não literalmente, mas no sentido histórico, já que a ilha depende das levadas, há centenas de anos, para a rega das colheitas e para o consumo doméstico. Agora imaginem a força quase sobre-humana de milhares de braços que escavavam com picaretas pendurados por cordas a rocha vulcânica que permitiria canalizar, através de uma enorme rede de aquedutos, esse líquido tão precioso para o ser humano que é a água. Parece irreal, não é? E ainda, dizem que os desportos radicais foram inventados na Nova Zelândia. Bahh! Já me desviei do meu percurso.

quarta, 02 janeiro 2013 11:41

Os caldeirões

É um dos percursos mais belos e perigosos da ilha da Madeira que mergulha em plena floresta laurissilva.

Quando era mais jovem (não que seja velha, que fique bem assente) só existia um único mapa com as levadas que se podiam fazer ao longo da ilha, denominado de mapa dos coelhinhos. É verdade, não se riam ainda! Nele constava uma legenda em que a figura de um coelho em diversas cores designava o grau de perigosidade de um percurso pedestre no interior da ilha. Os tons indicavam o grau de perigosidade que cada percurso envolvia, os mais fáceis eram verdes e os mais difíceis abrangiam os vermelhos e os animaizinhos de cor laranja designavam as levadas mais perigosas da ilha. Toda a gente tinha este famoso mapa muito simples que estranhamente deixou de ser impresso. Não me perguntem o porquê.

É um desses percursos sinuosos e violentamente belos e cor de laranja de que vou falar. A caminhada começa no parque florestal das queimadas, em Santana e já agora um aviso nunca se deixem condicionar pelas condições atmosféricas da Madeira, ou da zona onde se encontram, devido a sua natureza multi-climática, tanto pode estar chuva e nevoeiro num extremo da ilha, como quando nos deslocámos no sentido oposto somos brindados por raios solares reconfortantes. Dito isto sigamos em frente sem medos, como diria uma das personagens do Herman José. Onde estávamos? Ahh, no princípio da levada. Outro aviso e juro que último, se é claustrófico, se sofre de vertigens e se é cardíaco, simplesmente não pode contemplar tamanha beleza. Sinto muito. O porquê está diante dos nossos olhos, antes de chegar até a queda de água andamos por um trilho com 5,9 Km de distância, entre túneis, que os madeirenses designam carinhosamente de furados e sinuosas curvas e contracurvas adornadas pela floresta laurissilva que ao abrir-se pouco a pouco mostram arribas profundas e gargantas de rochedo sem fim à vista. Até o caldeirão verde o percurso é relativamente plano, aliás é tão concorrido que o maior perigo que enfrentamos é uma queda motivada pela educada passagem que cedemos a outros caminhantes mais apressados. São tantos os estrangeiros que circulam neste percurso que dá a nítida impressão de ser mais movimentado do que certas ruas do Funchal. É de loucos. Ao avistar a queda de água somos confrontados pela magia da luz que se decompõem em múltiplas cores em confronto com as fráguas.

quarta, 02 janeiro 2013 11:39

A freguesia das mulheres

A pequena localidade que pertence ao concelho de Braga, São João de Souto, é maioritariamente habitada pelo sexo feminino.

Quando visitámos São João de Souto o que avistámos? Mulheres e mais mulheres, do sexo masculino quase nem sinal. Segundo dados estatísticos dos últimos censos de 2011 está pequena no coração da cidade de Braga é que tem o maior número de habitantes do sexo feminino, ao todo são 725 residentes dos quais 481 são mulheres. O porque deste fenómeno? Ninguém sabe ao certo! O facto é que elas estão em maioria e vieram para ficar. Embora, tanta beleza feminina seja um excelente motivo para uma visita, não se trata da única atracção desta localidade. São João de Souto dispõe de um grande património artístico que silenciosamente persiste altivamente pelas suas ruas, vielas e becos. São pedras seculares que contam a história do nosso país ao longo de vários séculos.

quarta, 02 janeiro 2013 11:37

Nove

Acompanhe-me por uma viagem pelos ensaios de uma performance poética pouco convencional, levada a cena pelo grupo de teatro da Casa Esquina, que estará em itinerância pelo país e pela Galiza.

Deparo-me com um potencial cenário teatral desprovido de carne, onde apenas se vislumbram paredes nuas e uma espécie de balcão improvisado onde agora ecoam os passos que inundam um espaço antes mudo. Pouco há pouco, vai-se construindo um espaço cénico, ganhando uma consistência assente numa estrutura circundada por fios, luzes e bancos que irão permitir criar um diálogo entre os actores e o público. A ilha como lhe chamam, feita de cadeiras amontoadas e um luz a imitar um farol. O espelho que pouco ou nada irá reflectir mostrará apenas vislumbres de duas sombras. Os calhaus e a areia negra vulcânica rematam o cenário que mais quer parecer um território rodeado por mar. Antes do início do ensaio todo o material é testado para que na função de logo à noite, não haja imprevistos. A guitarra acústica emite sonoridades estranhas à sua própria natureza, parecem relinchos, socos e silvos, que lentamente vão-se transformando numa melodia ritmada que serve como mote para as palavras e para exaltar os silêncios.

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