Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

sábado, 29 dezembro 2012 16:17

Cem poemas do adeus e da saudade

Uma selecção organizada e introduzida por José Fanha e José Jorge Letria.

Falésias praias areais ardentes ou o sétimo poema do português errante.


Para deixar-vos tenho o meu orgulho
que para vos deixar não tenho nada
ensinei-vos o mar o verão o julho
o alvoroço da pesca e da alvorada
os pássaros a caça o doce arrulho
do instante que passa e é tudo e é nada.

Para deixar-vos tenho a liberdade
um astro a lucidar dentro do não
o riso e seu esplendor a intensidade
da vida que se dança um só verão
o fulgor dessa breve eternidade
o azul o vento o espaço a solidão.

Para deixar-vos nada que deixar
só um país e as ilhas adjacentes
um rectângulo inteiro e ainda o mar
as montanhas os rios e afluentes
as índias que ficaram por achar
falésias praias areais ardentes.

Para deixar-vos tenho o que não tenho
que para vos deixar não tenho mais
do que a escrita da vida e o eco estranho
de ritmos sons e signos e sinais
metáforas que têm o tamanho
do mundo que vos deixo. E nada mais.

Manuel Alegre

Esta antologia é uma continuação do projecto iniciado pelos cem sonetos portugueses, dos dois autores, investigadores e escritores que decidiram debruçar-se desta feita “na palavra saudade tão apaixonante como indefinível e que um dos temas mais presentes na poesia portuguesa”. É um sentimento que segundo os autores “é o nosso modo de olhar o mundo e a vida e de sentir que existe uma forma de transformar em perene dizer poético aquilo que mais intimamente nos fere e flagela”. É uma singela colectânea com vários poetas portugueses e uma pequena biografia só para ilustrar o percurso de cada um deles. Para folhear e recitar em dias sem fim. Boa leitura.

sábado, 29 dezembro 2012 16:15

Os profetas

É uma obra baseada num acontecimento histórico que teve lugar no Porto Santo, escrito por Alice Vieira.

Esta obra foi inspirada num evento que mudou o rumo da vida das populações que colonizaram o Porto Santo e a forma como são vistos pelos restantes ilhéus. Parece confuso, mas passo a explicar para aqueles que não sabem, o Porto Santo faz parte de um arquipélago que integra a ilha da Madeira, as Desertas e as Selvagens. Os dois últimos conjuntos de território que referi são inabitáveis devidas as suas características geológicas e morfológicas, sendo que a Madeira é mais conhecida e de certa forma por esse motivo a população local sempre olhou para os Porto-Santenses com uma certa superioridade e algum desdém, que gerou ao longo dos séculos uma série de anedotas, contos e mitos pouco simpáticos. Uma dessas histórias e talvez a mais importante, descrita por Gaspar Frutuoso, foi recriada pela escritora Alice Vieira que ao longo de um ano, analisou documentos, escreveu e viveu na primeira ilha a ser descoberta pelos navegadores portugueses que gerou um apelido ou cognome considerado depreciativo pelos naturais da ilha que se mantém até os dias de hoje, os profetas, sabe porque os madeirenses ainda utilizam este termo para irritar os porto-santenses? Bem, este é um excelente motivo para ler esta singela obra, que recria um passado que a todo custo se tentou enterrar nas areias douradas, mas que transpirou através do tempo num tom de quase lenda. Boa leitura!

sábado, 29 dezembro 2012 16:14

Uma estrela caiu do céu


O João a quem chamavam Serafim perdeu uma estrela do céu e a partir desse momento enceta uma busca que o irá levar a conhecer lugares inusitados e a fazer novos amigos. Embarque nesta viagem colorida, escrita por Jorge Barroso e ilustrada por Paulo Sérgio Beju, e descubra o que aconteceu a este menino muito especial.

Fala-me um pouco sobre o processo criativo deste livro.

Paulo Sérgio Beju: É sempre um processo de procura, de uma imagem que o texto pretende transmitir e muitas vezes o que acontece é que elas ganham uma tal dimensão que o extravasam e a ideia é esta. Nós estamos num momento em que temos acesso as imagens e não queria que a minha fosse mais uma ilustração qualquer, ela tinha que ultrapassar essa questão. Tem de ser quase arte, porque é essa intenção da editora quando pede os meus trabalho e querem que isso fique impresso no papel e é isso que procuro com uma equipa. Esta partilha é conjunta por isso, passo os originais pelas mãos das pessoas, é um livro para se sentir, porque tem relevo e brilho e julgo que isso fica impresso aí, nesse procura de também chegar ao outro, ao espectador e ao leitor.

Durante a apresentação do livro, mostraste várias imagens de fotografias que usastes para este livro, é sempre assim o teu processo criativo?

PSB: É um misturar tudo dentro da mesma sopa. Passa por aí, eu não gosto que lhe chamem fotografias, falo de imagens. No meu caso a fotografia passa a ser outra coisa qualquer, uma folha passou a ser uma casa, ou um lençol embrulhado passou a ser uma nuvem, isso é entrar no mundo da criança que é o faz-de-conta. Vamos brincar com isso, isto é, mas pode ser outra coisa.

Neste livro há um grande universo de ilhéu, de ilha, foi isso que procurastes também expressar?

PSB: Eu quero que o universo de ilhéu e passe para o livro, mas quero que ultrapasse isso, quero que também passe uma mensagem cultural e de património que é, como vivo o natal nesta ilha. É por isso que tem muita cor, se calhar este aspecto é comum a todos e a ideia vai ao encontro disto. É também percebermos qual é o nosso lugar aqui, o natal é um período de paz e em que as pessoas estão mais susceptíveis para ajudar e quero que o livro tenha essa mensagem, é um natal que não é só daqui, é do mundo.

sábado, 29 dezembro 2012 16:13

As pupilas do senhor reitor

É um romance do final do século XIX escrito por Júlio Dinis.

É um dos clássicos da literatura portuguesa, que tem como pano de fundo uma aldeia, nos arredores de Ovar, onde irá decorrer a acção de uma narrativa folhetinesca que envolve dois pares amorosos, Margarida e Daniel, Clara e Pedro, respectivamente. O que mais sobressai nesta leitura são as várias personagens que giram em torno dos nossos apaixonados, o médico João Semana, o abastado agricultor João das Dornas, o reitor o padre António e o merceeiro João da Esquina que são decalques das personalidades que pululavam no meio rural. Júlio Dinis descreve com mestria o quotidiano desses grandes espaços, que considerava mais saudáveis em oposição as cidades e onde o microcosmo social é omnipresente, toda a gente fala de todo o mundo e pelos vistos a sua vida não lhes chega, tanto assim é que quase no final do livro deparámo-nos com uma série de acontecimentos que só não terminam em tragédia, porque na realidade não tiveram lugar, o poder do boato e da maledicência quase destroem a reputação de uma das jovens, mas tudo esta bem quando acaba bem. Descortino o final por um único motivo, vale a pena ler esta história de um Portugal ingénuo perdido no tempo. Boa leitura.

sábado, 29 dezembro 2012 16:08

Os uivos do nosso contentamento


As ilhas desertas são a vários séculos um refúgio para os lobos-marinhos. Um mamífero ameaçado de extinção que tem registado um crescimento significativo no arquipélago da Madeira.

A colónia dos lobos-marinhos da Reserva Natural da Madeira é uma das mais jovens de toda Europa. Com uma população mundial que engloba os cerca de 300 indivíduos, sendo por esse motivo uma das espécies mais ameadas do mundo, o grupo que actualmente reside nas ilhas Desertas é considerado um caso de sucesso devido aos três nascimentos que regista por ano. Neste momento estão contabilizados 30 destes animais aquáticos e espera-se que o número aumente de forma progressiva. Um crescimento que resultou não só da criação de legislação adequada para a defesa e protecção destes mamíferos, como também do trabalho desenvolvido pelas equipas científicas do parque e da mudança de mentalidades. Mas, nem sempre foi assim.

As populações de Lobos-marinhos foram em tempos muito numerosas na Região Autónoma da Madeira. Os avistamentos destes animais remontam do tempo em que a ilha foi descoberta, no século XV. Segundo relatos dos descobridores, numa baía na costa sul ter-se-ão deparado com uns animais desconhecidos que se estendiam ao longo da praia e uivavam como lobos. Deste encontro resultou, a actual designação comum deste mamífero e o nome da referida localidade madeirense, Câmara de Lobos. Ao longo dos séculos os monachus monachus (nome científico) foram alvo de uma autêntica carnificina por vários motivos. Em primeiro lugar, a pressão demográfica exercida pelo homem junto dos habitats destes animais. Depois a pesca, o lobo-marinho e o homem partilham o mesmo recurso natural, o oceano, e competem pelo mesmo, o peixe. Com a expansão das técnicas piscatórias, o uso de explosivos e a perseguição dos pescadores a esta espécie, era natural que o seu número tivesse diminuído drasticamente ao longo do tempo.

Foram precisos cinco séculos até entendermos a importância destes belos espécimes para o ecossistema. Por isso, o facto de estarem a nascer mais lobos-marinhos já é de si, um sinal inequívoco de um sistema ambiental saudável. De tal forma que, actualmente já se tem avistado estes simpáticos animais na costa madeirense. No entanto, fica o alerta apesar de serem animais muito fofinhos, não deixam de ser selvagens. Há um conjunto de regras que devemos respeitar para evitar um confronto desagradável. Eles mordem ao sentirem-se ameaçados. Nunca se deve alimenta-los, estes mamíferos ingerem vários quilos de peixe e crustáceos por dia, o que você considera ser um snack aceitável para este animal é apenas um dentinho e pode o irritar. Não o tente afagar, não se trata de um cão! E mesmo a uma curta distancia tente não virar-lhe as costas no mar, nunca se sabe, como são curiosos e brincalhões pode surgir do nada um incidente desagradável.

http://estacaochronographica.blogspot.com/2010/10/victorinox-apoia-focas-da-madeira_22.html

http://www.madeiranature.com/index/cms/page/-/page/Ilhas%2BDesertas/lang/pt

http://www.madeiranature.com/index/cms/page/-/page/nature_fauna_others/articleId/343/articleTitle/lobo-marinho/lang/pt

sábado, 29 dezembro 2012 16:11

O livro dos mosquetes

É o segundo romance histórico de Emílio Miranda.

É um livro de contrastes. Aborda as diferenças culturais entre o ocidente e o oriente, duas formas de vida profundamente opostas em todos os sentidos, descrita através da chegada ficcionada dos primeiros portugueses à solo japonês e as relações comerciais que encetam a partir desse encontro fortuito. É também o relato pessoal de João Boavida que decide documentar a descoberta de uma civilização que considera muito distante da sua realidade, mas que o fascina constantemente. Os portugueses e os japoneses são dois povos completamente díspares e isso fica expresso neste romance histórico. O mais curioso é que podem até ter passado vários séculos sob esse achamento mútuo, mas considero que a escrita de Emílio Miranda ajuda-nos a compreender melhor uma cultura milenar cujos valores sociais e morais ainda nos causam uma certa estranheza até nos dias de hoje. O livro é uma janela ficcionada, é certo, mas o autor procurou documentar-se sobre os hábitos do povo nipónico e isso nota-se na leitura, apreciei sobretudo, a intenção de mostrar não só como os portugueses viam os japoneses, como também, o outro lado do espelho, o que os japoneses pensavam sobre os portugueses. A descrição do quotidiano das aldeias nipónicas, as suas crenças e a forma como a sociedade era estratifica ajuda-nos a compreender um pouco mais esta cultura oriental. Emílio Miranda tem uma escrita limpa, enxuta, sem demasiados floreados, mas que prende o leitor pela forma como estrutura uma história que quase parece real, é o diário de um ocidental em terras orientais. Boa leitura.

sábado, 29 dezembro 2012 16:01

Noidz: os aliens da música portuguesa

“Numa galáxia distante, a 20.000 anos-luz de distância, um planeta desconhecido chegou a um fim abrupto após milhões de anos de evolução. Cinco criaturas alienígenas que sobreviveram miraculosamente à extinção, estão hoje na Terra. Vivem entre nós. Chamam-se a si próprios... Noidz!”.

Assim se apresenta esta banda portuguesa no seu site oficial, onde, num universo de videojogos e ficção científica, pode ouvir-se na íntegra o CD “The Great Escape”.

Mas quem são afinal os Noidz? E o que os torna diferentes?

Comecemos pela resposta à última questão: tudo. Desde logo, a música. Trance Metal Alienígena, de acordo com os próprios. Traduzindo, trata-se da fusão da batida do trance e da electrónica com as guitarradas do metal e do hard rock, incorporando ainda sons característicos do folclore tradicional português, como em “Root Sounds from Earth” ou “O Pastor”, versão bem alternativa ao original dos Madredeus.

Além da inovação teconológica e da inegável criatividade musical, os Noidz apostam no mistério. Cada um dos seus membros assumiu uma identidade alienígena. Zork, Monkka, Dr. Zee, Zdion e Lunattika são os personagens de uma verdadeira peça de ficção científica. Criados em 2006, só no ano passado se tornou pública a verdadeira identidade de Zork, líder e mentor dos Noidz: nada mais, nada menos do que Rodrigo Leal, filho do luso-brasileiro Roberto Leal.

sábado, 29 dezembro 2012 16:10

As histórias e as canções das 4 estações

É mais uma colecção encantadora da escritora Maria Alberta Menéres.

A minha próxima sugestão de leitura é aconselhado pelo plano nacional de leitura e como já devem ter adivinhado trata-se de um livro infanto-juvenil, “as histórias e as canções para as 4 estações” é um excelente começo para incutir bons hábitos de leitura nas crianças, sendo para mim um prazer redobrado abordar esta publicação ou qualquer outra do género pelo facto de ter lido na minha infância esta autora, Maria Alberta Menéres. Creio que todas as pessoas que gostam de ler sabem do que estou a falar quando descobrimos um livro, o que acontece quando surge a magia do virar da página, onde se descobrem as aventuras, desventuras, as alegrias e desditas das personagens fantásticas e criaturas maravilhosas que esta escritora ajudou a criar ao longo dos anos. A própria, aliás, aconselha no prefácio, “vá lá, experimenta andar, primeiro devagarinho e depois vê se consegues correr à tua vontade. Os livros gostam destes carinhos, desta confiança que o nosso entusiasmo lhes transmite” e estas histórias são disso um excelente exemplo, não só pela delicadeza da escrita, mas também pelas belíssimas ilustrações e as canções que acompanham em áudio que acompanham esta colectânea. Pode começar pelo volume que quiser, como deve calcular são quatro, mas já agora aproveite o embalo e comece pelo inverno, antes que termine. Boa leitura.

sábado, 29 dezembro 2012 16:09

Inverness

É um dos romances da autora madeirense que recentemente foi premiada.

É um livro onde nem tudo o que parece é e as aparências iludem. Estes poderiam ser os motes da uma história que não se vislumbra ao princípio, digamos que aparece insidiosamente como os nevoeiros frios de Inverness e esse virar da página inesperado que o torna uma leitura viciante. Ana Teresa Pereira numa entrevista definiu este livro como um policial metafisico, percebe-se porque, mas como ela própria frisa e eu concordo, acaba por não ser o mais importante. A escrita da autora empurra-nos suavemente, sem grandes sobressaltos, ou considerações filosóficas, para um epílogo povoado de personagens quase fantasmagóricas, e o curioso é que o são quase todas elas, o escritor, a actriz, a esposa e o amante possuem algo de inatingível que os torna quase etéreos e diáfanos. É de uma inquietante estranheza a forma como se desenvolve a narrativa, é uma peça de teatro encenada para o microcosmos onde habitam as nossas personagens e chega a ser assustadora de certa forma o porque de ninguém questionar nada, é como se o tempo tivesse pura e simplesmente parado por segundos e tivesse retomado o seu ritmo sem sobressaltos. O final é no mínimo inusitado, mais não conto para não estragar a surpresa. Boa leitura!

sábado, 29 dezembro 2012 16:08

Equador

É um romance histórico escrito por Miguel de Sousa Tavares

Foi a estreia do jornalista e cronista Miguel Sousa Tavares como escritor de ficção. Trata-se de um romance histórico que nos remete para o percurso pessoal de Luís Bernardo Valença, o novo governador da ilha de São Tomé e Príncipe. Equador tem como pano de fundo a queda da Monarquia Portuguesa, o autor descreve um período dominado por convulsões sociais, devido a uma profunda crise económica e ao mesmo tempo traça o retrato de uma sociedade colonial dominada pelos donos das roças. É o fervilhar de um novo mundo que espreita pela frincha da porta e que é bem descrito pelo autor. Gostei da forma como recriou os almoços épicos do Rei, Dom Carlos e do ambiente tenso que se vive nas ilhas, devido a uma eminente revolta dos escravos. As personagens, contudo, são outro assunto completamente diferente, diria mesmo que são frágeis em termos de narrativas, tem muito pouca profundidade, algumas diria, são um tanto quanto cliché, previsíveis e superficiais em todos os sentidos, em particular as femininas, identificámos facilmente a beata, a má-língua, a misteriosa e claro, a amante, que só podia ser inglesa e motivo da paixão desenfreada de Luís Bernardo. Até o final é desconcertante, mas diz-se que quando um escritor não sabe o que fazer com um personagem…Boa leitura.

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