É um curta-metragem de15 minutos, escrita e realizada por César Schofield Cardoso. Não é, nas palavras de Filintio Elísio Correia e Silva, um filme muito cosmopolita, é enraízado, performático que fala das coisas essênciais do homem cabo-verdiano, o não ser um país muito verde e ter uma natureza muito agreste e difícil. Então, aborda o homem em luta com esta natureza, nesta porta com África, que tem a música africana e uma cultura europeia trazida pela religião.
O que te levou a escrever um script para um filme sem falas?
César Schofield Cardoso: Eu devo enquadrar este projecto, comecei como fotográfo e durante muito tempo só fiz fotografia, que é um acto de falar só com a imagem. Quando comecei a fazer filmes transportei essa maneira, essa linguagem puramente visual, o "raíz" foi feito dessa forma. Também me intriga muito o povo cabo-verdiano, de como se aguenta, somos um país que tem longos períodos de seca, diria mesmo que é intensa, há populações que vivem de forma muito dura e pergunto-me como este povo sobreviveu este tempo todo. Intriga-me muito essa convivência, que não é muito pacífica, entre as várias culturas. Portannto, o filme tem esses elementos, para além de uma natureza que é muito poderosa, até visualmente e dessas culturas que estão em permanente choque, em diálogo, em reconstrução, é um universo que me define muito como cabo-verdiano. É das coisas que mais observo na minha própria terra, é um tema que é-me muito caro.
Falas do choque cultural, mas há outro entre a natureza e a religião?
CSC: Sim, eu devo dizer que todas as religiões me intrigam, mas em particular, o catolicismo. Interessa-me a culpa, de sermos pecadores, somos culpados, devemos sofrer, resignar-nos, não é? Entáo trago isso, eu coloco essa questão em confronto com o batuque, que veio directamente de África e que representa o vigor da luta, da não resignação, são esses os elementos que coloquei em discurso.
O elemento da seca é colocado em oposição à água, no princípio e no fim do filme, porquê?
CSC: O cinema é uma linguagem e usámos os nossos elementos e truques. Falar da seca com o som da água torna particularmente mais violenta essa condição, por acaso é um aspecto que salta muito à vista no filme e que as pessoas comentam imenso e resulta, porque os espectadores ficam incomodados, aquela água aparece como que a gozar, não é? (risos)
Gonçalo Campos é um designer que aposta em peças únicas, diferentes e com uma dupla funcionalidade. Adequa os seus produtos as necessidades das marcas e procura oferecer soluções inovadoras tendo em conta as características das indústrias para as quais trabalha.
Uma das características das tuas peças de design é a desconstrução. Acontece com os objectos de cerâmica, forneces uma outra função ao próprio material. É uma marca tua em termos de design?
Gonçalo Campos: Sim, tem a ver com a produção. Eu gosto de trabalhar muito próximo das empresas, perceber como funcionam e fazer isso muita vezes facilita em termos de produção. No caso das cerâmicas uma caneca é feita normalmente em duas partes, o copo e a pega separadamente, sabendo isto pode-se brincar um pouco com a peça e desconstruí-la. É uma maneira mais simples de fazer algo especial, diferente e também para que as empresas percebam que não é necessário um grande instrumento para trabalhar com designers, não é essencial ir muito longe para se fazer algo original, novo e às vezes isso é o suficiente para as marcas.
Algumas das tuas peças de madeira são de uma simplicidade quase desconcertante, quase não tem produção, trabalhas muito em termos da função. É sempre uma preocupação tua?
GC: Não é sempre. Eu encaro da mesma forma, muitas vezes há maneiras de fazer uma peça simples que seja funcional e ao mesmo tempo especial, isso interessa-me. Os produtos que desenho tem de ter em conta, não a economia, mas a dificuldade de produção, porque se abordo uma empresa e o produto for muito complicado, é uma razão para o seu desinteresse, em detrimento de um mais simples, que eles percebam como produzir.
Porquê dizes isso, continua a haver esta dificuldade de interacção entre a indústria e os designers, é isso?
GC: Sim, muitas vezes, não há vantagens sequer. Em alguns casos a culpa é dos designers que não conhecem a empresa o suficiente, nem o mercado onde estas companhias trabalham, não entendem a sua dimensão, já nem todas fornecem os mesmos tipos de clientes e os produtos que se desenham não são adequados. Eu aprendi isso tendo mais interacção com as empresas, com os mercados e as marcas. Foi isso que me empurrou para a exportação, perceber bem as necessidades das empresas e desenhar de acordo com isso, porque é isso que as marcas portuguesas necessitam neste momento, soluções interessantes tendo em conta as capacidades que dispõem e desenhar a partir daí. Ao contrário do designer que esta de fora de todo este processo e que acaba por adiar um projecto, muitas das vezes as companhias querem licitar, querem ter produtos novos, especiais, competitivos, mas necessitam de criar produtos tendo os recursos que dispõem aos preços que praticam, em vez de investir mais dinheiro à procura de um cliente para esse novo produto, que acaba por não fazer parte do contexto da empresa.
Isso acontece com qualquer tipo de empresa, quer seja portuguesa ou não?
GC: Sim, no geral.
O vulcão da ilha do Fogo em Cabo-Verde continua activo há 15 dias.
Existem no nosso planeta mais de 1300 vulcões activos no mundo, sendo que muitos são submarinos, ocorrendo em dorsais oceânicas. As principais regiões vulcânicas da Terra encontram-se em torno das margens do Pacífico, desde o cabo Horn até ao Alasca, o chamado o Anel de Fogo do Pacífico, nos Andes centrais do Chile, com o vulcão mais alto do mundo, o Guallatiri, com 6060 metros, na Islândia do Norte, na Nova Zelândia, no Havai, no Japão e na Antárctida.
No continente africano um dos mais activos é o vulcão da ilha do Fogo, no arquipélago de Cabo-Verde, com aproximadamente 2829 metros de altura, de forma circular possui uma área de 476 km2, com uma caldeira de 8 kms de diâmetro na Chã das Caldeiras no lado ocidental, as suas paredes atingem 1000 metros, com uma cratera de 500 metros de diâmetro e uma profundidade de 180 metros. Agora imaginem todo este portento natural em erupção a expelir lava e cinzas em todas a direcções que, desde o dia 23 de Novembro, colocam em perigo a vida dos cerca de quase 40 mil habitantes.
Segundo uma porta-voz oficial do governo local, Aleida Monteiro, que prestou declarações à agência lusa, Portela e Bangaeira foram literalmente apagadas do mapa pela lava que jorra dos vários cones vulcânicos de Chã das Caldeiras. Após ter destruídos estas duas localidades em quatro frentes, unificou-se e criou uma nova, de 300 metros de largura, que segue tendencialmente em direcção a Monte Velha, a norte da ilha. Contudo, a assessora não pode confirmar se este será o percurso que a massa incandescente irá tendencialmente seguir, por isso, "nunca se sabe". Se se confirmar o pior dos cenários e Monte Velha for atingida pela lava, a torrente ganhará novamente velocidade, devido um considerável desnível, tendo pela frente as pequenas localidades de Pai António, Feijoal e Fonsaco, que ficam mesmo ao lado da segunda maior cidade da ilha do Fogo, Mosteiros, igualmente sede de concelho, junto ao mar. Tudo vai depender das inclinações do terreno, uma vez que haverá a possibilidade de a lava possa seguir para oeste e lançar-se em direção a Corvo, Achada Grande e Relva."Mas tudo é ainda muito incerto", insistiu Aleida Monteiro, que adiantou que a equipa de especialistas está a monitorar, minuto a minuto, a actividade eruptiva e a direcção da lava, havendo dois postos de observação no terreno.
O Governo português, desde o primeiro momento desta catástrofe natural, respondendo ao apelo do governo regional de Cabo-Verde procedeu ao envio de apoio logístico e humano, contudo se pretender ajudar as populações locais de forma anónima, basta um pequeno contributo na conta indicada posteriormente:
Conta: SOS TCHAN 2014
Banco Caboverdeano de Negócios (BCN) com o Swift: CANBCVCV
IBAN CV64 0004 0000 0569 6870 1016 3
O Banco correspondente é o Santander Totta Portugal com o Swift: TOTTAPTPL
http://www.cig.gov.pt/2014/12/apelo-da-uccla-para-apoio-a-populacao-da-ilha-do-fogo-erupcao-vulcanica-de-cha-das-caldeiras/
http://www.universal.pt/main.php?id=160&art_hom=15785
Inserido no programa da encludança, dinamizado em parceria pela coreógrafa Clara Andermatt e por Henrique Amoedo, teve lugar uma acção de formação intensiva com profissionais, maioritariamente da área da dança e também de outras áreas artísticas como a música, o teatro, o vídeo ou a performance. Um encontro que reuniu cerca de 20 intérpretes e criadores com e sem deficiência e pretende proporcionar experiências, olhares e reflexão sobre diferentes formas de expressão e comunicação.
O viver em sociedade impõe modelos de comportamento, sociais, estéticos e culturais aceites por uma larga maioria, mas será que a diferença não merece um espaço cativo nesse conjunto de normas que nos regem? Afinal somos todos assim tão iguais? Então, como se pode ser normal na diferença? Onde se traçam os limites de uma normalidade aceite pela maior parte do mais comum dos cidadãos? Ou serão os normais afinal todos aqueles que assumem a sua diferença sem dar-se ao trabalho de encontrar desculpas pela forma como pensam, como vivem o seu quotidiano e se apresentam perante à sociedade?
Thiago Soares e Flávia Cintra são ambos muito diferentes...nas suas respectivas normalidades. Ele assume o seu corpo com uma tela que transforma ao seu bel-prazer, que usa de forma consciente mesmo que signifique impôr dor. As suas tatuagens e pircings são apenas um desses estágio da transformação do ser. Há também o resto, os seus fluídos corporais que o fascinam e que utiliza activamente nas suas performances públicas artísticas. São todas estas facetas do Thiago que compõem a sua identidade e sem as quais mergulharia numa profunda depressão.
Ela, por sua vez, ostenta um corpo imobilizado, um aspecto da sua aparência que exibe com naturalidade. Não reflecte em nada a sua identidade como mãe de gémeos, profissional e cidadã. Flávia levanta-se todos os dias a mesma hora, prepara os filhos para escola e sai para o trabalho como outra qualquer mulher. Assume que não sonha com andar, que nada acrescentaria à aquilo que já possui e conquistou mesmo numa cadeira de rodas...a sua felicidade.
É o último trabalho discográfico de Nuno&the end, com uma capa dos DDiarte.
Ao meu ver, existem dois tipos de músicos neste mundo, há os que primam pela excelência quando tocam os seus instrumento de eleição, são os chamados intérpretes virtuosos e podem até compôr, mas dedicam mais o seu tempo e esforço em aperfeiçoar e evidenciar as composições musicais de outros artistas, depois temos os músicos que não se limitam a dominar a técnica, mas que vão mais além, criam um universo musical que os identifica e que os ouvintes reconhecem de imediato, é tal qual uma impressão digital, este é o caso de Nuno Filipe e os The End. Se em "Seance", de que já falei, ele começa por explorar essa sonoridade que o caracteriza, em "Light Ahead", reconheço o amadurecimento de um projecto diferente em termos conceptuais. Neste trabalho discográfico nota-se desde já um maior número de canções estruturadas, as letras não existem por um acaso, há subjacente uma câdencia diria que quase bíblica, senão vejamos, a começar pelo tema "the apple&the serpent", seguido de "daydreaming ad then", "ascension", "idealistic thoughts", "when it all ends" e "light ahead" que dá o nome ao álbum. Se ouvirem com atenção a construção rítmica acompanha toda esta evolução em termos de narrativa, o Nuno Filipe introduz vários enxertos e misturas que enriquecem ainda mais os temas, não falo apenas das várias línguas em que são interpretadas as canções, pelas excelentes vozes de Tasha Glis e Moun Pinz, mas dos monólogos que são um dos apanágios do compositor. Destaco ainda o "we came in peace" o primeiro tema retirado deste novo trabalho, acompanhado por um vídeoclip irónico, diria até subversivo, melhor cartão de visita não poderia haver, reflecte na perfeição o mundo polifónico, multilinguístico e conceptual de Nuno&the End.
É um das grandes tendências em termos de paletes de cor da estação fria.
Embora uma das cores desta estação seja o vermelho, decidi resistir à tentação e vou falar dos novos tons surpreendentes para este outono-inverno, os pastéis. São cores invulgares para os rigores climáticos em que vivemos, mas trazem consigo uma leveza que embora se associe ao verão acabam por tornar os nossos dias menos lúgubres. Destaco algumas peças de jovens designers nacionais que mereceram à minha atenção pela inovação em termos não só da modelagem das peças, como pelos materiais escolhidos. Um desses exemplos, é a jovem Carla Pontes, que apresentou uma série de coordenados que lembra o cair das folhas só que em tons suaves. Teresa Abrunhosa por sua vez, apostou numa silhueta girly, as peças fazem-nos recordar todo um universo femenino delicado, suave e romântico. A concreto by Helder Baptista remete-nos para uma mulher ultra sofisticada, elegante e muito avant-garde.
Numa semana em que se pretende assinalar a violência contra as mulheres, sob o lema da cor laranja, deixo aqui à minha singela homenagem sob a forma de duas peças nesse tom, assinadas por duas grandes designers portuguesas, Anabela Baldaque e Teresa Martins, que há décadas contribuem de forma consistente e discreta para a moda made in Portugal.
http://www.portugalfashion.com/galerias/
É porventura um dos melhores actores da sua geração. Como actor não gosta de encarnar personagens lineares, aprecia a complexidade e contradição em termos de representação e não tem medo de correr riscos.
Abordando três persogens que criaste em "a arte de roubar", "o último condenado a morte" e "call girl". Qual destes três constituiu um desafio em termos de construção de personagens?
IC: Gostei muito de fazer o "call girl". De trabalhar com o António-Pedro Vasconcelos, pelo argumento, a forma como estava escrito e pela liberdade que o realizador dá aos actores para trabalhar. Foi um desafio grande pela velocidade de filmagem e pelas características do personagem, era um polícia muito espalha-brasas, que agia primeiro três vezes antes de pensar.
Atrai-te mais este tipo de personagens marginais, que fogem do estereótipo do típico bom e do vilão?
IC: Não necessariamente. Atraem-me projectos onde as coisas não sejam absolutamente lineares e haja alguma complexidade, os marginais tem sempre uma rebeldia qualquer que me atraí, assim, como os personagens ditos maus. Mas, eu acho graça como actor não tomar essa decisão a priori, ou seja, não decidir se um personagem é um vilão. Houve alguns anos um filme que me marcou muito que era com o Bruno Ganz, um actor alemão, que fazia de Hitler e o que era interessante na construção do personagem é que conseguimos criar uma certa empatia com ele, o que não deveria de acontecer, devido ao que fez à humanidade. Como ser humano Hitler era mau para uns, terrível para outros, no entanto, dizia-se que tinha uma relação maravilhosa com os netos, que era um avô extremoso, como actor interessa-me essas contradições e complexidades.
Tens já uma carreira longa no cinema português. Olhando neste momento para atrás, achas que há uma evolução, ou um retrocesso? Actualmemte falasse muito da crise, do não haver financiamento para o cinema português. Como é que olhas para todo esse percurso?
IC: Acho que tivemos períodos económicos mais favoráveis. A minha geração apanhou o boom do cinema, pelo menos tentou-se, se calhar não foram geridas as coisas da melhor forma, no sentido de criar escolas, não no sentido literal, pelo menos o hábito de escrever guiões e de dirigir actores, que acho que são duas fragilidades nossas. É sempre muito difícil encontrar bons guiões em qualquer parte do mundo e a direcção de actores não esta completamente desenvolvida em Portugal, há pessoas que sabem filmar, mas nem sempre sabem dirigir e em última análise quem esta à frente das câmaras são os actores e não técnica de realização, outros dirão o contrário, mas é aqui que me coloco. Hoje em dia atravessámos uma crise enorme, os financiamentos pararam há já dois anos, houve uma grande quebra de produção, mas por outro lado, nasceu uma nova geração que cresceu com estas limitações e que rapidamente se apercebeu que não podia estar à espera de apoios e seguiu em frente com pequenos projectos e temos jovens realizadores que estão a produzir primeiras e segundas obras que acho interessantes. Acho que o nosso país tem de resolver de uma forma definita as questões da lei do mecenato, onde uma produtora possa ir buscar apoios a empresas e elas terão contrapartidas em termos fiscais. Isso acontece muito no Brasil e quando se clarificou o enquadramento legal deu-se a chamada retomada e hoje em dia o cinema brasileiro tem um grande percurso. Nós temos que esclarecer, ao meu ver, a lei do mecenato para poder aumentar a independência do Estado, mas também haver sítios onde se possa ir buscar dinheiro com a contrapartida de haver espectadores e filmes que possam ser vistos pelo público. Depois há também outra questão na qual penso cada vez mais que são os direitos conexos, de imagem dos actores, já os tivemos e agora não, trata-se de ser pago não só por participar no filme, mas por cada vez que passa seja onde for, para quem participou obtenha uma percentagem do ganho, isso não existe hoje. Por um lado, os trabalhos que fizemos continuam a ser passados nas televisões, eles recebem o dinheiro da publicidade e quem trabalhou no filme não recebe mais nada. Obrigando um actor a ter que participar em muitas coisas, quando economicamente poderia estar mais salvaguardado, por outro lado, e espero estar certo, porque isto vai ser resolvido um dia, criaria um maior investimento inicial na produção filme, teria consequências positivas junto do público para valer a pena ser visionado dali para o futuro, assim haveria uma maior responsabilidade em pagar quem participou no filme. Acredito mesmo que teria repercussões positivas para a indústria, os actores receberiam o que lhes era devido e ao público não lhe era atirado para os olhos dezenas de produções feitas as três pancadas, que passam em horários que ninguém vai realmente ver e que foram produzidas por um motivo, apenas para a ocupação de horários.
Como actor tens-te dividido pelo teatro, a televisão e participaste no filme "gelo". Podes falar-me um pouco sobre este trabalho?
Ivo Canelas: O "gelo" é uma história de ficção científica, com um lado onírico muito forte em que se fala, sem querer descortinar demasiado do argumento porque há um elemento surpresa que não pretendo revelar, da criogenização, ou seja, o congelamento dos órgãos para que as pessoas possam ser resuscitadas no futuro. A minha personagem trabalha nessa área, é quem gere a empresa de criogenização.
O Ficine ( Fórum itinerante de cinema negro) é um espaço de educação e reflexão sobre a produção mundial de cinema, fotografia e audiovisual que tem negros como realizadores. César Schofield Cardoso, cineasta e fotógrafo, é um dos seus membros fundadores, em Cabo Verde.
O que é o Ficine?
César Schofield Cardoso: É o fórum de cinema negro. Resultou de um encontro de Salvador da Baía, no Brasil, durante a semana de África. Nesse evento discutimos as cinematografias africanas, o negro na diáspora e os problemas da condição do negro. Então surgiu essa ideia a partir de uma investigadora brasileira chamada Janaína Oliveira, que propôs um fórum itinerante actuando e viajando por vários lugares para falar sobre este tema. Eu como desenvolvo vários projectos, via web, sugeri que esse encontro também ocorre-se online. E tem sido assim, estamos na internet, onde há várias referências, dissertações, empresas, livros e teses.
E filmes?
CSC: Tem uma lista de cineasta.
Mas, é um fórum de cinema negro para promover a cultura negra, ou é apenas para cineastas de origem negra?
CSC: Cinema negro é um titulo que denomina um certo tipo de cinema. Historicamente teve lugar nos EUA, em oposição a um cinema que já existia em mainstream, que era o de Hollywood, que não mostrava negros, quando havia um papel limitavam-se a pintar as caras de negro, os famosos "black faces", mas já nessa altura existam actores de origem negra com capacidade para compôr uma personagem. O cinema negro acaba por mostrar as coisas do ponto de vista do negro, entretanto foi-se desenvolvendo e chegou ao Brasil, a Colombia e actualmente aborda-se o cinema africano negro, que é diferente de Magreb. É um cinema que fala de um campo, de uma cinematografia com características próprias que não basta ser negro, tem outras questões que demoraria muito tempo a explicar, o site explana isso. É um cinema de afirmação, não de exclusão, um branco pode fazer cinema negro colocando esta questão sob o ponto de vista da cor, mas o Ficine tem uma proposta concreta sobre valorização das culturas negras, do olhar e da situação do negro. O fórum tem essa preocupação de alargar mundialmente essa discussão, de formar um público, porque o nosso olhar é muito estereotipado, nós consumimos uma determinada cultura e não nos questionámos sobre ela, chama à atenção por outra forma de fazer as coisas, que não são preconceituosas e esse é também um dos objectivos, de deconstruir e de criar uma outra imagética.
Que outras actividades o Ficine possui, para além dos debates?
CSC: Temos a itinerância, o projecto tem apenas um ano, mas a ideia é ter um plano de viagens. Lugares onde vamos e estabelecemos esse debate, o fórum tem um factor muito importante que é a educação, estão envolvidos professores, universitários e investigadores. Então temos uma preocupação com a formação do público e também com o desenvolvimento de material para as escolas, que não é feito de outra forma e que nos propomos fazer.
Mas, mostram filmes?
CSC: Sim, depois temos oficinas para produção de filmes.
A organização ambiental tem estado a monitorizar ao longo do ano várias áreas verdes de Portugal.
Desde o início de 2014 que a Quercus tem efectuado uma avaliação das áreas protegidas de Portugal continental, utilizando um modelo simplificado de análise de várias forças. O método utilizado faz um diagnóstico do que de positivo e negativo foi feito desde a data de criação da zona protegida até ao momento e um prognóstico de cenários adequados para garantir a conservação de habitats e espécies. Ao todo já foram monitorizadas 25 paisagens, parques e áreas protegidas do nosso país. Os diagnósticos, contudo, não se limitam apenas a caracterizar os pontos fortes e as fragilidades inerentes, devido na maioria dos casos à intervenção directa do homem, em contrapartida propõem soluções sustentáveis que poderão catapultar ainda mais a componente ambiental destas zonas verdes, associado a um eventual potencial económico destas áreas protegidas num futuro próximo e subsequentemete a melhoria da qualidade de vida das populações locais. Curiosamente uma das conclusões mais recorrentes ao longo do relatório é a introdução de espécies exóticas nos vários habitats com consequências muito negativas não só para a fauna local, como para a flora endémica. Outro dos pontos comuns é a perda sistemática de floresta autóctone, devido em alguns casos aos incêndios, mas também a pressão urbanística desordenada que em vez de trazer benefícios para as respectivas regiões acaba por desincentivar a promoção turística sustentável destas áreas protegidas. Outra aspecto a ter em conta é a educação ambiental das populações, que embora, tenha apresentado melhorias a esse nível esta ainda muito aquém do esperado.
Em baixo esta o link para que possa verificar todas zonas verdes vistoriadas:
Um concerto de Júlio Resende é um festim para os sentidos. A forma como toca piano, em especial neste disco solo, remete-nos não só para a história do fado e um dos seus nomes maiores, a Amália, mas também para uma das referências da guitarra portuguesa, é como revêr o mestre Carlos Paredes, só que ao piano, passando os seus mil dedos pelas teclas de forma magistral. Simplesmente brilhante e a não perder.
Porquê três álbuns de jazz depois, decides fazer um disco só com músicas de Amália? E neste momento da tua carreira?
Júlio Resende: Eu não sinto uma descontinuidade, é um continuidade. É normal que um pianista após as tantas na sua carreira queira fazer um disco à solo. Na história dos pianistas há essa tradição. Eu também queria fazer o meu e o mais pessoal possível e nessa medida, me estava a envolver cada vez mais com o fado, era cada vez mais óbvio que conseguia pensá-lo sozinho e quando decidi fazer o álbum, lembrei-me que solo quer dizer terra e esta terra de onde venho que é Portugal, onde estava embrenhado e cada vez mais fazia sentido pensar num disco à solo a partir do fado e das canções que sabia de memória, que fazem parte da minha terra e que me foram ensinadas pela Amália ao ouvi-la cantar.
Como é que escolheste os temas e qual foi o processo para criar as pautas para a música?
JR: Sobretudo, eu queria aprender a tocar os temas como se os tivesse a cantar ao piano, ou seja, o piano é que canta e eu tento cantar com o piano. Eu não sou a voz, é o instrumento. A ausência das palavras neste projecto musical é uma coisa que tem de ser substituída, esta foi a parte mais difícil aprender as canções e cantá-las ao piano como se tivessemos ouvir uma voz. A segunda parte foi imaginar a minha viagem em torno desses mesmos temas.
No concerto, organizado pela sociedade de desenvilmento da Madeira, contudo, os temas tiveram uma certa sonoridade jazzística e de improviso.
JR: Claro, todo o concerto é improvisado na medida em que nada há nada escrito.
Então, todos os concertos são tocados de forma diferente?
JR: Sim, embora haja um arranjo e há a canções que todos conhecemos. Essas tento manter estáveis ainda que não seja repetida da mesma maneira. Eu, em breve, vou tocar num novo concerto e não sei o que vai acontecer. Sei que vou tocar alguns desses temas e que algumas serão perceptíveis, mas não tenho nada escrito, não sei como vai começar, vai ser no meio e como vai acabar. Nem prevejo, apenas tento deixar-me ir, mas há uma base que é o fado.
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