Um dispositivo, desenvolvido por uma equipa de cientistas portugueses, poderá salvar esta espécie vegetal do nemátod
Elisabeth Borges, no âmbito do seu doutoramento em Engenharia Biomédica da Universidade de Coimbra, desenvolveu um dispositivo que permite detectar precocemente o nemátode, uma doença que afecta os pinheiros. Um trabalho que foi reconhecido com o prémio "Best Student Paper Award" e que foi entregue na Biodevices 2013, uma conferência internacional de biodispositivos, que teve lugar em Barcelona,.
O dispositivo funciona por espectroscopia de impedância eléctrica, ou seja, o equipamento possui dois eléctrodos que são colocados no tronco a cerca de 30 centímetros do solo. Um dos polos injecta um sinal de corrente ou tensão e o outro electrodo colecta o sinal gerado por essa estimulação. Em seguida, em laboratório, os investigadores analisam os dados recolhidos.Um metodo capaz de identificar se um tecido esta saudável ou danificado, no caso do nemátode é importante, já que, o dispositivo tem como objectivo detectar alterações na árvore, contudo, não dá indicadores de que tipo de doença se trata. A técnica desenvolvida pela equipa de investigadores da Universidade de Coimbra liderada por Elisabeth Borges é minimamente invasiva, rápida e mais vantajosa financeiramente em comparação com outras técnicas laboratoriais actuais. Neste momento, estão a ser efectuados testes tecnológicos em outras aplicações com o intuito de aperfeiçoar o protótipo para o tornar mais acessível ao mercado comercial.
Nova app ao serviço da fruticultura nacional.
A Impactwave instalada na incubadora do parque tecnológico de Óbidos desenvolveu uma aplicação tecnológica que permite descobrir se a fruta esta suficiente madura para ser colhida. Um novo sistema que evita o desperdício de cinco por cento em cada lote de frutos para comercialização. A aplicação 'ultracarpo', baseia-se na junção de um dispositivo de ultrassons ao telemóvel (smartphone) no qual será acoplado um dispositivo de ultrassons, que permitirá ao produtor hortofrutícola fazer o diagnóstico, de uma forma não destrutiva, do estado de maturação de um fruto. Para além desta valência, passa a ser possível calcular automaticamente o calibre do fruto e o registo de informação, permitindo ao produtor o acesso ao histórico e a consulta de dados estatísticos.
Numa ocasião em que o consumidor é cada vez mais exigente em relação à qualidade e sabor dos produtos hortofrutícolas, os produtores sentem-se pressionados, no sentido de aumentar o grau brix (níveis de açucares) dos seus produtos. Este processo é ainda mais acentuado na altura da colheita, na qual recorrem a técnicos especializados e a equipamento de elevado custo, com recurso a métodos destrutivos dos produtos. O potencial do ultracarpo suscitou o interesse de várias entidades e de alguns produtores locais, com quem a Impactwave já estabeleceu parcerias, no sentido de terem disponíveis matérias-primas, instalações, equipamentos e acesso aos locais de produção, controle e armazenamento, para que a empresa possa realizar os testes necessários.
http://www.pt-obidos.com/?p=2378
Jaime Freitas foi pedagogo e director do único externato privado de São Vicente. Um passado que nos conta na primeira pessoa.
Tudo começou com o ensino doméstico administrado pela Dona Lucinda Andrade, fui um desses alunos e mais tarde o "encarregado de educação" que assinava as cadernetas que oficializavam o ensino que era administrado por ela em casa, digamos que era clandestino, mas era uma das únicas mulheres da ilha, a única em São Vicente, que tinha terminado o liceu no Funchal. Uma façanha muito invulgar para esses tempos onde o lugar das mulheres naquela altura era em casa a cuidar dos filhos. Uma inspecção impediu-a de poder trabalhar e houve desde logo uma grande reacção por parte da população local que via com bons olhos o aprender das primeiras letras e dos números aos mais jovens. Os pais, o padre Sousa, o representante da câmara, a própria dona Lucinda Andrade, o conservador-notário, Germano Gouveia, o Daniel Drummond que era responsável pelas telecomunicações e eu conseguimos uma autorização precária para fundar um colégio em 1964, o externato de São Vicente.
Inicialmente o ensino era particular, depois passou a ser subsidiado pelo governo central para que todos pudessem ter acesso, passou a ser gratuito, o que foi muito bom para a população local. Tudo era um desafio no colégio, lembro-me que a minha maior dificuldade era angariar professores para dar aulas, em particular para as áreas das físico-químicas e matemáticas. O período de férias escolares era aproveitado para procurar docentes. Inclusive estive toda uma noite insistindo com um engenheiro sediado no Funchal para que viesse até São Vicente dar aulas, lá o convenci depois de uns copos e até hoje quando me vê fala sempre nesse episódio, afirma que o enganei bem. (risos) É preciso relembrar que na época só havia uma estrada que contornava a ilha, ele tinha de levantar-se as seis da manhã para estar no colégio às oito para dar aulas todo o dia e sempre me ia dizendo que ganhava mais fazendo o mesmo no Funchal. Na parte de letras estávamos defendidos, tínhamos não um, mas quatro padres que cobriam o latim, o português e história. A Dona Lucinda Andrade que era uma mulher muito culta, estudiosa, falava fluentemente francês, era o que chamava o tapa-furos, quando faltava alguém para dar uma disciplina era ela a docente designada para o efeito. Se não fosse com toda esta boa vontade não conseguia ter pessoas habilitadas para dar todas as disciplinas.
16 Investigadores, historiadores, da área de estudos da arte, antropologia e turismo, psicologia e geofísica, estudos de cultura no enfoque no discurso literário e artístico, coordenados por Ana Salgueiro, pretendem responder a pergunta qual a " (Des) memória de desastre? Cultura e perigos naturais, catástrofes e resiliência, Madeira, um caso de estudo" até 2014.
O que esteve na origem deste estudo?
Ana Salgueiro: Acima de tudo o facto de considerar que a investigação não tem de estar radicalmente afastada do que são os problemas da vida quotidiana. Quando falo de um estudo estou a referir-me as áreas das ciências sociais, das artes e das humanidades, porque as pessoas cometem o erro de considerar que a investigação que é feita desenvolve um conhecimento superficial, que não interessa, que não rentável, como no caso da economia e as finanças. O que essas pessoas esquecem é que há a criação de conhecimento que pode efectivamente dar bons frutos até do ponto de vista financeiro, porque se evitam gastos. Por outro lado, o projecto esta estructurado em três linhas de acção, uma para a investigação científica propriamente dita, outra direcionada para os projectos artísticos e uma terceira que prevê o desenvolvimento de iniciativas em escolas. Trata-se de uma tentativa, por via desses projectos, de criar uma cultura mais resiliente, que motive atitudes mais adequadas junto dessas mesmas comunidades. Há um outro objectivo que é considerar que a arte em paralelo com a investigação científica pode ser também um poderoso contributo na busca de respostas para os desastres naturais, como o é no caso particular da ilha da Madeira.
O que foca concretamente neste estudo? Já que são muitas questões a abordar sobre esta matéria dos desastres naturais e foi criada uma equipa interdisciplinar para o efeito.
AS: Exactamente esse é um dos problemas como os quais nos vamos ter de confrontar. Este é um projecto e disse muito bem multidisciplinar e transdisciplinar dentro do possível. A metodologia adaptada não é igual para todos, ou seja, não se impõem que todos trabalhem da mesma forma, consoante as nossas áreas da investigação a metodologia e os estudos serão diversos. Aquilo que nos procuraremos fazer é um estudo sobre a memória dos desastres naturais na Madeira, essencialmente uma recordação cultural, construída através de múltiplos instrumentos, binómios artísticos e não artísticos, que ao longo do tempo vão sendo construídos pelas populações e também pelos visitantes. Temos por exemplo, uma colega que irá trabalhar o discurso da representação da ilha em língua alemã, narrativas de viagem, mas também eventualmente algum material que tenha a ver com a divulgação turística, digamos assim. Portanto, o nosso trabalho vai olhar para os fenómenos e objectos de ordem cultural, ver como é que a memória desses eventos foi cristalizada e foi sendo recriada ou apagada ao longo do tempo.
Uma das vertentes do estudo é a arte. Como é que se encontra esse tipo respostas nas manifestações artísticas?
AS: Já há. Tive a oportunidade de fazer um trabalho de análise e estudo sobre "arte de portas abertas" que é precisamente um projecto que nasce em 2010, no ano do desastre de 20 de Fevereiro, mas que pelo que consegui aferir ele não nasce, ou melhor, não começa a ganhar forma com a catástrofe, mas acaba por ganhar maior dinamismo devido a destruição que aquele zona sofreu na altura. Assim, todos os fenómenos e objectos artísticos integrados nesse projecto tiveram momentos em que houve essa integração dos desastres naturais na Madeira. Nomeadamente, uma das portas onde houve uma certa reflexão sobre os fenómenos de aluvião, ou pelo menos pode ser lida nessa vertente, a instalação de 2012 abordou um pouco os incêndios que assolaram a ilha no verão passado.
Ao longo dos séculos a Madeira teve sempre aluviões que destruíram bens materiais e mataram pessoas e animais, basta consultar alguns dos documentos históricos, ou mesmo o elucidário madeirense e as ilhas de Zarco.
AS: Essa constatação é muito pertinente, mas a que fazer a diferença entre o que é a histografia e os estudos de memória. Nós temos historiadores a trabalhar connosco, que estão a desenvolver uma investigação sobre precisamente a memória e não a história, porque muitas vezes esta última relega para segundo plano, ou ignora por completo, os recursos de narrativas, de eventos de desastre neste caso, para quem quer conhecer estes fenómenos. Portanto, não vamos centrar-nos na análise de documentos, de relatos, narrativas de desastres que ficaram escritas de forma oficial, mas também vamos abordar, os discursos que permaneceram na sombra e que se calhar são interessantes do ponto de vista de análise científica e poderão apresentar respostas para alguns dos problemas com que as populações locais e a protecção civil se confrontam. Como responder ao desastre? Ao estudarmos estas memórias vamos em busca aos problemas que desencadearam esses desastres, da memória das respostas que foram dadas ao longo do tempo a esses mesmos eventos.
É uma das novas tendências de moda que já são um sucesso das ruas.
Ao contrário dos ditos estampados de pele de animais, "animal print" ´a nova tendência que chega as ruas são os estampados com faces de animais, "animal faces". Esta é a grande novidade para as t-shirts, blusas, camisolas e até minivestidos desta primavera-verão 2013. Há animais para todos os gostos, desde felinos, aves e peixes quase numa dimensão 3D que chamam muito à atenção pelas suas tonalidades fortes e pelo seu formato. São peças de vestuários muito confortáveis, na sua grande maioria são produzidas em algodão e são muito versáteis já que podem ser utilizadas com calções, saias e calças. É uma tendência urbana que tem sido uma forte aposta das marcas de vendas online e que tem alcançado um grande sucesso junto das mulheres mais jovens, pois trata-se de um look divertido e descontraído que pode ser misturado com todo o tipo de tecidos, cores e padrões. As suas potenciais combinações permitem que possa ser usado quer num coordenado para o dia, como para a noite, usando e abusando dos acessórios. O gosto não tem limites na hora de vestir, mas um conselho procure o equilíbrio, ou seja, tons próximos a sua cor de cabelos ou de olhos, até porque esta tendência é muito forte em termos visuais. Outro dos motivos que tem contribuído para o sucesso dos estampados com faces de animais prende-se com um factor económico, são peças com preços muito acessíveis e requerem zero manutenções, basta lavar e usar. Se pretende renovar os estampados do seu vestuário deixo aqui algumas sugestões de "alicein themood" ou da fab europe.
https://www.facebook.com/Aliceinthemood
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Rui Soares é um artista que expressa na sua pintura várias correntes artísticas, para tal criou dois pseudónimos, o Ralf S. que aborda o desenho do real, o Antero S. que reflecte o mundo que o rodeia de uma forma mais abstracta e os que assina em nome próprio que não são mais do que uma representação figurativa do quotidiano e das paisagens da ilha.
O que te leva a usar três personalidades diferentes para os teus quadros?
Rui Soares: Utilizo dois pseudónimos, porque são trabalhos diferentes. Gosto muito de percorrer a ilha desenhando à vista. Fui um gosto que mantive desde a faculdade, desenhar a figura humana e as paisagens, mas ficava mal apresentar um conjunto de trabalhos que nada tinham a ver com o que aprendemos na faculdade, ou seja, tinha de ser novo e o desenho de observação não possui nada de inovador. E então houve a necessidade de criar o Ralf S. para o desenho do real aliando as paisagens ao quotidiano madeirense e foi um pouco por aí.
Em que diferem uns dos outros?
RS: Estão todos muito interligados. Sempre gostei muito da vertente do figurativo, mesmo quando assino Rui Soares, há sempre algo do real. Nunca desenvolvi muito o abstracto, tenho alguns trabalhos, mas são coisas completamente diferentes e depois o resultado final é outro. A ideia de criar os pseudónimos surge para não baralhar as pessoas. Existe uma pintura mais simbólica, outra mais real e isso pode criar uma certa confusão, não há uma linha artística propriamente dita. Eu, contudo, não me preocupo muito com isso, faço o que gosto e não aprecio os rótulos, se sou um artista contemporâneo, ou se sigo um trajecto parecido com o que se faz hoje em dia.
Mas, um deles tem uma palete de cores muito viva.
RS: Qualquer um deles. Quando pinto aguarelas elas também tem muita cor. Pode ser mais aguada, se calhar tecnicamente não está a ser usada da melhor forma, mas como disse são questões que não me preocupam. Acho que se pode usar todas as técnicas da maneira que entendermos.
É o reflexo das tonalidades da ilha que são muito intensas?
RS: Também é isso, porque mesmo quando desenhámos a nossa ilha, acabámos por imprimir mais cor, tanto nas paisagens, como no Antero S., que vai buscar elementos do real, mas não é abstracto se calhar para lá caminha com certeza.
É uma série de ficção sobre o período pós- 25 de Abril de 1974.
Representar este período conturbado da história de Portugal é tarefa difícil, mais ainda quando se trata de um assunto tão delicado como foi o retorno a pátria dos portugueses que viviam nas ex-colónias, mais conhecidos pejorativamente por retornados. Nunca conheci nem a realidade destes portugueses que foram despojados das suas vidas em África, nem o país que os acolheu de braços pouco abertos, já que era apenas uma bebé. "Depois do adeus" mais do que uma série de ficção é o retrato de uma nação em permanente turbilhão político e social, onde foi necessário cimentar a ideia de democracia. Creio que para as pessoas que viveram na pele todos esses acontecimentos trágicos deve ser ainda muito doloroso reviver esses momentos através dos personagens da série. Para mim como telespectadora tem sido um regalo ver boa ficção nacional na televisão pública e espero que esta viagem no tempo nos ajude a sarar algumas feridas ainda por cicatrizar.
Alexandre rocha, engenheiro informático, estreia-se no mundo da escrita com um romance histórico sobre um evento pouco conhecido da história luso-brasileira que o acompanhou ao longo de mais de 15 anos e que finalmente passou para o papel sob a forma de livro.
Porquê escolheu aquele período especificamente? Pela óbvia associação ao Brasil?
Alexandre Rocha: A história deste livro é bastante comprida. Há dois tempos. Começou em 1995 com o renascimento do cinema brasileiro através da "Carlota Joaquina" de Carla Camurati, o filme marcou-me pela sua história e depois estive no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, e lembro-me de encontrar um livro muito antigo, pequenino, que falava sobre uma conspiração de fidalgos. Não me lembro de nenhum livro de história escolar falar deste evento, que de facto aconteceu, embora tenha ficado muito pouco por relatar. Tomei notas, mas nunca pensando que iria escrever um livro. Alguns anos depois a primeira parte do livro foi escrita, isto em 1997, mas esteve adormecida durante muito tempo. Até que recentemente, em 2010, tomei a iniciativa de restaurar a primeira parte que estava desactualizada em termos gramaticais, tinha sido escrita por um adolescente, na época com 20 anos e ao olharmos para atrás alguns dos nossos trabalhos, não digo renegar, nota-se uma certa inexperiência na escrita e só faltou mesmo sentar-me, reescrever e fazer as pesquisas que julgava pertinentes para termina-lo, porque a história em si esteve sempre na minha cabeça. Embora, não seja um livro de história, tenta é trazer um pouco da história ao romance.
Quando lhe surgiu a ideia para este livro, o intercalar entre o presente, o Brasil contemporâneo e o passado, o Brasil das grandes fazendas, foi algo pensado desde o início?
AR: Sim, particularmente este tipo de temática, o que é diferente, o oculto, atrai-me. Lembro-me da minha madrinha ter inúmeras publicações sobre o género, a revista planeta que ainda hoje é editada, abordava as ciências ocultas e todo o tipo de literatura ligada a estes assuntos. Desde o princípio o fim já estava escrito dessa forma, nem sempre escrevi de forma ordenada, refiz muito do desenvolvimento da história, mas outros capítulos já estavam bem escritos e esse em particular foi um deles.
O oculto, um certo misticismo, aparece no livro porque é brasileiro. É uma forte componente da cultura brasileira.
AR: Os costumes dos negros, toda a cultura dos orixás eram abordados na revista que referi anteriormente. Não se tratava de uma publicação feita por charlatões muito pelo contrário, eles tentavam abordar o oculto de uma perspectiva até bastante cientifica e lembro-me de ter lido grandes trabalhos sobre estas matérias. Na altura guardei na memória esse tema dos orixás, em particular, o exú, que é uma entidade que está mais próxima dos homens, fazendo uma comparação com as religiões monoteístas na cultura católica seria associado ao diabo. Quando escrevi o livro fui pesquisar a cultura africana no Brasil, porque é um aspecto importante da história. Lembro-me de uma obra que me marcou bastante que foi "o menino do engenho" de José Luiz do Rego. Esta obra para mim, foi fundamental, é um clássico da literatura brasileira, onde fui buscar essa memória do que é o nordeste brasileiro, do que era essa convivência com os escravos, tentei recriar um pouco essa época. Da parte portuguesa, há uma crítica mordaz, uma certa ironia e quem estiver habituado com a escrita de Eça de Queirós, que é para mim de longe o meu escritor predilecto, reconhecerá uma certa semelhança, que foi tentar beber, por paixão e gosto para este trabalho. Depois tentei passar uma visão do português comum, nesse sentido, uma das personagens, o Alberto, é a metáfora do que é o povo, a sua simplicidade, sua lealdade e amizade, embora também haja extremos, porque o Teófilo, é o anti-herói.
Reparei que utiliza uma terminologia própria quando fala do quotidiano na fazenda. Teve de fazer muita pesquisa para entender e poder descrever a dinâmica de uma fazenda de produção de cana-de-açúcar?
AR: Principalmente o "menino do engenho" foi uma inspiração muito grande. Lembro-me de uma parte em que o protagonista, o Miguel Herculano mostra a fazenda a Maria Carolina e fala da maquinaria e dos vários espaços. As pesquisas que fiz foram através da internet, embora esteja ligado as letras, estou também conectado ao mundo das tecnologias, por via profissional, licenciei-me em engenharia informática. Uma das críticas positivas que me foram feitas é o facto de não ter incluído toda a bibliografia que consultei e acho que é muito pertinente, por isso para a próxima obra estou a anotar toda as referências bibliográficas, seja virtual ou real.
O personagem Miguel Herculano tem uma vida muito aventurosa e atribulada, a sua vida amorosa, por outro lado, não é feliz, fruto da maldição do negro. Teve sempre esta ideia em mente?
AR: A maldição do negro é só uma parte. Eu deixo isso à consideração do leitor, será que a maldição do escravo é real? Será que é decisiva? As coisas de facto aconteceram por causa disso? O livro, claro, que o dá a entender que sim, mas também pode ser que não. Eu já tinha em mente o encontro daqueles dois personagens no final, a Maria Carolina e o Miguel, obviamente que não tinha cada detalhe estructurado na minha cabeça, esses detalhes foram nascendo fruto da pesquisa, em particular, a parte portuguesa que não estava propriamente escrita, foi mais trabalhada. Este final já estava decidido, porque nem sempre os finais são felizes. Tentei procurar o realismo, seria cómodo terminar um livro de forma bonita e açucarada. Pareceu-me que o mais normal fosse por aí, embora houvesse dias em que me sentava para escrever e não sabia o que iria fazer, ao longo deste processo de leitura e reflexão, porque escrever não é só inspiração é um trabalho árduo, houve dias em que senti essa dificuldade. A vida do personagem Miguel resultou um pouco desse processo de escrita.
Este foi o primeiro romance que publicou?
AR: Vamos dizer que sim. Vim para o mundo das letras, porque alguém me ajudou, me deu a mão e essa pessoa foi a professora Isabel Sodré, da minha escola técnica do Brasil, que olhou para os meus trabalhos e me ajudou a fazer uma revisão na minha escrita e aprendi muito com todo esse processo. Esse pequeno romance depois foi publicado numa pequena feira tecnológica, quando tinha 15 anos, mas posso dizer que este foi o primeiro livro a sério, esta é a minha primeira obra.
A conspiração dos fidalgos é tudo o que sonhou? Não tem mais nada a acrescentar? Ou retirar?
AR: É muito difícil de dizer se há mais alguma coisa para acrescentar ou retirar, como já disse, o livro é como eu imaginava. Até para a capa eu já tinha uma ideia pré-concebida e quando a editora a produziu estava um tanto quanto apreensivo, mas depois fiquei muito surpreendido com o resultado final, fiquei muito tranquilo quando a vi, tem um arranjo muito simples e de muito bom gosto. Não sei se tenho esse distanciamento, até porque estou a trabalhar em algo diferente já olho para atrás e penso, estou numa outra onda. Não sei se algum dia serei daqueles que renegam a obra, tenho é um carinho imenso pelo livro, é como se fosse um filhote.
Disse que esta a desenvolver um novo trabalho, é um novo romance histórico?
AR: Sim será um romance histórico, não tão profundamente vincado como "a conspiração dos fidalgos", mas por vontade própria meti-me num covil de vespas que é escrever sobre a temática da guerra civil espanhola. É muito difícil escrever sobre esta época, porque é um tempo de extremos e eu quero misturar aqui um pouco do ensaio e do romance histórico. Tenho procurado transportar esta visão dos tempos, através de uma percepção crítica. Terá duas histórias, uma mais actual e a outra que nos remete para essa altura, haverá uma interconexão através das personagens e aparece mais uma vez o lado místico.
Será um livro para editar já no próximo ano?
AR; Não tenho uma data certa, escrevo e pesquiso quando o tempo me permite. É difícil conciliar a escrita com a minha profissional. "A conspiração dos fidalgos" foi escrita durante cinco meses, foi uma época difícil, eu trabalhava numa fábrica de Vila do Conde, na Quimonda que fechou e como estive parado nesse tempo, achei que era uma oportunidade para escrever, estive o tempo inteiro envolvido nesse projecto, sem parar. Actualmente é mais difícil quando se esta a trabalhar, o tempo que utilizo é o excedente, funciona por paixão, só se faz isto porque se gosta. Hoje em dia é muito difícil viver deste ofício, são raras as excepções.
Se pudesse optar deixava a engenharia e ficava-se pela escrita? Ou mantinha sempre estes dois mundos paralelos?
AR: Eu acho que mantinha os dois mundos, porque é-me muito difícil não estar sentado em frente ao computador, acabámos dragados pelo nosso ofício. Eu sou uma criatura de dois mundos, seria difícil separar.
Qual é o seu género literário preferido?
AR: O romance histórico e o ensaio. Agora tenho imensos livros sobre a guerra civil espanhola, embora o literário esteja muito presente, com o Eça e José Luiz do Rego. Sou um prosador por natureza.
É um filme de João Canijo de 1988 baseado em factos reais.
Tudo começou com uma notícia de jornal sobre um crime que envolvia uma mulher, o marido e o amante, parece perfeitamente banal este triângulo amoroso? Mas, não é. Dalila decide transformar a sua vida, numa espécie de fuga ao seu quotidiano violento, através de uma mudança radical da sua aparência e na sua forma de ser. O resultado desta traduz-se na morte do esposo violento e na carcere para os dois amantes, mas esse "pequeno pormenor" não é mais relevante deste filme, a mensagem , creio, mais importante é que Dalila deixa de ser a vitima e durante essa metamorfose ela apercebe-se do poder que exerce com a sua sexualidade e a sua feminilidade e até podem argumentar que não o faz pelos melhores motivos é certo, mas ela cria uma personagem que esconde a mulher insegura e frágil que verdadeiramente é e emerge uma mulher fatal segura de si nos seus altos sapatos pretos. João Canijo decide contar esta história para desmistificar a ideia de país de brandos costumes, o que consegue. No entanto, o que fica também é que se trata de um realizador de mulheres, pela forma generosa como lhes dá rédea solta para desenvolver personagens tão ricas e complexas. Não é um filme fácil desde já aviso, há uma cena que ainda me provoca calafrios e um certo nojo, mas fica aqui o meu louvor ao trabalho da actriz Ana Burstoff que compôs uma mulher no limite, que acaba por cometer um erro que irá pagar caro. Bom cinema!
É uma das montanhas imponentes da ilha da Madeira. Adjacente ao pico ruivo.
Desde o solo parece um colosso que ignora por puro desdém a nossa patética pequenez. O Cidrão, como é conhecido impõe respeito, nem que seja, porque se trata de uma montanha altiva, com 1676 metros de altura, admoestada pelo tempo. As suas rugas vulcânicas escondem os socalcos conquistados pelo homem à custa de muito suor e força de braços, de onde se retira o sustento de cada dia, um quotidiano duro e difícil envolto em lendas e mistérios que ocorrem ao longo da vereda que o percorre. Terra de pastores o Curral das Freiras sempre alimentou, como é o apanágio de qualquer localidade isolada, estórias que não se sabem se são verdades, ou se são mentiras, que alimentam as conversas das suas gentes em tempos de chuva e nevoeiro. A que vou relatar foi-me contada por um desses homens, queimados pela dureza do sol e mãos calejadas pela rocha dura...
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