Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

quarta, 09 janeiro 2013 15:06

Lady mads


Teresa Jardim Gedge nasceu na ilha da Madeira, mas iniciou a sua carreira de actriz em Inglaterra em três companhias de teatro amador. No retorno as origens, em 1982, trabalha em filmes, séries e decide organizar um grupo de teatro amador inicialmente designado de ADIM (associação de arte dramática inglesa da Madeira), que rapidamente passa a ser mais conhecido por MADS (Madeira Dramatic Society) da qual ainda hoje é presidente e também actriz. Um percurso com 20 anos de existência que levou ao palco várias peças de teatro e musicais que deliciaram milhares de espectadores de várias nacionalidades.

Em que contexto surge o MADS?

Teresa Gedge: O meu marido foi nomeado cônsul da Inglaterra aqui na Madeira e eu lembrei-me de reunir um conjunto de pessoas que viviam na ilha de origem britânica ou que falavam inglês com o intuito de criar um grupo de teatro amador. Começámos por ter uma reunião na igreja anglicana, eu em parceria com a Carol Gouveia, o David Valant e principalmente as minhas filhas que me deram força e disseram: vamos ver quantas pessoas vêm até a reunião e começámos por aí. Foi incrível apareceu imensa gente, em Setembro de 1993, foram mais de 30 pessoas entusiasmadas e em final de Outubro inícios de Novembro encenamos um texto de Óscar Wilde, “a importância de se chamar Ernest” num pequeno palco improvisado no adro da igreja e foi um sucesso.

Qual foi a primeira peça que marcou o percurso dos MADS?

TG: A partir do momento que decidimos continuar idealizámos um outro espectáculo nas antigas instalações da RTP e tivemos a casa cheia, o nome da peça era “ the mayor of Torontal”. Eu fiquei muito entusiasmada com esse acolhimento, entretanto outras pessoas apareceram para entrar no MADS e foi-nos atribuído um subsídio do governo, porque na altura não havia quase nada, só funcionava o Teatro Experimental do Funchal. A primeira peça musical que levamos à cena foi uma pantomina, a “Cinderella”, com 40 pessoas em palco. É um espectáculo que por norma apenas se apresenta antes do natal, tradicionalmente o príncipe é representado por uma mulher e as duas irmãs feias por rapazes. O “Candid” de Voltaire foi outro dos espectáculos mais marcantes, teve a participação da orquestra clássica da Madeira e foi fantástica, erámos mais de 50 pessoas em palco.

Entretanto surge a parceria com o Teatro Municipal do Funchal?

TG: Sim, foi uma evolução natural depois do cine casino. Quisemos fazer uma peça no teatro e nessa altura já recebíamos um subsídio por ano. Começámos por encenar três espectáculos por ano, mas é preciso sublinhar que os actores não ganham um ordenado por participarem nas peças, temos é de pagar os encenadores profissionais, especialmente os que vêm de fora, por isso, é que o nosso nível artístico era tão elevado. Depois começámos a fazer shows em português, “o último dos marialvas” e a “família Adams”, por exemplo. Outros dos musicais que levámos ao palco foi “o violino sobre o telhado”, “minha querida senhora” e “música no coração” e até tivemos que trazer algumas peças de cenário de Inglaterra, porque aqui eram muito difíceis de fazer. Agora, temos de fazer tudo com a prata da casa, e menos meios, a ajuda monetária deixou de existir, as entradas passaram a ser pagas, mas isto acontece com toda a gente na área da cultura.

Desde os primórdios do grupo verificou que apenas o público de origem anglo-saxónico é que aparecia nos espectáculos?

TG: Não, o público madeirense também. Foi por isso que começámos a fazer peças em português. Só que as pessoas aqui na ilha, o público em geral, não estava habituado a pagar para assistir aos espectáculos e foi pena, porque as maiores encenações aconteceram numa época em que havia mais dinheiro. Agora, mesmo com poucas verbas conseguimos levar ao palco três espectáculos musicais, onde tivemos o Ray Jeffrey como encenador. Actualmente encenámos peças apenas em inglês porque, agora, há outros grupos de teatro que o fazem em português e para além disso nesses espectáculos só temos portugueses na audiência. Sendo em inglês temos os estrangeiros que estão nos hotéis, as pessoas que vivem na ilha e falam a língua e portugueses que seguem o nosso percurso, porque reconhecem a nossa qualidade e o nosso alto nível de exigência.

quarta, 09 janeiro 2013 15:02

O realista

Manuel Mozos é um cineasta português com um vasto palmarés na ficção e nos documentários que lhe permitiu cimentar uma carreira como realizador em Portugal.

De todos os projectos cinematográficos que realizou qual foi o que o marcou de forma mais positiva?

Manuel Mozos: Para mim pessoalmente possivelmente o meu primeiro filme, “um passo, outro passo e depois…”por ter sido, o primeiro e na época, apesar de não ter passado muito nos cinemas permitiu-me obter criticas positivas. Depois possibilitou passar para o segundo que foi o “Xavier”, que apesar de ter tido uma produção atribulada e demorada é se calhar o meu filme com mais prestígio. O documentário “ruínas” abriu-me as portas para o exterior e graças a ele houve interesse em rever a minha obra.

Abordando o filme “xavier” devido a todas as dificuldades técnicas e financeiras que referiu tratou-se de um filme que falhou?

MM: Obviamente que o resultado não é o tinha imaginado, apesar de tudo não fica muito aquém do que pretendia, mesmo tendo que resolver na montagem a conclusão do filme por não ter conseguido filmar. Tive de alterar a continuidade narrativa, apesar de tudo foi um filme que não sinto ter ficado longe do que pretendia. Claro que o tempo que estive à espera a pensar nele para conclui-lo acabou no fim por ser um filme que me satisfaz no resultado.

Falando de “4 copas” acha que o cinema português ainda aborda pouco o quotidiano dos portugueses, com personagens reais?

MM: Nas minhas ficções eu abordo sobretudo histórias do dia-a-dia, do quotidiano da vida portuguesa e em particular da região de Lisboa. Mas, eu julgo que ao longo de toda a história do cinema português foi menos realista…

Mais literária.

MM: Sim literária, divagando sobre determinados assuntos, mas eu julgo que hoje em dia se encontram vários filmes que reflectem a sociedade portuguesa na sua contemporaneidade.

 

quarta, 09 janeiro 2013 14:50

A cerâmica do desejo

Paula Gomes fundou em 1993 “o azul desejo” uma oficina de cerâmica e sete anos mais tarde Duarte Gomes, o seu irmão, abraçou também esta actividade, no Paúl do Mar. Ambos os ceramistas produzem azulejos hispano-árabes na técnica de aresta e corda seca, bem como painéis com motivos mais tradicionais ou modernos.

Como é que surge o projecto do azul desejo?

Duarte Gomes: Já participo neste projecto há uns onze anos. O azul desejo começou com a minha irmã, ela teve alguma formação nessa área, enquanto viveu no continente e eu quando voltei para ilha ela convidou-me para trabalhar com ela. Azulejos feitos na Madeira, não é uma arte tradicional na região.

Como surgem os motivos e os padrões dos azulejos, já que, existem temas regionais?

DG: Este tipo de azulejos não se limita ao tema regional. Remonta a uma técnica do século XVI chamada de aresta que é utilizada nos chamados azulejos hispano-árabes, que consiste gravar as arestas no barro de forma que quando os vidrados fundem na mofa não haja mistura de cores, daí o nome. Por isso, fazemos réplicas dessas peças de cerâmica. A minha irmã depois pegou nessa técnica e usou também para outros temas, como é o do bordado madeira. Para além disso, temos azulejos pintados.

Todos os azulejos são produzidos na ilha?

DG: Sim, quase todos são feitos a partir do barro, por isso é que digo que temos várias técnicas que usámos nos nossos azulejos. Temos os fornos e equipamento necessário para desenvolver todos estes produtos.

quarta, 09 janeiro 2013 14:47

Balanço ambiental 2012

 

O final do ano propicia uma análise de tudo o que se fez e não fez em termos de ambiente, a Quercus, uma das organizações ambientais mais credíveis no território nacional no seu actual relatório apontou uma série de factores que podem e devem ser melhorados para o ano 2013.

A crise financeira que Portugal atravessa permitiu desviar um pouco as atenções dos cidadãos para os graves problemas ambientais que o país atravessa, segundo a Quercus. Um desses factores de risco ambiental é o desinvestimento nas renováveis, “uma área que apresentava boas perspectivs pelas taxas mais elevadas de energias renováveis na produção de energia elétrica devido aos investimentos realizados na primeira década deste novo século”. O actual governo também anunciou “a  alteração de um conjunto muito significativo de medidas legislativas em matéria ambiental, parte das quais já concretizadas, de que é exemplo o regime jurídico aplicável ao licenciamento da atividade industrial”, sem consultar da sociedade civil e as organizações pró-ambientais.  A continuação do Plano Nacional de Barragens promete mais polémica ao longo de 2013, já que, “é inaceitável a teimosia do atual executivo em prosseguir com o Plano Nacional de Barragens, mesmo tendo aparente noção dos custos sociais, ambientais e económicos que o mesmo trará no médio/ longo prazo a Portugal”.
A falta de recursos afectos ao controlo da qualidade do ar e da água, é outro dos pontos, bem como aos serviços de fiscalização, “ameaça a saúde pública e o Ambiente, na medida em que a monitorização da água e da qualidade do ar está a deixar de ser realizada de forma regular, com todos os riscos inerentes para a saúde e a qualidade de vida das populações”.
A decisão do Governo em anunciar publicamente o fim da Reserva Ecológica Nacional (REN), “sem qualquer diálogo prévio com as organizações não governamentais de ambiente e sem apresentar em concreto as alternativas que propõe a este regime jurídico e instrumento de ordenamento do território, revela pouco sentido democrático e uma má condução do processo”. O mesmo autismo político se aplica a medida que aprovou o empreendimento Vila Formosa em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
“O Governo aprovou a implantação do “Projeto de Desenvolvimento Turístico e Ambiental de Vila Formosa”, no concelho de Odemira, junto a Vila Nova de Milfontes. Trata-se de uma ocupação de 55 hectares com área urbanizada, onde se prevê a existência de um hotel, dois aldeamentos turísticos e um equipamento de animação autónoma destinado à prática desportiva e à animação de eventos temáticos, tudo isto em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV), Zona de Proteção Especial para as Aves (ZPE) e Sítio de Importância Comunitária, ambos denominados “Costa Sudoeste” e constituintes da Rede Natura 2000. Mais factores de risco ambiental podem ser revistos no link  no final do texto.

 

http://www.quercus.pt/comunicados/2012/comunicados-dezembro/781-balanco-ambiental-2012


quarta, 02 janeiro 2013 13:29

O natal das ilhas encantadas

As tradições fazem da quadra natalícia uma época muito especial para os madeirenses.

Natal diz o chavão é quando os homens quiserem. Não é verdade, na Madeira a quadra natalícia ao contrário do resto do território é vivido de uma forma muito intensa e engloba uma série de tradições que a tornam única em Portugal. Tudo começa e acaba com a sagrada família. O erguer de um presépio é um dos primeiros momentos que envolve a família nesta época, todos participam. Primeiro, a mãe planta o trigo para adornar o cenário que se ira montar, os mais pequenos pintam o papel para imitar a terra vulcânica, todos vão até serra buscar fetos para colocar estrategicamente junto da manjedoura, depois desembrulham-se as figurinhas de gesso em volta da gruta onde esta o menino jesus, a virgem maria, são José, a vaca e o burro (a tradição continua mesmo que o papa tenha proferido que não existem provas que estes animais estivessem presentes no miraculoso evento!) e colocam-se os sapatinhos, um espécie de orquídea que é tradicional desta época. Na cozinha preparam-se as broas de mel, os bolos e os licores que enchem os compartimentos de odores saborosos que são oferecidos aos amigos e familiares que vem visitar o presépio.

quarta, 02 janeiro 2013 13:27

Os highlanders

É a segunda parte de um períplo pelo país dos escoceses, mais à norte, quase onde a terra também termina e o mar gelado começa.

Quanto  à  Escócia, o que posso dizer?  Bem, em primeiro lugar que os seus metereologistas são as pessoas mais optimistas que conheci. Dizem sempre que vai fazer sol, mas tal facto é apenas uma miragem para quem provém de Portugal. Em quase duas semanas de estadia, vi o sol raiar apenas em uma ocasião e meia. O que sim posso garantir, em pleno Agosto, quase todos os dias, é o trespassar de uma forte brisa pelo território, o vento frio do Norte. Quanto as fotos das paisagens, posso adiantar desde já que não ficam grande coisa, porque não fazem justiça à beleza dos seus montes e seus dos lagos. Os locks são ladeados de uma vegetação intensamente verde , (se me permitem a redundância) luxuriante e povoada de densas névoas matinais. Devo assinalar também, que ao igual dos restantes mortais, não vi o monstro de lock ness e bem que esperei sentada  pela sua aparição por um par de horas. Os vales são o pasto ideal de ovelhas e famosas vacas angus que pululam estas paisagens, apenas recortadas pelos precipícios rochosos de onde se avista o mar. Há imensas ruínas de castelos abandonados ao longo da costa, fantasmas estáticos de um passado mais bélico, um esqueleto dissuasivo de potenciais invasores que permanecem de pé, apesar das agruras do tempo e do desaparecimentos dos respectivos clãs. As agrestes montanhas são semi-cobertas por um manto cor violeta, uma planta selvagem resiliente, que chamam de heather, urze em português, que tem um carácter muito especial para os escoceses, embora não a seja a sua flor oficial, quando um highlander deixa a sua terra, arranca um pequeno molho do solo e leva-o consigo para outros novos mundos, é um pouco da sua Escócia amada que transporta junto do coração. É lindo não é?

quarta, 02 janeiro 2013 13:24

Os 4 mundos

É o relato meio falado, meio sonoro, meio escrito de um ensaio para um espectáculo musical composto por Martín Loyato.

Quando entrei para o espaço do ensaio no Scat tive a sensação de invadir a privacidade de um momento, de uma descoberta, de um encontro entre um grupo de pessoas que tentavam estabelecer os parâmetros de uma linguagem universal, a música. Eles, quase indiferentes à minha presença dedilhavam os instrumentos, enquanto liam, trocavam impressões e estudavam as notas que iriam interpretar. É uma lição que ainda não esta de todo sabida, que é necessário compreender, memorizar e interiorizar para depois poder expressar através de uma melodia cadente com paladares de medio-oriente. Ao sinal de 1, 2,3, 4 começam a ecoar na sala os primeiros acordes de, “for free minds” de Martín Loyato, argentino, considerado um dos vinte compositores do novo século, num dos primeiros ensaios que coordena com os músicos madeirenses, Duarte Nuno, ao piano, Ricardo Dias, no contrabaixo e Jorge Maggiore, na bateria e repercussão. É o acertar de um compasso conjunto, um intimar sonoridades que vão ganhando força e consistência à medida que o tempo vai passando. A melodia segue um ritmo próprio, que é necessário respeitar, segundo Martín Loyato esta composição, “pode-se traduzir livremente como mentes abertas, mas também uso a preposição four em inglês que é quatro, por isso somos quatro músicos. Neste tema toco a flauta do Egipto que é muito difícil e para conseguir uma pessoa que montasse uma foi muito complicado. É também um tema onde uso computadores”.

A dinâmica das restantes composições obriga a um exercício mental mais complexo por parte dos músicos, é quase demasiada informação para dois espectáculos em apenas três dias de ensaios. Este é o segundo, um acertar de agulhas que se traduz em notas, nesse âmbito o compositor realça, “elegi temas que podíamos fazer em grupo e que gosto de tocar. É compartir algo que faço num outro lugar, a oportunidade é muito boa porque compartilho a minha música com outros músicos. Em Nova Iorque tenho o meu próprio quinteto e já nos conhecemos, gosto do desafio de tocar com pessoas que não conheço, depois os músicos aportam sempre algo. A música que escrevo não serve apenas para tocar o que escrevi, tem muitas partes em aberto para que improvisem, que toquem como queiram e dêem-me a sua voz de artistas”.

quarta, 02 janeiro 2013 13:19

Fotobiografia

Susana Paiva é uma artista da imagem. Ao longo de uma carreira profissional com mais de vinte anos, procurou redescobrir, redefinir e ao mesmo desconstruir os preconceitos em torno da fotografia. Acompanha-nos por este períplo visual e sensorial, na primeira pessoa.

À vinte e dois anos comecei a fotografar, naquilo que considero ser o primeiro acidente bom na minha vida. Era estudante de psicologia e quando cheguei a Coimbra descobri que se tratava de uma cidade universitária fascinante, que possuía uma vida paralela muito interessante com várias actividades culturais e artísticas. Como curiosa que sou, já era na altura e agora sou ainda mais, faço o percurso inverso dos adultos, que com a idade ficam menos curiosos, eu, como as crianças fico cada vez mais motivada e descobri que podia aprender teatro e fotografia, tudo no âmbito universitário. Inscrevi-me em duas formações em simultâneo e de alguma forma encontrei duas grandes paixões, que fazia como amadora, mas que de alguma forma se vieram a transformar em amores duradouros, estruturais da minha prática profissional. As duas linguagens interessavam-me enormemente de dei por mim no universo do teatro através da fotografia e quando digo que é um feliz acaso, é porque ao ir para Coimbra eu nunca teria imaginado que podia trabalhar nessas duas áreas de forma articulada. Por um conjunto de coincidências, num final de dia, entre elas, estar à espera para telefonar junto de uma cabine telefónica e de ter comigo uma máquina fotográfica da qual me orgulhava ao ombro, foi desafiada por um actor para uma sessão. Curiosa foi espreitar e em 1991 entro no teatro de bolso para fotografar o corte de cabelo de uma companhia de teatro universitário que preparava um espectáculo chamado grupo de vanguarda. O que é que acontece? Divirto-me muito, faço umas imagens, na altura só fazia preto e branco, fotografia analógica, e alguns dias depois muito timidamente deixo umas fotos na caixa de correspondência do teatro.

Para grande espanto meu, esse mesmo grupo num curto espaço de tempo profissionalizou-se, passando a chamar-se escola da noite e acabo por ser convidada para ver uma série de práticas de teatro, através desta nova companhia. A minha entrada na fotografia e o que foi descobrindo foram acasos muito bons e nunca me imaginei fotógrafa. Não tinha uma cultura nessa área e no teatro era ainda mais mediana. Eu vinha de facto de um conjunto de práticas artísticas que me fascinavam muito, mas mais ligada ao cinema e a literatura, nunca pensei visualmente trabalhar em fotografia e numa área de expressão, que passa-se pela teatralização do texto.

Trabalhar as imagens no teatro foi a minha primeira linguagem, a de eleição. Como todas as pessoas que se apaixonam a passagem pelo laboratório é fundamental. A prática é muito de solitário, mas dá-nos uma certa autossuficiência, esse mergulho táctil e técnico foram espaços de descoberta e fascínio razão pela qual em vinte anos, desde as minhas primeiras experiências, uma aventura que começou em 1989 até 2006, foi uma fervorosa adepta da fotografia a preto e branco e do analógico. Achava eu que tinha constituído o meu olhar, a minha linguagem e sempre reconheci uma valência na imagem a preto e branco que nos afasta de uma representação do espelho do real, até ter percebido, através da oportunidade de trabalhar com uma agência estrangeira austríaca, que a fotografia nesses parâmetros no ver deles não vendia e comercialmente era desinteressante.

quarta, 02 janeiro 2013 13:17

Christiana, a utópica

É uma zona livre que fica situada no centro da capital da Dinamarca.

Ao longo das poucas viagens que fiz encontrei todo o tipo de pessoas, de culturas, aromas, sabores e de sons que sempre me seduziram e embora ainda me falte conhecer o resto do mundo, encaro sempre com um entusiasmo redobrado essa ideia da viagem eminente, porque o que já antevi até hoje deixou em mim uma marca de fascinação, de sede de conhecimento e também uma certa perplexidade pelos melhores motivos, Christiana é um desses exemplos. Mesmo no centro da cidade de Copenhaga na Dinamarca, há um território extenso onde vivem grupos de pessoas, uma comuna, que vive em comunhão colectiva, à boa maneira hippie. Existe mesmo um portão de entrada que nos dá as boas-vindas, e onde ao mesmo tempo somos avisados (para tal basta virar-se!) de que deixámos a partir daquele ponto de pertencer à comunidade europeia. O primeiro impacto é o de uma área ajardinada numa zona urbana, onde se avista um parque infantil, um edifício que é um centro cultural, mas as aparências enganam, ao dirigirmo-nos para um espaço mais aberto, numa espécie de praça deparámos com stands que vendem todo o tipo de produtos artesanais, desde roupas, sapatos e bijuterias, também há o que poderei chamar de barracas alimentícias, onde se vende hamburgers biológicos, que de facto comi, por falta de melhor, mas de cuja higiene duvidei até a ultima dentada. O que um ser humano é capaz de fazer quando tem fome! O facto é que não adoeci. O mais curioso dessa praça ao ar livre é que a comunidade de Christiana faz deste local seu ponto de encontro para comer, beber, conversar e fumar charros. É verdade, aqui todos podem comprar e enrolar o seu “cigarro” livremente, mas esperem as drogas duras estão banidas, bem como, as armas e comportamentos violentos. A creche é comunitária e não é paga, há um supermercado onde se trocam cupões por produtos, as pessoas de fora, como eu e o resto do mundo pagámos em coroas dinamarquesas se quisermos comprar alguma coisa, mesmo assim, não arrisquei, estou convencida até hoje que se as autoridades sanitárias do meu país vissem o que vi, fechavam logo o local! Sem pestanejar! No mínimo arcaico, mas para a população local tal não constitui problema, porque o que conta aqui é o porquê deste estilo de vida, esta é sua forma de estar no mundo, uma existência pacífica, saudável e em comunhão com a natureza. A comunidade aqui intervém em todos os sentidos, se um vizinho necessita de uma ajuda para cortar lenha ou construir um anexo, ou ensinar a ler as crianças, há sempre alguém disposto a ajudar. Todos são acolhidos, ninguém é excluído, é um santuário quase para os mais desfavorecidos pela sociedade. Algumas das residências familiares é que me deixaram sem palavras, as paredes eram feitas de restos de diferentes materiais, umas pareciam mesmo barracas e cheguei a constatar uma casa cujo pilar era um barco na vertical. A criatividade destas edificações é elevada e desconcertante ao mesmo tempo, não consegui imaginar alguém a viver assim em pleno inverno.

Christiana é extensa, tem uma grande área coberta de espaços verdes e ao largo passa um curso de água, é difícil imaginar pessoas a residir desta forma em plena capital de Copenhaga, parece um aldeia, mas o facto é que conseguem, mas não isentos de polémicas. Embora, tudo aparente calma, ordem e serenidade a verdade é que alguns partidos dinamarqueses querem terminar com as regalias sociais e fiscais que os habitantes desta zona livre usufruem, nomeadamente, no que concerne o pagamento de impostos que como sabem é muito elevado neste país nórdico. Há também outro motivo, menos óbvio, mais camuflado dígamos assim, mas que também tem suscitado grandes debates na sociedade dinamarquesa, Christiana esta no coração da Copenhaga ocupando um espaço privilegiado, um alvo extremamente suculento para os tubarões do sector imobiliário. A ideia defendem alguns é deitar tudo abaixo e construir moradias para os habitantes da cidade, em vez das actuais construções improvisadas. O mais assombroso de tudo isto e polémicas à parte, a meu ver, é a abertura que um país teve, num determinado período da sua história, em permitir a existência deste espaço quase utópico. Contudo, denotei, sem julgar, uma certa hipocrisia, porque embora não façam parte oficialmente da União Europeia recebem coroas ou outras moedas que depois com certeza usam para comprar produtos, bens e serviços fora de Christiana. Outro dos atractivos turísticos que não podem de maneira nenhuma perder são as festas que se organizam nesta terra de liberdades, especialmente no verão, ao ar livre. São muito divertidas e curiosas, imaginem todos a dançar de uma forma descontraída e relaxada, é uma miscelânea de estilos tão estranha que resulta, pessoas marcadamente urbanas, perfumadas, vestidas com marcas lado a lado com hippies de roupas coloridas e artesanais, bem é mais uma prova que a música congrega as pessoas, como diz o refrão de uma das canções de Madonna. Antes de terminar, Christiana despede-se num outro portão, o da saída e aí de frente indica-nos sem pejo que estamos a retornar ao espaço da comunidade europeia. Até uma próxima visita.

quarta, 02 janeiro 2013 13:14

As ilhas encantadas

É um períplo marítimo que começa na Madeira e termina da reserva natural das ilhas desertas, na companhia do club dos pés livres.

Sempre me acompanharam ao longo da minha vida. Avistava-as mal abria a minha janela, no meu percurso para a escola, quando decidia dar um mergulho até que um dia decidi visita-las… as ilhas desertas. À minha espera ancorado na marina da Quinta do Lorde estava um veleiro, a bonita da Madeira, pronta para zarpar nesta nova aventura outonal na companhia do club dos pés livres, no que seria uma caminhada inusitada. A distância que nos separa do nosso destino é de 17. 2 Milhas, cerca de duas horas de viagem num oceano azul profundo e calmo, numa manhã que decidiu acordar gripada, mas isso não impede a boa disposição a bordo. Para atrás fica a ilha da Madeira de súbito inundada por uma tromba de água que cobre grande parte do seu relevo verdejante e humanizado. Fugimos a tempo da chuva e o mar aberto encerra novas surpresas…de súbito, na proa da embarcação ouvem-se gritos de alegria, alertas para a presença de outros habitantes destas águas atlânticas, avistámos grupos de baleias piloto a deslizar placidamente e alguns golfinhos que os seguem. É maravilhoso ver estes animais de pele lisa negra entrecortando as pequenas ondas indiferentes a nossa presença, por vezes, param até, descansam, retomam o seu ritmo ondulado, mergulham e voltam à tona até que chega um momento que os perdemos de vista. Fomos agraciados com a sua presença e isso é algo que não se esquece nunca.

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