Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

quarta, 02 janeiro 2013 12:52

A branca

É uma das ilhas que fica no maciço central do arquipélago dos Açores.

No meio do oceano havia um país próspero que possuía árvores carregadas de frutos que cobriam todas as suas montanhas, regatos límpidos que serpenteavam os seus campos verdejantes e peixe que saltitava para as suas redes. Nesse reino perdido algures no Atlântico vivia um rei. O soberano da terra e do mar tinha nove filhos, todos varões e muito amigos entre si. Açor na sua infinita sabedoria, não querendo quebrar essa harmonia, ofereceu um cume a cada princípe. Todos os irmãos ficaram contentes com essa dádiva paterna e decidiram-se encontrar uma vez por ano. Até o dia. Um deus menor enciumado com toda aquela felicidade provocou um grande sismo que afundou o território, matou o rei e muitos do seus súbditos, mas Neptuno decidiu intervir e emergiu os noves cumes que o rei tinha oferecido a cada filho. Os irmãos como eram muito amigos, cortaram árvores, construíram barcos e aprenderam a navegar pelos mares para se abraçarem sempre que podiam fugir das responsabilidades das suas ilhas, das ilhas encantadas, das noves, que são agora os Açores. Esta é apenas uma das muitas lendas que alimentam o imaginário dos Açorianos.

quarta, 02 janeiro 2013 12:50

Os nazarenos

É uma das localidades costeiras da Portugal mais visitadas por turistas.

O mar bravio trespassa o nosso olhar. Os ecos das ondas a bater no areal clamam pelos nossos corpos. Um único mergulho desperta uma intensa corrente que nos aquece nas frias águas, que nos recorda da nossa insignificante existência perante uma onda gigante que nos engole. É a força da natureza que se manifesta nas correntes que teimam em empurrar-nos para fora contra a nossa vontade. Fortes braçadas levam-nos de novo até a baia que apenas nos protege dos ventos frios do Atlântico, onde o mar é omnipresente. Em terra, tiritámos do frio e ao mesmo tempo ouvimos as histórias de marinheiros que falam de gerações de homens que se fizeram as suas águas turbulentas, conhecedores da sua generosidade e da sua personalidade imprevisível que exige em troca algumas das suas almas que guarda nas profundezas do seu ser. Nas mulheres o oceano deixa a sua marca nos rostos, sulcos traçados pela ansiedade e pelas lágrimas, os cabelos estão cobertos por um retalho preto, são como bandeiras de uma dor infinita e as mãos estão calejadas pelas redes que consertam em silêncio. O olhar é duro quando encaram as águas. Elas sabem que para lá do horizonte, tudo é uma incógnita. O mar dá, mas também tira, dizem. É o seu fado, o seu destino, acatam-no com humildade e um certo ressentimento, muitos amores já se perderam para sempre na sua imensidão azul. Basta olhar para as vestes negras que contrastam com o dourado do areal. Mas, de que vale clamar por vingança? Só conhecem esta existência salgada, afogada na fé inabalável de melhores dias, nas rezas mudas diárias e nas súplicas pelo bom retorno da faina. A pesca é a sua vida e o seu ganha-pão. Agora, são também os turistas, que invadem todos os anos as areias da praia que antes era apenas dos nazarenos. Vem à procura das ondas generosas, do peixe e marisco abundante que trazem para terra, o mar dá, proferem de novo, como uma ladainha. No cimo, uma capela guarda os pedidos e as orações dos homens e das mulheres que vivem do mar e que almejam por dias de abundância. A viagem até lá é feita pelo elevador, como chamam as gentes da Nazaré.

quarta, 02 janeiro 2013 12:49

Rainha da fronteira

É uma das cidades mais fortificadas do território nacional e agora é património da humanidade pela UNESCO.

Bem-vindo à Elvas, a cidade fronteira por excelência do reino de Portugal, um balaustre da nacionalidade portuguesa e que foi palco de grandes batalhas ao longo dos seculos. O que resta desses ecos guerreiros é um património arquitectónico de inegável beleza. A primeira imagem que retemos na memória são as portas da cidade, a brancura dos seus edifícios, uma marca do Alentejo profundo, em contra ponto com as muralhas cinzentas que a circundam. Esta cidade tem o maior conjunto de abaluartadas do mundo. A fortificação da cidade teve o seu início desde o tempo em que os exércitos lusos expulsaram os muçulmanos do território, no ano do senho de 1166. A reconquista cristã deixou uma herança em pedra que é o castelo de Elvas. A paisagem de uma das torres hexagonais confirmam este legado militar, avistam-se campos intermináveis que definem até a exaustão o nosso olhar e confirmam também a sua importância estratégica, conseguimos imaginar as sentinelas do alto destas muralhas, avistando sem grandes margens para erro, a vinda dos exércitos inimigos do reino.

quarta, 02 janeiro 2013 12:46

De flávio aos lusitanos

É uma das urbes mais antigas do nosso país.

Os vestígios de um passado histórico muito rico estão espalhados por toda a cidade. A começar pelo nome. Chaves desde sempre foi um local ideal e estratégico para várias civilizações. Em particular para os romanos, que há dois milénios conquistaram estas terras férteis e construíram fortificações pela periferia, muralhas para protegerem os aglomerados populacionais, pontes, levaram à cabo prospeção de minérios e fomentaram o uso das termas, hábito que se mantém até os nossos dias. Esta localidade de Portugal foi elevada a categoria de cidade desde o ano 79 d.C., por Tito Flávio Vespasiano, daí advém a antiga designação romana Aquae Flaviae, que se mantém como designação dos habitantes desta localidade, os flavienses.

quarta, 02 janeiro 2013 12:42

Desafinado

É mais uma página no já imenso currículo de dançando com a diferença, com a coreografia de Paulo Ribeiro em co-criação com Leonor Keil e os Drumming GP de Miquel Bernat e António Sérginho.

A sala é invadida aos poucos por um som rítmico de corpos ebúrneos cujas garras metálicas marcam um compasso contante e sincopado. Até que a repulsa quebra essa ordem, esse modelo hirto que deixava pouco espaço para a liberdade, para a imaginação. É uma nova pauta musical que desabrocha perante o nosso olhar e de repente uma dissonância toma conta das suas vidas, são os desafinados, que preenchem o palco com as suas incoerências, as suas diferenças e desigualdades. Desejam fazer-se ouvir através de gestos mais abruptos que entram em confrontos desiguais. Dos mais fortes com os mais fracos. Dos maiores com os mais pequenos. Dos machos com as fêmeas. E no meio desse caos organizado que surge uma voz feminina, suave e envolvente que clama: Se você disser que eu desafino amor/Saiba que isto em mim provoca imensa dor/Só privilegiados têm o ouvido igual ao seu/Eu possuo apenas o que Deus me deu. Os versos calam fundo nas almas alvas que percorrem o espaço e um novo ritmo instala-se, revelando aos poucos os gestos de um passado de correntes e escravidão exorcisado pelos corpos através do candomblé.

quarta, 02 janeiro 2013 12:40

Tomar, templária

Desta feita  é uma viagem por uma das mais belas cidades de Portugal em verso.

Cidade de mar, de maresia,

Tradições, património, Carnaval,

Banhada pelo rio e pela ria

Em que a alegria é fundamental!

No Furadouro descanso o olhar

Sobre o azul profundo do mar,

Enquanto as gaivotas brincam

Sobre as ondas que saltitam.

Sobre o areal vejo os pescadores

Entre redes, com peixes saltitantes

À frente, os bois puxam para terra,

O barco, as redes, os sonhos errantes.

A cidade espelha a luz

Sob o sol, o nevoeiro, o luar,

Nas fachadas de azulejo

Que decoram a “alma” de Ovar.

Aqui, Júlio Dinis escreveu,

Histórias… a história de Ovar,

E assim nasceu a Casa-Museu

Para hoje a sua história contar!

A igreja matriz e as capelas,

Misericórdia, Calvário, Nª Sr.ª Graça,

Mostram a devoção do povo,

Quando se via em tormentas ou desgraça.

As sete capelas dos Passos

Relatam a paixão de Cristo,

E em procissão o povo vive…

Aos Seus últimos momentos, Assisto!

Há ainda o Pão-de-Ló de Ovar

Conhecida e apreciada iguaria,

Que adoça a boca a quem chegar

E queira provar a nossa confeitaria.

Ovar, Cidade Museu do Azulejo

Do Carnaval, tradições e mar

No Atlântico desagua,

A alma vareira de conquistar!

Deixe-se conquistar,

Deixe-se perder,

Visite Ovar!

Venha-nos conhecer.

quarta, 02 janeiro 2013 12:39

Pennafidelis

É a segunda cidade mais antiga do nosso país.

Ao passear pela cidade de Penafiel somos confrontados pela sua memória granítica que marca todos os monumentos da cidade. Que nos acompanha pelos becos e ruas da cidade. É o sinal de uma terra antiga, que era regida pelo antigo império romano, que merece uma visita através da rota do românico. Dos senhorios eclesiásticos que imortalizaram a sua existência com monumentos que privilegiavam à oração, o templo de Boelhe é um desses belos e austeros exemplos e as casas de raiz fidalgas medievais que dominavam a paisagem agrícola. A erosão do tempo pouco ou nenhumas marcas deixou, já que podemos apreciar todos estes sinais civilizacionais um pouco por toda a cidade e arredores. Mas, o moderno também se faz sentir, sob a égide de novos edifícios e novas intervenções no tecido arquitectónico da urbe, é o caso da transformação dos acessos pedonais. Sob o lema, vamos fazer história na zona histórica, a edilidade aos poucos vai transformando os passeios em áreas acessíveis as pessoas com deficiência motora, para que a cidade também seja deles, sem contudo perturbar as suas características graníticas. Outras das curiosidades é o “papa chiclas”, é um depósito para as pastilhas elásticas que tanto incomodam as solas dos nossos sapatos e é mesmo usado pela população local como pude constatar tornando Penafiel uma das cidades mais limpas do nosso país.

quarta, 02 janeiro 2013 12:36

Endless

É um projecto europeu. Uma parceria entre dançando com a diferença e outros grupos análogos de diferentes áreas artísticas. Foi um convite da Alemanha com a participação da Lituânia, Estónia e os cenários ficaram a cargo da Polonia. O resultado foi um espetáculo único e demos uma espreitadela pelo ensaio geral. Acompanhe-nos.

Entrámos na intimidade do grupo, sempre notados, mas logo, olvidados, já que à atenção dos dançarinos obedece a uma única presença, a uma voz, a de Henrique Amoedo, que calmamente disserta sobre o que pretende ver neste ensaio geral. Cria-se um circulo em torno do coreografo que ultima o posicionamento dos vários interpretes. Nada mais se ouve do que o som da sua voz ondulante e uma versão feminina dos mesmos conselhos, em inglês, o espectáculo é multicultural. Uma serena excitação enche o espaço. Batem-se palmas, o ensaio geral vai começar… Os corpos roçam-se descompassados, expandem-se pelo palco, clamando por atenção. Aquecem-se as vozes, os sons, os ecos perpetuam-se pelo palco e sem aviso prévio, surge uma figura negra, esguia, semioculta por uma neblina, sobressai da multidão com os seguintes versos dos Muse: Our love could be forever. And if we die, we die together, and I, I say never, ‘cause our love will be forever. Atraídos pela música, todos dançam, perdem-se em volteretas e rodopios sem fim até o ultimo acorde de uma realidade disfarçada.

quarta, 02 janeiro 2013 12:33

O diário de um ex-nómada

É a viagem da Nirvana estúdios e do seu universo alternativo contado por um dos seus mentores, Michel Alex.

No ano de 2003 tínhamos uma caravana de 30 veículos para o nosso espectáculo itinerante. Um dos camiões teve uma avaria e nesse paragem imprevista avistámos um grande cartaz anunciando uma hasta pública. O terreno era enorme, parcialmente coberto de vegetação e nele havia uma ruína. Ia a leilão e nós pensámos: vamos juntar-nos todos e licitar! Erámos uma comunidade nómada há demasiado tempo e precisávamos de assentar os arraias. Aconteceu tudo ali, naquele momento. Acabámos por aparecer, licitámos e eles aceitaram a nossa proposta. Depois foi a corrida habitual, aos créditos, ver o que havia. Vendemos imensos veículos, camiões, rulotes e carrinhas. Foi assim que tudo começou. Foi o culminar de uma busca pela libertação, o nosso nirvana. O nome ficou. O que restava do antigo quartel militar era apenas uma sombra do seu passado. Pusemos mãos à obra. Havia que reconstruir o espaço, abrir novas canalizações, erguer paredes, tudo…não havia nada. Basicamente, toda a experiência que tínhamos acumulado a montar os espectáculos, os cenários, os espaços, fez de nós um pouco de soldadores, serralheiros, carpinteiros, eletricistas e canalizadores. A vida na estrada ensina-nos estas coisas, somos gente dos camiões, do mar, das estrelas e quase todos artistas. É uma espécie comunidade de templários que vem um monte e decidem construir uma catedral. Esta era a nossa. A Sé dos nossos sonhos e ambições, um antigo quartel para o nosso mundo pós-apocalíptico.

quarta, 02 janeiro 2013 12:03

Pelos paladares da minha vida

É um roteiro de afectos que começa pelos cheiros e aromas da infância até a idade adulta.

Há aromas que nos remetem imediatamente para o aconchego da cozinha da nossa mãe e das nossas avós. São os sabores dos afectos que nos acompanham ao longo das nossas vidas e sem os quais não conseguimos viver. As nossas memórias mais fortes acompanham-nos até a cozinha. Onde os mesmos gestos se renovavam em movimentos circulares e os fogões eram povoados de tachos que expeliam fumos e ruídos inusitados. O coração de uma casa portuguesa com certeza, onde tudo acontece, a família se reúne, os amigos se amontoam e as crianças aprendem através do paladar o que é ser português. O meu roteiro tem cheiro a maresia. Remete-me para as idas à praia no verão, onde se apanhavam os caramujos colados aos rochedos que eram fervidos e depois temperados, tinham de ser caçados com uma agulha, uma tarefa difícil e ingrata, que demorava imenso, mas compensava pelo prazer de repetir o mesmo gesto, uma e outra vez, embora nunca se fica-se saciado. As lapas ainda na casca acabadinhas de apanhar na maré vazia eram salteadas em manteiga, alho e sumo de limão para alegria dos pequenos e graúdos. Lembro-me que na cozinha da minha avó onde nunca faltava gaiado seco embebido em azeite e vinagre, adornado com salsa picada, cebola e alho. À primeira vista, tal iguaria não inspirava grande apetite pela sua cor enegrecida que mais pareciam farpas de troncos envelhecidos, mas depois de superado o preconceito, era de comer e chorar por mais. O milho quente com chicharros pequenos fritos banhados em molho vilão será sempre um clássico da minha infância nos dias frios de inverno. Recordo o grande panelão de ferro a borbulhar alegremente até o a farinha estar cozida, que ainda a ferver era vertida sobre muitos pratos para arrefecer. O que sobrava era cortado em quadrados e frito para ser comido com salada de agrião e espetada. Até faz água na boca, só de relembrar.

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