São um grupo de amigos que fazem pequenos filmes com poucos meios.
O primeiro que me chamou à atenção em relação as curtas-metragens da produtora da lucky filmes é que são um grupo de jovens bastantes destemidos e criativos que começaram como afirmam na sua própria biografia com “a ''AllstarProductions09'' uma mini-produtora de vídeos, curtas e longas-metragens, fundada em 2009 por um pequeno grupo de alunos de artes visuais do 11º ano. Tudo, claro, sem fins lucrativos e por pura paixão pelo cinema. Temos uma pequena equipa sempre a desenvolver novos projectos e a pô-los em prática, tendo como objectivo conseguir mais e melhor”. Um feliz acidente que me fez ver de “rajada” numa série de filmes idealizados por esta equipa que assume o seu total compromisso com o cinema e isso fica patente na sua obra cinematográfica. Alguns projectos possuem claras deficiências técnicas, mas as histórias, essas, essas estão bem contadas. Destaco duas, uma dela é o “raposo manhoso” (cuja imagem do cartaz ilustra este texto) que me pareceu um trabalho consistente e bem pensado, só tenho pena que o som tenha falhado, bem como uma série de planos menos conseguidos, motivados pela falta de meios e equipamentos adequados, sem dúvida, é o chamado cinema guerrilha. A outra curta-metragem que de facto me prendeu pelo belo argumento, a forma como foi filmada e pelo duo de actores, é “deixa-me morrer”. Este apontamento é um belo exercício de cinema. O tema não é novo, mas a forma como a morte de um amor é abordada neste filme é de uma grande sensibilidade e singela beleza sem ser lamechas ou pretensioso, agradou-me imenso. Destaco aqui o trabalho da jovem Jessica Chagas como actriz e do Mauro Viegas que assina ambos os projectos como realizador e argumentista. Gostaria ainda de louvar o trabalho consistente deste grande grupo de amadores cineastas e actores que ao longo do tempo tem vindo a crescer em termos de qualidade, facilmente se deduz pela filmografia que aprenderam com alguns dos erros que foram cometendo pelo caminho. E prometem mais, o que a meu ver é excelente, daí que deixo os meus parabéns e que continuem com o bom trabalho. Mas, se não acreditam em mim, vejam com os seus próprios olhos no “you tube”. Bom cinema!
É um projecto 100% inspirado em Portugal. Uma marca que aposta na produção nacional, através dos trabalhos de vários ilustradores incorporados em objectos do quotidiano. Um conceito de Raquel Pinto e Manuel Teixeira que aposta na grande diversidade de temáticas inspiradas na cultura portuguesa.
Em que âmbito surge o azul caramelo?
Raquel Pinto: Eu e o Manuel Teixeira que é a pessoa que criou comigo este projecto, já tínhamos a ideia de criar uma marca relacionada com a cultura portuguesa e incorpora-la na ilustração através de objectos do dia-a-dia. A ideia foi convidar ilustradores reconhecidos com o intuito de criar uma obra que tivesse a ver com o tema que estivéssemos a trabalhar, no fundo levar a arte aos objectos do quotidiano. São séries muito reduzidas, limitadas para criar um produto muito especial que é produzido em Portugal com materiais de alguma qualidade.
Como é que fazem a selecção dos artistas?
RP: Nós fazemos uma grande pesquisa de ilustradores, o Manuel é que tem a palavra final porque está mais relacionado com a área. Normalmente são ilustradores com uma obra já interessante, uns mais velhos e outros mais novos, o que importa não é idade, mas a qualidade do trabalho desenvolvido. Entretanto recebemos muitos portfólios, pessoas que vem os produtos, acham interessantes e pretendem participar. Alguns desses ilustradores são selecionados, os mais jovens mostram o seu grande potencial numa série em que estejam a colaborar outros artistas mais reconhecidos. Acabámos por alavancar os mais desconhecidos pelo seu bom trabalho.
São todos portugueses?
RP: Sim, são todos portugueses.
Esse aspecto é importante para a marca desde o início ou foi algo que foi acontecendo?
RP: Não, foi uma decisão tomada desde início. A marca é portuguesa, mas não quer dizer que seja feita só em Portugal, mas tentámos desde inicio sempre dar prioridade aos ilustradores portugueses, porque temos muitos tão bons que não fazia sentido procurar muito lá fora. Isto não quer dizer que de futuro não haja um artista estrangeiro que também possa colaborar connosco. Tentámos sempre usar a matéria-prima nacional.
É mais uma das mais belas tradições da ilha da Madeira, na companhia do club dos pés livres.
Há precisamente 67 anos Maria da Conceição Silva mal sabia andar nas suas frágeis perninhas e já vinha na companhia dos seus pais à pé até o chão da Ribeira para festejar o Santo Antão, padroeiro do Seixal, no primeiro domingo após o fim do ano. Os socalcos, nessa altura do ano, estavam cobertos de couves em flor e os agricultores aproveitavam o dia para preparar o solo para plantar as semilhas, as batatas, o feijão para a próxima colheita. Os palheiros albergavam os bichos, os instrumentos da lavoura e a erva que alimentava os animais domésticos que contribuíam para os parcos rendimentos de toda a família. Logo pela manhã fresca, familiares, amigos e vizinhos conviviam e festejavam em volta do fogão a preparação do panelo. Cada qual contribuía com o que trazia de casa, era a refeição dos trabalhadores por excelência, o que houvesse era deitado para dentro do panela, no final, sob uma manta feita de folhas de couve colocava-se a toalha aos quadrados onde seria depositado o almoço que todos degustariam da melhor maneira que lhes aprouvesse.
A música nunca faltava, a alegre sonoridade das vozes e dos instrumentos ecoava pela montanha, assinalada também pela passagem de ramos de flores de couves erguidos por jovens mulheres em rodopios. Os músicos paravam em todo o lado para alegrar os convivas ao que eram brindados com aguardente, vinho e licores da época em cornos para saciar as gargantas secas de tanto tocar e cantar.
É mais um conceito televisivo de sucesso da RTP2.
É um clássico da programação televisiva do segundo canal (que por agora ainda é público!). E ainda bem. Trata-se de um espaço semanal dedicado aos filmes de autor, por género, ou país e que aprecio sobejamente ver ou rever. Tive esta semana de ser brindada com filmes franceses e devo dizer que foi muito bom. Gosto imenso deste conceito, desde sempre. As escolhas recaem em peliculas de grande qualidade e isso é sem dúvida uma das suas mais-valias. A outra vantagem é o horário, os filmes nunca passam muito tarde e tem a benesse de não serem interrompidos por vários intervalos onde pululam comerciais intermináveis que até irritam! É um balsamo para os cinéfilos mais aguerridos e um conteúdo televisivo a manter a todo o custo.
É mais um conjunto de conselhos para conviver melhor com os seus pés.
Com a chegada a primavera já antecipámos com alguma ansiedade as novidades em termos de calçado. O calçado é o fetiche preferido das mulheres de todas as idades, de todos feitos e raça. As sandálias com tiras são, sem sombra de dúvida, uma das opções preferidas das portuguesas nessa época do ano. Mas, atenção, se esta habituada a saltos, as mais rasas podem causar-lhe um certo desconforto, por isso, proponho socas, ou cunha em cortiça que é muito leve e esta sempre de moda. Cuidado com as tiras não devem ser demasiado apertadas, porque afecta a circulação.
Nunca experimente sapatos logo de manhã, prefira experimentar calçado no final do dia, depois do expediente, parece uma contradição, mas não é! Os seus pés estão mais inchados e tudo isso ajuda a escolher o calçado certo, se apertar, descarte. E nem sequer se atreva a dar ouvidos a vendedora com a conversa que com o andar alarga, mesmo que seja o último par à face da terra, ou do planeta e que esteja apaixonada por eles, é preferível não comprar, do que não usar e ter de oferece-los novinhos em folha, acredite. Vai sofrer menos a longo prazo.
Se gosta de saltos, mas quer evitar problemas de coluna, uma das forma de contornar este velha questão de estilo versus saúde, é comprar sapatos de saltos intermédios, como diz o povo no meio é que esta a virtude, de oito a dez centímetros de preferência e nunca agulha. Embora, os sapatos com saltos finos sejam lindos, são responsáveis pelo maior número de quedas, luxações e entorses nas mulheres. Isto sem falar que ficam presos entre as reentrâncias das calçadas portuguesas e falo por experiência própria, já foi a mancar para casa, depois de ter parado literalmente o trânsito, não pelas lindas pernas, mas sim porque tive de arrancar o meu salto preso da via de rodagem, enquanto era vaiada com o som desagradável de buzinas. E fiquei sem os meus lindos sapatos. Não houve reparação possível. Leiam e aprendam.
É o quinto livro de Jorge Ribeiro de Castro, que aborda vários tipos de escrita, numa linguagem mais contemporânea e satírica. Uma obra a conhecer pela sua eloquência e profundo sentimentalismo aliado a um vocabulário muito rico.
Este livro distingue-se das tuas restantes obras de que forma?
Jorge Ribeiro de Castro: A diferença reside no facto de usar uma linguagem mais contemporânea. Enveredo um pouco mais pela sátira, pela comédia, os outros livros são mais sérios, mais sombrios. A escrita era um tanto quanto poética nas outras obras tinham uma certa eloquência, mas não eram divagações atrás de divagações. Neste livro tenho histórias que tem um certo enredo, mas cuja trama só se descobre no final. É preciso apanhar o peixe utilizando um isco, digamos assim.
Estas palavras que partem de mim é uma colectânea de contos, crónicas e outros tipos de textos. Porquê?
JRC: Por que não? Eu tinha essa liberdade. Achei que o livro devia ser diferente. A minha terceira publicação tem oito contos, “o cortejo das virtuosas” tinha temática um tanto quanto fantasmagórica e fantasiosa. Este livro tem um pouco disso, mas porque não dar a conhecer o que eu penso e o que os outros pensam, mas de forma mais poética?
O título é o elo unificador de todos os textos?
JRC: O título é uma forma de apresentar o escritor as pessoas. De dizer que podem ler o que quiserem no livro, por isso é que as palavras partem de mim, o que está escrito não é uma representação realista do que é o escritor. São apenas certos momentos. O livro foi escrito ao longo de um ano e meio e claro, que escrevi mais algumas coisas antes e depois.
Na apresentação deste livro, disseste que quando escreves abstraíste do que te rodeia, contudo, a tua escrita revela muito do autor, nota-se um aprofundar do pensamento, há textos de uma tristeza inerente. Não acaba por ser um pouco de ti?
JRC: Sim é um pouco de mim, mas ao abster-me da realidade, não quer dizer que me abstenho de mim próprio. Um escritor que consegue mentir, ou que diz a verdade, tem sempre uma certa riqueza. O que eu disse é uma forma de dar a entender é que nem tudo o que estou a escrever passa-se exactamente num local recatado. Pode haver uma multidão à minha volta que eu abstraio-me dela. Naquele momento estou apenas a vivenciar o enredo e a história, mais nada. Tudo o que escrevo tem algo de mim, senão seria o quê? Eu acredito que todos temos vários universos dentro de nós. Eu, contudo, sou mais do que está escrito. Posso escrever de uma forma melancólica, porque é o que sinto, embora esteja bem. Não estou a ser falso, mas todos temos uma certa sensibilidade desde que nascemos e porque não estar a usufruir desse sentimento?
O ecomusicalis é uma simbiose entre a música e a natureza. Um conceito musical que visa criar uma experiência sensitiva aos ouvintes e aos músicos. Um dos espaços escolhidos foram as grutas de São Vicente onde se fizerem ouvir os primeiros acordes de um concerto inesquecível que se fundiu com as sonoridades do mais profundo da terra.
Como é que surge o conceito do ecomusicalis?
Rui Nelson: O conceito nasce com pessoas ligadas as actividades de aventura e à música. Achámos que deveria haver uma ligação entre as duas. A forma de consegui-lo seria levar a música até a natureza. Quando ouvimos música no meio natural, temos um equilíbrio, e de uns cinco meses a esta parte escolhemos vários espaços para realizar os concertos.
Como é que são escolhidos os locais para os concertos? O que é necessário para que um local seja adequado para um concerto do ecomusicalis?
RN: Partimos do princípio que a humanidade tem uma grande necessidade de voltar para a natureza, falámos de sustentabilidade, de ecologia, mas não fazemos nada. Esta é uma arma que usámos para levar as pessoas até a natureza, que tanto pode ser para praticar actividades na natureza, como pode ser ouvir um concerto e optámos por trazer as pessoas até o meio natural para ouvir música.
As grutas de são Vicente foram uma escolha "natural"?
RN: Sim, mas já fizemos concertos dentro das ribeiras, junto ao mar, na montanha e depois lembramo-nos das grutas.
Este tipo de concertos vão ter que tipo de frequência no futuro?
RN: Todos os meses faremos um concerto numa zona especifica. Há um concurso de ideias e depois seleccionámos a melhor. Tem de ser um momento em que venha ao de cima o contacto com a natureza, pelo prazer.
Segundo Ernesto Coelho Silva as suas obras seguem um estilo livre colateralmente à espontaneidade da sua mente, transcendentes às aparências exteriores, manifestam-se no domínio das ideias como um ponto de partida para a aplicação de um pensamento, o despertar do raciocínio, ou num processo de criação mental, o protagonismo de uma história.
Vamos falar da sua obra, utiliza as várias vertentes artísticas, desde a pintura, ao desenho até a escultura, em qual se sente mais à vontade?
Ernesto Coelho Silva: Especialmente na pintura, gosto de criar novas formas, mas atraem-me as outras vertentes como a escultura, o desenho e a fotografia, acaba por ser um mundo artístico vasto.
Como é que decorre o seu processo criativo? De que forma desenvolve o seu pensamento artístico?
ECS: É uma preparação mental antes da execução física, ou seja, Há um processo desde pesquisa e vivências onde recolhemos a informação necessária das cores e das formas que me ajuda a fazer uma construção mental da obra. Durante a execução tenho sempre essa linha de orientação, mas há sempre variáveis que alteram o trabalho e muitas vezes a imagem pré-concebida que temos da obra acaba por mudar um pouco, ou radicalmente a obra.
Nos seus trabalhos há um certo choque. Procura a reacção de quem vê? Os temas fogem do habitual, falo do bondage, mas não só.
ECS: Sem dúvida, qualquer artista quer provocar uma reação, ou um juízo para cada apreciador divagar um pouco. Gosto de criar imagens que são pouco comuns.
O que o atrai nessas temáticas?
ECS: Efectivamente porque são temas pouco abordados. Não consigo criar as pinturas tradicionais e clássicas, não me identifico com esse tipo de arte. Tenho uma necessidade de fazer algo diferente, poucos habituais.
O Norte de Portugal tem assistido a uma grande progressão desta espécie que tem destruído as colmeias das abelhas autóctones.
A vespa velutiana é considerada já uma praga ameaçadora pelos apicultores do norte de Portugal, porque num espaço curto de tempo tem dizimado dezenas de colmeias que produzem o mel que se consome no nosso país. Ao todo só na região do Minho existem cerca de 8.000 colmeias exploradas por mais de 300 apicultores. Uma atividade que poderá estar em risco tendo em conta também que no concelho de Viana do Castelo que é considerada como "centro de dispersão" da espécie em território português, detectaram-se 28 ninhos, inclusive no centro da cidade minhota. Segundo um estudo de Miguel Maia e José Manuel Grosso Silva, esta espécie "foi introduzida na Europa, através de um transporte de hortícolas vindos da China e que foi desembarcado no porto de Bordéus (França) no ano de 2004". De então para lá já conquistou 1/3 do território francês e tem vindo a disseminar-se pela Península Ibérica com bastante eficiência, a tal ponto, que é considerado pelas autoridades espanholas, em particular no País Basco, como um problema muito sério que põem em causa a sustentabilidade das produção de mel local.
Desta vespa pouco se sabe acerca da sua biologia e comportamento predador, mesmo no seu habitat natural. De uma maneira geral, "estes especímens caçam abelhas, entre outros invertebrados, é com o intuito de fornecerem alimentação proteica para a sua criação. A maior parte das vespas atacam as abelhas individualmente. A excepção vai para a Vespa-gigante (Vespa mandarinia) que ataca as abelhas em grupo e facilmente invade o interior das colmeias". Noutros casos em que a abelhas detectam a sua presença, as obreiras deixam de sair das colmeias e todo o enxame acaba por morrer de fome. Uma das formas de controlar esta praga exótica, já que a sua total erradicação será tarefa quase impossível, "é através da construção e utilização de armadilhas, que são úteis para monitoração e localização do ninho de vespas como também para diminuição da predação. Se existem muitas vespas no apiário, devem ser colocadas armadilhas para diminuir a pressão de predação. As armadilhas podem ser construídas com garrafas de plástico ou adquiridas em lojas da especialidade. Existem vários "iscos" para atrair as vespas. É necessário verificar se o isco que colocamos nos nossos apiários é próprio para vespa velutina pois poderemos cair no erro de atrair outros predadores e abrir um espaço para o aumento da predação desta espécie. O tempo para mudar o isco depende da sua "receita". Se é com carne deve estar cada dia, se é com álcool e açúcar, pode estar cada semana.Porém, deverão ser os apicultores a monitorizar nos seus apiários qual o melhor espaço de tempo para a sua substituição" conclui o documento.
Edgar Fernandes iniciou-se no teatro na Ilha da Madeira no grupo de Teatro escola "o moniz" onde ganhou por dois anos consecutivos o prémio de Melhor Actor. Trabalhou no Grupo de Teatro Profissional Teatro Experimental do Funchal e actualmente é um dos membros do Teatro de Marionetas do Porto.
Este ano faz vinte anos de carreira, olhando para atrás esta é a carreira com quem sonhou quando começou?
Edgar Fernandes: Não, mas no bom sentido. Pensava que estava a meter-me numa aventura louca, que nunca conseguiria fazer carreira, felizmente sempre estive no activo, nunca estive nenhum período sem trabalho.
Foi importante ter saído da ilha nessa altura?
EF: Foi, se não estou em erro sai em 1996. O teatro, naquela altura, era muito reduzido. Hoje há algum desenvolvimento até porque tem o grupo teatro-escola e o teatro experimental do Funchal, mas senti a determinada altura que estava a estagnar e que necessitava de mais formação para poder evoluir como profissional, senti que era isto que queria fazer e havia mesmo essa necessidade de sair.
Mas, foi apenas uma questão de evolução natural em termos profissionais, ou também sentia que estando numa ilha não teria as oportunidades, os desafios desejáveis posteriormente?
EF: Não, foi mais pela formação. Até porque faço questão de um dia, não muito longe, de voltar a Madeira. Sempre foi o meu canto. Apesar de estar no Continente há 17 anos sinto-me muito madeirense e ao contrário de muitas pessoas que querem sair da ilha, eu quero voltar, porque quero poder desenvolver e ajudar pessoas que tal eu como não tiveram formação e a possam ter sem sair da Madeira.
É artista, professor, faz dobragens para cinema animado, é actor no Teatro de Marionetas do Porto (TMP), em qual destas vertentes sente um maior prazer como profissional?
EF: Estão todas ligadas a interpretação. Basicamente é algo de que gosto bastante, que é interpretar. Posso dizer que de todas estas áreas aquela em que sinto mais prazer é no Teatro de Marionetas do Porto. É uma companhia onde já cá estou há 13 anos e foi o meu professor de interpretação, João Paulo Seara Cardoso, que me instruiu profissionalmente como interprete e que me ajudou a aperfeiçoar ainda mais a minha interpretação. Daí que sempre me senti realizado, apesar de que nas restantes vertentes sou feliz, sinto-me completo no TMP.
Como é ser actor num teatro de marionetes?
EF: É muito especial, esta companhia tem um percurso bastante interessante, porque nenhum dos actores tem formação de marionetista. Somos todos actores. O que define o TMP é que não é um teatro de marionetas, ou seja, um marionetista escondido por detrás de um cenário, mas estamos sempre presentes. O público consegue ver a marioneta e o actor, até porque o boneco como é feito de madeira ou de fibra não tem qualquer expressão física e nós conferimos essa parte humana a marioneta. É isso que me interessa bastante e motiva.
Numa peça de teatro há um texto, ensaios e o encarnar o personagem, num dos espetáculos do TMP, apesar de haver também um palco e uma história para contar, como é que decorre todo esse processo como actor?
EF: É feito exactamente feito mesma forma como seria num espectáculo sem marionetas, porque é como disse, o TMP é uma excepção a regra, desenvolvemos um trabalho inovador. Começámos com o actor, antes da marioneta, porque leva algum tempo para que a marioneta seja construída. Um espectáculo demora 3 meses e meio a ser montado. O trabalho de pesquisa sobre a personagem é começado com o nosso corpo. Depois a pessoa que fabrica a marioneta consegue através do nossa expressão física construí-la mais facilmente, trabalhámos a tempo inteiro na companhia.
E também têm um encenador.
EF: Sim, até 2010 tínhamos como director o João Paulo Seara Cardoso que infelizmente faleceu nesse mesmo ano. Neste momento, a Isabel Barros é a nova responsável, mas todos na companhia, porque somos interpretes, os sete, também, somos criadores. Há uma pessoa a dirigir obviamente, mas todos fazemos parte da encenação, da criação de espectáculos.
Como é que procedem à escolha dos textos? É diferente porque se trata de marionetes?
EF: É feita da mesma forma. O TMP realiza por ano, um espectáculo para adultos e um para a infância. Até 2010 os textos eram originais do João Paulo Seara Cardoso, eram através do improviso em que criava peças para os mais novos. Para o público mais maduro, excepcionalmente partimos dos clássicos, já encenámos "Macbeth" de Shakespeare, "os encantos de medeia" de António José da Silva e outras peças, mas por norma, os espectáculos surgem de improvisos nos ensaios e a partir daí criámos textos.
Qual é a fórmula de sucesso do TMP? Há muitos grupos, ou teatros sem público e vocês ao longo dos anos sempre conseguiram manter uma actividade regular.
EF: Tem muito a ver com a vontade de remar todos para o mesmo lado, eu sei que é uma frase feita, mas somos sete na companhia e desde a produção, a interpretação, a construção de marionetes, todos acreditámos neste projecto, porque é muito inovador. Nesta companhia os actores não só trabalham a interpretação, como também fazemos experiências com multimédia, dança e música e acho que o sucesso esta aí. Por norma, o teatro de marionetas é visto como uma arte menor, que é só para crianças, mas nós não. A pessoa que assiste pela primeira vez as peças tem essa agradável surpresa, porque são espectáculos para pessoas, quer sejam crianças ou adultos e com a mesma dignidade, quer fosse com ou sem marionetas. Ainda agora montámos um espectáculo " o senhor hic", em que criámos marionetas em 3D, deixavam de ser manipulada por nós e assim tentámos cruzar as várias linguagens da arte.
Sendo um artista, um profissional como é que vê o mundo das artes em Portugal?
EF: Neste momento está muito complicado confesso e estou com muito medo, talvez pela política que esta a ser aplicada no nosso governo, na Europa e no mundo. Infelizmente os nossos governantes ainda não se aperceberam que a cultura é das áreas mais importantes para o desenvolvimento de uma sociedade e verifico que cá esta a ser vandalizada como é caso escandaloso da Casa da Música, que é um investimento brutal, que acolhe espectáculos provenientes de todo o mundo e que neste momento teve um corte de 30% no seu orçamento anual. No TMP estamos em stand by até Março que é quando os subsídios são atribuídos, mas continuámos a ter um trabalho diário, porque felizmente temos agendados muitas digressões. Grande parte da nossa receita provém desses espectáculos que mostrámos fora de Portugal.
É o suficiente para manter o TMP de forma sustentável?
EF: Essa não é uma pergunta de resposta muito fácil, se tivermos em conta o público do TMP, seria possível, mas não nos mesmos moldes actuais, porque o nosso trabalho é muito intensivo, são oito horas nesta companhia. Teríamos que ter uma segunda profissão, mas era possível. Agora vamos inaugurar o primeiro museu de marionetas do país, vamos ser a primeira companhia de teatro com o nosso próprio espólio exposto e de salientar que é particular, porque não temos nenhum apoio oficial do Estado.
É nas vossas instalações?
EF: Não, é aqui perto, na rua das Flores, num edifício que foi alugado e restaurado, será inaugurado no próximo dia 3 de Fevereiro.
Há algum espectáculo que ao longo da sua carreira o tenha marcado mais?
EF: Sim, é o espectáculo que estou a fazer, é um solo, um monólogo, que era feito pelo João Paulo Seara Cardoso, que se estreou há vinte anos e após a sua morte sucedi-o. É muito especial para mim, porque não o tive a dirigir-me, todo o processo de criação surgiu através de um DVD. É de alguém que admiro imenso e foi uma pessoa muito importante na minha vida e um desafio incrível. Sugou tudo de mim, o sentimento, a emoção, a interpretação, é o personagem da minha vida e vou faze-lo em Fevereiro. Eu gostava de leva-lo para a Madeira, mas não tem sido fácil, não tenho obtido feedback. Há uma pessoa interessada que eu vá até aí apresenta-lo, mas não tem conseguido reunir os apoios necessários. Os espectáculos têm os seus custos, mas existem complicações logísticas, no entanto, o cenário cabe todo numa mala. A peça chama-se Capuchinho Vermelho XXX, é para adultos, onde não tenho marionetas, tenho objectos, posso dar um exemplo, o lobo mau é um frango que vou buscar todos os dias ao talho. (risos) É um trabalho muito interessante!
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