Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

domingo, 30 dezembro 2012 11:12

O arauto do outono

Onde mora o mundo é o último trabalho discográfico de JP Simões que reflecte as suas idiossincrasias, o seu sentido crítico e irónico, num formato melódico diferente. Um pretexto mais que perfeito para abordar a sua música nada universal, como ele próprio o define e o seu percurso profissional.

Vamos falar um pouco o novo trabalho, onde mora o mundo, como tem decorrido essa viagem?

JP Simões: Já o lancei e fiz a sua promoção. Foi interessante, foi um disco que teve as suas complicações de criação e produção e saiu creio que bem, embora não seja um disco nada comercial, é feito pelas pessoas num estado de meta discurso.

Esse aspecto deve-se ao facto de ter uma componente forte de jazz?

JPS: Não é bem um disco com essa influência, mas sim, tocado por músicos de jazz. Foi composto por mim e pelo Afonso Pais e os músicos que tocaram são muito experimentados e tem uma formação nessa área. Jazz significa mais músicos com uma formação de excelência, que outra coisa. A única diferença entre músicos desta vertente musical e os clássicos, é que no jazz dá-se mais valor ao improviso em detrimento da execução rigorosa. É algo no limite. Foi só uma coincidência. O que eu fiz é uma questão de o fazer, escrever canções, a única diferença é que foram tocadas por músicos de excelência.

Este projecto teve previsto por diversas vezes várias datas para ser lançado.

JPS: Isso está sempre a acontecer. Tem a ver com muitos factores. Depende das editoras, há períodos de altos e baixos, depois existe uma preocupação em não perderem o seu papel enquanto empresas, porque os discos pura e simplesmente não se vendem. Há 30 discos para serem lançados na mesma altura e de facto, as coisas se atrasam sempre, pelo menos comigo foi sempre assim. Acho que se atrasa constantemente, porque as pessoas trabalham concertadamente e então só falam para a comunicação social que vão lançar um disco, quando tem a certeza que vai ser lançado. Não sei, já estou habituado a isso, faz parte do folclore.

Acha então que os músicos só conseguem sobreviver se fizerem concertos?

JPS: Acho que sim, o futuro dos músicos é fazer música. Como conseguem viver com ela, vai variando e é a tal coisa, não consigo fazer um vaticínio possível, mas o mais importante é tocar, estar com o público e ganhar dinheiro obviamente. Creio que é para isso que os discos servem. Para promover o nosso trabalho e despoletar um novo conjunto de actuações.

É um músico que o seu trabalho procura abordar diversas influências musicais. Faz uma pesquisa?

JPS: Eu gosto de música. Na verdade eu chego sempre ao presente meio surpreendido. As coisas sempre me aconteceram, as mudanças, as influências de género, ou de forma, tiveram muito a ver com as pessoas com que sempre toquei, com as músicas que se ouviam então. Daí que, eu tivesse esse ecletismo. Aconteceu naturalmente. Essencialmente surgiu por causa das pessoas que foi conhecendo e do género de música que gostava de fazer. Lembro-me que no caso dos Belle Chase Hotel eu tinha a ideia de só fazer soul e acabei por não fazer nada disso. O meu trabalho também mudou quando comecei a escrever para teatro e em português. Onde esse universo fizesse mais sentido e naturalmente que não me apetecia dize-lo através de punk rock, ou rock and roll, ou ainda o rythm and blues, o que estava mais próximo era a bossa nova com certeza. A música brasileira em geral, nesta metade do século XX, é muito boa. Desde Jobim até os seus poetas incontornáveis. É de uma riqueza incrível. Os géneros estão aí e todos eles têm intérpretes e composições maravilhosas. O resto é coincidências. Tem a ver com o que se vai fazer, ou seja, eu nunca me mantenho num mesmo género, porque a especialização não é o meu forte. Sou superficial por assim dizer.

Como foi mostrar um álbum de bossa nova cantado por um português no Brasil? Como foi a sua aceitação? Há uma forte penetração da música brasileira no nosso país, mas o mesmo não se afirmar no sentido contrário.

JPS: O álbum 1970 saiu em 2007 e desde essa altura até hoje, tenho sempre tocado no Brasil, duas vezes por ano. Não sou o chamado músico popular, porque a minha música tem a ver com as minhas idiossincrasias e as minhas limitações. Nunca foi muito festiva. Sempre foi irónica e auto-introspectiva e portanto no caso deste país isso não pega muito. A bossa nova e as composições dos anos 60 e 70 são coisas que os brasileiros não ligam muito lá. Apreciam mais uma música muito pulsante, muito popular, cheia de ritmo e com pouco esmero de composição. Desde o funk de favela até ao brega, o forro e a música sertaneja, são géneros musicais que movem muito as pessoas nas cidades do Brasil. Onde tinha mais acolhimento foi e é em São Paulo, onde há uma maior diversidade cultural e são mais organizados. Os critérios de aberturas são bastante grandes em relação a outros sítios. O Rio é muito fechado, está muito ligado a sua reputação, a não ser que seja alguém extraordinariamente famoso e aí tudo se move em seu entorno, se não for muito famoso não acontece nada.

Então é uma situação que não se aplica apenas ao teu caso especificamente, mas da música portuguesa em geral?

JPS: Há muita contingência. Muitas coisas se podem fazer. Eu nunca fui um tipo com uma grande estrutura promocional.

domingo, 30 dezembro 2012 11:10

A different time

Um disco que marca uma nova etapa na carreira da cantora Marta Hugon

Descobri a voz de Marta Hugon sem querer faz algum tempo. E foi um acaso muito feliz. A different time é o seu mais recente trabalho discográfico e confirmação da sua maturidade como cantora de músicos. Este álbum é uma viagem por diversas influências musicais que ela interpreta de uma forma pessoal e intransmissível. A voz desta cantora de jazz é tal qual uma impressão digital, é única e é inconfundível. Belly button é uma carta de despedida que permite saborear a expressividade da sua voz acompanhada pelo trio de músicos de sempre, constituído por Filipe Melo no piano, Bernardo Moreira no contrabaixo e André Sousa na bateria. Lightweight é mesmo isso, leve como uma brisa, é a memória de um tempo, de um afecto que nos estampa um sorriso no rosto. É uma fracção de felicidade. Swim Slow é outro dos temas que constam deste trabalho. É divertido e desliza suavemente pelos nossos sentidos. Forget Paris é um bombom com música de Bernardo Sassetti, é talvez a música com maior influência no jazz deste maravilhoso trabalho.

A essência desta colectânea de canções é uma jornada com uma sonoridade cândida e segura, para ser ouvida uma e outra vez. Sem descanso. É também a afirmação de Marta Hugon como compositora já que a maioria dos temas são da sua autoria com arranjos de Filipe Melo e com um convidado especial, o músico Mário Delgado na produção e na guitarra. Um regalo para os ouvidos.

http://martahugon.com/

domingo, 30 dezembro 2012 11:07

As seis sereias

São seis pó meia dúzia. Seis mulheres. Seis vozes que cantam á capela. Seis tonalidades diferentes sonoras que encantam audiências. Seis personalidades dispares que se completam num projecto musical inusitado que lançaram recentemente no seu CD de estreia, pés descalços. 

Como surgiram as seis por meia dúzia?

Fátima Ornelas: A ideia surgiu no seio do Xarabanda em 2004. Queriam formar um grupo exclusivamente feminino que cantasse música tradicional à capela. A partir daí, quer o Rui Camacho, quer o professor Roberto Moniz endereçaram convites a várias pessoas para integrarem o agrupamento. Das seis vozes iniciais, duas tiveram de sair por motivos pessoas, que foi a Aliane e a Filipa que se iniciou comigo. Dessa forma, sobraram duas vagas que foram preenchidas, pela Susana Brandão e o último elemento foi escolhido através de um casting. Foi aí que ouvimos a Carina e o grupo ficou completo.

Porque a escolha de cantar á capela?

FO: Porque é diferente. Grupos de música tradicional existem muitos. Nós marcámos a diferença por cantar à capela. O que desde já não é nada fácil, porque não temos o apoio dos instrumentos. Usámos percussão, mas não são instrumentos com harmonia, nem melódicos.

Em relação ao álbum como é que ele aparece? E como procederam a recolha e selecção das canções?

FO: Existimos desde 2004 e só agora é que estamos a lançar, porque como já temos um percurso feito ao longo destes anos, achámos que estava na hora de compilar o trabalho realizado durante esse período de tempo, para termos um registo daquilo que foi feito. Constam neste CD, para além de canções tradicionais, músicas de embalar, jogos de rodas, cantigas de trabalho e mouriscas.

Porque o nome de pés descalços para este trabalho?

FO: Pode ter várias interpretações. Nós quisemos esse nome, porque desde o princípio sempre actuámos descalças. É a nossa marca. Por outro lado, simboliza uma simplicidade que nos une ao passado, embora estejamos no presente, continuámos de pés descalços.

Participaram no festival da canção. Qual foi o feedback para o grupo dessa experiência ao nível nacional?

FO: Foi uma óptima experiência, porque crescemos como grupo. A ideia de entrar no festival não foi nossa. Foi-nos endereçado um convite e participámos com muito gosto. Foi completamente diferente de tudo que tínhamos feito até então, embora tivéssemos anos de trabalho. Foi bom, porque não estávamos sozinhas, existiam vários grupos e cantores na mesma situação. Estávamos a concorrer para o mesmo. Foi bom em termos de partilha de ideias e experiências.

Em termos de concertos?

FO: Sim, tivemos mais actuações. É claro que as pessoas passaram a conhecer-nos ao nível nacional. Apesar de termos tido no passado a oportunidade de actuar no continente, inclusivamente nos Açores, bem como, fora de Portugal, nomeadamente, nas Canárias e na Venezuela.

Como um grupo que participou pela primeira vez num evento desta magnitude, o que acham do actual sistema de votação?

FO: No que concerne o sistema de votação, existem dois pontos de vista. Quem ganha fica muito feliz e quem perde fica triste. Mas, é assim mesmo. Nem todos podem chegar a final, ou ser escolhidos. A votação é feita pelo público tem a ver o número de chamadas. Quantos mais amigos tivermos, mais votam em nós, mas não se pode dizer que seja injusto, fica ao critério de cada um, se as pessoas gostarem votam.

Qual é o próximo passo para as seis por meia dúzia?

FO: Este ano lançámos o CD e estamos já a fazer novas recolhas e tentar mudar o repertório. Alargar mais o âmbito das recolhas, muito para além da ilha da madeira e de Portugal no geral. Talvez do mundo. Por isso estamos a estudar esse próximo passo.

Sentem que são alvo de algum preconceito por serem um grupo feminino que canta músicas tradicionais?

Carina Gonçalves:Não, nunca sentimos isso. Cantámos músicas tradicionais à capela, porque gostamos de o fazer e muitos poucos cantores o conseguem ao vivo. Se as pessoas gostam ouvem, se não apreciam não ouvem.

domingo, 30 dezembro 2012 11:04

UPA unidos para ajudar

É uma colectânea inusitada. São duetos improváveis para ajudar as pessoas com doença mental. Apoie o movimento.

É um apelo à não discriminação das pessoas com doenças mentais. É um álbum resulta do trabalho da Encontrar+se, associação de apoio de pessoas com perturbação mental, para comemorar o seu primeiro ano de existência. É um projecto com a denominação de UPA, Unidos Para Ajudar, que compilou durante esse período de tempo, treze filmes que abordam a temática das doenças do foro psíquico, 13 cartazes e 10 canções com vista á arrecadação de fundos para este instituição particular sem fins lucrativos. Todo este esforço saldou-se num trabalho de grande qualidade musical. Alguns dos duetos que constam deste álbum são de facto imprevistos e resultam todos muito bem. O tema de abertura de Jorge Palma e Manuela Azevedo, dos Clã, não poderia ser melhor cartão-de-visita para este propósito. É um “convite” à música interpretado por duas vozes inesquecíveis. O tema “Alguém me ouviu”, de Boss A.C. e Mariza descreve os anseios, as angústias, o sofrimento e isolamento das pessoas com problemas mentais, devido aos preconceitos de uma sociedade que não os compreende, que nem sequer os aceita como cidadãos de pleno direito. É uma canção emotiva, emocionante e com uma mensagem muito forte. “Ouve bem”, dos Cool Hipnoise e o Tiago Bettencourt é um apelo á tolerância e a compreensão. É o dar a mão, porque sem viagem não existe o regressar. “Ele é que não” é a participação musical da dupla inusitada, Rodrigo Leão e J.P Simões. O resultado é soberbo. É o outro lado do espelho, de quem olha para esse alguém que ama, que não compreende, que renega esses motivos, essas razões para tanta dor. Bipolar, dos Mesa e Rui Reininho, é o mote para o mundo em que vivemos. Um que está em mudança, uma sociedade esquizofrénica que umas vezes faz sentido, outras nem por isso. As restantes canções que constam desta colectânea deixo ao vosso critério, realcei apenas algumas, não porque o trabalho dos restantes seja menor, mas porque não pretendo descortinar tudo, ouça e aprecei os vídeos que constam deste projecto solidário. No final deste texto deixo a hiperligação e no final, apoie esta causa.

http://www.encontrarse.pt/upa08/

domingo, 30 dezembro 2012 11:00

Os amor terror

O amor terror é a nova aventura musical do Daniel, do Miguel e do Ricardo, antigos membros do pintarolas. É uma banda que aposta numa sonoridade mais desenvolta e com maior maturidade lírica. As letras reflectem o universo destes jovens músicos, com uma forte componente rock. Ainda não há data para o lançamento deste novo trabalho, mas o grupo já vai para a estrada, integrados na tournée Vox Tropper Tour, que começa já no dia 29 de Outubro na Glória do Ribatejo, com entrada livre.

Vamos começar pelo fim. O que ditou o termino do pintarolas?

Daniel Filipe: Todas as bandas terminam pelos mesmos dois motivos: Por motivos pessoais, de relacionamento entre os membros. A outra razão prende-se com as questões artísticas. Os compositores da banda queriam redimensionar o projecto em termos de conteúdos técnicos e não havia esse consenso.

Três dos antigos membros transitaram para o amor terror. O que muda em termos de sonoridade neste novo trabalho?

DF: Em termos sonoros e líricos houve uma grande evolução para quem compõem e quem arranja este tipo de música. Para mim, e para o Miguel, que somos os dois compositores, mudou tudo. Temos um som mais rico, instrumentalmente mais de acordo com as nossas capacidades e muito à imagem do que se faz lá fora. É uma sonoridade mais desenvolvida, já existe um certo tipo de guitarra e de bateria. É mais definida.

Em termos das letras?

DF: Nós no pintarolas queríamos criar um projecto com muito humor, provocar uma surpresa, uma gargalhada nas pessoas. Agora não temos essa preocupação. Gostamos de brincar com o português, de o trabalhar. É uma música mais identificativa da nossa personalidade, nem sempre falamos a brincar, não temos vontade disso. Muito sinceramente, não há regras! (risos). Basicamente é isso, não temos uma preocupação humorística.

Do que eu ouvi, há a introdução de duas vozes femininas. É para manter no projecto amor terror, ou só para este álbum?

DF: O que nos pretendemos demonstrar com as nossas convidadas é que a maior parte da música com maior qualidade em Portugal, ainda não chegou ao público. Os cantores, músicos mais interessantes e as pessoas com mais visão ainda são desconhecidos das grandes audiências. Assim, em vez de convidar músicos mais conhecidos, que já o podíamos ter feito, fomos buscar duas pessoas completamente anónimas com grande talento e vozes especiais.

O que tinham as vozes delas tão especial para incluírem no álbum?

DF: Lá está! São pessoas que vêem a música de forma diferente. A música pela música. A Maria Margarida Rodrigues tem 16 anos, um enorme potencial e também compõem. A Ana Sofia Antunes, já foi premiada internacionalmente, mas nunca teve esse reconhecimento em Portugal. Eu tenho a noção de que os maiores talentos nacionais ainda não são do conhecimento do público. Existe algum tipo de rolha, esquema e sistema que impede que essas pessoas sejam reconhecidas.

domingo, 30 dezembro 2012 10:58

A casa

É mais homenagem à bossa nova pelo duo Morelenbaum e por um convidado muito especial, Ryuichi Sakamoto.

É um disco que percorre vários temas do pai da bossa nova, António Carlos Jobim. Mais conhecido por Tom. São as derradeiras interpretações de um dos maiores pianistas da actualidade Ruychi Sakamoto, os arranjos maravilhoso do músico Jaques Morelenbaum e a voz quente e melodiosa de Paula Morelenbaum. Foi gravado numa casa muito especial, na residência de Jobim, não só como uma espécie de homenagem, mas porque era o seu refúgio e sala improvisada para concertos, onde o compositor gostava muito de receber os amigos, convidados e outros músicos, o seu ninho. Foi também o local onde compôs alguns dos temas que constam deste álbum.

O processo de gravação contém um quarto elemento, o mais inusitado, a catedral, a casa. É audível ao longo do disco, os ruídos produzidos pelo vento e os pássaros que dela fazem parte. Uma sonoridade propositada que os artistas fizeram questão de incluir neste périplo musical. Uma viagem pela música do tropicalismo brasileiro, onde também participa um dos filhos do maestro, Paulo Jobim, na guitarra e a voz inconfundível de Ed Motta no tema imagina. A casa é um diamante melódico, tem muitas faces e todas elas são brilhantes. Para se ouvir sempre. É banda sonora de uma vida. É para todos os fãs da bossa nova, mas acima de tudo é para todos os amantes da música. Só para aguçar ainda mais o apetite, a Casa teve a sua continuação, desta feita num quinteto, que inclui para além dos três magníficos, os músicos Luiz Brasil e Marcelo Costa, sob o título a day in New York.

domingo, 30 dezembro 2012 10:54

O experimentar na m´incomoda

É o trabalho irreverente de um jovem da ilha do Faial, que mistura várias componentes sonoras contemporâneas com a música tradicional. Com uma formação em guitarra clássica no conservatório e em marketing de música, este músico revisita vários temas do cancioneiro açoriano que transporta para uma vertente mais popular. Uma experiência que não se fica por aqui. Pedro Lucas tem na forja um segundo disco para ser lançado já no próximo ano.

Qual é o conceito por detrás deste disco?

Pedro Lucas: Tudo começou com um músico açoriano que é o Carlos Medeiros. Há uns dois anos atrás, voltei para os Açores e assisti a um concerto ao vivo deste músico e apaixonei-me pelo disco. Ouvia-o constantemente e um dia decidi fazer uma brincadeira com um dos temas com o tipo de linguagem musical que utilizava na altura que era o digital, com computadores e sintetizadores. Gostei tanto do resultado dessa primeira experiência que decidi revisitar na integra o disco, daí o jogo de palavras. Ao longo do processo, foi acrescentando outros temas, para além dos quatro originais de Carlos Medeiros, pesquisei vários cancioneiros de recolhas de música tradicional açorianas.

Quando decidistes empreender este trabalho tivestes a noção que seria inovador e por isso, poderia não ser bem aceite?

PL: Não foi inovador, este tipo de sonoridades já foi reinventado por compositores clássicos, há vários séculos. Não acho que estivesse a criar conceito nenhum novo. A minha abordagem já existia. Eu sabia que haveria tradicionalistas que iriam ficar um pouco chateados com o meu trabalho, mas também sabia que uma larga maioria vai também ao cancioneiro tradicional buscar algo, trabalha-lo, dar-lhe vida digamos assim.

Qual foi a aceitação do público, que não das ilhas?

PL: Até agora tem sido óptimo. Eu acho que o experimentar na m’incomoda parte de uma vertente tradicional para outro universo que é da música popular e isso de certa forma facilita. Qualquer que seja a origem, desde Trás-os-Montes ao Algarve, a música consegue sempre dizer qualquer coisa aos portugueses, independentemente da região, porque apesar das especificidades inerentes, chega sempre às pessoas.

Qual é a próxima etapa, os concertos?

PL: O disco já saiu em Novembro do ano passado. Ao longo de 2011estivémos a percorrer um pouco do país. Já fomos desde Santo Tirso até Tavira. Estivemos a tocar pelo continente, mas também tocámos na Madeira e nos Açores. O próximo passo seria um concerto completo. Fazer uma pequena digressão nacional, contando com alguns convidados especiais, como o Zeca e o Carlos Medeiros. São dois músicos que tocam sempre connosco nos Açores, mas que não houve ainda oportunidade de os levar até o continente. Estou a desenvolver um novo trabalho discográfico, que pretendo que saia em Setembro de 2012.

Esse projecto musical também incide sobre o cancioneiro açoriano?

PL: Sim, mas existe uma dúvida minha se irei abordar outros temas do cancioneiro tradicional português, da Madeira, por exemplo. Os temas novos, que estou a revisitar são todos dos Açores. Tento descobrir outros discos de recolhas aos quais não tive acesso na altura e que dispõem de muita matéria-prima de boa qualidade para desenvolver.

Onde vais encontrar esses discos? Tinhas alguns deles? Eram de familiares e tivestes acesso?

PL: Não. O disco do Carlos Medeiros, apesar de ser de difícil acesso, é um músico relativamente bem conhecido nos meios tradicionais. Ele já gravou com a brigada Victor Jara e tocou com outros músicos. O disco de recolhas que usei no primeiro CD chegou-me às mãos através de amigos. Foi um dos anos 90, de um técnico de som que foi até à ilha Terceira, ao Corvo e as Flores recolher esse cancioneiro tradicional. O Carlos Medeiros, por sua vez, emprestou-me um disco de Artur Santos, dos anos 50, uma recolha musical que incidiu sobre a ilha de São Miguel. Existe um acervo muito grande nos Açores, desde os anos 40 da rádio Clube de Angra e da Asas do Atlântico. Todos têm um património musical bastante grande que eu ainda não consegui aceder.

Mas, pretendes aceder a esse material para teres uma ideia mais clara para este segundo disco?

PL: Não, por enquanto vou debruçar-me sobre este trabalho do Artur Santos, mas isso é uma pequena parte. Vou usar temas mais canónicos, digamos assim, do mundo musical nacional, que já conheço. Não baseio o meu trabalho em apenas um disco. Vou buscando, pesquisando. Há uma possibilidade de trabalhar com recolhas bastantes actuais que estão a ser gravadas neste momento, não por mim, mas de outras pessoas que estão a construir uma base de dados bastante grande, inclusive não só em áudio, como em vídeo. Possivelmente também vou fazer algo com isso. Vou pesquisar várias fontes.

domingo, 30 dezembro 2012 10:52

Solo

Um duplo CD de originais de um dos maiores compositores contemporâneos portugueses

Este álbum surge quase sete anos após um intermezzo que António Pinho Vargas classificou numa entrevista de necessário, porque lhe permitiu criar uma nova relação com o piano. Uma intimidade patente neste álbum, pela sua ilusória simplicidade musical. Só para abrir o apetite, começo pela homenagem ao também músico e compositor, amado estranhamente no nosso país, Tom Waits. A melodia é um intercalar de emoções e contradições, um pouco como o músico australiano.  Que amor não me enganas, foram semanas de trabalho musical sobre o tema original de José Afonso, mais conhecido por Zeca Afonso, e creio que o resultado é maravilhosamente audível. Palavras para quê?

June, não sei se é um nome, ou simplesmente um mês, pouco importa, é uma melodia terna e suave que vai escalando, é o prelúdio de um momento. Qual? Deixe-se levar, afunde-se nas suas recordações. Mais uma incursão, com o tema o fado negro, podemos recriar o sentimento imprimido pela guitarra portuguesa num piano? A meu ver podemos. Há algo de perturbador e doloroso nesta melodia. Fala de gritos silenciosos, de ardor e de agonia. Dança com os pássaros é claramente a minha favorita, é emoção no seu mais puro sentido. Depois temos os diversos tempos, que imprimem uma forte dinâmica a este tema e tornam esta melodia inesquecível. Transporta-me para um cenário urbano cheio de gente que percorre as ruas apressadamente, de um lado para outro em bandos, freneticamente em várias direcções num normal final do dia. Como pássaros.

http://www.antoniopinhovargas.com/discos.php#

domingo, 30 dezembro 2012 10:48

Quando os punk saem à rua

São uma banda madeirense com um repertório musical surpreendente e alternativo. São um grupo de músicos com uma visão musical inusitada e desconcertante ao mesmo tempo. Venha daí conhece-los.

Os punk d’amour são uma banda com influências tradicionais que se fundem com letras irónicas, audazes e divertidas que nos remetem para uma certa musicalidade de intervenção, um som que nos faz recordar Zeca Afonso. É um conceito musical alternativo e original ao mesmo tempo. Uma dualidade que segundo, o vocalista, Filipe Ferraz, está subjacente no próprio nome da banda, “punk é o humor, a parte agressiva, a parte rebelde, indignada e o amor é o outro lado. É a dicotomia que todos temos”.

As melodias resultam, como afirma, “da influência de sonoridades tradicionais. São a completa culpa do Rui Camacho, porque começámos a ensaiar na sede dos Xarabanda e de repente tínhamos uma série de instrumentos tradicionais à nossa disposição. Ele mostrou-nos o peso, as suas capacidades sonoras e a própria história do instrumento. De repente começou a fazer sentido estarmos ali e fazer parte de uma tradição que é madeirense que pretende ser cada vez mais universal, mas ao mesmo tempo ambiciona prestar uma homenagem as raízes”.

As letras, reflectem o lado mais ousado e mordaz desta banda madeirense, tem um quê de louco e agreste e ao mesmo contam histórias mirabolantes, através da belíssima voz da Mariana Camacho acompanhada apenas da repercussão, como sublinha o músico, “é a nossa visão, é a nossa forma de ver com ironia o mundo que nos rodeia. Vivemos melhor se falámos sobre os problemas, acho mesmo que é mais saudável”. Um desses exemplos é o tema poliglota, “é uma melodia que está inacabada, o conceito da música é: o que está neste momento todo o mundo a dizer. Se conseguíssemos seleccionar uma frase de cada um deles, o que dava no conjunto”.

A banda tem 11 músicas que esperam que cheguem a ser um disco, “vivemos entre Lisboa, Madeira e Porto. Estamos a gravar separadamente as melodias, cada um grava a sua parte e depois juntámos. Não é possível gravar um disco desta forma, mas a maquette sim”. Quanto aos concertos ao vivo, embora sejam uma excelente experiencia, Filipe Ferraz sublinha, “não dou muita importância aos palcos maiores, para esse tipo de espectáculos espera-se pura energia e os nossos concertos são mais íntimos. A dinâmica do grupo perde-se”.

http://www.youtube.com/watch?v=jMYksHgz3Yw&feature=related

domingo, 30 dezembro 2012 10:45

O vinho dos amantes

É um disco inusitado de um dos maiores nomes da música tradicional portuguesa, Janita Salomé. É uma homenagem ao vinho.

Este disco de Janita Salomé é um périplo pela história do vinho. É uma ode pelos vários momentos que resultam da alquimia do mosto como ele canta neste tema. É uma mistura de aromas e sabores visível na musicalidade deste disco. A voz do cantor modula-se ao som de vários instrumentos e influências musicais. O vinho. Sempre presente nas ocasiões mais importantes da nossa vida, ele exorta “embriagai-vos”! Não deixa de ser irónico que este poema cantado nos remete para os claustros dos mosteiros onde se produzia o vinho e ao mesmo tempo para a nossa herança quase nómada, cigana como povo. O “banquete” é um outro tema de rara beleza, um hino. Vai de boca, em boca uma taça dourada/ somos pão e nada estamos a passar/ como o vinho passa pela na taça da vida/ para logo em seguida no chão se entornar. É o alimento dos espíritos que escorre pelas gargantas secas dos amantes, que dá nome a um disco cheio de referências mediterrânicas e poemas de maravilhosos onde se perfilam, Carlos Mota Oliveira, José Jorge letria, Anacreonte e Charles Baudelaire, só para citar alguns. Termino com a “estrela do vinho”, com três copos conquistamos a felicidade/ mais três copos temos o universo na mão…

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