É uma longa-metragem tão inesperada pese a história que conta que é sempre a mesma.
É um filme sobre ladrões, delinquentes de segunda categoria, malandros à boa maneira portuguesa que estranhamente falam em inglês com sotaque americano. O que pode derivar desta inevitabilidade do destino? O roubo de um Van Gogh perdido algures na Extremadura Alentejana e para variar corre mesmo, mas mesmo tudo muito mal. Antes desses contratempos temporários, os nossos anti-heróis ainda tem tempo para se envolvem-se em mais uma série de problemas que…envolve saias, claro. E dívidas. E mais bandidos. Tudo misturado o que dá? Um filme escrito e realizado por um português, protagonizado por outros tantos, um punhado de actores espanhóis e quase todos falando em americano. Estranho, não é? Bem, o que posso dizer é que faz todo o sentido, o Chico Silva e o Fuentes vieram recambiados pelos ianques depois de umas peripécias mal sucedidas em terras do tio Sam e esse motivo não os impede de continuar a sua vida devotada ao crime em terras lusas. O que gostei? Do Ivo Canelas que é um excelente actor em qualquer tipo de registro, o Enrique Arce que faz um maravilhoso comparsa musculado e uma espécie de consciência moral do amigo e da maravilhosa e divertida Flora Martinez. É uma comédia/crime/thriller, três em um, imaginem! É acima de tudo uma longa-metragem divertida, sem grandes pretensões cinematográficas, que ganha velocidade cruzeiro lá pelo meio, quando demasiada gente toma conhecimento da existência de um Van Gogh e consequentemente todos cobiçam o tal quadro milionário. Vale a pena ver, nem que seja só para ouvir o perfeito sotaque americano do Canelas. Bom cinema.
É uma das obras do controverso cineasta e que venceu o grande prémio da crítica no festival de cinema de Veneza.
João César Monteiro teve uma carreira cinematográfica ímpar no nosso país. Sempre fez o que lhe deu na real gana. Era considerado um génio e como tal estranhamente teve acesso a todo tipo de financiamento público para os seus projectos em detrimento de outros cineastas portugueses. Uma parceria público-privada lusa que terminou da melhor maneira possível com o celebre “ branca de neve” que tanta tinta fez correr e que envergonhou o Ministério da Cultura. Foi bem feito! Não se pede a um louco acabado de sair de uma casa de repouso para realizar mais uma tortura cinematográfica. Aos mais iluminados deste mundo, caso não saibam, há que dar por vezes tempo, espaço e serenidade para se lembrarem de algo mais construtivo e não é que fosse alguma vez este o caso de João César Monteiro. Muito pelo contrário. Posto isto, falemos de uma das obras do já falecido cineasta, o segundo de uma trilogia, “a comédia de deus”, que não aprecio verdadeiramente. Embora, tenha visto esta longuíssima-metragem com muitas reservas, esta obra, em particular, provoca-me sempre uma certo desconcerto tenho que admiti-lo. Pondo esse aspecto de parte, Monteiro, é sem sombra de dúvida, o mais conceptualista dos realizadores portugueses. Definir a sua cinematografia é tarefa ingrata, para melhor compreenderem cito-o de maneira a evitar potenciais mal entendidos: “resta-me reconhecer a solidão moral de uma prática cinematográfica cavada na dupla recusa de ser uma espécie de carro de aluguer da classe exploradora e, o que é mais grave, de trocar essa profunda exigência por toda e qualquer forma de demagogia neo- fadista que transporte e venda a miserável ilusão de servir, por abusiva procuração, interesses que não são os seus”. Perceberam? Voltando ao filme, este em particular, tem uma premissa curiosa, um homem, João de Deus, colecciona pelos púbicos femininos, que guarda num caderno denominado de livro de pensamentos. Um processo que “colheita” que envolve um banho em leite de vaca às incautas vítimas, funcionárias da mesma sorvetária onde trabalha chamada de “paraíso do gelado” (nome muito apropriado), que depois coa no final. Mas, há um dia em que algo corre mal e os resultados desse encontro será no mínimo desastroso para a sua insignificante existência. Mais não digo, vejam com os seus próprios olhos. Bom cinema!
É um filme de João Pedro Rodrigues com Fernando Santos no principal papel.
“Morrer como um homem” é um filme curioso. Impactante. No mínino. Não pela abordagem do mundo do travestimos, mas pelo seu contexto quase operático. É uma história limite. Trágica. Muitas pessoas associam este tipo de melodramas ao cinema de Almodóvar, curiosamente o argumento deste filme em nada se assemelha à produção cinematográfica do espanhol. É um tipo de cinema que vai para além dos brilhos e das lantejoulas, mostra o que esta por detrás do cenário. As histórias da vida real. É um universo em decadência personificado pela Deborah Cristal, uma personagem envelhecida, vencida pelo tempo e pela concorrência de travestis mais jovens e musculados. É a recta final de uma viagem alucinante que faz na companhia do seu jovem e toxicodependente amante que acarinha como se de um filho se trata-se. É também o retrato de uma certa noite lisboeta dos anos 80, que incendiava as ruas com a sua grande diversidade humana e colorido. Um dos grandes trunfos desta longa-metragem são os diálogos, existe uma cena comovente, na estufa-fria creio, em que Tónia e uma amiga discutem as vantagens ou não de ser finalmente uma mulher de corpo inteiro, a luta interna perante essa decisão irreversível, através de uma intervenção cirúrgica que porá um ponto final à sua masculinidade residual. É como diz no filme, “de homem não passámos e a mulher não chegámos”. O final desta longa-metragem é ainda surpreendente. Deborah Cristal assume a sua real identidade e encerra o seu ciclo de vida como homem deixando para trás a rainha da noite. A cena final é lindíssima. Realço, finalmente o trabalho de Fernando Santos que não sendo actor profissional assume uma personalidade que conhece bem, porque actua como travesti na noite lisboeta. Bom cinema!
É uma longa-metragem produzida por Paulo Branco e recheado das actrizes mais talentosas do panorama nacional.
É um filme interpretado apenas e exclusivamente por mulheres para o resto do mundo. Não é uma visão feminina de como se pode governar um país, mas quase. Se calhar elas faziam um trabalho muito mais eficiente e acertado, na sua sã loucura, do que os sucessivos governos eleitos do nosso pobre país. Adiante. É uma sátira. Uma farsa em que uma mulher, interpretada pela sempre magnífica Alexandra Lencastre, acredita piamente que é a presidente dos EUA. Sim, quem diria! Se calhar é mesmo mais fácil governar a América do que um país à beira mar plantado. É verdade. O petróleo, claro que é sempre bem-vindo. O restante elenco, exclusivamente feminino ajuda esta farsante no seu intuito de conquistar a China e na organização de um evento sem paralelo no mundo. Não destaco nenhuma das actrizes, porque estão todas à altura do desafio de João Botelho. É um filme divertido, sem grandes pretensões artísticas, ou melhor, tem aspirações, o de mostrar o talento nacional no feminino. É esse aspecto que pretendo realçar sobretudo. O filme “respira” as suas actrizes. As suas interpretações. Tem um cenário cuidado e um guarda-roupa digno de uma líder mundial, nem Hilary Clinton o desdenharia. Só mesmo uma mulher notaria este aspecto, mas se calhar o filme foi mesmo pensado para senhoras gajas como eu. E deixem que acrescente, gostei! Bom cinema!
Nuno Santos é um jovem promessa do cinema português, que já realizou três curtas-metragens de grande qualidade.
Gosto muito de cinema é um facto. Tento mostrar o que de melhor se faz ao nível nacional, esse é outro facto irrefutável. E como não há duas sem três, gosto de contrariar a ideia peregrina de que o cinema português é uma seca, terceiro facto. Por isso cá vai mais um texto. Desta vez vou falar de um jovem cineasta, Nuno Rocha, que já demonstra ser um sério talento da cinematografia lusa. Até o momento este jovem realizador só tem conseguido produzir pequenas curtas-metragens que demonstram já uma grande capacidade narrativa com um sentido de humor muito requintado. Falo do filme “3X3” que sem necessitar, ou recorrer ao diálogo, encena magnificamente o confronto entre duas personagens. É do tipo de cinema que nos remete passado, aos filmes mudos que, numa linguagem não-verbal enfatizavam os grandes momentos mais dramáticos e significativos da narrativa com as interpretações muito físicas dos seus actores. Este é um desses casos. Numa altura em que os filmes sem som voltaram as luzes da ribalta, este filme sem grandes subterfúgios contam-no a história de dois homens, com personalidades totalmente distintas que decidem enfrentar-se. É hilariante! O outro projecto, que também gostei muito, surge de um desafio da LG, a marca, intitulada “ a vida é boa”. A interpretação que Nuno Santos faz desta temática, é também um excelente exercício cinematográfico. Não recorre, mais uma vez, a qualquer tipo de argumento escrito, que aliás diga-se de passagem, é prescindível. A narrativa desliza suavemente na sua aparente simplicidade. Os motivos que levam a personagem até as ruas acaba por ser supérfluo perante uma história emocionante e muito bem interpretada pelo conjunto de actores. Quanto ao projecto “Vicky and Sam” ainda não tive a oportunidade de vê-lo na íntegra, o que lamento, mas fica para a próxima. Contudo deixo o site deste jovem realizador, no final do texto, para que avaliem por si mesmos. Bom cinema!
Uma tragédia humana que desfila anonimamente pelas ruas da cidade de Lisboa.
Alice desapareceu. Nunca mais foi vista. O pai, Mário enceta diariamente uma busca insana, percorrendo obsessivamente as ruas de Lisboa, perscrutando incessantemente nas imagens das câmaras de vigilância um vislumbre da sua filha perdida. Entretanto, a sua vida e da sua mulher, Luísa é um limbo suspenso até o dia…Este filme de Martins é um poema negro sobre o sofrimento de um pai e de uma mãe após o desaparecimento de um filho. É um dos grandes filmes portugueses pela dimensão humana, que se reflecte num argumento assente nas duas personagens interpretadas por Nuno Lopes e Beatriz Batarda. Mário e Luísa respectivamente. Aliás o trabalho de ambos é excelente, principalmente de actor que acompanhamos pela ruas e vielas da cidade. O seu sofrimento contido é palpável aos espectadores que assistem a esta composição magnífica de Nuno Lopes. O argumento de Marco Martins é maravilhoso. Sem discursos lamechas. Outro dos pontos fortes desta longa-metragem é a banda sonora inquietante de Bernardo Sassetti que captou e interpretou na perfeição para música essa procura incessante, quase insana de um pai em busca de um novo sinal, de uma nova oportunidade para refazer aquele momento que alterou a sua vida para sempre. Numa altura em que, o cinema português granjeia mais prémios internacionais, como foi também o caso deste filme, vale a pena sempre ver ou rever este Alice.
É um filme surpreendente e com uma mensagem que não o vai deixar indiferente.
É um dos meus filmes preferidos do Luís Filipe Rocha, aliás retiro o que acabei de escrever e corrijo, é o meu filme preferido deste cineasta. A outra margem é o tipo de exercício cinematográfico que mais me fascina e emociona até a medula. Recorda-me o motivo que me levou a gostar tanto da sétima arte, o contar uma história de forma simples, singela até, sem enredos complexos, nem grandes cenários e textos muito densos. Um tipo de cinema cujo enfoque reside nas personagens, nas suas fragilidades como seres humanos, nas suas idiossincrasias e nas suas emoções. É a mais difícil de todas as artes transpor este tipo de sentimentos sem cair no campo da lamechice. Gosto muito… não, não peço mais uma vez desculpa, tenho uma paixão assolapada por este argumento que nos narra a relação que se estabelece entre um tio, com um passado obscuro, e um sobrinho que apenas vê alguém com quem pode falar, desabafar e criar uma cumplicidade tão profunda que acabará por indelevelmente afectar a vida de ambos. Soberbo. O elenco é um luxo. As prestações de Filipe Duarte, Maira d’ Aires e Tomás de Almeida deitam por terra todos as falácias sobre a falta de qualidade do cinema português. Fica assente de uma vez por todas, que é a mais pura das mentiras. Este filme sozinho é prova do contrário. O cenário é outra das mais-valias desta história que não vou adiantar, sinto muito! A belíssima cidade de Amarante, no norte do país, é o local mais que perfeito para ilustrar como as distâncias podem ser apagadas e como as margens da vida podem ser encurtadas. Aconselho-o veemente e desafio alguém a dizer o contrário! Bom cinema.
É o primeiro projecto de um jovem cineasta português, Leonardo António. Um nome a fixar.
É um pequeno filme com uma componente invulgar que são os efeitos especiais, que a meu ver são de uma grande qualidade. Este projecto cinematográfico de Leonardo António é demasiado bom para ser verdade, possui ainda uma outra grande vantagem, um argumento que é excelente para uma curta-metragem. Não existe excessos, ou carências no texto, entende-se perfeitamente pelo diálogo a temática do filme. As personagens estão bem estruturadas e o grupo de actores é como a cereja no bolo, tudo é perfeito, até o cenário e o guarda-roupa. Gostei da ideia, do conceito de um mundo à beira do abismo devido a falta de água. Mais uma vez trata-se de um pequeno filme de ficção científica, que poderia transformar-se numa longa-metragem e não perderia com isso. Muito pelo contrário ganharia uma enorme consistência. Faz-me lembrar muito um dos filmes de Steven Spielberg, “AI artificial intelligence”, numa outra vertente mais adulta, mas não menos dramática. Este é o primeiro trabalho deste jovem cineasta que promete e espero que apesar das vicissitudes do cinema português, consiga sagrar-se como argumentista e realizador de muitos projectos arrojados, muito ao meu gosto. Um autêntico Spielberg à portuguesa. Mas, não se fiquem pelo que digo, vejam através da hiperligação que está no final deste texto.
http://filmesportugueses.com/aqua/
Um registo inovador sobre o passado obscuro de um sistema político denominado de Estado novo.
O que pode uma fotografia de um rosto revelar sobre um sistema político? O que pode uma imagem tirada há mais de 35 anos dizer sobre a nossa actualidade? Estas são as questões que Susana de Sousa Dias tenta responder com um documentário marcante. A ideia é original, direi mesmo inovadora, porque mostrar um período da história portuguesa, a ditadura, através das fotografias dos rostos dos prisioneiros políticos, vítimas de um sistema político opressivo que durou 41 anos. É um registo único, porque aborda esta temática ainda tão actual, infelizmente, através dos testemunhos, em voz off, de alguns dos prisioneiros do regime e foca também as marcas visíveis nas fotografias desse tempo que nunca se deveria repetir em país nenhum do mundo. Há algo de profundamente perturbador naquelas fotos silenciosas, que afinal dizem muito. Nos olhares sofridos daquelas pessoas. Depois emocionámo-nos perante o testemunho dessa gente tão simples, que sofreu as mais ignóbeis torturas em prol de uma convicção política, em prol de pão de mesa, em prol da liberdade. A cineasta muito para além de responder as questões que se colocou desde o inicio deste filme, neste registo acaba por suscitar ainda mais dúvidas quando confrontámos aqueles rostos com a realidade. Será que valeu a pena? Como dizia Fernando Pessoa, tudo vale a pena quando a alma não é pequena! Touché. Bom cinema!
Norbert Shuchanek e Márcia Gomes de Oliveira organizam em Maio o maior festival mundial sobre o Urânio, no Rio de Janeiro, legendado em português. Uma vasta mostra de cinematográfica que aborda a temática do nuclear e os seus efeitos devastadores na vida do nosso planeta. Recentemente, os dois activistas estiveram na localidade de Nisa, no Alentejo, para filmar um documentário sobre o descontentamento e a oposição popular generalizada, perante a possibilidade da reactivação da exploração mineira de urânio. Um testemunho que consideram ser importante divulgar pelo mundo inteiro e que tem a sua estreia marcada na extensão do festival em Lisboa, no mês de Fevereiro.
Como é que contexto surge a ideia de filmar um documentário em Portugal, sobre Nisa?
Márcia Gomes de Oliveira: O filme está baseado no projecto do urânio film festival, dentro do mesmo assunto. Nós visitámos Nisa e ficámos a conhecer a história que existia um lugar em Portugal que fazia uma luta contra a mineração. No Brasil, nós desenvolvemos um trabalho para conhecer lugares do mundo preocupados com o problema nuclear. Quando nós debruçámos sobre a informação dos riscos de um desastre nuclear, apercebemo-nos, que no mundo lusófono, essa informação é pequena, ou quase inexistente. O que nos chamou à atenção foi saber que existia uma pequena cidade no Alentejo com pessoas conscientes do que é a mineração, do perigo que representa. Isso nos levou até Nisa para realizar o documentário. Sobretudo, foi importante porque é um movimento num país de língua portuguesa, porque aqui no Brasil o nosso maior investimento é de conhecer aonde tem formação sobre este assunto.
Mas, como chegaram a essa informação? À Nisa?
MGO: Isso é muito interessante, porque essa foi a primeira pergunta que eu ouvi quando cheguei à Nisa. Como chegaram até a gente? É engraçado que vocês inventaram o Brasil e aí a gente achou vocês é diferente, é só detalhes (risos). Nós já estávamos pesquisando sobre o assunto, tínhamos feito um documentário próximo à usina nuclear que temos aqui, no Rio de Janeiro. Estávamos organizando toda a informação e essa localidade chegou através de um paper científico, não me lembro se é uma tese de mestrado, ou doutorado feito por um brasileiro e lá no meio falava de Nisa, um local com mineração e com prospecção. No primeiro momento eu fui procurar o mapa do Brasil, será que é no Nordeste? Depois descobrimos que era em Portugal, no Alentejo. No Brasil, nos temos um carinho muito grande pelo vosso país, porque é o umbigo, o nascimento de toda a cultura portuguesa. Depois falei, precisámos conhecer esse lugar e essa história e o que está acontecendo. Chegámos a Nisa e fizemos um contacto, não muito detalhado, com as pessoas do movimento, José Maria Moura, Maria Vieira e outros que nos receberam e vimos que era um lugar que mudou e mais importante, é uma luta preventiva. Foi isso que nos moveu e incentivou a fazer o filme. É muito comum, sobretudo os brasileiros trabalhar numa expressão típica que é “chorar depois do leite derramado”. Nisa pensou que não queremos que aconteça algo que vai prejudicar, não depois. Então isso é o valor do filme. É mostrar ao Brasil, para o mundo todo, um movimento preventivo. Isso é que eu acho mais estimulante e mais precioso.
O filme vai ser exibido no Brasil, no segundo festival de urânio?
MGO: O primeiro festival aconteceu em Maio de 201, porquê? Estivemos em Nisa, gravámos e aí guardámos o material para criar um filme. Estamos a editar as imagens agora. Não vamos estrear no Brasil. Vamos estar em Lisboa em Fevereiro, na verdade vai ser exibido em Portugal antes da segunda edição do festival, no Rio de Janeiro. No Brasil, o urânio mostra os filmes e depois temos uma extensão do festival em várias cidades brasileiras. Em Dezembro houve uma mostra na cidade do Porto e em Fevereiro vão ser exibidos os filmes da primeira edição. Porém, vamos aproveitar a oportunidade, de estrear o documentário, antes do segundo festival no Brasil, porque como somos os organizadores, o nosso filme não entra em competição.
Fala-me agora um pouco sobre o festival, de como surge esta ideia de criar um ciclo de cinema sobre urânio?
MGO: É interessante, porque acontece antes do desastre de Fukujima. Em 2006 o Norbert Shuchanek esteve num encontro mundial sobre povos indígenas atingidos por mineração de urânio, ou depósitos radioactivos. Já existe uma organização no mundo, que reúne pessoas por causa do nuclear. Nesse evento, ele viu alguns filmes e trouxe-os e aí ele já estava com essa ideia. Quando vi um deles e foi determinante, de uma enfermeira em Chernobyl com as lágrimas caindo pelo rosto, enquanto mostrava a radioactividade no corpo de crianças e isso foi recentemente, e ela falou: isso não pode acontecer nunca mais, em nenhum lugar do mundo. Quando vi isso, falei: todo o mundo tem que ver isso e ser tocado, para não se voltar a repetir. Era um filme russo, dobrado em inglês, mas não chega para nós de língua portuguesa. Eu sou professora de sociologia, trabalho com adolescentes, trabalho com o futuro engenheiro, futuro técnico e essas pessoas não recebem essa informação, só andam atrás de um emprego onde recebem bons salários. O que vão fazer, não interessa. Isso foi em 2006. Precisámos de fazer um trabalho para mostrar esses filmes, porque um livro, ou uma palestra não tem a mesma eficácia que a imagem no mundo hoje. Essa eficácia chega aos adolescentes, a um adulto e a um idoso. O filme tem um impacto da comunicação audiovisual, do momento. O trabalho é organizar esses filmes, as pessoas se inscrevem mandam os seus trabalhos, nós temos um banco audiovisual com todas essas informações e o mais fundamental é serem legendados em português. O festival tem o poder de poder exibir os melhores trabalhos feitos no mundo sobre o tema, e estarem em português para ser atingível para a gente. O nosso trabalho em Nisa, e a extensão que desenvolvemos com o António Eloy foi importante para levar para o universo lusófono, a informação do que é o urânio. Pretendemos popularizar a palavra, porque ultimamente lê-se no jornal, mineração de urânio, cotação de urânio e a população não tem noção do que se trata. Todos os riscos que vai ter na nossa vida. Não gera movimentação popular.
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