São uma nova dupla de designers portugueses que apostam num vestuário que resulta de óperas fictícias.
A dupla constituída por Marina Pires e Pedro Eleutério decidiu abordar na sua mais recente colecção um tema do quarto e último acto da saga de Jane Doe, a história do Inverno nuclear. Um trabalho que assentou em contrastes, com modelos justos e estruturados em oposição as peças mais largas e drapeadas. A paleta de cores é também reflexo desse conceito de oposição, por um lado as cores neutras mais frias, salpicadas por apontamentos de tons mais fortes, mais quentes. Os burgueses descrevem o seu trabalho e cito “Sob o conceito uma ópera urbana desenvolvem colecções sazonais e peças especiais para clientes. A cada estação é desenvolvido um acto da ópera em que trabalham e através das colecções os espectadores são convidados a acompanhar o rumo dos enredos e, porque não, a fazerem parte integrante... o guarda-fatos é o camarim e o chão da cidade o palco. Envolvidos em guiões pouco lineares, estes são o ponto de partida para a criação onde as diferentes formas de arte são elementos chave”. A qualidade desta dupla também reside na forma como moldam os tecidos com formas muito criativas e ao mesmo tempo complexas sem denegrir os tecidos. Nota-se uma profunda reflexão que não se limita apenas na escolha dos materiais, mas também aos acessórios que criam para complementar o conjunto. Apesar das colecções dos Burgueses remetem-nos para um universo urbano, mais ligado ao streetwear, integram peças que podem ser combinadas com um vestuário mais clássico e elegante. Uma jovem dupla com valor no panorama da moda nacional.
Os mão morta lançaram o seu novo álbum para comemorar os seus vinte e cinco anos de carreira. Um CD cheio de faixas alusivas ao seu humor fervente muito ao gosto malandro desta banda de rock alternativo.
Os mão morta são sem sombra de dúvida uma das bandas portuguesas com a música mais corrosiva do nosso país. As letras são odes carregadas de ironia e provocação que reflectem a percepção da realidade que como eles mesmo definem resulta do “ panorama mediático e cultural instituído pela moderna comunicação de massas que induz no indivíduo”. O novo álbum pesadelo de peluche, é o resultado dessa reflexão sobre o mundo em que vivemos carregado de imagens de certa forma quase obscenas dos paradigmas da cultura moderna. Sempre os provocadores, sempre os denunciadores de uma sociedade que vive á beira de um abismo pululado por figuras mediáticas enquadrados em narrativas psicóticas.
A música de abertura é novelos de paixão que não é mais do que um delírio verbal povoado de palavras em veludo, acompanhadas por uma sinfonia melódica. Os mãos morta são uma banda clássica, no sentido em que se estiverem atentos há sempre uma abertura musical para todas as canções que fazem uma espécie de introdução para o que está por vir. É uma vaga de prazer, como canta Adolfo Luxúria Canibal.
Outro dos temas que gostaria de realçar e é talvez o melhor desta colectânea musical é “o seio esquerdo da R.P”. Ora eu não sei quem é a dona do dito peito, no mundo virtual anda a correr o boato que se trata da Rita Pereira, se é não posso confirma-lo, mas o que me atrai neste tema é a sua musicalidade lírica, quando dizem “ o cortex cerebral, processa a informação, e regista a reacção da medula espinal”. Simplesmente brilhante.
Fazer de morto, é um balada carregada de sentimento porque “ a morte não mais do que uma predisposição para a horizontalidade”. Basta só estar no chão. Uma verdade a qual todos vamos retornar, o pó.
O capitão Tiago é o psico-drama na vida de um criminoso é um música negra, carregada de palavras obscuras e tocada quase como se trata-se de uma marcha fúnebre. É um tema pesado que encerra este álbum, mas que fica no ouvido interpretado pela voz rouca de Adolfo Canibal.
Já ouvi mais do que uma vez, que se os mãos mortas tivessem uma carreira internacional seriam monstros sagrados do rock. Sinto muito, mas não concordo. Eles são tão alternativos na forma como interpretam o seu repertório que só poderiam ter sucesso em Portugal. Recordem Leonard Cohen, ou os Skunk Anansi. Nós somos a nação do alternativo, e os mãos morta são disso prova e com 20 valores.
Esta designer portuguesa a residir em Espanha faz sucesso vendendo malas que parecem mais acessórios de um filme de Brigite Bardot. Um estilo que marca pela diferença.
O projecto de Julieta in Space é o resultado do engenho da própria Julieta que como não encontrava em lado nenhum o tipo de mala que ia ao encontro do seu gosto pessoal decidiu criar uma para si. A primeira, era branca, feita de uma material texturizado, que se usa para proteger as mesas, e que acabou por ser fatalmente um sucesso junto das amigas e familiares. Apesar de ter estudado comunicação gráfica, esta jovem portuguesa, decidiu embarcar num projecto que era reflexo da sua personalidade e sensibilidade . Assim, nasce a Julieta in Space, que teve a sua primeira prova de fogo, na Loja Alma Lusa, onde expôs e pôs à venda as suas primeiras malas.
O conceito assenta no reaproveitamento de todo o tipo de tecidos que guardou durante anos e a utilização de pegas muito bonitas que vai pintando de acordo com os tecidos. Os materiais, por mais incrível que pareçam, podem ser desde camisas, a vestidos ou mesmo lenços. A Julieta transforma-os, dando-lhes uma nova função que pode até ser alvo de alterações consoantes as encomendas. Tudo o que a imaginação permitir. Já chegou ao ponto, de serem as próprias amigas a oferecerem-lhe panos com bonitos padrões que tinham em casa e que nunca usavam. A sua clientela é diversificada, mas a maioria são as portuguesas e as espanholas, que utilizam estes objectos de design como contra-ponto de um guarda-roupa mais conservador. O verdadeiro estilo retro que está tão de moda nos nossos dias, já que o revivalismo nunca foi tão in como actualmente.
Os psitaciformes estão em vias de extinção devido ao comércio ilegal dos ovos desta espécie e de outras que vão desaparecendo pouco a pouco da selva amazónica.
As araras apesar de serem protegidas pela Convenção de Washington que proíbe a comercialização de fauna e flora em vias de extinção continuam a desaparecer do seu habitat natural devido ao comércio ilegal desta espécie e o desaparecimento da floresta húmida. Todos os anos em Portugal são aprendidos milhares de ovos de várias espécies de papagaios e araras provenientes do Brasil protegidas pela lei internacional, que alimentam um tráfico lucrativo que ascende aos milhares de euros. Só para se ter uma ideia, a arara azul que é uma das mais raras do mundo, são apenas 3000 espécimes que restam em estado selvagem no Pantanal, chegam a atingir os 50 mil euros no mercado negro global. Isto sem falar das centenas de aves que morrem durante o transporte, muitas vezes em caixas com tampos falsos e sem quaisquer cuidados que permitam pelo menos o melhor acondicionamento e taxa de sobrevivência das várias espécies traficadas.
Números assustadores que contudo, não demovem, nem comovem as pessoas que todos os anos adquirem nas pet shops e na internet várias espécies destas aves maravilhosas como animais domésticos, que não o são. Uma “paixão” que surgiu no nosso país infelizmente, à custa dos descobrimentos. Existem relatos de pássaros de belas plumagens que maravilhavam nas cortes portuguesas, aves essas provenientes do Brasil. Eram consideradas sinal de riqueza nessa época.
As araras são dos poucos animais monogâmicos que existem na natureza, chegando a viver até aos 50 anos. Podem atingir os 90 centímetros de comprimento e pesar um quilo e meio. A maior de todas é a já referida arara azul, que pode medir até os 1,10 metros de altura. Os casais chocam um ou dois ovos por ano e só voltam a procriar depois de os filhotes saírem do ninho. Um processo que pode demorar cerca de dois anos, o que contribui ainda mais para o seu desaparecimento na natureza.
A preservação das espécies em vias de extinção depende apenas por vezes de um pequeno gesto da nossa parte. Uma atitude cívica. Se pretende apreciar a beleza destes animais no seu estado mais selvagem, o único gesto que pode salvar as araras é não comprar estes belos exemplares. Basta dar um primeiro passo para percorrer uma estrada. Faça isso, e aproveite e vá ver com os seus filhos o filme animado Rio.
Há um código de vestuário que se associa ao malandro português em oposição ao brasileiro. São duas faces diferentes da mesma moeda.
Quando pensamos num malandro qual é a imagem que nos surge quase que de imediato? É o tipo de ar manhoso com sorriso cínico coberto por um bigode que deixa mostrar o dente de ouro, tipo Zezé Camarinha, usa um fato de antracite com cores berrantes e o cabelo lambido de brilhantina ou gel. Usa a camisa aberta quase até o umbigo, a mostrar os pelos de macho latino e remata a “visão” com um colar de ouro com a cruz de Cristo e o anel também de ouro com a esfera amilar no dedo mindinho da mão direita. Um retrato que e pasmem, muitas mulheres consideram ser muito atraente. Este é o malandro português das classes mais desfavorecidas. O actual, mais burguês, digamos que anda de fato Armani, com sapatos de verniz pretos, camisa branca e gravata às ricas e com um sorriso que branco mais branco não há. Onde podemos encontra-los? Deixo isso ao critério da vossa imaginação. Adivinhem lá!
No outro lado do Atlântico, o estilo é mais apurado. O malandro brasileiro é mais chique, usa um fato branco com camisa de seda japonesa importada, no topo um chapéu panamá e sapatos de duas cores para rematar a sua imagem de homem tropicaliente. Um estilo anacrónico segundo Gilmar Rocha, num estudo intitulado “ A estética e performance no vestuário do malandro” e cito em que “a preocupação estética com o vestuário representa seu principal investimento simbólico, pois estamos falando de um tipo de homem que, muitas vezes, não tem bens, nem propriedades, a não ser a roupa do corpo, como se diz”. Para a estudiosa a importância que o vestuário tem para um malandro converge “para a construção de uma representação estética de uma personagem que tem no vestuário um dos principais mecanismos de eficácia simbólica de sua identidade social”. Ela defende mesmo que houve até uma evolução ao longo do tempo no tipo de visual que era a imagem de marca de um malandro, passando até por um período, onde se pretendia criar um maior distânciamento entre o a imagem do tropicalismo para a sofisticação dos anos 50, os fatos passaram a ser pretos ao invés do inaculado branco. Uma reviravolta na cor que não altera o código em si, o que representava em termos de linguagem não-verbal, era o estilo de vida de alguém que não odedecia as regras impostas pela sociedade, que estava associada a boémia, a música, as mulheres e aos jogos clandestinos.
O vestuário era um reflexo apurado desta estranha forma de estar para dizer o mínimo. O fato para o malandro representa metaforicamente, “ variações de estilo e da multiplicidade de ornamentos que paramentam a personagem. É extremamente rico em simbolismos e significados sociais. Ele denuncia as mudanças de status pelas quais passou a sua identidade”. No Brasil contemporâneo podemos apreciar esse código da tela, como eles próprios denominam, apenas nas escolas de samba, já que o malandro dos nosso dias, não utiliza mais o vestuário como uma forma de reafirmar o seu estatuto, muito pelo contrário. O actual descodificou a imagem e de certa forma confunde-se com o próprio tecido urbano.
Consegues fazer um balanço a tua carreira, desde os 17 anos até agora?
Eu acho que passa muito pelo facto de ser uma carreira de uma mulher no mundo do estilismo. Em muitos aspectos nada para nós é facilitado por ser do sexo feminino. Nesta área facilita-se imenso aos homens. Só quando a pessoa começa a lidar com o público evolui bastante em termos próprio trabalho, de gostos e de conhecimentos. Ver o que eles preferem e o que lhes fica melhor. Saber gerir tempos e orçamentos. Em termos de estilo considero que evolui muito. Quando estas concentrada apenas na criatividade, e isto é só no começo, a linha comercial é muito amadora. Tu pegas nesses modelos e envias para uma loja e tens mais dificuldades em vende-las por várias razões. E a partir do momento que começas a lidar com os clientes crias um entendimento maior e o teu trabalho dá um salto qualitativo. Fui isso que senti. Por exemplo, as duas últimas colecções como saíram da passerelle foram todas vendidas. Já se desenha de forma mais equilibrada, tendo em conta a criatividade e o aspecto comercial. Ou seja, uma peça que se consiga vender, que as pessoas consigam vestir e que seja confortável.
Mas, há ainda espaço para a criatividade?
Eu penso que há cada vez mais. Eu noto essa exigência por parte dos clientes. Vêm á procura de um vestido diferente que tem de ter um toque de originalidade. Pensei de inicio que se tratava de uma questão geográfica porque estava inserida num meio pequeno, mas é muito mais abrangente. O que acontece é que as pessoas vão a uma festa e vestem praticamente as mesmas marcas. E querem destacar-se e distanciar-se do banal. Agora valorizam mais o que está ligado a cultura em diferentes áreas.
E que tipo de cliente entra na loja?
De todo o tipo. Quanto tens um ateliê é mais segmentado. Numa loja no rés-do-chão entra de tudo.
Mas, notas passados estes anos todos que as pessoas que te procuram conhecem já teu trabalho e querem a marca Lúcia Sousa?
Há dois tipos diferentes de clientes nesse âmbito. Existem os que ouviram falar do meu nome e mas não conhecem o trabalho propriamente dito. Sabem que tem qualidade e para esses tenho que desenhar e dar mais atenção ao atende-los. E depois há aqueles que passam e dizem assim: a Lúcia Sousa é aqui, entram na loja e falam comigo sem saber que sou eu. Mas, é o que eu queria, que o meu trabalho fale por mim.
Vou falar da evolução da moda no nosso país desde o final do século passado até os nossos dias. Uma revolução do bom para o excelente.
Recordo-me da primeira vez que li referências sobre as mulheres portuguesas e a moda. Foi num artigo muito interessante publicado na revista Sábado, foi escrito por um correspondente da National Geographic que visitou o nosso país, o que interessa aqui para a história era que, o tal cronista, achava no início de século, do século XX que as mulheres portuguesas vestiam bem, eram muito bonitas só que tinham uma mania, sim mania, andavam descalças. Na altura, a pobreza era mania. Se calhar ainda hoje também é assim! Ser pobre é mania, querem ver? Depois deste à parte, já em pleno no século passado, nos anos 70, devem recordar-se dos fatinhos à Grace Kelly , os cabelos tufados, com saias bem abaixo dos joelhos para o bem da moral e bons costumes, nesta altura já as mulheres andavam calçadas, eu sei não consegui resistir! Bem, os sapatos eram os tais com aquelas biqueiras e não se falava de estilistas, tudo era feito na modista mais em voga, com as revista da moda debaixo do braço para copiar os tais modelitos da princesa monegasca.
Com a revolução de Abril, essa a tal, sim a dos cravos, veio o período hippy em força, com as mini saias que deixavam as mães da altura á beira de um ataque de nervos, os cabelos compridos, as famosas calças á boca-de-sino e uma sinfonia de cores e padrões que cortavam com o ideal de beleza quase casta e clássica do regime.
Os anos oitenta foram os tempos dos brilhos excessivos e dos chumaços e aqui começam a aparecer as tais lojas com roupa alternativa, que eram trazidas das grandes capitais europeias pelas mãos de uma tal Ana Salazar e Fátima Lopes. Ao longo do tempo, ambas referências actuais no panorama nacional, começaram a desenhar e fabricar os seus próprios modelos que vendiam juntamente com as peças vindas do estrangeiro.
Os finais de oitenta a e princípios de noventa chega o reconhecimento dos estilistas nacionais que, para além dos dois nomes que já referi, surgem nomes no mercado como a Abbondanza e Matos Ribeiro, José Carlos, António Tenente, Luís Buchinho com a Jotex, Anabela Baldaque e os Maneis. Em 1991, a convite do pelouro da cultura da Câmara Municipal de Lisboa, tem lugar a primeira edição do ModaLisboa e numa rubrica que é denominada sangue novo, são lançados ao longo dos anos seguintes nomes como Maria Gambina, Paulo Cravo e Nuno Baltazar, Katy Xiomara entre outros.
Com o final do século a aproximar-se damo-nos de conta que houve uma evolução na forma de vestir das portuguesas, fruto do trabalho destes criadores de moda, a terminologia também acompanha os tempos, e das várias instituições que sempre associaram o seu nome a melhor produção têxtil nacional com uma grande tradição no nosso país. Hoje a mulher portuguesa está atenta as tendências da moda e segue-as e só anda descalça porque quer! Pronto, não consegui resistir mais uma vez!!
A arte da alfaiataria está a morrer a mesma velocidade que os mestres desaparecem e muitos dos clientes que valorizavam o seu trabalho.
Descobri recentemente que o último alfaiate que restava na cidade faleceu a cerca de um ano. Fiquei triste porque, a arte de fazer fatos vai-se extinguido à medida que os mestres morrem e com eles desaparece o saber acumulado de várias gerações de profissionais. Existe uma diferença abissal entre um fato feito à medida e um comprado na loja de moda. E não é preciso ser do sexo masculino para perceber a diferença. Esta à vista mesmo dos mais distraídos, o segredo esta no cair como se diz. As peças moldam-se a o corpo na perfeição sem o denegrir. Eu sei disto, porque tive um tio que só usava fatos feitos no alfaiate. E quando íamos até cidade, como ele gostava de dizer, aproveitava e ia até a alfaiataria do mestre António. Ao entrar deparávamo-nos com ambiente muito sóbrio, onde tudo tinha o seu lugar. Não havia restos de tecido no chão. Os tecidos de riscas estavam bem arrumados numa prateleira, os quadriculados ao lado e os lisos distinguiam-se pelas tonalidades que iam do mais claro ao mais escuro. Era muito chique, pensava eu. O meu tio cumprimentava o seu alfaiate e após um curto período de conversa fiada, passávamos a acção. Diante de um espelho enorme, lá o senhor António deslizava ladino a fita métrica ao longo do corpo do meu tio e ficava tudo decidido e anotado, enquanto o diabo esfregava um olho. A escolha das cores era a parte mais fácil, o meu tipo só conhecia dois tipos de panos, os pretos com riscas giz e os cinzentos-escuros. O homem era incapaz de arriscar. Eu, numa dada altura da minha jovem existência influenciada pelo “Grande Gatsby”, ainda cheguei a sugerir, uma única vez, infeliz devo acrescentar, um fato mais dandy, mais claro, mais da moda, bastou o olhar horrorizado do meu tio, e o sorriso complacente do mestre António, para calar-me para sempre. Cavalheiro sério que se preze, disse o meu tio severamente, usa fatos clássicos adequados ao seu estatuto. Nunca mais, perceberam? Nunca mais dei uma sugestão que fosse.
O alfaiate estava assim para os homens, o que o cabeleireiro é para as mulheres, acreditem. Porque enquanto o senhor António fazia a sua estranha dança em redor do meu tio, discutia-se a vida, o bem dito futebol e maldizia-se a política nacional. Tema tabu, a religião, claro. E nos dias em que se esqueciam da minha presença? Queixumes sobre as ditas cujas esposas que lhes faziam a vida negra. Ah, o alegre inferno da vida doméstica! Mas, o mais fascinante de tudo era aquela mesa de trabalho, grande, espaçosa, portentosa, de madeira maciça que ele tinha e que ocupava quase todo o espaço. Uma espécie de altar onde ele iria transformar um simples pano num casaco de inverno de ¾. De “armas” do oficio em riste, lá atacava o tecido sem hesitação e com destreza, as tesouras enormes deslizavam quase sem ruído pelo tecido, obedecendo fielmente as linhas traçadas pelo giz branco. O mistério que se me apresentava na altura era perceber, porque umas eram contínuas e as outras intermitentes. E o mestre António fazia tudo isto enquanto trocava dois dedos de conversa. E em menos de nada, lá ele lançava a primeira prova sobre o dorso do meu tio, delicadamente fixa pelos alfinetes quase invisíveis. Um processo tão enganadoramente simples que culminava uma semana depois com a entrega.
Posso afirmar sem hesitação que os fatos do meu tio ficavam-lhe a matar. E estavam de acordo com o seu estatuto, de cavalheiro sério, como ele gostava de frisar. Continuo contudo, a achar que poderia ter variado na palete de cores. Mas ao igual que o seu alfaiate, os fatos á medida morreram com o meu tio. É pena. Ficava-lhes mesmo a matar!
http://blog-dos-alfaiates.blogspot.com/2010/02/alfaiates-arquitectos-da-elegancia-iii.html
A loja da Elfic Wear é como entrar num conto de fadas élficas, situado na Rua Rosário 313 na cidade do Porto, vão sentir que estão a invadir o mundo imaginado pela Angélica. Um espaço para a fantasia, para a imaginação e para marcar a diferença. É o universo de uma jovem determinada, apaixonada pela sua arte e sem medo do futuro. É também uma marca de vestuário que ousa e que já vende os seus artigos únicos para países como República dominicana, Espanha e Inglaterra só para citar alguns exemplos. Apareça, dê uma vista de olhos e quem sabe, ouse ser uma élfica mais!
Qual é a tua formação e como começastes a Elfic Wear?
Angélica Pinho: A minha formação é de arqueologia e não tem nada a ver com isto. Sempre tive uma afinidade com os diversos materiais, já em pequena adorava estar a trabalhar com o meu pai, a ajudá-lo nos trabalhos de mecânica que ele fazia. Aprendi com ele a trabalhar o couro, fazer gravura a quente, a experimentar combinações de tintas e materiais como couro, madeira, tecidos. Com a minha mãe aprendi a costurar desde pequenina. A minha mãe é modista, eu ajudava-a a coser as roupas, porque ela trabalhava para estilistas. Ela tinha muitos trabalhos, eu auxiliava-a quando vinha da escola. Quando entrei para a primária já tinha algumas peças de roupa feitas por mim, depois com o passar do tempo e o aumentar do interesse pelos meus trabalhos, os meus amigos perguntavam-me onde tinha comprado as peças que vestia, achei que estava na altura de criar este projecto, a Elfic. Aqui dou vida às imagens que povoam o meu imaginário!
E como se dá o salto de arqueologia para estilista? Não gostastes do teu curso?
Eu adoro meu curso. E um dia gostaria de seguir uma parte do curso que é Egiptologia que é mesmo a minha área. Só que é mais difícil economicamente. E o Egipto não é o que andava mistificando quando é mais nova. Segui arqueologia porque desde sempre adorei civilizações antigas. Tudo o que fossem maias, astecas e vikings. E muita da roupa que faço, às vezes é inspiração das coisas que pesquiso de civilizações antigas. Alguns desenhos que gravo, então pego um bocadinho daqui e dali e faço a minha maneira. É a minha visão. Outra grande paixão minha são os Crop Circles, figuras geométricas desenhadas em campos de plantações que muitos acreditam serem feitos por seres alienígenas. Desde miúda que este tipo de desenhos me atrai, sem saber muito bem porquê.
Angélica, eu reparei que fazes tudo no teu ateliê, cortas, montas e coses as peças. Notei também ao tocar nas peças que os tecidos têm um toque diferente.
Alguns tecidos importo. Volta e meia vou para fora comprar tecidos. Vou para a Tailândia e para Europa, quando encontro alguns tecidos diferentes trago-os de lá, porque não consigo encontrar cá em Portugal.
Como inicias a tua colecção é através dos tecidos, ou tens uma ideia pré-concebida?
Depende, eu digo que são os tecidos que dizem o que querem ser feitos, como querem ser trabalhados. Eu vou comprando tecidos que gosto sem ter uma ideia específica e depois sento-me a olhar para eles, começo a cortar até que surge uma peça, e depois aparece uma outra e outra. E assim sucessivamente
A campanha sementes livres pretende preservar a história agrícola europeia, impedindo a criação de uma legislação que visa ilegalizar as sementeiras tradicionais.
Há 10 mil anos atrás o homem mudava o rumo da sua existência quando descobriu que podia semear os terrenos para garantir a sua subsistência. Um marco importante para a história do ser humano, porque permitiu uma evolução até então nunca imaginada, o deixar de ser nómada para o sedentarismo que prevalece até os nossos dias. A agricultura passa a ser assim determinante como mecanismo de propagação da nossa espécie, porque uma população nutrida, cresce e prospera.
As sementeiras foram assim durante milénios uma prática que se tornou comum aos agricultores em todo o mundo. Recolhia-se as sementes das melhores frutos, vegetais e cereais que eram depois passadas de geração em geração com vista a futuras colheitas. Ao longo do tempo, com particular ênfase no século XX ,com a mecanização do trabalho agrícola, o aparecimentos dos pesticidas e a criação de espécies híbridos em laboratórios, foi-se perdendo esse hábito de armazenar diversas variedades vegetais e actualmente, a perda de biodiversidade agrícola em todo o mundo ronda os 75%, segundo a FAO (organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
Com o crescente interesse pela agricultura biológica e pela criação de hortas comunitárias, tem também aumentado o número de pessoas que pretendem retornar às origens. Retomar o hábito de recolha das sementes, a sua troca e preservação contribuindo desta forma por um melhor meio ambiente e uma maior gama varietal mais adequada aos solos e climas de cada país.
A Campanha pelas Sementes Livres foi resultado de uma iniciativa europeia com núcleos na maioria dos Estados-Membros da União Europeia, com o objectivo de inverter , como afirmam: “uma nova legislação a ser proposta pela Comissão Europeia para restringir a livre reprodução e circulação de sementes, fechar variedades de plantas agrícolas anteriormente pertencendo ao bem comum em patentes e ilegalizar as variedades não registadas. A nova 'Lei das Sementes' visa retirar o papel de curador da semente ao agricultor, papel esse que desempenhou, com proveito para toda a humanidade”. No nosso país, a campanha foi dinamizada pelo Campo Aberto, GAIA, Movimento Pró-Informação para Cidadania e Ambiente, Plataforma Transgénicos Fora e Quercus, tendo sido entregues em Lisboa no dia 18 de Abril milhares de assinaturas com vista a não aprovação deste pacote de Leis, num total global de um milhão de pessoas que aderiram a iniciativa. A votação está marcada para dia 7 de Junho e esperemos que a maioria dos 736 deputados europeus escolha a via da liberalização e não da restrição. A esperança é a última a morrer.
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