Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

sábado, 01 junho 2013 13:54

De profundis valsa lenta

É o testemunho pessoal de José Cardoso Pires.

Foi um livro publicado após o escritor ter recuperado em parte de um acidente vascular cerebral que sofreu pouco antes a sua morte, dois anos depois. Um aviso terno: é preciso ler este relato com a alma cheia, como gosto de dizer. A sua linguagem crua, cirúrgica e quase despojada de sentimento chega a provocar um grande desconforto naqueles que temem a proximidade da morte e as suas inevitáveis consequências que podem ser mais dolorosas, ou menos dolorosas e como sabemos imprevisíveis. José Cardoso Pires descreve cada uma dessas etapas da perda e recuperação do seu "eu", vazio, olvidado da sua própria riqueza interior, até mesmo do mais pequeno gesto físico, que precisa de ser reaprendido. É um processo lento, que devagar, devagarinho, vai reconstruindo o velho eu, mas em segunda mão, porque nunca mais volta a ser o que era antes. Nunca esqueço, creio que numa entrevista, Inês Pedrosa lembrou uma conversa que teve com o escritor em que ele lamentava a sua escassa obra literária e ela replicava que ele escreveu o que precisava ser escrito, espero estar a cita-la correctamente e lembro-me disto, porque " De profundis Valsa Lenta" é exactamente um desses exemplos, tinha de ser perpetuado em palavras e por isso fica para a posterioridade este exemplo de coragem e de humildade ao mesmo tempo, perante a inevitável passagem da mortalidade. Boa Leitura.

 

sábado, 01 junho 2013 13:50

O mundo em mim

Christy Almeida canta o mundo que a encanta, que a maravilha, porque tudo à sua volta faz parte do que chama a criação. É um chamamento que canaliza através de canções que nos remetem para o amor, para o ódio, para a alegria e para a tristeza, em suma para a vida.

A tua música mostra influências do jazz, salsa e folk. Como te defines como artista?
Christy Almeida: Eu sou um artista folk global. São as histórias do mundo. É jazz, é folk, que possui elementos do clássico, do pop, um cheiro de hip hop, tango e espero de fado. Eu viajei por todo o mundo. Oiço todos os tipos de música, todos os diferentes gêneros estão no meu coração. Então, quando toco, ou escrevo, ou canto espero que todas as minhas viagens ao redor do mundo tenham tido alguma influência na minha sonoridade.

O teu primeiro disco, Pure, foi tudo o que sonhaste?
CA: Meu primeiro trabalho foi com a minha banda de salsa, "llanita" e o álbum foi cantado em Inglês e Espanhol. "Pure green blue" de Decca foi um grande mix, por causa dos músicos que convidei para tocar, provinham de todo o mundo. Novamente foi folk do mundo. Escrevi o álbum numa casa de campo, levou-me três meses e depois gravei-o em 12 dias. Eu tive pessoas maravilhosas, havia músicos de Trinidad, Índia, Inglaterra e também norte-americanos.

Consideras-te uma cigana?
CA: Eu acho que sim.

Além das tuas viagens, o que te faz escrever canções numa casa e num espaço de tempo tão curto?
CA: É difícil de explicar, porque é como um anseio, um anseio muito doloroso. Eu não sei se consigo explicar. É algo dentro de mim que não me deixa ser. Podes viver uma vida, ter um namorado, casar, ter filhos e de repente o desejo vem e diz: Desculpa, eu tenho que ir e fazer isto. Ele cresce, borbulha, e borbulha e se não fizeres alguma coisa com isso, vai-te magoar. A melhor maneira de descrevê-lo é: (eu tenho certeza que todos os seres humanos são assim), há algumas pessoas neste mundo que são canais para a criatividade e se achas que a criação está em nosso redor, então, a criatividade é a essência do que a criação. É algo que encontra o seu caminho, através seres humanos. Eu sou um canal. Quando isso acontece é tudo que tenho a fazer, é o meu trabalho como ser humano. Todo mundo tem seu. Eu não sei o que é a vida, não sei por que estamos aqui, mas nesta vida a minha missão é criar e quando não o faço dói-me. Ou seja, a inspiração acontece e tenho ataques de pânico. Quando sou realmente criativa floresço, brilho e quando não o sou, sou escuridão. E se ouvires essa criatividade, ela precisa de sair, esse anseio. Eu também pinto, eu não sei o que é, mas eu tenho de faze-lo. Posso pintar durante um mês, o que é difícil em termos de dinheiro, mas eu faço-o por uma razão e mais tarde vou descobrir o porquê. Eu não sei para onde vai, é uma energia que tem de ser libertada e se não o fizer não é saudável. E alguém pode chegar junto de ti e dizer: Ei, eu realmente gosto do que pintaste aqui, mas talvez possamos usar apenas um pouco disto e expandi-lo para um espectáculo de teatro.

sábado, 01 junho 2013 13:39

Batalha das conchas

É uma série de documentários com sete episódios sobre uma espécie shelldweller do Lago Tanganyika.

Trata-se de peixes pouco comuns. Os neolamprologus multifasciatus (nome científico) são os menores ciclídeos do mundo. São conhecidos por exibir os comportamentos mais complexos entre todos os peixes e, esta espécie em particular, está um passo à frente, rivalizando com os grandes mamíferos sociais.
Sendo tão pequenos permitiu-lhes habitar nas vastas camas de conchas do Lago Tanganyika, onde formam grandes colônias e é a maneira como vivem em comunidade que os torna tão especiais. Eu achei incrível que nunca ninguém tenha contado esta história. Com tantos documentários sobre a natureza sobre todos os assuntos concebíveis, um cineasta jamais parou por um momento para ouvir o que estes peixes têm para dizer. Este projeto foi um show de um homem (e 6 peixes), com todos os perigos e vantagens que um filme totalmente feito por apenas uma pessoa normalmente tem. Embora eu seja responsável por tudo, inclusive pela filmagem, edição, pós-produção, música e escrita, este foi principalmente um grande trabalho de edição, que devo confessar que não sinto falta. Passar por mais de 1200 horas de filmagens de peixes dentro de um aquário não é algo que poderia facilmente "saltar" novamente sozinho. A narração está a cargo de Pemba, cuja voz pertence a Sílvia Vasconcelos, é o primeiro peixe a chegar ao conjunto.

Qual é o objectivo desta curta-metragem em vários capítulos?
Alfredo Reis Deus: O objectivo mais nobre da minha curta-metragem era chamar à atenção a falta de empatia a tudo o que nos rodeia. Vamos imaginar que a minha cadela, salvo seja, esta em sofrimento. Uma coisa é ela estar ao pé de mim e outra coisa é se ela estiver de 100 metros, 200 metros e até 500 metros de distância. Também sentimos essas diferenças consoante o animal, temos mais empatia por um ser vivo maior do por um mais pequeno. E desde que o mundo é mundo e que existe vida na terra a dor é sentida de forma semelhante. O que pretendia com este trabalho é que as pessoas conseguissem encarar animais mais pequenos com a capacidade de ter sentimentos muito próximos dos seres humanos e este foi apenas o primeiro filme. Pemba é um animal solitário, mas depois chega mais gente, não é bem aqueles que queria, mas sofre as consequências disso. Em termos de divulgação, só se alguém da indústria farmacêutica ver um potencial narcoléptico disto, porque com certeza este filme ajuda nas alturas em que se tem problemas de insónia. Queria transformar isto numa trilogia, é um drama clássico, aquele céu tem em si as sementes do inferno, até porque se trata de um ambiente com espaço limitado, queria fazer uma segunda sequência para continuar a série que teria como espaço a cidade e haveria problemas de sobrepopulação. A terceira parte seria levar a Pemba e os amigos de volta para a terra dos seus antepassados, o lago Tanganyika, em África, ou seja, viver o sonho que é algo perigosíssimo, porque isso tem a capacidade enorme de se transformar em pesadelo. Então vou explorar essa questão e se seriam comidos ou não. A ideia é essa.


É um retrato da solidão?
ARD: É. Na realidade existe um peixe a falar sozinho, quando na realidade há muita gente a falar por ele. Por um lado, eu que olhava para a Pemba e tentava perceber o que sentia. Por outro lado, eram também coisas que queria dizer e estava a dize-las através do peixe de vez em quando. Noutras alturas ainda, a parte mais brilhante da série, o peixe tinha conversas comigo e dirigia-se a mim, que controlar aquilo tudo, com conversas que às vezes temos com Deus, porque Ele sempre esta a olhar para tudo o que fazemos e controla as nossas vidas. Então, eles começaram a dirigir-se a mim dessa mesma forma. No final o peixe perdoa-me.


Escolheste o espaço aquário propositadamente porque transmite calma?
ARD: Não, para dizer a verdade gostaria de ter filmado inclusive no lago e até é a minha intenção é filmar em Tanganyika em África. Mas, para já aquilo pareceu-me surreal, o ambiente dos peixes e por detrás um cenário meio humano, meio natural e usar tudo para fazer uma série de paralelismos entre o que acontece na vida deles e o que acontece na vida dos que estão cá fora. Existe no fundo aquele mar imenso em frente e eles presos, mas na realidade não é uma prisão, porque os peixes também no espaço natural vivem num espaço do tamanho da mão e então ao longo da série joga-se com essas ideias.

sábado, 01 junho 2013 13:30

Uma estampa sobre rodas

 

A Mustamp surgiu quando a designer Eugénia Simões sugeriu a Dieter Seifert e Teresa Marques da "Maison et Couture Têxteis" a criação de uma marca própria. Uma empresa portuguesa com 20 anos de experiência em confeção e produção que rapidamente se apaixonou pela ideia e juntos decidiram avançar com o projeto que possui uma oferta variada de artigos para o lar: almofadas decorativas, capas de edredão, têxtil de cozinha, casa de banho e malas para portátil para diferentes públicos.

Porque escolheste a área de têxteis-lar para lançar a tua marca?
Eugénia Simões: Em parte porque Portugal é muito prestigiado lá fora nessa vertente, felizmente o têxtil nacional é muito bem visto, por mais que as pessoas tentem ir ao mercado chinês e encontrem peças a um preço mais acessível, nós mantemos uma qualidade que é reconhecível. Então temos que apostar em altura de crise numa marca que possa ser exportada e não limitar-me ao país. O têxtil assim como o calçado é uma vertente que continua a ter um elevado crescimento. O principal motivo é um grande amigo meu estar nesta área como produtor de diversas marcas europeias e sendo eu designer acabou por ser o motor e a justificação para avançar com uma marca própria. Assim, acaba por ter preço de criador e não apenas de produtor, acaba com ganhar com as vendas por ter uma marca própria.


Então a mustamp começou porque és designer têxtil.
ES: Não, por incrível que pareça sou designer de software, mas desde miúda sempre foi apaixonada pelos tecidos e a mãe é costureira e concorri para a área do têxtil, só que tive receio de avançar, porque os cursos são quase todos de design de moda, mais para roupa e decidi de apostar na parte gráfica, também era mais seguro em termos de empregabilidade e nota-se bem agora, foi melhor em termos de carreira. Enveredei pelo design, mas o tecido ficou cá sempre, então como tive esta oportunidade quando conheci este meu colega, aos poucos, foi descobrindo como trabalhava e voltei a ter esse bichinho que acordou outra vez e acabei por apostar na marca. De dia contudo, trabalho em design de software, o meu hobby é o têxtil que tem um certo retorno, serve para ganhar mais algum dinheiro. Acaba por ser engraçado, esta é parte bonita, no entanto, dá muitas dores de cabeça, temos que estar sempre presentes nas feiras e promover a marca. É vantajoso porque é algo que gosto de fazer.

Sentiste alguma dificuldade como designer na apresentação do teu produto junto das fábricas, embora o teu projecto arrancou com a ajuda do teu colega que se encontrava já inserido nesta área
ES: Sim, a mustamp esta associada a empresa "maison et couture" que tem diversos clientes, na sua maioria são europeus, ou seja, produzem produtos que os designers encomendam, para mim acaba por ser a mesma coisa, eu crio e conjuntamente fizemos um stand. Não houve essa dificuldade, porque havia essa ligação. Claro, que se o meu trabalho não fosse bom, ou ele não gostasse, isto nem avançava, amigos, amigos, negócios à parte. Mas, como ambos gostamos do resultado final decidimos avançar com a primeira colecção e estamos agora a trabalhar na segunda.


Vamos falar desta primeira colecção, uma grande inspiração das peças advém do mundo das motas, achei deveras curioso.
ES: Eu também. A mustamp consiste em criar objectos de acordo com os gostos da sociedade, não sei lhe podemos chamar gostos, são correntes. Nos têxteis lar tens muitos produtos com bordados, riscas e estão muito presos a um contexto e um determinado tipo de público, nós tentámos criar artigos têxteis para quem gosta do tema das motas, porque não havia oferta e nós somos, toda a equipa, os três, apaixonados por esse meio de transporte e essa cultura e queríamos ter também produtos vocacionados para os geeks, ou para os hipsters. São estas as correntes que vão surgindo na sociedade, com estilos diferentes, por exemplo, a rena com óculos de sol é mais uma vertente hipster. Tentámos também abordar outras tendências, como o código GR nas camas para as pessoas mais vocacionadas com as tecnologias e estamos a tentar diversificar, não temos um público-alvo, porque depois também apostámos em vários mercados e estamos sempre à procura, não estamos presos a um público, porque assim temos mais hipóteses de venda, em vez de vendermos muito um produto, vendemos razoavelmente vários. Acho que existe uma quebra muito grande no têxtil, porque Portugal é muito direcionado para os mesmos padrões e as mesmas linhas e a mustamp quebra esse conceito. Apostámos nas motas porque achámos que havia uma lacuna no mercado, antes encontrarias artigos têxteis com as "Harley Davidson", com marcas propriamente ditas e não uma coisa genérica que agrada a todos e se refere as motas.

sábado, 01 junho 2013 13:26

Tartarugas em movimento

É mais um pedido de financiamento em prol destes animais marinhos.

A CRAM-Q (Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiabos), gerido pela SPVS (Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem), pretende adquirir um conjunto de transmissores necessários para monitorar as tartarugas marinhas após a sua libertação no oceano. Um rastreamento que é muito importante para as equipas de cientistas, já que é, a melhor maneira de avaliar, finalmente, o sucesso do processo de recuperação destes animais. Usando o monitoramento pós-libertação o CRAM-Q é capaz de saber para onde as tartarugas se dirigem, que tipo de mergulhos são feitos e mais importante ainda, é a única forma de descobrir que regiões do oceano (corredores de migração, áreas de alimentação, etc) são realmente importantes para as várias espécies.

Até 2009 pensava-se que o aparecimento das tartarugas marinhas era uma "ocorrência marginal" em águas portuguesas. Desde então, a equipa de pesquisa já foi capaz de demonstrar que são muito mais frequentes em nossas águas do que se pensava. Na verdade, só em 2011 foram participadas 150 animais encalhados e 60 espécimens foram observados durante um censo aéreo, tendo sido reabilitadas desde tartarugas-comuns (Caretta caretta), tartarugas verdes (Chelonia mydas) e tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea). Neste momento o centro de reabilitação de Quiabos não consegue cumprir com o orçamento necessário para adquirir os imprescindíveis transmissores de tartarugas. Actualmente, todo o dinheiro disponível suporta apenas os custos operacionais, tais como medicamentos e alimentos, a análise específica e cuidados veterinários, os salários do pessoal e manutenção das instalações (água, electricidade, reparações), daí a importância de qualquer tipo de donativo.

A CRAM-Q é uma Organização Não-Governamental sem fins lucrativos, cujo objetivo principal é estimular e incentivar a pesquisa sobre animais selvagens. A sua missão incide sobre o resgate, reabilitação e devolução de animais marinhos de volta à natureza (aves, mamíferos e répteis), e aumentar o conhecimento científico sobre estes animais e seus habitats. Trata-se de uma equipe de técnicos e pesquisadores, que resgatam animais ao longo de 500 km do litoral Português, com uma média de quinhentas intervenções a cada ano. O seu objectivo principal é a conservação em geral, por isso, ajude a ajudar.

http://www.indiegogo.com/projects/help-save-sea-turtles

 

sábado, 18 maio 2013 14:01

O bouquet perfumado

 

Nicolas de Barry é um dos mais conceituados perfumistas do mundo. Criou uma fragância única baseada na sua percepção da ilha da Madeira. O perfume Isle of Madeira. Embarque neste diário perfumado sobre a pérola do Atlântico.
Criar um perfume é como cozinhar, tem de haver bons ingredientes, depois é preciso mexe-los de uma maneira agradável para poder serem cozinhados. As matérias-primas de um perfume são os óleos essenciais que provêm da natureza, após uma transformação. São flores como o jasmim, a rosa, a tuberosa, depois temos, as ervas aromáticas, como o alecrim, a menta, lavanda e até árvores e folhas. Tudo o que existe na natureza e que tenha cheiro é transformado em óleo essencial, principalmente através da destilação. É como fazer cachaça só que em vez de álcool produz-se óleo essencial com cheiro.


Um perfumista não destila os ingredientes, ele compra os aromas prontos e possui um orgão de perfumista, uma mesa com diversas prateleiras cheias de frascos de óleos essências. O seu trabalho consiste em criar uma composição, chamada de fragrância. O perfume é uma mistura de essências a que chamámos uma nota, é uma referência como numa composição, para que haja acordes e harmonia, como na música.

 

A pirâmide olfativa serve para explicar o processo de criação. Num perfume temos de respeitar três níveis, o fond, a base, são as notas mais fortes que ficam na pele. São as mais profundas. Madeiras, notas de animais que hoje em dia não se usam mais. Para o isle da Madeira usei um ingrediente que contém uma característica histórica, é o âmbar de cachalote. Na ilha já houve caça à baleia, hoje em dia já não se caça mais cachalote, mas um dos ingredientes tradicionais da perfumaria é o âmbar. É produzido pela cria do cachalote, é uma pedra que se desenvolve na barriga do animal e depois é expelida para o mar. A maior bola encontrada na época moderna foi justamente na ilha da Madeira, pesava 400 quilos. É um produto excepcional conhecido há milhares de anos pelos perfumistas.


O primeiro andar, é o coeur, o coração, são as notas mais importantes que vão caracterizar o perfume, se é um aroma floral, por exemplo. Num primeiro exercício, uma das características da ilha, da natureza em geral, são as suas flores, por isso a nota dominante só podia ser floral, então usei várias, rosas e jasmim.


No topo da pirâmide, tête, a cabeça, são as notas mais leves, que conferem a uma fragrância um lado mais fresco e podem ser as mais importantes em termos de marketing, Coloquei a tangerina regional, porque na ilha este fruto é muito gostoso, pequeno e perfumado, podemos encontra-lo em Janeiro nos mercados. Queria colocar um bouquet que não combina muito bem com este fruto, mas era algo simbólico, é um produto que se usa na perfumaria e que deu o nome à capital da ilha, o Funchal, o funcho. Num perfume também há ingredientes que não combinam. Eu volto a comparar este processo com a cozinha, todos os que cozinham sabem que não se deve misturar peixe com carne, ou peixe com ingredientes doces, na perfumaria é o mesmo, temos de valorizar as notas, se vou utilizar funcho num perfume, não vou acrescentar salsa.

 

sábado, 18 maio 2013 13:58

Uma força da natureza

Maryjuh é uma das vozes femininas do reggae. É uma das referências deste estilo musical em Portugal, que se tem vindo a afirmar a solo, num mundo de cantores e compositores masculinos, com temas leves e frescos, como é o caso do seu último single, "tell me why".

Sempre cantaste em coros, porque decidiste lançar uma carreira a solo neste momento?
Maryjuh: Primeiro que tudo porque queria que fosse um projecto original. No reggae há muitas vozes femininas, embora não a solo em Portugal e então tentei, pensei que como tinha grande bagagem ao nível do reggae nacional com a carismática banda que é o Jahvai, isso deu-me uma certa experiência e também havia muita gente a dizer-me que deveria tentar embarcar um projecto pessoal. Depois comecei a pensar que tipo de estilo musical queria imprimir e pensei: eu sou amante de soul, de blues e jazz, como em Portugal não há uma rapariga afirmativamente a cantar reggae tentei por aí. E nestes quase três anos como Maryjuh o feedback foi enorme, do qual não estava à espera, com apenas dois meses após ter lançado a minha primeira música no "you tube" tive logo convites para espectáculos.


Escreves os teus próprios temas, mas é apenas as letras ou também compões?
M: Eu crio as melodias e as letras. No início ainda cheguei a fazer alguns temas com produtores jamaicanos, com vários artistas. Entretanto, quando comecei a divulgar mais o meu trabalho, comecei a trabalhar com alguns produtores musicais nacionais e fiz algumas gravações. Era uma espécie de parceira, eles cediam a parte instrumental e eu introduzia as minhas letras, comecei desde o zero e criei um grande tema com o Micky que teve um grande feedback, foi uma produção 100% nacional, o tema "stronger". Ao longo do tempo, tenho feito concertos ao vivo com o meu companheiro profissional, que é o Nagga Fire dos e vamos fazendo espectáculos por todo o país.


E há a perspectiva de um álbum?
M: Sim, embora em Portugal o meio é muito pequeno e os instrumentos financeiros são muito escassos. Vou lançar um novo tema e um videoclip. Depois vou criar um grande single e ver o que consigo em termos de apoios para me ajudar a lançar, porque como disse ao nível da produção não é fácil. Não é que não esteja disposta a faze-lo, mas levarei mais tempo. Vou preparar o meu álbum e já tenho alguns temas, falta é meios financeiros para o concluir, mas julgo que brevemente há-de sair qualquer coisa. A minha nova canção é o "tell me why". É um tema de verão, fica no ouvido e os portugueses vão gostar.

Sentes que a tua carreira ainda é pouco visível porque não existem muitas mulheres cantoras de reggae, há um certo preconceito?
M: Sim, também há esse factor. É assim, não quero que me apontem o dedo, mas ainda é difícil. De certa forma infelizmente a mensagem do reggae não é tal e qual as pessoas pensam. No mundo da música há muitas rivalidades e de certa forma ver uma mulher num caminho que só foi percorrido por homens, claro, que tem pouco apoio inclusivamente de pessoas da minha idade. Encontrei esse preconceito, mas por outro lado, tinha muita gente a apoiar-me e dar-me muita força. Isto para mim constitui um desafio, sou uma pessoa forte, o meu objectivo é manter-me fiel a mim própria e fazer o meu trabalho como tenho feito.

O que inspira os teus temas?
M: Quando era mais jovem as minhas canções eram mais dedicadas ao amor, são temas mais fáceis de escrever, digo isto da forma mais honesta. É uma idade muito bonita, embora a minha vida nunca tenha sido fácil desde que cheguei a Portugal, é dura, mas o que não nos mata torna-nos mais fortes. O "tell me why" não tem uma mensagem, é uma canção de verão, é sobre uma desilusão. As minhas canções, como o "stronger", "a right to live" e " I raise, I shine", tem temas positivos, no sentido em que tento transmitir a minha experiência, sem ser muito dramática e sem expor demasiado a minha vida pessoal. É uma forma de chegar aos outros sem discriminar ninguém. É o lema do reggae. Também já tenho 23 anos e a maturidade é outra, a vontade é outra e com a idade tudo o que aparece na minha cabeça torna-se cada vez mais claro.

 

sábado, 18 maio 2013 13:55

A outra eu

Na escolha do perfume certo todos os conselhos são bem-vindos.


Coco Chanel, uma grande senhora da alta-costura, proferiu sobre o perfume, que se tratava da segunda pele de uma mulher. Uma fragância torna-se tão pessoal e intransmissível no contacto com a superfície cutânea, tal qual a personalidade de quem a usa. Cada mulher exala um odor diferente, mesmo quando se trata do mesmo perfume. E é mais absoluta das verdades.
A perfumaria nasceu há mais de 3 mil anos para satisfazer as classes mais altas, actualmente é um mercado democratizado que movimenta milhões de euros que se traduzem numa grande diversidade marcas, então como escolher a fragrância certa? Segundo o perfumista, Nicolas de Barry, "cada pessoa tem uma química pessoal que combina com o perfume. Primeiro, tem de cheira-lo para ver se gosta, mas depois tem de experimenta-lo para ver se a sua pele concorda com a análise. O teste deve prologar-se depois de 5 minutos, depois de uma hora e até 3 horas, até porque "quando estamos numa perfumaria, não podemos estar lá muito tempo, senão não temos a percepção plena do perfume. Não é tanto o nariz que tem de descansar, mas sim a parte do cérebro que analisa todos esses odores. O cérebro funciona automaticamente. Às vezes acontece que determinadas pessoas usam o que achámos ser demasiado perfume, que esta exagerando, porquê? O cérebro acostumou-se ao perfume e a sua percepção diminui. Se alguém usa o Chanel 5 há dez anos essa pessoa já não se apercebe, por isso coloca demasiado, comparativamente a quem nunca usou antes a mesma fragrância. É por isso, aconselho as pessoas que querem adquirir um perfume, nunca comprar baseados nessa primeira impressão. Devemos esperar para que as notas se destaquem".

 

sábado, 18 maio 2013 13:53

Quando fores mãe vais ver

É um livro delicioso escrito pela tradutora, actriz e dramaturga, Ana Saragoça.


Gosto de livros inesperados. Este é um deles. É daquelas leituras que nos fazem acenar a cabeça com um sorriso rasgado nos lábios. É acima de tudo divertido, despretensioso e leve. Revi-me quase inteiramente nele, bem, nas frases que ouvi da minha mãe bem portuguesa. O título diz tudo. Embora, haja expressões impagáveis que se limitam a uma zona geográfica específica do país, neste caso o Alentejo, de resto, tudo é assustadoramente igual que até faz confusão. As pérolas do folclore materno é uma daquelas etapas que conscientemente tentámos evitar a todo o custo quando alcançámos a fase adulta, porque queremos ser sempre tãaooo diferentes das nossas mães, mais modernas, mais bem preparadas que elas, mas como a Ana Saragoça frisa tão bem neste pequeno compêndio, inconscientemente na mesma algumas acabam mesmo por sair da nossa boca para fora quando menos esperámos! Tal e qual as nossas mães! E sorrio de novo, quando relembro algumas que a minha dizia e que não fazem parte deste livro encantador, tal como: Mau, mau, mau que a gata quer água! O que isto quer dizer? Para quem já a ouviu, deve saber bem recordar e para quem não sabe, implica que alguém neste caso o filho(a), esteja presumivelmente a fazer algo que a sua querida mãe reprova instintivamente sem estar sequer a ver o que é. Em síntese: é um pré-aviso. O seu significado literal escapa-me até hoje, nunca entendi o sentido desta frase! Outra: Só Deus sabe o que sofri para te colocar neste mundo e é assim que me agradeces! Esta em particular, eu apelidava de golpe extremamente baixo, que funcionava sempre. O sentimento de culpa e raiva misturada inundavam-me de tal forma, que acabava sempre por aceder perante um dos pedidos/ordens que vinham por atacado com esta pérola materna, como por exemplo, usar um dos inúmeros vestidos compridos com mangas de balão, á princesa, que ela tanto gostava de costurar e que eu tanto odiava vestir, até hoje. Agora não paro de sorrir ao relembrar! E só tenho pena que a minha mãe não esteja mais comigo, ela rir-se-ia tanto como eu ao ler este simples, "quando fores mãe vais ver". Boa leitura!

 

sábado, 18 maio 2013 13:50

O festeiro

Lourenço Viveiros organizou a festa do perfume, um evento que visa realçar uma das vertentes naturais da ilha, os seus aromas. Uma dimensão olfativa que inclui diversas experiências que apelam a todos os sentidos e que pretende que seja mais uma componente do cartaz turístico da Madeira.

Fala-me um pouco do projecto festa do perfume?
Lourenço Viveiros: Na sequência de muitas conversas que tenho travado com Nicholas de Barry, ele vive na ilha há dois anos, surgiu esta ideia. Já organizei vários eventos ao longo destes dezassete anos e então pensámos, porque não elaborar um evento ligado a todo este universo do perfume? Começámos a conversar, a escrever e transformámos tudo isso no formato da primeira edição da festa do perfume. É um conjunto de eventos que tem objectivos diferentes. A exposição de quadros associados a um aroma pretende mostrar esta ideia transversal de misturar a pintura com as fragâncias. Possui também uma vertente educacional, já que teremos um grupo de jovens das escolas locais, é um acto de pedagogia em que o mestre vai dar uma aula aos jovens introduzindo-os na arte dos perfumes. No hotel Reid's foram organizadas master classes para um público mais adulto, é um formato para a arte de construir perfumes e ainda tivemos uma outra iniciativa que foi um jantar perfumado, em que Nicholas de Barry criou um bouquet com o chefe de cozinha para cada um dos pratos. Realizaremos uma cerimónia do perfume, inspirado numa tradição japonesa. E teremos ainda a apresentação do perfume "isle of Madeira", por questões de marketing o nome surge em inglês, já que é uma língua que predomina nos visitantes que chegam a ilha. Trata-se de um aroma que mimetiza a região usando os seus aromas locais. Não queremos ficar por aqui, temos um projecto que possui uma cronologia e vai ser alargado, pretende-se que ao longo do ano se prolonguem os eventos sobre este universo gigante dos cosméticos e dos perfumes, há ainda a possibilidade de workshops. Dado que a ilha da madeira possui grandes ingredientes para a perfumaria, há a ideia de criar uma produção local. Outra das iniciativas envolve o vinho madeira pela sua dimensão olfativa, contactámos Chris Blandy que ficou fascinado com a ideia, e assim, sendo serão feitas provas cegas olfativas de um tipo de vinho madeira.


Como é que associa o perfume ao vinho madeira. Nas provas há uma vertente olfativa óbvia, mas no âmbito desta iniciativa, como farão essa ligação?
LV: Colocam-se ingredientes no vinho que ampliam a sua dimensão olfativa. Como é o caso dos licores com os cítricos, tipo limonchello, contreaux, licores de rosa, chartreuse e há ainda um vinho perfumado, que é o Martini. Vamos começar com o Boal de 1920 e quando se cheira aquele vinho, apercebemo-nos da sua complexidade aromática, como é muito velho ficam as notas das especiarias.

Abordando a questão olfativa, por norma, no dia-a-dia esquecemos essa capacidade de captar o mundo através do cheiro.
LV: O Paulo David, que é um arquitecto de renome e meu amigo, numa conversa que tivemos dizia achava este universo olfativo interessante, porque hoje em dia, há quase uma ditadura do visual. Os sentidos foram esquecidos. O cego é tratado como um doente, alguém que não tem a capacidade olfativa nós nem considerámos que possa ter uma doença grave. Pelo que tenho lido, no processo de civilização do homem, mais na cultura ocidental, porque as culturas orientais nunca esqueceram essa dimensão, o perfume deixou de fazer parte das nossas vidas. Na idade média, devido ao fenómeno da peste, as pessoas pensavam que a doença se propaga através do banho, não só, mas também, perdemos esse prazer do banho que estava muito associado a fragrância. Há um interregno muito grande que permitiu que fosse encarado como um mal. A retoma no mundo ocidental faz com que ninguém escape à imposição do perfume, que faz parte da higiene pessoal das pessoas, já não é mais um produto elitista, este democratizado. Todas as pessoas usam perfume, o que é extremamente importante.


A festa do perfume tem esta particularidade de estar associada a áreas que nunca associaríamos as fragrâncias, como uma exposição de arte, ou até um jantar.
LV: Quando elaborámos um jantar e usámos a canela, esquecemos que é uma especiaria perfumada, o que existe de facto é um conjunto de ingredientes, que não associámos a perfumaria e a cosmética quando os mesmos podem ser associados a gastronomia sem qualquer risco. A utilização da pimenta, da erva-doce, o uso das ervas aromáticas é uma forma de perfumar a culinária. No fundo perdemos esse sentido de educação e de cultura, quando Nicolas de Barry participou na confecção dos pratos, o chefe já tinha todos os elementos os molhos, as carnes, os peixes, ele limitou-se a usar ingredientes que são também aromáticos e que muitas vezes estão incluídos nas receitas. Ele usou uma palete elementos que parecem ser apenas reservados à perfumaria, quando não o são. Na pintura houve uma interpretação satírica transversal, usámos todos os sentidos, os cinco e não apenas um, podemos não nos aperceber, mas usamo-los mesmo que inconscientemente. Objectivamente perdeu-se essa cultura de conscientemente usar o olfato e em alguns casos ainda bem, mas em outros não. Uma das outras propostas que temos é realizar passeios perfumados. Desafiar as pessoas de uma forma objectiva, concreta e voluntária a ter uma experiencia olfativa. É diferente de quando visitámos um jardim sem qualquer indicação, porque a ideia é despertar as pessoas para essa experiência, há uma nova atitude mental. É uma dimensão que queremos introduzir na oferta cultural para quem nos visita e a exploração direcionada para o perfume, para os aromas.

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