Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

domingo, 30 dezembro 2012 16:22

Filipe, o sonhador acordado

É um jovem artista da banda desenhada que conseguiu atingir todos os objectivos profissionais que se propôs na vida. Um sonho que só foi possível pela persistência e tenacidade com que sempre “correu” atrás deles.

Como começastes a “desenhar” a tua vocação?

Filipe Andrade: Sendo lugar-comum a todos os artistas sempre que tinha algum tempo disponível desenhava em algum lado. E a minha mãe levava papéis e caneta quando ia a uma consulta comigo como forma de entreter. Eu, também andava sempre a procura de um papel e de uma caneta. Depois aos dez anos os meus pais tinham observado que eu tinha aptidão e tendência pelo gosto e pela forma. Depois matricularam-me numa academia de desenho. Mais tarde conseguimos achar um sítio que era um ateliê de uma professora de belas artes que preparava alunos para a entrada na faculdade. Entrei nessa “academia” e formei-me lá enquanto artista. A banda desenhada, entra já ai, porque ela pertencia a um grupo de artistas que organizou um workshop de BD na altura leccionado pelo António Valjean. Ela me informou que haveria uma formação em banda desenhada, eu decidi ingressar no curso, tinha 11 ou 12 anos na altura e, fiquei “maluco” com o que vi na altura. Vi pela primeira BD dos EUA com toda aquela cor e isso teve uma grande influência. Ai decidi que era isto que queria fazer na vida. E o resto foi um conjunto de felizes coincidências

Quando fizestes a tua estreia como artista de BD?

A primeira grande publicação que tive foi o BRK pela Asa. Começou pelo BB jornal e saiu na Asa em 2009, comecei em 2006.

Porque esse hiato?

Por uma serie de factores, tínhamos assinado com a editora pedra no charco, eu e o Felipe Pina e acabou por diversos factores de que não vale a pena falar, o projecto acabou por ser repescado em 2009 já com a chancela da Asa.

O que teve de especial esse projecto para ti?

Foi uma lição de como fazer, de que fazer e também do que não fazer. Uma forma de me adaptar a cumprir prazos, compromissos comerciais. Eu comecei a BD ainda era bastante novo tinha 18 anos e tinha pouca experiência com trabalhos em empresas e coisas desse género. Eu estava a estudar também e acabou por ser um ensinamento a todos os níveis, essencialmente social para com o mercado de ilustração e de banda desenhada.

domingo, 30 dezembro 2012 16:20

Diana, a mercadoria humana

Helena Freitas aceitou o desafio de compor uma personagem perdida nas malhas do tráfego. Um trabalho de fundo sobre um tema polémico que não nos deixa indiferentes. Uma peça de teatro sobre seres humanos não tão diferentes, nem tão distantes de nós. Uma actriz que luta pela diferença na sua arte.

Quem é o teu personagem?

Helena Freitas: Meu personagem é a Diana que foi apanhada numa rede de tráfego. Portanto foi vendida pelo primo, a peça retrata o tráfego de seres humanos. Ela veio para Portugal e foi vendida pelo primo para um amigo que depois a prende num quarto e tira-lhe o passaporte, e só quando ela fizer vinte mil euros em serviço é que irá reaver supostamente o documento de identificação de volta.

Quais são os desafios para ti no que se refere a esta personagem?

A proposta deste trabalho e da autora deste texto original era que fosse num espaço convencional, mas o encenador Ricardo Correia, como trabalha com espaços não convencionais decidiu apresentar a peça num armazém. É um desafio não só para encenação, como também para a personagem. Neste tipo de ambientes, consegue-se estar num espaço muito frio, húmido, o estar presa em situação precária, que é o acontece com elas, estarem presas em quartos.

Nós, em Coimbra a seguir a peça, fazíamos um debate em que vinham pessoas do SEF (serviço de estrangeiros e fronteiras), para começar outra vez a haver o debate sobre esta questão em Portugal. E esta peça foi para isso. É um assunto que não se ouve falar muito, mas existe. Portugal é um dos pontos de pesagem e de estadia de tráfego de mulheres.

Como surgiu esta oportunidade?

Eu e o Ricardo estávamos a trabalhar numa outra peça, em Coimbra, e surgiu a oportunidade de fazer esta peça juntos através do convite da “saúde em português” com este tema de tráfego de seres humanos. O Ricardo decidiu abordar o texto de Lucy Kirkwood, deu-me para ler, apaixonei-me logo pelo papel, é um texto bem escrito, é um novo tipo de dramaturgia e foi assim que decidi aceitar o trabalho. E começamos os ensaios em Janeiro, e pesquisa sobre este tema.

Trabalhas então essencialmente como actriz?

Sim e dou aulas de expressão dramática a professores do ensino primário.

Como vês o teatro no panorama nacional?

É uma pergunta complicada. Eu acho que estão a surgir encenadores mais novos, cujas propostas são a escrita em cena. A nova dramaturgia que é feita no palco enquanto está a acontecer. Em que os actores fazem pequenas improvisações a partir de um tema, e que eles próprios e são os criadores desse movimento, trazer a dramaturgia para a cena. Esta também a surgir o actor enquanto criador no verdadeiro sentido da palavra. Ou seja, um actor com pensamento próprio que faz o seu trabalho e não está à espera que o encenador diga alguma coisa.

E o público português adere?

Sim, mas depende das zonas. Em Lisboa há público, mas não é muito. Vai ao que este habituado a ver sempre. E às vezes é um público ligado ao teatro. E existe as pessoas mais velhas que vão ver os espectáculos por causa do teatro de revista, que é uma tradição portuguesa que temos que manter.Não há muito público.

Mesmo quando se trata de peças com actores já conhecidos na televisão?

Sim, essas enchem. É sempre um chamativo, e aparecem nos cartazes. O marketing teatral se é que se lhe pode chamar assim, está direccionado para isso. Quando há musicais estão nos centros comerciais para aliciar as pessoas a irem ver esse tipo de teatro.

O que falta para haver mais público? Achas que falta uma mentalidade para os eventos culturais, porque também é educação?

Eu não gostaria de dizer frase feitas e afirmações já ditas deste ano e do ano passado, porque sempre que se fala na nova dramaturgia e no teatro, de ver e não de ouvir. Mas, nós vamos para ouvir e não para ver, porque é uma grande chatice, porque nos aborrecemos e já dizia o Peter Brooks, o diabo é o aborrecimento. Muita gente a partir desta pergunta fala sempre em subsídios e eu pessoalmente acho que se pode fazer um bom espectáculo sem grandes apoios. Mas, isso depende de cada companhia, e depende se têm espaço, porque há deles que é necessário manter e para isso é necessário dinheiro. Também é necessário pagar os actores e os criadores, que por sua vez, tem de pagar segurança social e passar recibos verdes todos os meses, infelizmente. Eu não sei se o que têm que mudar é a mentalidade do ponto de vista económico e social. Não se pode falar de um sem o outro. Não basta dizer Ministério da Cultura, não pode ser. Temos o exemplo da Camacha que é um sítio pequeno com poucos apoios e mesmo assim está a produzir um festival em que traz trabalho de teatro de fora e estão de parabéns, há zonas do país com mais dinheiro e em vez de gastar tudo numa só produção poderiam apostar em vários grupos.

http://nacasadaesquina.blogspot.com/

domingo, 30 dezembro 2012 16:18

Pedro,o grande...bacano da 5ª feira

É um dos apresentadores do já programa de culto, 5 para a meia-noite. Um jovem que não se define apenas como um apresentador de um conteúdo televisivos, mas também como comediante e guionista.

Pode-se dizer que há tens um percurso ligado a comédia, esta é uma área que pretendes seguir? Ou procuras fazer sempre de tudo um pouco?

O meu percurso ligado à comédia foi um pouco involuntário, sendo que, é onde me sinto mais à vontade. Comecei no teatro universitário e a escolha das peças era um processo de grupo. Sempre tentei que os textos escolhidos tivessem muito humor à mistura.  Quando apareceu a oportunidade para trabalhar em televisão tive a sorte de poder participar num programa de humor que se tornou num programa de culto "A Revolta dos Pastéis de Nata". Acho que vou fazer outras coisas na vida, mas se tiverem humor, melhor.

Sei que escreves os teus textos, por norma o que procuras expressar neles? É uma critica social?

Sendo o 5 para a meia-noite um programa diário e que vai beber muito do seu humor à actualidade, é praticamente impossível não fazer uma critica social em tudo o que se escreve. Sempre que posso dou a minha alfinetada e espero que do lado de lá a sintam.

Da experiência com a peça musical Pedro e o lobo, o que foi mais gratificante para ti?

O convite do Maestro Rui Massena muito me honrou. Foi muito gratificante ser tão bem recebido por todos os membros da Orquestra Clássica da Madeira e sentir que eles gostaram e perceberam a versão da história que eu escrevi. O público que encheu o Tecnopólo saiu satisfeito e isso é o mais importante.

Como foi trabalhar com uma orquesta clássica, há uma dinâmica diferente?

Infelizmente tivemos muito pouco tempo para trabalhar. Fizemos um único ensaio na manhã do dia do espectáculo. Podia estar mais afinado. Eu, claro. A Orquestra estava impecável. Uma orquestra tem uma dinâmica e uma sonoridade muito especiais que lhe conferem um poder musical enorme. Se pudesse tinha uma orquestra em todos os programas que fizesse.

O que é mais difícil na vida de um apresentador? E o mais fácil?

O mais difícil é sermos capazes de nos reinventarmos todos os dias. No meu caso, como sou também guionista, o trabalho de escrever um programa interessante todas as semanas, sempre capaz de surpreender, é definitivamente o mais difícil. O mais fácil são as fotografias e os autógrafos no fim.

Qual é personalidade que é uma referência no teu trabalho em televisão?

Eu tenho duas grandes referências. Em Portugal, Herman José. É o mestre do humor para a minha e outras gerações. Lá fora, e no âmbito dos talk shows, Conan O'Brien é sem dúvida o melhor e mais completo apresentador.

Apresentar um programa em directo, no caso da Operação Triunfo, representa que tipo diferente de desafio?

O 5 para a meia-noite também é em directo. A OT foi um belíssimo desafio. Eu adoro cantar e é um formato do qual já era fã. Fazer os diários foi muito divertido e fiz bons amigos. Cantar em directo numa das galas é aterrador. Muito pior do que apresentar qualquer programa.

Como vês a televisão em Portugal? Que achas que deve ser feito?

Acho que a televisão portuguesa tem muita qualidade. Pelo menos a minha que é Full HD. ;)

E agora, as perguntas embaraçosas. Qual de vocês do 5 para a meia noite é o mais chato?

Não há nenhum chato. São todos bem divertidos!

O mais atrasado?

Temos dois casos agudos: o Alvim e o Borges. Acho que existe até uma competição entre eles para ver quem chega mais atrasado a qualquer reunião.

O menos engraçado?

O produtor. Não acha muita graça às ideias megalómanas que temos de vez em quando.


O mais maluco?

Todos temos os nossos momentos de loucura, mas sempre uma loucura saudável.

www.rtp.pt/blogs/programas/5meianoite/

www.facebook.com/oartistaconhecidoporpacheco

domingo, 30 dezembro 2012 16:15

A tua esquina mudou o meu olhar

Trata-se de uma casa no centro de Coimbra que pretende mudar a forma como olhamos para o teatro. Uma paixão que surge do encenador Ricardo Correia e de vários artistas que se recusam a baixar os braços.

 Fala-me do porque a escolha desta peça para encenar?

Ricardo Correia: Recebemos um convite de uma associação chamada saúde em português, que move uma concepção chamada de mercadoria humana que é um projecto de sensibilização contra o tráfego de seres humanos. E na altura pediram-nos para trabalhar com esta temática, na altura fomos constituindo a equipa, fomos à procura de material, lemos muitos livros, filmes, ficção, documentários e esta foi uma das peças entre outras que encomendamos para servir de material e gostei tanto e passei para Helena, porque achei que ela era a pessoa certa para a fazer. Ela também gostou muito e decidimos que era peça que fazia sentido na Casa da Esquina.

A peça foi escrita para um espaço convencional, no entanto, tu escolheste um outro tipo de palco. Porquê?

RC: A peça escrita pela Lucy Kirkwood, é uma dramaturga britânica, escreveu esta peça em 2009 e ganhou um dos prémios mais importantes da dramaturgia britânica, o “Whiting Award 2010”. Ela quando a escreveu foi encenada num armazém. Em Coimbra, na Casa da Esquina, decidimos faze-la em quartos muito pequeninos onde tínhamos a volta de 16 pessoas por recita, é muito pouco, mas foi a nossa opção. E no nosso trabalho temos seguido uma linha que é a de trabalhar espaços não convencionais. Nós conseguimos através de um texto, ou de um input textual realizar outro tipo de produção, de objecto cénico quando o levas para outro espaço. Quando nós convidaram para o “Amo-Teatro” da Camacha a decisão foi de faze-lo num espaço que não fosse o teatro, a nossa ideia sempre foi essa, e decidimos vir para o armazém.

Mas isso não é um contra senso? O teatro não exige mais público para ser viável, no entanto, vocês encenam peças em sítios onde cabem muito poucos espectadores?

RC: Sim, mas para nós o teatro não é apenas entretenimento. Nesta caso nos procuramos uma vertente de consciensialização, de quebrares algumas regras. O teatro em si, continua a prevalecer e depende de quem o faz, e nós combatemos esse lado só de entretenimento, de muita gente numa sala. O nosso trabalho vai quase à raiz do teatro que é um ritual, um espaço onde não há propriamente uma divisão em quem o faz, os fazedores e quem o vê. É um espaço mais intimista, por não serem convencionais. A nossa luta é essa. Não é um contra senso para nós.

E como é que o público reage? Qual é o feedback?

RC: O primeiro espectáculo que fizemos não havia actores. O público levava um mp3, foi em Coimbra, no espaço urbano e havias várias instalações montadas pela cidade, eles levavam um mapa e ouviam instruções e iam conhecendo sítios como quem vai à procura de um quarto. Ao público era atribuído uma função e deixa de ter um lado passivo e passava a ser agente da acção e ia a procura de coisas.Na segunda encenação, fizemos a peça num jardim botânico que era um espaço enorme, na mata que era um espaço interdito e à noite. E trabalhamos a memória de quem passou por lá, de quem trabalhou nessa zona, e era quase uma visita guiada, brincamos com esse conceito, o lado turístico que não fazemos, mas brincávamos com isso. Esta encenação da Lucy Kirkwood, em Coimbra, sentíamos que as pessoas não queriam invadir o espaço da pessoa que a estava a fazer, sentiam-se como ela presa, porque a história da Diana é de alguém que esta preso e vai ficando cada vez mais preso. E é uma pessoa que se quer levantar, e as pessoas tinham medo de reagir e nota-se que não estão habituadas a este tipo de encenação. Nós não queremos fazer nada novo, como os Fúria del Baus que atira farinha as pessoas, é mais a intimidade de olhar nos olhos e as pessoas não estão habituadas.

Como vês então o panorama actual do teatro? Porque aquilo que fazem é uma aventura total?

RC: Olha é assim, para mim é a minha vida, é o meu sonho. A Casa da Esquina é um bebé no sentido de que tem três anos, e portanto é uma luta. No primeiro espectáculo, tivemos um apoio pontual do Ministério, depois deixamos de ter e passou para um incentivo anual, que não dá para muita coisa, e muito de nós fazem trabalhos com outros grupos, como no Porto e em Lisboa, é um risco e vale pena. Para mim foi uma luta e para a Helena que teve que sair da Madeira à procura. Sabes não se consegue explicar é irracional e não faz sentido nenhum. Mas, é a nossa luta de querer mexer com as pessoas de fazer qualquer coisa.

E o público português corresponde?

Eu acho que se o público for habituado a ver coisas diferentes e se não for formatado corresponde. Os meus pais têm a quarta classe e nunca viram teatro, mesmo para eles foi estranhíssimo quando eu decidi fazer teatro, porque até aos dezassete nunca tinha ido a um espectáculo, mas depois foram acompanhando as coisas que fiz e de outras pessoas e tem agora um gosto mais diversificado, do que o dito convencional, de massas, e entretenimento que eu acho muito bem. Mas se fores educado a veres várias coisas sabes escolher e não te dão apenas uma. Foi como quando eu provei pela primeira vez, poncha, é genial, mas depois tomei uma segunda e pensei, não esta é que é. Tens forma de escolher.

E tu que nunca tinhas contacto com o teatro, porque decides fazer disto vida?

RC: Não foi nada racional, foi tarde aos dezassete, era um mau aluno, decidi escrever-me numa escola de teatro e os meus pais não me deixaram. Andei a remoer-me durante muito tempo, e na universidade fiz teatro universitário e depois um casting e acabei no Teatro Nacional de S. João, no Porto.

E essa experiência no Porto foi importante para ti?

RC: Sim, porque abriu muitas portas e tens muitos contactos, mas trabalhei em companhias mais pequenas e depois fixei-me em Coimbra. Estive na Escola da Noite, no teatro em Guimarães. Andei por aí e as vezes vou para fora em formações e também cá dentro.

Há diferenças entre o público do interior e o mais urbano? As pessoas nas zonas fora das metrópoles queixam-se que a cultura não lhes chega.

RC: Eu acho que não há. Existem bons actores e  pessoas que são agentes culturais como nós, que querem fazer coisas boas, e querem mexer com as pessoas e dizerem alguma coisa. Depois há aqueles que querem ganhar muito dinheiro com isto. Eu tenho colegas muito conhecidos na televisão e que trazem muito público as salas e é óptimo, mas apenas fazem coisas que são puro entretenimento. E há aqueles que fazem coisas sem validade. Isso é uma escolha que o público tem de fazer.

E por causa desses nomes sonantes há mais apoio, ou não?

RC: Eles normalmente não tem apoios do ministério, mas conseguem fundos dos teatros municipais e das empresas para financiar os projectos. Acho que não há mal nenhum, e depende do que queres fazer. E existem quem prefira o convencional e ganhar dinheiro é uma opção que cada um deve ter.

www.casadaesquina.pt

domingo, 30 dezembro 2012 16:14

Os manipuladores de matéria

Os H2Watts são um duo que nós propõe em cada encenação um quadro plástico, onde manipulam  com a água, luz e som de forma a criar um organismo vivo. É um espectáculo que apela apenas aos sentidos e não a reflexão.

Que tipo de espectáculo o H2Watts apresenta? Não se trata de um espectáculo convencional pelo que me apercebi.

César Estrela: Este é um trabalho que surge de ideias que vagueiam, aliás como todos os trabalhos, acho eu. Peço desculpa por ter dificuldades em explicar, há várias bases que sustentam  o trabalho e várias ideias, nós o que fazemos? Manipulamos luz e água e é esta iniciativa para trabalhar com estes elementos. O que pretendemos é que em vez de trabalhar formas, nós trabalhamos matérias. Por exemplo, numa marioneta são formas que se animam, nós o que fazemos é animar matérias. E aí entra o trabalho da água e da luz. Nós não somos actores.

E tal como o mundo da marioneta que é feito de mecanismos e coisas físicas, nós trabalhamos mais esse universo, o físico, nós somos os manipuladores e é toda essa dinâmica de coisas físicas que criam um espectáculo. É  puro prazer sensorial e não há nenhuma mensagem que desejamos transmitir. Desta vez é água e luz, mas no futuro podem ser outras matérias como terras e ver o comportamentos delas e como elas esteticamente podem produzir, qual é o seu potencial.

Há uma interacção com o público, ou apenas querem causar uma reacção?

Sandra Pimenta: É só uma reacção estética, não esperamos que o público interaja, não é esse o objectivo. O nosso objectivo como manipuladores é tirar partido dessa matéria, água, luz e som, e provocar um prazer estético e não que este manipule, ou interaja com os elementos.

CE: Não é que essa ideia já não tenha surgido, mas neste momento não. Como primeira fase é nós a explorar e sim posteriormente de oferecer.

SP: Mas, para já, o espectáculo não tem esse objectivo.

Já usaram este espectáculo em outros ambientes?

SP: Apresentamos apenas uma vez no Festival de Marionetas do Porto, numa nova secção, o WIP, Work in progress.

Qual foi o feedback do público, porque se trata de algo muito diferente?

SP: Foi muito positivo, foi muito intimista, tinha apenas 40 pessoas, mas foi gratificante.

CE: Houve depois uma conversa, fazia parte da apresentação de cerca de 20 minutos, entre o público e os criadores e nós temíamos a reacção do público. E afinal surgiu uma boa conversa, porque havia coisas em acção que levantaram dúvidas, a chaleira, por exemplo.

SP: Nós deixamos esse objecto como apontamento para o próximo espectáculo que seria a manipulação do vapor, ainda por explorar, e as pessoas perguntaram, o que estava a chaleira aí a fazer. Ainda é um trabalho em progresso...

Vocês são dois, como surgiu esta parceria?

SP: Nós surgimos no Imaginarius com outro espectáculo, depois decidimos trabalhar num outro sentido e pegando na matéria que é água e agora anexamos luz. Nessa apresentação anterior limitavamo-nos a produzir um arco-íris.

CE: É claro que estávamos muito dependentes das condições atmosféricas, mas esse espectáculo levou-nos a reflectir, que não era aquilo que queríamos fazer, não teve os resultados esperados.

SP: Decidimos seguir num caminho mais controlado.

Vocês querem que o público reflicta?

H2W: Não.

CE: O reflectir pode surgir de uma forma espontânea, de como quando alguém vê um pôr-do-sol pode pensar, isso é o exemplo de uma sensação. Agora se a reflexão vai acontecer ou não, não o procuramos. Isso não é nosso caminho, isso já é um percurso pessoal. Não queremos induzir nenhuma ideia, ou fazer questionar.

Depois desta apresentação, qual o futuro?

SP: Desenvolver sempre...

CE: É o trabalho é muito propício para essa continuação, porque assenta num exercício plástico, estamos constantemente a ver a reacção da água com isto e aquilo e da luz, e se a metermos aqui ou ali, há uma grande quantidade de quês.

SP: Mesmo a água tem vários estados, líquido, sólido e gasoso que podem ser explorados. Para já trabalhamos na forma líquida.

CE: Como é que podemos trabalhar isso? Que é que isso nos pode oferecer em termos em quadros. Porque isso não acontece apenas com este espectáculo, vivemos muito de projecções, mas não é só disso que queremos que o nosso trabalho assente. Pretendemos acções directas, por exemplo, o gelo a derreter pode cair numa chapa quente que vai reproduzir um som, ou fazer um fuminho. É quase com criar um organismo eficiente e nós estamos aí com maquinistas desse organismo para viver.

Tem grande aceitação das vossas performances, são no mínimo invulgares?

SP: A aceitação do outro espectáculo foi óptima.

Qual o tipo de público?

SP: Era um público especial, porque como era limitado, cerca de 40 pessoas, eram pessoas ligadas as área.

CE: Já temos tido outro tipo de feedback, as crianças gostam imenso.

SP: É só sentar e apreciar.

CE: Outra coisa engraçada é que nós temos medo do público por causa do nosso trabalho. E há momentos onde esse experimentalismo ganha uma dimensão maior, e outros menos, só que sabe quem caminha com este experimentalismo com estas imagens. As  pessoas podem ter um feedback intenso com um ruído. E essa textura sonora que se transforma e parece que já não é ruído e como têm imagens já não se torna tão monótono.

SP: Nós usamos os momentos do quotidiano e damos-lhe importância. No conjunto resulta bem.

domingo, 30 dezembro 2012 16:12

Os 4 litro à conquista do mundo

foto: yvette vieira

São quatro rapazes, todos ligados às artes, que apostaram no stand up comedy com um cheirinho madeirense. O fenómeno surgiu no youtube. São uma nova geração de jovens comediantes sem medo do futuro.

Como nasceu o 4Litro?

Luís Sousa: começou comigo, o Rubén, e o Bernardo. Têm cerca de 4 anos quando começamos a gravar pequenos sketches com uma máquina mais sofisticada e fizemos 3 vídeos de uma vez. Depois pusemos no youtube, só para mostrar aos amigos. Eles começaram a gostar e daí arrancamos.

Bernardo Freitas: os amigos partilhavam...

E o nome?

LS: como nós éramos quatro e no campo convida-se os amigos para beber ¼ de litro, e assim surgiu o nome.

Chegam a escrever um argumento?

LS: Só escrevemos a ideia base e algumas ideias soltas.

BS: temos um tema, escolhemos as personagens, ele faz deste, outro faz daquele e a partir daí começamos a ter as ideias e juntamos tudo.

LS: fazemos os sketches por improviso, e como nos conhecemos bem tudo funciona.

BF: se eu digo uma fala, ele já sabe o que o outro vai dizer.

Porque escolheram sempre criar “vilhões”? Porque tem mais comicidade?

LS: o que nós queremos retratar é o quotidiano rural madeirense, como somos do campo torna-se mais fácil.

BF: também é melhor para fazer críticas sociais através dessas personagens... no fundo podemos criticar quem quisermos.

domingo, 30 dezembro 2012 16:08

O produtor de conteúdos

José Vieira Mendes tem uma assinalável carreira no mundo jornalismo, como crítico de cinema, em vários meios de comunicação social. Um percurso profissional que se tem ramificado ao longo dos anos em diversas áreas, quer na televisão, quer nos festivais de cinema, onde agora também chega como cineasta de um documentário, “ó pai, o que é a crise”, finalista do festival cel.u.cine no Rio de Janeiro.

O Festival de cinema ambiental da Serra da Estrela pretende ter uma extensão na Madeira?

José Vieira Mendes: O objectivo é ter uma extensão no fórum Machico em Março de 2013. As datas ainda não estão definidas. A questão no fundo está ligada à Natércia Xavier, entrámos em contacto, porque o cine eco tem o interesse em fazer extensões por todo o país e em certa medida, havia um espaço e a vantagem de fazer uma programação para as escolas.

É com a programação da XIX edição do cine eco?

JVM: Não, vamos faze-lo com a programação da XVIII edição. O XIX só será em Outubro do ano que vêm, tendo em conta os filmes nomeados da última edição.

Vamos falar um pouco do percurso do cine eco, que balanço faz da actividade deste festival?

JVM: Eu não posso fazer exactamente um balanço, porque só peguei na programação do cine eco este ano, mas posso dizer que foi muito positivo. Foi um desafio que me foi lançado pela Câmara de Seia e o seu director executivo o Mário Branquinho e o que fizemos foi construir uma programação com um conjunto de filmes que de alguma forma abordassem a temática ambiental e fossem acessíveis ao público, nomeadamente ao infanto-juvenil, as escolas, também para aos idosos, porque há uma série de centros sociais ligados à edilidade e para o público em geral.

Faz ainda sentido ter um festival com uma temática ambiental?

JVM: Faz todo o sentido, é um dos problemas prementes da humanidade neste momento é a própria preservação do ambiente e há um conjunto de filmes e documentários que se preocupam com essa temática.

 

domingo, 30 dezembro 2012 16:07

Madeira film festival 2013


A segunda edição promete mais filmes, cerca de 30 peliculas, das quais cinco são de cineastas portugueses. Uma programação que continua a assentar na temática ambiental e da floresta laurissilva, mas num cenário ao estilo dos anos vinte. Bem-vindo.

O tema da edição do Madeira film festival 2013 remete-nos para a iconografia nacional, Amália Rodrigues. É deliberadamente diferente.

Aitken Pearson: Sim, procurámos um conceito original. Quando olhámos para alguns dos posters de festivais são um tanto quanto previsíveis e tornam-se um pouco aborrecidos após um curto espaço de tempo, por isso, procurámos abordar uma imagem mais clássica dessa era, depois há a componente da floresta através das flores no cabelo e o cachecol remete-nos para o cinema.

Elsa Gouveia: O tema é sempre a laurissilva, mas este ano abordámos a temática dos anos vinte. Tivemos o “portuguese sprectrum” o ano passado que se irá manter. O cartaz tem a Amália Rodrigues porque pretende-se levar a imagem nacional pelo mundo, se há uma cara reconhecível é ela.

O que vai ser diferente nesta segunda edição do MFF’13 em termos gerais?

AP: Vamos apresentar os filmes no teatro Baltazar dias, porque é central, é maior, é mais confortável e é um edifício muito bonito, era uma pena não aproveitar.

EG: Mudam algumas coisas, cinco dias de filmes, dois dias de natureza que o ano passado não tivemos e o vinho da Madeira, através do instituto do vinho, é a bebida oficial do evento.

Vão manter a mesma programação?

AP: Sim, para além dos filmes em competição, teremos os seminários, os workshops, as festas e um espectáculo de moda, que ira decorrer no hotel Reid’s.

Uma das convidadas apontadas é a actriz Maria de Medeiros, ela também vai falar de cinema?

AP: Ainda não sabemos, temos de discutir isso com o seu agente. Mas, assim esperámos. Ela vem para dar um concerto.

Sem descortinar demasiado da programação o que pode já adiantar?

AP: Eu penso que os filmes são melhores. A natureza, o meio ambiente continuam a ser a temática dominante. Vamos mostrar 30 filmes e muitas curtas-metragens. Temos 5 cineastas portugueses em competição e uma equipa da Madeira vai apresentar um pequeno filme.

Quanto ao tema educativo, o concurso para as escolas, sei que o ano passado não houve uma grande aderência, o que muda este ano?

EG: No ano passado fomos ambiciosos demais. Tínhamos oito propostas para as escolas, em diversas áreas. Este ano temos apenas três, melhor vídeo, melhor fotografia e melhor conto ou história, que pode ser quer em português, quer em inglês. É necessário levar o projecto até as escolas e com tantas áreas só seria possível se tivéssemos mais pessoas.

http://madeirafilmfest.wordpress.com/

domingo, 30 dezembro 2012 16:06

Fecha-se uma porta, abre-se uma janela

É mais um filme de um jovem cineasta, Rui Moreira, que gostaria de destacar.

É uma curta-metragem que tem um certo caracter original na forma como constrói a acção, ou seja, o argumento, assistimos ao percurso matinal de um jovem, em passo e em corrida, que ao chegar ao seu destino final apercebe-se conscientemente de que tudo não passa de um sonho. O que mais me agradou neste pequeno filme, foi a banda sonora, foi sem dúvida uma escolha acertada, a “toccata e fugue em D menor” de Bach e no final “Agnuz dei” de Berlioz, foram sem dúvida mais-valias nesta narrativa muda, mas que não deixa margem para dúvidas em termos de mensagem. Para alguns até pode parecer demasiado longa, mas eu aprendi, que o tempo é algo que também conta em termos cinematográficos numa era em que as imagens discorrem com velocidade tão alucinantes que por vezes perturbam mais os espectadores em vez de os cativar, mas este não é um desses casos, imaginem-se no lugar deste jovem, não demoravam o mais tempo possível nesse vosso mundo de sonho do que na realidade? Gostei muito do lado quase poético. É um bom exemplo de sensibilidade e de emoção, e isso é cinema. Bom cinema.

http://www.youtube.com/watch?v=733X-jxsOTg&feature=player_embedded

domingo, 30 dezembro 2012 16:05

Orquestra geração

É um filme semidocumentário de Filipa Reis e João Miller Guerra.

É um filme cor esperança. De uma geração que encara o seu futuro com uma expectativa mais positiva, fruto da sensação de pertença que advém do facto de pertencerem a orquestra geração. O método de ensino da música, proveniente da Venezuela, e a motivação dos professores, incute nestes jovens com carências sociais um amor-próprio e equidade entre iguais, que os faz pensar em voar mais alto, em ser melhores. Esta é a mensagem deste filme ternurento que retrata o dia-a-dia, o quotidiano de vários jovens músicos, os obstáculos que enfrentam, os ensaios para o espectáculo, sobretudo fala dos sonhos que alimentam graças a esta orquestra muito sui generis. O olhar de Filipa Reis e João Miller Guerra não é intrusivo, ou seja, não interfere muito na dinâmica destes miúdos, o que o torna mais real e genuíno, elas são as personagens principais e todos torcemos por elas. É como disse um semidocumentário repleto de carinho, muita dedicação e sobretudo esperança por um mundo melhor. Bom cinema.

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