Raquel Hoshino é uma designer de porcelana brasileira que é influenciada pelas raízes dos vários países de origem dos seus antepassados.
Neta de japoneses, Raquel tem uma pitada de português no seu sangue já que a sua avó materna era filha de portugueses, um legado genético e cultural que influencia até hoje o seu trabalho na porcelana. O design de Raquel Hoshino é resultado de um cadinho de várias culturas que pode ser apreciado através das várias colecções que assina. Um design despretensioso com influências da estética Kawai, aliadas a padrões divertidos inspirados na natureza sem macular a brancura da porcelana. Para além da óbvia ascendência do conceito de beleza japonês na sua obra, o azulejo português é uma das suas referências chave para a recriação dos objectos do quotidiano que fazem parte de uma cozinha. Uma inspiração proveniente da colecção de porcelanas e painéis de azulejo coloniais da avó.
Uma viagem que realizou a Portugal, com o intuito de conhecer a cultura e a origem dos seus antepassados foi essencial como referência para o seu processo criativo. No Museu de Arte Antiga, em Lisboa, descobriu o resultado da intersecção entre a arte oriental e ocidental, fruto da colonização portuguesa. Um hibridismo que a influenciou marcadamente de tal forma que, criou uma colecção denominada de Lisboa.
A sua conexão com Portugal, contudo não acaba aqui, a Raquel Hoshino apesar de ser uma das designers mais influentes do seu país, produzindo em nome próprio, colabora em parceria com a empresa de porcelanas Teixeira. O proprietário desta empresa sediada em São Paulo é um português originário da cidade de Aveiro que, teve a sua formação inicial, antes de emigrar, na não menos famosa Vista Alegre em Portugal. É caso para dizer que o mundo é pequeno.
Maria Landeau procura maravilhar-nos com as suas peças de design que reflectem a divisão do espaço, da separação do visível e invisível e que ao mesmo tempo contam uma história de encantar…
Porque a escolha do vidro?
Maria Landeau: Sempre foi um material que me fascinou muito pela dualidade entre a rigidez e o facto de ser um material muito sensível. É também muito resistente. É o visível e invisível. De haver uma história para além daquela que está a ser contada. Crio várias interpretações, o espaço privado e o público, por assim dizer, de divisão de espaços.
Isso também se vê nas lâmpadas?
ML: Sim, para as que criei para o Museu Rainha Sofia sim, que era sobre a obra da Paula Rego usei muito esse conceito da transparência, do visível e invisível para dar a ideia de várias histórias que estão a ser contadas ao mesmo tempo. E isso dá espaço para diferentes interpretações. Até porque na obra dela, existe esse espaço para muitas interpretações.
Reparei que nos candeeiros há sempre uma história que pode ter origem num livro, existe sempre essa preocupação?
ML: Nem sempre. Outras vezes são baseadas em peças de teatro em que faço aqui uma ligeira alteração nas personagens do inicio do século vinte que passam a ser robôs dum futuro próximo. Ou seja, há um ligeiro twist nas personagens. Muitas vezes também são histórias, parte delas, momentos, de coisas que vou ouvindo que vou vendo, ou que me interessem.
Como tem sido a aceitação por parte do público? Até porque são invulgares? O português é sensível ao conceito de design?
ML: Têm sido óptima a aceitação. O público português está aberto ao design e é sensível nessa matéria. Muitas vezes o que não acontece é a facilidade para os designers exporem as suas peças para serem vistas por esse público. Isso às vezes é difícil. O meio para atingir o fim. Mas, sim o público português sabe aquilo que está a ver e valoriza.
É um dos designers portugueses com mais sucesso além fronteiras. Muito da sua obra resulta de uma profunda reflexão aliada a uma grande imaginação que transporta para os objectos do quotidiano.
Rui Couto: Ainda hoje sonha com as brincadeiras da sua infância. E movido por uma necessidade de criar, todos os dias volta para o seu estúdio em Nova York, para transportar essas recordações e transforma-las em objectos que nos remetem para um memorial desenhado em giz onde havia espaço para o pião e o salta-pocinhas e um mundo misterioso cheio de insectos estranhos que maravilhavam o seu olhar infantil. Este é o universo que Rui do Couto, que tenta duplicar na sua obra intitulada,“childhood memories”, instalações de arte e peças de mobiliário escultural para clientes privados e projectar espaços residenciais e comerciais que nos remetem aos Açores da sua meninice.
Quando se tornou claro que queria ser um designer? E o que o motivou a fâze-lo?
RC: Tenho vindo a criar desde que eu era uma criança, era a minha forma de brincar. Ter uma carreira numa área criativa foi a coisa mais natural para mim fazer como um adulto.
Todos os seus trabalhos tem inspiração nas memórias de infância foi difícil apresentar essa "visão" pessoal no mercado americano?
RC: Quando temos a paixão de criar, fazemos isso mesmo e deixamos o trabalho fazer o resto. Minha inspiração vem do passado, presente e ideias para o futuro.
O mercado americano de design diferente do europeu? São americanos mais abertos aos novos conceitos?
RC: Sim. Do meu ponto de vista o amplo mercado europeu abraça mais a inovação visual experimental, é mais abrangente em termos geográficos, enquanto que o americano abraça mais o funcional.
Cristina Costa cria e assinada uma colecção de t-shirts com um intuito, levar humor e um pouco de malandrice até as nossas vidas.
O projecto do Mau Feitio surge na vida de Cristina Costa, “ quase por um acaso, não foi uma coisa planeada, nem tão pouco tenho qualquer formação específica em design ou ilustração, sou formada em Línguas e Literaturas Modernas, porém sempre gostei muito de moda, e de desenhar”. Um gosto que a levou a criar para si peças como t-shirts, túnicas y vestidos, sempre um toque de humor e ironia que é uma característica que a distancia do conceito de colecções padronizadas de moda.
Após um período experimental em que produziu apenas para amigos e familiares, decide dar o salto e transpor a sua edição limitada para o mercado português. Mas, antes havia que dar um nome a este projecto, “ a princípio pensei em nomes estrangeiros, mas depois num daqueles dias em que nada corre bem, alguém me disse: estás com um mau feitio hoje, eu gostei e ficou”.
A comercialização do produto teve início propriamente dito num blog como forma de divulgação do seu trabalho e mais tarde, “ comecei a procurar lojas onde vender. A primeira de todas, foi a Muuda no Porto que, para meu grande contentamento e satisfação ficou com a colecção toda e a partir daí comecei a levar o projecto, que havia começado como um hobby, mais a sério”. No entanto, a designer pretende “alargar o leque a outras peças, nomeadamente almofadas, tote-bags, carteiras, enfim, será o que a imaginação for ditando”.
O Mau Feitio nasce assim fruto da imaginação e persistência de Cristina Costa que, procura nos seus objectos moda, aplicar também noções artesanais, com os mais diversos materiais, desde, “ a aplicação de lãs, a alguns brinquedos reciclados e aplicados quase sempre por forma a contar uma história”.
A ilustração é, contudo, outra técnica muito usada, “ora desenhando e pintando na peça em si, ora pintando noutro tecido que depois é costurado, à mão na peça final. Acaba por ser um trabalho bastante moroso e minucioso, daí o reduzido número de peças realizadas, o que, por outro lado, imprime um cunho de exclusividade a cada peça”.
“O que não pode faltar são a ironia e o bom humor. Gosto que apreciem as minhas peças pela arte em si mas dá-me muita satisfação ver as pessoas sorrir e a encontrar a piada às vezes escondida” finaliza.
Patrícia Sumares assume a direcção de uma esfera artística que não se esgota apenas na arte por si só. Ela procura impulsionar um espaço com novas temáticas colectivas e individuais muito fruto da sua sensibilidade e criatividade. A Galeria dos Prazeres desafia o convencional através da provocação artística da própria natureza que a rodeia e não só. É também um pólo cultural que ajuda a dinamizar a quinta pedagógica
A exposição sobre as chávenas como surgiu o conceito?
Patrícia Sumares: A ideia já tinha surgido a algum tempo. Tinha em mente fazer esta exposição. Tudo tem a ver com a quinta pedagógica, as plantas aromáticas e os jardins. Aliás, a primeira exposição da galeria foi uma mostra colectiva com caixinhas aromatizadas, cujo conteúdo eram ervas aromáticas, que as pessoas podiam abrir e cheirar para além de verem o trabalho artístico. Há muito tempo tinha pensado no projecto das chávenas de chá, sendo que temos um pequeno ateliê como forma de o dar a conhecer às pessoas e aos artistas esse espaço. Então juntando todos estes elementos foi possível realizar esta terceira exposição colectiva, que é a hora do chá. Nesta mostra participaram 26 artistas, dois dos quais estavam no estrangeiro. Um primeiro que é John Fadeff, que já esteve exposto no nosso espaço dois, a chávena teve de ser enviada até São Francisco para ser desenvolvida. O outro artista convidado com um grande curriculum é o Rico Sequeira. Já expôs em vários espaços não só em Portugal, como também em vários pontos do mundo, nomeadamente o Luxemburgo. E foi o trabalho dele que foi escolhido para ser reproduzido, sendo este um dos objectivos desta exposição colectiva. Cada artista escolheu uma planta para o chá e a partir daí deu azo a sua imaginação e criatividade artística num suporte pré-definido pela galeria em tamanho A3. Depois passou a concretização desse estudo. Alguns destes projectos estavam expostos, bem como as chávenas e foi seleccionado apenas um como referi anteriormente.
A selecção foi feita em que moldes?
PS: A maioria dos artistas são madeirenses e eles preocuparam-se mais com o lado estético e não com o lado mais funcional. E para reproduzir não pode ser qualquer estudo. Ou qualquer projecto. Tem de corresponder as características da reprodução, através da decalcomania que, foi a opção escolhida ao fim e ao cabo para realizar cerca de 100 chávenas. E então seleccionei tendo em conta a forma, a cor e a simplicidade do projecto.
É difícil ter uma galeria muito longe dos centros urbanos?
PS: Não é difícil por esse motivo. Até acho que a própria freguesia, a localidade fica a ganhar com isso. Se fosse num espaço citadino era mais uma. Aqui não há nada, pelo facto de ser única, a Galeria dos Prazeres vai já no seu terceiro aniversário e têm realizado várias exposições regularmente com muita qualidade. E as pessoas que vêem até aqui, até a quinta pedagógica passam pelo nosso espaço. Há também pessoas ligadas às artes plásticas que aproveitam para nós visitar e fazem ao mesmo tempo um passeio, vêem de propósito do Funchal para ver as exposições que estãopatentes neste espaço.
Annika Vayrynen pode não ser portuguesa de gema, mas inspira-se na beleza natural da ilha da Madeira para fazer jóias. Uma escolha que resulta da sua paixão pelas flores e por tudo o que a rodeia, após uma viagem até a pérola do Atlântico.
Como é que uma finlandesa vem para a Madeira?
Annika Vayrynen: Eu estava a trabalhar numa agência de viagens na Finlândia e fiz viagens de estudo para vender melhor os destinos . Vim até a Madeira e gostei muito, aliás de todo o Portugal em geral. Depois quando a minha vida profissional e pessoal atingiu um determinado ponto, decidi experimentar viver numa terra mais quente e depois como gostei isto vim para cá.
Como aparece a ideia fazer joalharia inspirada na ilha?
AV: Como eu trabalhei com turismo os stands da Madeira estavam sempre cobertos de flores, e ainda continuam a coloca-las para vender a ilha como destino turístico. E sempre gostei muito disso. Então, fiz um curso para mulheres empresárias, eu era a única estrangeira no grupo, mas foi admitida. E este foi o meu projecto de negócio, o meu era vender jóias feitas com este tipo de materiais ligados à natureza da Madeira.
Como surgiu a ideia do calhau e da lava?
AV: A ilha é originalmente vulcânica e não temos pedras preciosas, tudo é importado. Tudo o que temos é basalto e lava. O que fazemos é misturar com outras pedras. O resultado esta à vista. Somos nós que fazemos aqui as peças. Por exemplo, os brincos, pulseiras e colares são feitas manualmente, as peças com prata são encomendadas a ourives em Portugal, ou na Suiça.
E a ideia para estas peças as orquídeas?
AV: As flores foram as primeiras. Mas, depois tinha tantos clientes a pedir-me mais peças que decidi alargar. O projecto inicial era só as flores e artesanato local. As pessoas cá vendem bordados e esse tipo de coisas, mas como há muito, eu decidi especializa-me nesta parte das jóias, que é inovadora.
Tem muita procura pelo que vejo…
AV: Sim, neste momento tenho muitos clientes, mas tudo é sazonal. Quando tem turistas há mais negócio e quando estamos em época baixa, ao igual que todos os negócios vendo menos. Eu faço bastante publicidade. O cliente que entra aqui já sabe, já tem essa informação, o que procura.
A pintura explodiu na sua vida, após a maternidade. No entanto, sempre sentiu a necessidade de expressar essa paixão desde a sua infância. Um primeiro amor que a acompanhou ao longo da vida e que se revelou na maturidade
Comecemos pela sua formação, porque o design?
Helena Nunes: Efectivamente, era um gosto que tinha desde pequena pela arte, pelo desenho, desenhava, desenhava, desenhava. Realmente a minha tendência era a área artística. Acabei por um ir para um curso de design.
Não escolheu uma especialidade?
Na altura, eu quando me licenciei em design era genérico. Interiores, gráfico, ou industrial. Fui de facto uma formação muito intensa a nível de técnicas de desenho. O estudo da cor. A história da arte, fui um curso bastante completo no IADE, que é uma licenciatura e acabei por fazer as belas artes, em pintura.
E é aí que surge o seu gosto pela pintura?
É uma paixão. Desde criança gosto de desenhar e pintar, as cores. É algo que nasce connosco. Ao longo da vida uns tem mais oportunidades, outros menos e de facto sempre estive ligada a arte, ao coleccionismo. Já é uma área de família. Quando acabei o curso não comecei logo a trabalhar em pintura. Era esse sonho que tinha, mas não me sentia preparada, nem com futuro nessa área, aos vinte e poucos anos quando terminei. Tenho um irmão arquitecto que me incentivou muito pouco. E disse deixa lá quando tiveres cinquenta anos pintas uns móveis para a tua casa. Agora tens de ter um emprego a sério. E acabei por estar ligada, no final de oitenta princípios dos noventa, a publicidade. Fiz uma carreira interessante ao nível internacional. Trabalhei nos maiores grupos mundiais. Cheguei a viver em Madrid, numa agência que era a terceira do ranking mundial. Começou por ser uma grande experiência e onde ganhei dinheiro, aos 25 anos tive imensa sorte e mérito porque trabalhava muito. Cheguei a trabalhar para a Mercedes ao nível Ibérico. Foram sendo experiências muito enriquecedoras. A arte era um hobby para mim, nessa altura. Mas, sempre trabalhei com arte. Em vez das aulas de ginástica, ia as aulas de desenho e pintura. E também havia o coleccionismo, sempre viajei, sempre vi exposições nos maiores museus do mundo, sempre fui visitar as maiores feiras do mundo de arte.
Quando decidiu que era agora, o tempo da pintura?
A pintura foi mais depois de coleccionar, depois de representar imensos artistas espanhóis e portugueses. Senti-me muito preparada com grande conhecimento, ao fim de vinte anos a lidar com arte. E senti que também tinha vontade de mostrar o meu trabalho ao mundo, embora já o fizesse, nunca tinha tido essa coragem. Veio com a maternidade. Foi um nascimento de um filho, do desabrochar de uma paixão. Quis também desacelerar o meu ritmo profissional que foi sempre ligado a publicidade. Mais tarde, encetei pela produção de televisão, produzi séries juvenis, a aventura escrita pela Isabel Alçada, actual Ministra da Educação. Sempre estive relacionada com gente ao mais alto nível ligada a pintura, grandes coleccionadores. O meu próprio ex-marido foi sempre ligado à área. E a minha casa que parece mais um museu. De maneira que me sentia muito preparada e quis mostrar ao mundo a minha arte e estou satisfeita.
Como definiria o seu estilo pessoal?
O meu estilo é uma mistura entre o pop art. e o hiperrealismo. Eu gosto muito de pop art., mas gosto de lhe dar uma tónica hiperrealística.
Há uma inspiração no Andy wharhol…
Inspiração poderá ter a ver. A técnica não tem nada a ver. O Andy Wharhol usava a técnica de impressão, a minha é através das técnicas mais difíceis que é o desenho e a pintura. É o renascer do pop art. com as técnicas hiperrealistas. Trabalho muito o realístico feito a mão e estou muito orgulhosa porque o resultado está a vista.
A escolha de cores tão fortes não é ocasional, há como que uma explosão.
É. Eu durante quatro anos tive uma cadeira que era o estudo da cor. Passei a vida a estudar paletas de cor e degrades. Durante esse tempo, não percebia porque tinha de estudar o estudo da cor. Cheguei a conclusão que foi a ferramenta mais importante da minha vida. Eu tenho uma enorme necessidade de cor dentro de mim. Da forma como me visto, da decoração das casas que faço, já que estou ligada ao design de interiores hoje em dia. E para mim é uma grade necessidade. O que também é o resultado da minha obra que é a cor.
E esta exposição?
Eu acho que embora tenha aqui alguns trabalhos académicos como nus, com o trabalho hiperrealista é onde de facto me sinto à vontade. O que me transmite mais energia são os resultados através da cor.
É difícil o mercado de arte para as mulheres?
É tão difícil para os homens, como para as mulheres. Antigamente não havia mulheres artistas, mas hoje somos grande uma maioria. Tem grandes vantagens para uma mulher ser artista plástica nos tempos de hoje. Há uma atitude de independência. Não sei se chamaria irreverente, acho que não somos diferentes dos outros. Mas, temos uma atitude própria e depende da nossa vida pessoal e do tempo como queremos geri-lo. E cruzando essa disponibilidade com os filhos e a família, tem algumas vantagens.
Como vê o panorama da arte em Portugal?
Esta evolutiva. Precisávamos mais investimento ao nível do Governo. Investir em grandes exposições e museus. Compra de grandes obras de arte.
Não acha que deveria haver mais mecenato? Vamos ao exterior e vemos nos museus um grande suporte por parte de mecenas e cá não se vê
Há muito pouco. E é uma óptima oportunidade. Acho que não há por falta de conhecimento. A maioria das pessoas não percebe suficiente de arte para usar essa ferramenta até que é muito interessante. Temos uma meia dúzia de pessoas, temos o exemplo do Joe Berardo, que é uma das razões de estar na Madeira, a convite do grupo Savoy, também do presidente da Câmara do Funchal, que tem uma enorme sensibilidade artística. Mas, são uma minoria de facto, por isso se destacam tanto nesse universo. Mas era de louvar que fossem mais. Eu própria sou uma coleccionadora. Não só do meu trabalho, como de outros. Gosto de ajudar para o desenvolvimento artístico. E acho acima de tudo, na actual panorâmica mundial o maior investimento de sempre, é na arte. É o que dá mais retorno. É o que se vai valorizando ao longo do tempo. Um carro desvaloriza. O imobiliário depende do metro quadrado. A arte não é uma coisa nem outra. Só se pode valorizar ao longo do tempo e transversal ao longo dos séculos.
Qual é o seu próximo projecto?
Tenho vários projectos. Um dos grandes desafios é um trabalho para o museu das Tecnologias, é sobre a ecologia. Ligada ao conceito da Casa do Futuro onde vou incluir imensa arte. Vai ser um projecto assinado por mim. Onde vai estar patente imensa arte e tecnologia. No caso como não é um espaço muito grande, vão ser obras minhas. São três e quatro peças grandes. É um investimento meu, mais uma vez, é uma parceria, mas é um investimento pessoal.
Mas, pretende deixar de lado as outras vertentes da sua área profissional para seguir pintura?
Sim, nos últimos dez anos estou dedicada exclusivamente a pintura e a aplicação do meu trabalho. Inclui-la em espaços públicos. Os hotéis dão-me um especial gozo, porque é um espaço público onde passa muita gente. Chegamos a muita gente e é uma forma de levarmos arte as pessoas, uma vez que não conseguimos levar as pessoas a arte.
É um jovem à procura da imagem perfeita. Gosta do espontâneo. Do instante imortalizado no frame da sua objectiva. Quer captar a essência das pessoas sem elas darem por isso. É freelancer e está sempre em busca da próxima aventura…
João Mendonça não se define como um fotojornalista, ou fotografo, nem mesmo como um artista, ele interpreta o seu trabalho, “ como uma pessoa que vê, que olha o que esta a sua volta e tenta descobrir coisas novas”. O que lhe interessa são as pessoas, os sujeitos da sua lente porque considera que, “ não há nenhuma igual e cada uma tem a sua essência, tem algo de especial, acabo por achar interessante que cada uma é capaz de ser diferente em vários momentos. Eu procuro captar-lhes a alma”. Ele é como um camaleão que procura confundir-se com a paisagem que o circunda para “captar o momento certo, o momento chave”. Gosta dessa sensação de invisibilidade porque não aprecia os sorrisos forçados, diz mesmo que “ter de interagir com as pessoas não é o meu forte, quero passar desapercebido, ser discreto porque sei que interfiro com a imagem, e quando as pessoas notam a existência de uma câmara tendem a passar a imagem que querem deles”. E como procura a crueza e a realidade nua nas suas fotografias, aborda a imagem sempre tendo em mente a luz, ou melhor a falta dela, “ as imagens vivem de luz e de sombra”. Ilustra essa procura com uma foto a preto e branco de uma rapariga perdida no meio da multidão, alguém que procura com o olhar e não encontra. É uma menina talvez perdida e assustada e foi esse momento, esse instante que captou naquela que considera ser a sua imagem preferida. Ela não o viu. E ele captou-lhe a angústia dessa fracção de segundos que ficou eternizada para sempre pela objectiva da sua máquina.
A natureza, por outro lado, aborda-a com cautela, como alguém que trespassa um domínio que não o seu. Acha que é difícil fotografa-la como se tivesse diante de uma identidade única em permanente movimento, como se ser demasiado exuberante e luxuriante fosse defeito. É bela, mas “não é o especial que procuro”. Há uma alegre desordem natural, ele procura o enquadramento perfeito na imagem. Uma geometria bem definida que aprendeu com o mestre Cartier-Bresson, com o qual se identifica em estilo, mas não alcança em qualidade todavia. Busca as linhas, procura a simetria dos objectos e recorda uma foto que captou de um homem em fuga, no temporal de 20 de Fevereiro de 2010. É alguém que tenta escapar da natureza em fúria, vê-mo-lo de costas para a fotografia, foge. A imagem captou isso, a tragédia das águas que levam tudo e afinal o homem não passa de uma marioneta. Não manda, não é tolerado. “A linhas da mesa que desliza”, diz, “dão um sentido de continuidade e isso passa a ideia de fuga reforçado pelo sujeito que esta no canto”. João Mendonça não é frio quando descreve a cena, ele pressentiu a aflição daquele homem e decidiu paralisar esse instante. De registar, o senhor não morreu. Mas, para história fica o registo do olhar de João Mendonça de um período que não queremos recordar. É esse o seu destino ser a testemunha ocular silenciosa da história. E é tudo o que ele quer.
Mafalda Casais é um dos nomes emergentes no panorama do design industrial. Uma jovem promessa que aposta na recriação de utensílios que fazem parte do nosso quotidiano diário, uma abordagem diferente para a nossas cozinhas. A inspiração surge das necessidades do dia-a-dia para os novos consumidores. Com certeza um nome a reter.
Porque a escolha do mundo doméstico em geral?
Mafalda Casais: Eu fiz um trabalho o ano passado sobre a paisagem doméstica, ou seja, “ o gosto pelo quotidiano e pela cozinha em particular”, e escolhi para projecto do meu primeiro ano de mestrado. Os resultados demonstraram que este tipo de projecto é como uma paixão. E no ano seguinte decidi continuar a abordagem relacionada com a cozinha.
E o trem de cozinha?
MC: Foi um trabalho académico, tínhamos que escolher na lista que nos foi dado e como gosto do espaço da cozinha decidi escolher o trem. Os materiais usados são só os tradicionais. Cobre, o barro e ferro. Mas, optei por investigar como se poderiam compor as camadas dentro desses tipos de materiais para optimizar o seu uso.
E o Faqueiro?
MC: Foi um dos primeiros projectos que fiz na licenciatura, é um exercício de estilo, não esta melhorado, porque se baseia na forma física do faqueiro ocidental. Tentei dar-lhe um aspecto mais moderno, com mais design, mais dentro do que um jovem gostaria.
Procuras nos teus conceitos abordar a questão da ecologia?
MC: Há sempre uma preocupação ambiental em todos os projectos. Encontro-me neste momento a desenvolver a dissertação de Mestrado sob o tema “A pequena cozinha verde, design para o novo consumidor” no qual exploro não só a ecologia no design, como as tendências emergentes nos estilos de vida. Trata-se uma uma cozinha ecológica para um espaço mínimo. Está pensado para pessoas que alugam T0, ou estúdios, jovens que tem pouco espaço a seu dispor e querem ter conforto nessa tarefa. Neste projecto não quis ser original, o que se pretendia era que fosse compacta, ou seja um equipamento com o essencial. São também materiais tradicionais, os mais reais possíveis que tenham uma identidade reconhecível, que passem o conceito de solidez, calor. São quase integrais, sem serem refinados.
Os designers portugueses Jorge Moita e Daniela Pais criaram uma mala que revolucionou a forma como vemos o vestuário. Uma criação do grupo KRVKURVA que ganhou maior projecção no estrangeiro. Contudo, em 2002, ambos venceram o troféu nacional Sena da Silva, do CPD, para a área de design de produto. Um sucesso desta dupla de designers que se vêm repetindo através das várias edições limitadas das La.Gas um pouco por todo o mundo.
Como deram início ao conceito La.Ga?
Daniela Pais: O conceito da mala nasceu de um projecto da faculdade para o final de curso em que começei a abordar a temática da textura de um material inserida numa colecção de moda. "Na corda Bamba e sem rede”, em 2002. Cercada pelo mundo da informação em expansão fornecido pela Internet, eu escolhi para explorar e apresentar como um tema final de meus estudos de Arquitectura de Design de Moda , o objecto da informação e entropia. Utilizando imagens de satélite do rio Amazonas e imagens microscópicas dos olhos humanos para imprimir em Tyvek e depois para destruir e repor em uma ordem diferente um tecido novo que foi criado. Na colecção os padrões e o imaginário estão jogando com pontos de referências e olhando para a possibilidade de um novo equilíbrio.
Porquê a escolha deste material? "
DP: É um material que parece folha de papel, é leve, são 50 gramas que suportam 55Kg, é resistente às partículas radioactivas e químicas e pode ser lavado na máquina. Ao princípio usamos o tyvek para as peças da colecção, no entanto, para vestuário não se adequava porque era um material muito duro. Então decidimos usa-lo para fazer acessórios. O formato, ao contrário do que se diz, não é uma lágrima, a ideia subjacente é de como se de uma peça de vestuário se trata-se, algo que se veste usando-o ao ombro. A ideia é sempre usar materiais pouco convencionais.
Como surgiu o sucesso da La.Ga?
DP: Foi com a nossa primeira encomenda, através da Gala Fernandez, a project manager da fábrica features da Benetton. Ela estava em Portugal e eu decidi levar o protótipo que inicialmente era branco comigo, ela viu, gostou e fez de imediato uma encomenda para 200 unidades, que foram vendidas em Itália. Devemos o nosso sucesso à sua visão, dai a nossa homenagem, através do nome da mala, é Gala, só que invertido. Os padrões gráficos só surgiram mais tarde, quando as pessoas começaram a interrogar-se se não era possível usar outro tipo de cor e ilustração, e assim em 2003 a KRV KURVA desenvolveu vários projectos para uma evolução deste produto, “you turn at her service” foi na realidade um convite a vários artistas internacionais para que fosse feito uma intervenção gráfica sobre o produto. A colecção “To love is not a option” foi feita por vários ilustradores gráficos portugueses para dar uma nova vida a La.Ga em termos visuais. A ideia é sempre inovar, com uma consciência social, mas sem esquecer que se trata de uma peça de design.
E em Portugal? Como atingiram o sucesso?
Primeiro foi lá fora e só depois é que foi cá. Foi curioso porque na Expo 2005, estivemos a convite do governo português no Japão e o sucesso da mala foi tal, os japoneses como sabe são fanáticos pela beleza sob todas as formas, que as pessoas compraram a La.Ga e pura e simplesmente colocaram-na nas paredes como se fosse uma obra de arte. A La.Ga mais recentemente, em Agosto 2010, com uma parceria com o Pavilhão do Conhecimento/ Ciência viva ( a proposito do aniversário do pavilhão) foi alvo de uma nova edição. Chama-se "Love is Science" / "Amor é Ciência" e é feita graficamente com as moleculas que o nosso corpo liberta quando estamos apaixonados. Esta edição para mim tem um significado especial porque faz uma transição a meu ver no uso da La.Ga em termos graficos, passando a dar mais importancia ao conteudo da mensagem e tenta transmitir um conhecimento em primeiro lugar e não apenas uma imagem visual.
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