João Sabino é um designer que não baixa os braços e dá a conhecer ao mundo a sua interpretação pessoal dos objectos que povoam o nosso quotidiano.
Como surgiu a ideia de Keybag? Foi criada de propósito para a publicidade da Optimus?
João Sabino: A mala surgiu muito antes do anúncio da optimus. Fui uma ideia que desenvolvi de propósito para a área-projecto ainda na ESAD, a primeira opção era bastante quadrada e não tinha desenvolvido muito o conceito das teclas, na segunda houve um maior trabalho nas peças e no fim, na terceira versão quis alterar a forma, na medida em que criei uma mala mais pequena que se adapta ao formato da mão e não para usar a tiracolo, obrigar as pessoas a leva-la na mão e vê-la, tipo como um objecto.
Qual foi tipo de material que usou?
JS: Foi desde sempre em ABS, é um plástico, foi feito de propósito assim para o projecto. É um material muito versátil e económico.
Quando a mala de teclas apareceu no anúncio nos EUA estava a espera daquele sucesso, ou já tinha esse feedback anteriormente?
JS: A publicidade nos EUA surgiu de um convite por parte da AT&T para que a Keybag integra-se num anúncio da empresa, porque de alguma forma a mala de teclas remetia para a ideia da marca e fui aí que me apercebi do sucesso do meu conceito.
Mas teve muitas encomendas depois desse anúncio?
JS: Sim, tive muitos pedidos depois de ter saído o anúncio, as vendas dispararam e surgiu outra oportunidade que possibilitou a criação de uma mala com teclas de prata.
Uma surpresa para quem mais ama, uma frase que marcou a sua vida, ou apenas mais cor na sua existência. Acima de tudo mude o visual da sua casa de uma forma fácil, económica e original.
A Lovewalls é um marca de papel de parede em vinil, que revolucionou a forma como olhamos para o nosso mundo interior. Um conceito de comunicação de interiores em vinil, económico, e de fácil execução que resultou de uma ideia da agência FEP Design, que segundo uma das suas sócias fundadoras, Fedra Pinto adveio de uma simples constatação: “Há uns 3 anos surgiu, ou melhor ressurgiu a decoração das paredes com papel parede, em grande força. Só que têm um inconveniente, é caro e não é fácil de aplicar e à partida deverá estar lá uns dez anos. Por isso, começamos a nós aperceber que, o vinil é um material extremamente versátil, económico e fácil de aplicar, e começamos a pensar que no material com que trabalhávamos todos os dias havia uma potencial por explorar. No entanto, não foi uma ideia única e inovadora, havia algumas empresas pelo mundo fora que já faziam pontualmente coisas idênticas. Decidimos então trabalhar melhor esse material, nunca para uma parede inteira, apenas como apontamento, que o cliente pode colocar hoje e passado duas ou três semanas retirar para fazer outra coisa”.
Uma concepção inovadora que ganhou um maior impacto e um elevado número de encomendas pelo facto de poder ser encomendado única e exclusivamente através do site. Uma opção de venda do produto simplificada já que, “inicialmente como não tínhamos nenhum valor para investir, a equipa de criativos elaborava uma colecção e quando as pessoas encomendavam, já nós tínhamos a garantia do dinheiro para a produção da encomenda. Foi também uma forma de optimizar o processo”. O facto da agência estar sediada na ilha da Madeira, nunca foi um obstáculo, porque a Internet foi essencial neste processo, segundo a criativa, “podemos chegar a todo o lado. E como exemplo cita “vou sempre buscar essa referência dos dias dos namorados, quando o ano passado, houve a divulgação da marca na televisão, a peça que fizeram teve uma eficácia enorme e nós vendemos para o país inteiro, desde Feixo de Espada à Cinta até lá baixo ao Algarve, do Norte ao Sul, porque a marca escolheu uma opção que foi a venda online”.
E mais, o Lovewall é um negócio gerido pela quantidade, “se fosse um Rolls Royce bastava vender um, mas como é um produto económico e porque facilmente as pessoas o podem renovar, a ideia é mesmo ir mais longe possível nos quatro cantos do mundo. Neste momento, países como Angola e Moçambique estão interessadas na marca”.
Outro dos pontos chave que tornou este produto um sucesso de vendas foi o de ser o próprio cliente a coloca-lo na parede. Um entusiasmo acrescido pelo facto de também ser possível individualizar a mensagem, ou imagens que o cliente pretende colocar no papel de vinil, como nos elucida Fedra Pinto, “fazemos pedidos exclusivos apesar de não estar nenhum exemplo no site, e já efectuamos a decoração no interior de uma habitação particular, medimos as paredes e auscultamos as necessidades do cliente. Apresentamos várias propostas feitas de raiz, e o cliente escolheu aquela que foi de encontro ao seu gosto. Também já redimensionamos todo o espaço de uma creche, ou seja, todas as paredes nos vários andares. Eram zonas que os pais percorriam, e que possuíam apontamentos de Lovewalls”.
Quanto ao futuro, a FEP Design pretende, “em termos de projecto, não quero ficar aqui, a nossa ideia é expandi-la para outras áreas comerciais, criar um package, entrar nas lojas de decoração de interiores e fazer um stock. Ter uma colecção à venda para quem não vai à Internet e uma opção de escolha desta nova vertente”. Outra das ideias em carteiras é também a criação de um quiosque, “onde as pessoas possam seleccionar, ou já ter feito um artigo para usar nas suas paredes”. A agência como pretende ainda estar na vanguarda deste ramo de negócio já esta a equacionar a utilização de outros materiais mais, neste âmbito Freda Pinto acrescenta, “sempre na perspectiva de uma aplicação rápida fácil para que o próprio cliente pode usar, que seja económico, e com um design estimulante. Poderá não ser só vinil e se for deverá ser enriquecido com mais qualquer coisa. Pode ser uma matéria mais orgânica e reciclável”.
O Porto Santo possui a melhor praia de areia ao nível do território nacional. Faça comigo uma viagem até este pequeno recanto do paraíso.
A melhor forma de chegar até o Porto Santo é de barco e de preferência partindo da Madeira, porquê? Passo a contar. A ilha dourada, que deve este nome aos seus nove quilómetros de praia com uma areia tão fina que parece pó de ouro, fica a 37 km a nordeste da ilha da Madeira, 500 km de África e 900 km da capital, Lisboa. A melhor forma de lá chegar é de barco, de preferência a partir do Porto Santo line, com saída do Funchal. São três horas de travessia que valem pela beleza paisagística que se observa a bombordo, porque a viagem acompanha a linha costeira da Madeira e aí somos espectadores privilegiados da paisagem urbana das várias localidades ao sul da ilha. Avistamos as construções que pululam como cogumelos ao longo das encostas e admiramos a frente-mar de algumas das cidades mais emblemáticas da Região. Ao estibordo, se o tempo estiver de feição, somos confrontados com a beleza árida das ilhas desertas, respectivamente, a ilha pequena, a grande e a chã. É um reservatório natural de vida selvagem, tendo sido designado como parque desde o ano de 1971. Quando a embarcação chega ao extremo oriental da ilha, o Caniçal, mais concretamente a ponta de São Lourenço, é neste istmo de rochedo vulcânico que começa o Mar da Travessa. Trata-se de uma língua do Oceano Atlântico, que fica situada entre a Madeira e o Porto Santo, e que é famoso pela sua forte ondulação e correntes marítimas. Aqui a viagem pode tornar-se mais ondulante por assim dizer, mas sem grandes motivos de preocupação já que vamos ao favor da corrente, no sentido contrário é não se pode afirmar o mesmo, por isso preparem-se para enjoar. Eis-nos chegados ao único ponto desta travessia onde só se avista o oceano azul, mais uma hora embalados pelo mar, até conseguirmos avistar o nosso destino, o Porto Santo. E mais uma vez o ferry acompanha a linha costeira desta ilha, que no caso implica avistar os tais nove quilómetros de areal maravilhoso. O porto fica situado na Vila Baleira, que deve o seu nome à caça da baleia, e é capital do Porto Santo. A ilha tem 42,40 km2 de território e não poderia ser mais oposto em termos paisagísticos em relação à Madeira. É plana e com uma única freguesia já que possui apenas cerca de 5 500 habitantes. É mais árida e seca, nota-se logo a inexistência de uma vegetação luxuriante que é o apanágio da pérola do Atlântico. A primeira impressão é de calma e serenidade. A vida aqui vai-se levando ao sabor do vento. A primeira coisa a fazer depois de abandonar a embarcação é nadar nas águas cristalinas verde-esmeralda que rondam os 22 graus de temperatura. É o paraíso na terra. A ondulação é fraca o que potencia ainda mais, os banhos recorrentes. O areal tem de ser percorrido a pé. Relaxe é uma caminhada agradável e deve ser feita acompanhada de uma boa conversa. A ilha é pequena mas merece um périplo de preferência de bicicleta. É possível dar á volta a ilha em duas rodas, demora um dia, com paragem no Pico do Facho para um merecido piquenique, o pior é a sombra, o melhor a falta dela. Leve consigo um guarda-sol vai valer a pena. Visite um dos muitos moinhos que ainda subsistem no Porto Santo. O pico de Ana Ferreira, é outro dos pontos altos desta visita, pela sua importância geológica, aliás alguns do ilhéus e formações rochosas do Porto Santo, são autênticos museus naturais vivos, mostram a evolução de um vulcão até a sua extinção. Argh, já é tempo de voltar à civilização, mas antes de partir, um último olhar a um pôr-do-sol pintado de lápis-lazúli. Até sempre.
Está crónica pretende “viajar” pelo monumento da Nossa Senhora da Vitória, mais conhecido por Mosteiro da Batalha. Um dos melhores exemplos arquitectónicos do estilo gótico no nosso país.
No ano do senhor de 1385 passados 14 noites do mês de Agosto, na véspera do dia da Assunção da Nossa Senhora, estavam os espanhóis e os portugueses a preparar-se para uma batalha, para decidir quem iria ficar com o trono português, quando num momento de profunda introspecção religiosa, Dom João, o mestre de Avis, fez um voto a virgem, se viesse a ganhar esta batalha, iria mandar construir um monumento grandioso em sua honra naquele local. E foi assim que tudo começou…Este é o prelúdio da minha visita guiada por um dos monumentos mais importantes da história de Portugal e um dos mais emblemáticos da arquitectura gótica no nosso país. Quiçá do mundo. Venha daí.
São cerca de 130 quilómetros que separam Lisboa da Vila da Batalha, onde se situa o mosteiro. A primeira impressão que se tem à chegada é que embora haja uma localidade em seu redor é este monumento que domina a paisagem, não pela sua grandeza em termos de escala, impõem-se pela sua beleza estética. É ricamente decorado por uma espécie de rendilhados que enriquecem o conjunto e terminam com um aviso, as gárgulas, as guardiãs deste templo monacal.
É um monumento que parece erguer-se em direcção ao infinito. Mal atravessamos a entrada principal, somos dominados por três naves verticais com coberturas em abóbadas que terminam numa principal radiosamente alva e leve, adornada de vitrais que contam a história das cruzadas e com um pormenor curioso, estrelas! As ogivas são profusamente decoradas com motivos vegetais estilizados, marítimos e esferas amilares, símbolos do reino.
A capela do fundador, situado à direita, é onde está sepultado o rei que provocou a dita batalha, Dom João I, mestre de Avis, filho bastardo de D.Pedro I, acompanhado neste sono eterno pela sua consorte, Dona Filipa de Lencastre, rainha de Portugal. A ladear os túmulos régios, á sul, temos os sepulcros de seus filhos. Há um em particular que quero salientar, o sarcófago do infante, Dom Henrique, o navegador. Foi este príncipe real que empreendeu as descobertas marítimas portuguesas. À medida que percorremos mais divisões, eis que desembocamos nos claustros, embora na origem da sua construção esteja uma batalha, este templo foi habitado por frades dominicanos. Não deixa de ser irónico. Neste espaço interno somos confrontados com várias dependências monacais. Mas, o mais curioso da nossa visita ainda está para vir. A entrada faz-se através de uma exuberante porta de pedra ricamente esculpida, lembra a arte mudéjar, de inspiração árabe, com 15 metros de altura, no chamado estilo manuelino, alusão ao irmão do navegador, o El-rei Dom Manuel, para as chamadas capelas imperfeitas. O mosteiro embora edificado no reinado de D.João I, nunca foi verdadeiramente terminado ao longo dos séculos. As sete radiantes são disso um exemplo, em forma octogonal, são ligadas entre si por uma construção mais pequena que servia como sacristia para os monges. Aliás, o templo é uma confluência de vários estilos arquitectónicos, derivado dos gostos dos reis que foram sendo sepultados neste monumento. É acima de tudo um legado da chamada geração de Avis, uma das mais brilhantes que governaram o então reino de Portugal e merece só por isso uma visita.
Faça uma caminhada pelas montanhas da Madeira e conheça a verdadeira ilha, a menos conhecida. Venha conhecer a sua beleza natural.
Percorrer as montanhas é um desafio que só é acessível para alguns. As levadas e trilhos que serpenteiam a ilha da Madeira constituem um desses reptos em termos de capacidade física e mental. Vou nesta crónica referir, o percurso que engloba o pico do Areeiro, com 1817 metros até à montanha mais alta do arquipélago, o Ruivo, com 1861 metros de altitude. É um passeio inusitado pelo facto de ligar as duas montanhas mais altas da Madeira. É acima de tudo um percurso que não pode ser empreendido por pessoas com vertigens e problemas de coração. Vou passar a explicar porquê.
A nossa jornada tem início pela manhã muito cedo, o sol está coberto pelas neblinas matinais que tapam a montanha, na Pousada do Pico do Areeiro. O trilho é feito de pedras que nos guiam até a nossa primeira paragem o miradouro, o ninho da manta. A partir deste ponto a montanha engole-nos e põem-nos à prova. São vários quilómetros de paisagem agreste, quase sem vegetação em que somos bafejadas constantemente pelo vento impiedoso. Há que ter um cuidado redobrado, qualquer passo em falso e podemos cair pelos precipícios que nos rodeiam ao longo do caminho. A grande cordilheira central é avassaladora, somos meros pontos numa paisagem que nos subjuga. A montanha é o protagonista. A rocha irrompe pelas falésias que entre-cortam as encostas. A vegetação rasteira pinta de verde o cenário e seguimos com a sensação nítida da nossa insignificância, perante este templo natural tão imponente. Faz-nos mesmo acreditar na intervenção divina, tal é a beleza que nos rodeia.
No vale da Fajã da Nogueira, momento ideal para uma paragem. Nesta latitude, podemos avistar algumas das aves mais raras da ilha, os patarros e as famosas freiras da Madeira, mas elas devem dar o ar da sua graça apenas a alguns privilegiados, nomeadamente, o autor do nosso guia, Raimundo Quintal, porque nós não tivemos sorte nenhuma! Nem sequer uma manta, a maior ave de rapina do arquipélago. A prova de fogo avizinha-se. São escadas escavadas na montanha, às centenas, que é necessário descer. Exige um grande esforço físico redobrado, por parte dos músculos das pernas. Não é nada fácil, acreditem. E não, não contei os degraus. Mas, a dolorosa não termina aqui. Aproxima-se a subida para o Pico Ruivo. E neste ponto da narrativa adianto que já só dizia mal da minha vida, porque sentia dores nas pernas. Um caminhante é um masoquista. Só pode. Não há outra explicação para sofrer de forma consciente e propositada.
A subida até o pico mais alto da ilha é um dos trilhos mais duros do percurso por um único motivo, já estamos cansados e a subida é bastante íngreme, mas o final vale a pena. É preciso penar para verdadeiramente apreciar a beleza que nos circunda. É literalmente ter a sensação de estar no topo do mundo, onde só se ouve o silvo do vento, a nossa respiração ofegante e a natureza selvagem. É a montanha verdejante, que nos envolve por todos os lados. Sentamo-nos e saboreamos o momento em silêncio. Depois rimo-nos às gargalhadas pelo simples facto de termos conseguido. Neste ataque de loucura momentâneo, os estrangeiros que terminaram o percurso, também nos acompanham com largos sorrisos. Palavras para quê!
Trata-se de uma crónica diferente das restantes porque abordo a minha experiência pessoal durante uma tarde de filmagens.
Vou ser franca quando recebi o convite da produção de “balas e bolinhos” para assistir a um dia de filmagens fiquei deveras entusiasmada. Sempre quis viver essa experiência porque simplesmente gosto de cinema. Devo confessar que tinha uma ideia um tanto quanto romântica do que seria estar no set, rodeada de actores, técnicos e do realizador. Mas, deixemo-nos de divagações e vamos ao que interessa…A minha história têm início no Cace Cultural do Porto, numa tarde cheia de sol, ponto de encontro para todos os fãs da saga destes quatro malandros, a quem a produção decidiu brindar com a oportunidade de participar num casting como figurantes para este último capítulo. A adesão foi muita, em particular do sexo masculino e de várias idades. Nova partida rumo à Gondomar local escolhido para uma cena de exteriores. Um terreno de cariz rural está na base desta cena muito importante e cheia de acção. À chegada há um grande frenesim de gente que está a ultimar o acampamento de ciganos. Nada foi deixado ao acaso e é só isto que vou adiantar. Não vou descrever o cenário, porque dei a minha palavra a produção que não iria revelar em demasiado para que a surpresa seja total. E vai ser! Vamos então ao que interessa.
Em Gondomar
O realizador, Luís Ismael, semi-caracterizado para as filmagens do dia, “discute” com os técnicos o melhor local para montar a câmara. Aqui faço um pequeno parêntese, num filme com está natureza, muito low cost, por norma são rodados dois takes em que a câmara de filmar é posicionada de forma diferente. Isto porquê? Para que o realizador, durante a montagem do filme possa dispor de dois planos diferentes, porque se algo correr mal com um deles, haja pelo menos um take suplente. Ou apenas para poder optar pelo melhor. Sinto muito se os decepcionei até aqui. Isto não é um filme do Steven Spielberg, com dezenas de ângulos da mesma cena. Esta é uma produção à portuguesa, sempre à rasquinha e com muita boa vontade de todos. Enquanto decorre este compasso de espera, de decide não decide, monta ou não a câmara e onde, os actores João Pires e Jorge Neto e os figurantes dirigem-se ao local onde a especialista em guarda-roupa e a maquilhadora se encarregam de “dar vida” aos personagens que vão participar das filmagens. Um a um todos têm de passar por esta área para serem caracterizados. Mas eis que surge um imprevisto. Embora tenham aparecido algumas figurantes femininas, foram apesar de tudo eram em número insuficiente para a cena em causa, um contra-tempo facilmente resolvido pelo próprio staff feminino da produção. Passo a explicar, qual é a maior virtude portuguesa? Não, não é o que estão a pensar! Ou talvez sim! É a nossa capacidade de desenrascanço. E é isso que acontece também no “balas e bolinhos”. Faltam figuras femininas? Uma das raparigas responsáveis pelo catering passa a ser uma das personagens e se for necessário improvisa-se uma frase. Foi o caso. Toda a gente que integra a equipa é multifunções, até os cameramen fazem às vezes de carpinteiros para a montagem dos cenários se tal for necessário. É uma equipa coesa fruto de uma cumplicidade construída ao longo de onze anos. A estreia do primeiro filme foi em 2001. Imaginem. A paixão é tal que alguns dos jovens que integram actualmente a equipa técnica “cresceram” no set de filmagens, literalmente. Depois desta explicação muito lamechas do espírito de equipa que se vive nas filmagens, mas que é e friso a mais pura das verdades, é necessário fazer um novo ponto de situação temporal.
Após uma tarde ensolarada de espera eis que finalmente se vislumbra o verdadeiro inicio das gravações programadas para o dia. Apesar de todo o buliço em volta do acontecimento, o facto é que é uma seca. Espera-se e desespera-se muito. Só depois de tudo pronto é são filmadas as cenas. Nesta em particular, as personagens Tone, o Rato e o Bino vão ao encontro de novos sarilhos com os ciganos. E sinto muito decepcionar a malta, mas tudo acontece rapidamente. Ouvem-se as indicações do director de cena, grita-se silêncio, logo depois acção e em minutos que parecem meros instantes fica tudo pronto. Não é nada romântico pessoal! A sério. Depois nova espera para recolocar as câmaras para o plano seguinte e saí mais um take. Sabem o que vós digo? Mais vale esperar pelo filme e assistir a última e mais excitante saga dos quatro malandros mais famosos do cinema português! E não pensem que não gostei de lá estar, foi maravilhoso, mas prefiro a cadeira e as pipocas da praxe. Bom cinema!
É uma das localidades mais belas de Portugal e com merecido valor pela sua beleza arquitectónica e paisagística. Venha por fazer um périplo por esta vila portuguesa.
A vila de Óbidos fica a na região centro do país, no Concelho de Leiria, e é uma das cidadelas fortificadas mais belas de Portugal. Aliás deve o seu nome ao facto de estar rodeada por muros. Se no passado estas paredes eram um meio de defesa das populações, actualmente são um abraço terno da beleza que escondem no seu interior, tipo um ventre que preserva a história de localidade e a sua arquitectura. São recantos inusitados que surgem pelas vielas estreitas, amparadas pelos edifícios imponentes de pedra e caiados de branco. Na rua direita podemos encontrar vestígios de um passado intrinsecamente ligado aos soberanos de Portugal. Em tempos idos, Óbidos foi o local preferido para descanso de reis e até de signatários mouros antes de ser conquistada por Dom Afonso Henrique, primeiro rei de Portugal, pensa-se até que a vila deve à sua origem aos romanos, responsáveis pela construção do muro que rodeia a povoação. O castelo é uma visita obrigatória pela sua imponência arquitectónica, já que se ergue 79 metros acima do nível médio da água do mar. É uma mistura de estilos românicos, gótico e manuelino só para citar alguns, devido às inúmeras invasões de que foi alvo ao longo dos séculos.
A vila das rainhas
Trata-se de uma vila dominada pelas mulheres. Durante séculos, foi pertença da casa das rainhas de Portugal, um estatuto que beneficiou esta localidade com a construção de um aqueduto e chafarizes mandados construir por Dona Catarina e na requalificação urbana de que foi alvo ao longo dos tempos. Visível também é a influência da pintora Josefa de Óbidos, embora tendo sido nascida em Sevilha, foi nesta vila que desenvolveu a sua arte durante o século XVI e que ainda se pode apreciar na Igreja de São Tiago. O amor é outra das tónicas desta cidadela fortificada. Tendo sido o local preferido de reis, rainhas e das suas cortes, como era de prever, a paixão andou à solta pelas ruas estreitas desta localidade. Conta a lenda que pouco antes de Óbidos ser tomada pelo Afonso Henriques, um jovem soldado sonhou que uma bela jovem abria uma das portas da cidade permitindo a entrada das tropas de El-rei de Portugal, como o soberano não se atrevia a contrariar os desígnios do senhor, decidiu atacar pela calada da noite, através deste pórtico que misteriosamente se abriu e permitiu a tomada da vila. A bela jovem desapareceu. Até os nossos dias esta entrada é conhecida pelo nome de Porta da Traição. Boa viagem!
Terra de forte influência mourisca, o Alentejo é o sonho do qual não se quer acordar, isto é, se não fizerem a jornada que decidi encetar.
Lembro-me da primeira vez que visitei o Alentejo. Decidi faze-lo de mochila às costas com mais três amigas, foi uma verdadeira odisseia. Ulisses teria inveja da minha viagem, se a dele foi atribulada, a minha bate aos pontos tudo o que sabem sobre viagens com orçamento apertadíssimo. E quando digo apertado, é quase inexistente. A começar pelo meio de transporte, qual é a forma mais barata de ir até à Costa Alentejana saindo de Lisboa? De autocarro claro, depois de ter atravessado o rio que mais parece o mar no cacilheiro, adivinham qual é?
Chegadas a Setúbal, terra de doces vinhos e marisco maravilhoso que na altura não podia pagar, entrámos no maravilhoso mundo do centro de camionagem bafejadas pelos fumos tóxicos do tubo de escapes e do constante pó negro. Apanhámos o alegado autocarro, era mais um calhambeque a necessitar de reforma imediata, que simplesmente parou em todas as paragens e quando digo todas, é todas a cada cem metros de distância, um pesadelo de para e arranca, ganha impulso e volta a parar que só terminou quando chegamos a Porto Côvo. Chegadas ao paraíso de eleição, o que acontece? A nossa dormida, ou seja, o parque de campismo que ficava no centro, estava lotado. Era bom demais para ser verdade!
Tivemos de andar por um trilho em direcção a um outro parque que nos foi simpaticamente indicado, mas devido às alucinações provocadas pelo sol, (é a única causa plausível que encontrei para semelhante idiotice), uma das minhas amigas decide que devemos cortar caminho pelos aparentemente inofensivos montes Alentejanos. Uma jornada épica que demorou o dobro do tempo e durante o qual fomos “atacadas” pelos cardos secos de forma impiedosa, os jorros de sangue dos filmes de Mel Gibson, não são nada perante as nossas pernas ensanguentadas.
Azar que se preze nunca vem só e nada mais chegámos, cansadas e queimadas pelo sol, ao nosso destino ainda tivemos de aguardar por uma vaga. E neste ponto da estória, tenho que fazer um pequeno parênteses, para nós não havia nada mais importante naquele momento do que uma tenda à sombra e um banho. Nada disso. Agora percebem a alusão a viagem de Ulisses? A tenda foi montada ao sol, porque todas as árvores (e eram poucas), estavam ocupadas e a água para banhos só estava disponível no final da tarde.
Nos trilhos alentejanos
A manha seguinte despertou queimando. Às cinco e meia da manhã sentia-se já um calor abrasador dentro da tenda, uma desculpa perfeita para ir até à praia. Esta, people é a parte boa do relato. A Costa Vicentina é linda. É um areal branco de perder a vista, que surge inesperadamente do ventre das rochas. As casas caiadas de branco salpicam a paisagem e o vento suão dá-nos as boas vindas a um dos lugares mais mágicos de Portugal. A praia Grande é um desses paraísos na terra, só interrompido pelo batuque irritante de uns surfistas que nos acompanhou ao longo da nossa estadia. Estavam à espera da música do Rui Veloso? Pois também eu! Continuando, sendo no passado um dos refúgios preferidos de piratas, foi a lenda de uma moura que encantou os portugueses e que fez desta localidade das mais visitadas do nosso país. A praia da ilha do pessegueiro é difícil de aceder a pé, claro, mas o esforço vale a pena. É um local quase inóspito, deliciosamente selvagem e com um sabor intenso a sal. Nadar nestas águas é um desafio, embora um pouco fria, mesmo em Agosto, é preciso ter cuidado com as ondas. Neptuno não brinca em serviço.
Uma das minhas amigas, a mesma da miragem, decidiu voltar as costas ao mar, coisa que nunca se faz, e foi apanhada por uma onda e… perdeu o fato de banho, num processo que posso descrever com um ciclo de máquina de lavar. E no final saímos limpinhas. Ahhh! Esqueci de referir que a onda que motivou o “desaparecimento” momentâneo da minha colega, provocou-lhe um corte no pé. Daí eu aproveitar para falar dos alentejanos. O curativo teve lugar no único posto que havia em toda a vila, num raio de vários quilómetros e devo dizer que foi outra aventura. O sotaque da senhora enfermeira era tão cerrado que saímos de lá sem perceber nada. Todas abanávamos a cabeça que sim em alegre uníssono perante o seu amável discurso acompanhado de um largo sorriso. Irresistível. Os alentejanos são de uma simpatia genuína, característica que aliás é apanágio dos portugueses de Norte a Sul, oferecem-se para ajudar em qualquer ocasião e bons conhecedores do seu clima estão sempre a oferecer água para evitar as insolações.
Depois desta nova aventura, nada mais reconfortante do que comer uma refeição alentejana. A única de toda a viagem e que soube pela vida no restaurante “o Balneário”, espero que ainda exista. Comemos amêijoas ao pescador, uma maravilha. Os doces são à base de amêndoa e uma tentação constante. Aviso à navegação, o café no final da refeição é algo que desaconselho com alguma veemência, devido ao calcário existente na água, o sabor é intenso e diferente para dizer o mínimo. Não tomei um que fosse desde o primeiro dia. Ninguém tomou. Havia um grande deficit de cafeína na nossa corrente sanguínea que só foi reposto quando chegamos ao nosso ponto de partida, Setúbal. E já agora, a ferida? Não era eu. Foi uma viagem no mínimo atribulada, mas o amor que sinto pelo Alentejo, esse ficou para sempre.
João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira descobriram a Madeira no século XV. Eu ’descobri-a’ muitos séculos depois.
Esta fascinante ilha verde conquistou-me para sempre. Os dias solarengos. A frescura do mar. Os frutos exóticos. As montanhas majestáticas. E as amizades eternas. Há sempre uma razão para regressar.“Senhores passageiros, dentro de momentos aterraremos no Funchal. Por favor, apertem os cintos de segurança e endireitem os assentos. Muito obrigada”.Estas palavras despertam-me do mundo de Hypnos (deus grego do sono). Ainda estremunhada, espreito através da magra janela do avião. O meu olhar ‘afunda-‘se no azul circundante. O mar - por cima, por baixo, por todo o lado. Um lençol de água infinito a desdobrar-se no horizonte. Com um misto de expetativa e receio, contemplo a quase inexistente pista de aeroporto. Nunca vi nada semelhante. Será que vamos aterrar no mar? Olho à minha volta. O pânico é geral. Alguns passageiros fecham os olhos de emoção, outros entoam baixinho palavras de bonança. O avião da TAP abraça finalmente o solo da Madeira. Após a aterragem, o sentimento de alívio é visível nos rostos dos meus companheiros de viagem. Seguem-se as palmas da praxe. E os sorrisos partilhados.
Estão mais de 20 graus. A ilha está despida de nuvens e vento. O sol é generoso neste alegre dia de Dezembro. O clima ameno estimula o desejo de conhecer novos locais. Determinada, dirijo-me ao Jardim Botânico. Situado a cerca de três quilómetros do centro do Funchal, foi inaugurado em 1960 e encerra infindáveis surpresas. As inúmeras plantas, por exemplo. Sublimes paletas de cores, formam um quadro luxuriante que ainda hoje habita a minha memória. Enquanto percorro as diferentes áreas do recinto, descubro plantas indígenas e endémicas. Dos Himalaias. Da América do Sul. Árvores de frutos tropicais. Como a papaia. O café. A cana de açúcar. Revigorada pelo aroma profuso, desloco-me até ao Loiro Parque. Periquitos da Austrália, papagaios anões, catatuas - aqui encontro todo o tipo de aves exóticas.
Após tanto caminhar, sabe bem repor energias. Ao mesmo tempo que contemplo o incomparável azul do Atlântico (porque será que a cor do oceano é sempre mais expressiva numa ilha?), saboreio um sumo de maracujá. Não exagero se salientar que é o melhor que bebi na minha vida.
A magia do fim de ano
O dia despertou risonho. Sem demora, parto para Porto Moniz, na costa norte. Da janela do automóvel, olho deslumbrada para a paisagem que se desembrulha no espaço. Verdadeiramente fantástica.
Chegada a Porto Moniz, refresco-me na água diáfana das piscinas naturais. ’Entaladas’ por rochas de lavas, emanam encanto e graça. Um exemplo inquestionável de como alguns caprichos da natureza embelezam o globo. Apesar de ser dezembro, a temperatura do mar é convidativa. Relaxada, deixo o sol disfarçar a palidez da minha pele.
A manhã caminha a passos largos. Assim como o meu apetite. Estimulada pela fragrância da água do mar, entrego-me sem reservas a um sublime peixe espada preto e banana.
Com o estômago reconfortado, prossigo até à outra parte da ilha. Encontro-me no ’Monte’, Funchal. Curiosa mas assustada, aguardo impacientemente a minha vez. Vou percorrer dois quilómetros em dez minutos num cesto de vime sobre patins de madeira. O destino é o ’Livramento’. Puxado pelos pés de dois homens (os ‘carreiros’), pode alcançar os 80 quilómetros. Três, dois, um...é agora! Enquanto desço o ‘Caminho do Comboio’ , dezenas de sentimentos povoam a minha alma. Fascínio. Apreensão. Adrenalina. Por momentos, penso que vou ter uma arritmia. Felizmente (ou infelizmente?) os ‘carreiros’ decidem fazer uso das botas (funcionam como travões). Ainda tonta, percebo agora a popularidade deste meio de transporte. Não é por acaso que existe desde 1850 e é uma das principais atrações turísticas da Madeira.
31 de dezembro. Os preparativos para o fim de ano começam na alvorada. Cheira a festa, a sol – o contentamento espalha-se no ar. É tempo de riso, dança, cantoria. O dia voa nas asas do tempo e deixa a noite ser rainha.
Vestida a preceito, parto em direção a um dos muitos restaurantes que celebram a passagem de ano. Após saborear um repasto divinal, deixo que a dança tome conta do meu corpo. Mas o melhor está reservado para o final: O fogo de artifício. Verdadeira ’alucinação’ de sentidos, é considerado um dos mais bonitos do mundo. Cores e efeitos fascinantes pincelam o céu e o mar. Durante alguns minutos, a ilha está unida pelo brilho. Pelo deslumbramento. Pelo magnetismo. Pela felicidade.
A festa termina ao raiar do sol. Ainda inebriada pela magia que se sente no ar, dirijo-me para o aeroporto. Sentada no avião com destino a Porto, Pedras Rubras, contemplo a Madeira pela última vez. Já com saudades. Esta pequena grande ilha consegue eternamente surpreender. Há sempre um motivo para regressar. Fazer uma caminhada pelas levadas. Rever o encanto das orquídeas. Visitar o Curral das Freiras. Subir ao Pico Ruivo. Saborear o tão afamado vinho. E, sobretudo, reviver grandes amizades. Daquelas que são resistentes ao tempo. À distância. E à água do mar.
Venha fazer uma viagem pelos aromas e paladares de um vinho único. Um néctar dos deuses amadurecido pelo homem.
A longevidade opera milagres no Vinho do Porto. Apura-lhe o estilo. Liberta-lhe novos aromas. Revela o seu esplendor. Descubram comigo o mundo fantástico do vinho generoso mais prestigiado do mundo. Uma viagem temperada de sabores divinos e majestosos. Única.
São 11 da manhã. O Porto avista-me do outro lado do Rio Douro. O seu olhar granítico, envolto pela espessa cortina de nevoeiro, deixa-me sempre emocionada. Estou em Vila Nova de Gaia, em frente a uma das Caves do Vinho do Porto.
«Bem-vindos à Taylor´s». A voz do simpático guia inunda o recinto de boa disposição. O cheiro da humidade espalha-se no ar.
«Em meados de Setembro começa a vindima na região do Alto Douro. Inicialmente realiza-se junto ao rio, uma vez que o solo é mais quente. Após três semanas atinge-se a vinha mais elevada (localizada a 1000 pés de altura). As uvas são posteriormente transportadas para a adega. Na Taylor´s, a maior parte das uvas é ainda pisada com os pés em lagares», explica. E prossegue: «Fortificado com aguardente de 77 graus antes de estar totalmente fermentado, o Vinho do Porto apresenta o dobro do grau alcoólico do vinho de mesa: de 19 a 22 graus. É naturalmente doce, já que o açúcar natural não se transforma completamente em álcool. Durante o envelhecimento, é criada a gama complexa e única que transforma esta bebida numa das mais famosas a nível mundial.»
Enquanto escuto as sábias palavras contemplo, fascinada, as grandes cubas. São utilizadas para produzir vinhos de estilos mais cheios como Late Bottled Vintage (LBV), Premium Reserve e Ruby. Os «cascos pequenos» - conhecidos por pipas - produzem os Tawny. Armazenado em cascos de carvalho, o Vinho do Porto «hiberna» durante o Inverno na adega aonde nasce. Anos depois, na Primavera, os cascos são transportados para as caves, em Vila Nova de Gaia.
O ambiente escuro e místico estimula a vontade de decifrar mais segredos sobre este néctar dos deuses. As explicações prosseguem. Existem distintos períodos e métodos de envelhecimento. Através deles, é criado um variado número de estilos de Porto: Branco Seco. Branco Doce. Tawny. Ruby. Colheita. Reserva. Late Bottled Vintage (LBV). Vintage. Este último é fruto de uma única colheita de qualidade superior. Engarrafado ainda jovem e rebelde, pode ser desfrutado imediamente. Contudo, diz quem sabe, as almas pacientes são recompensadas. Pronto a envelhecer durante anos ou décadas, o Porto Vintage maduro é uma exaltação ao sublime.
No paraíso
A visita termina após uma fantástica degustação de alguns exemplos de Porto. Com o sabor intenso do Tanwy a explodir na minha boca, dirijo-me para o exterior. Depois de comer um bacalhau com broa divinal num modesto restaurante ao pé do rio, ganho novo alento para prosseguir a minha «rota» do Vinho do Porto
O sol rompeu a cortina de nevoeiro e enche de alegria o início da tarde. Ao longe, avisto a Ribeira com a sua única cascata de casas (não é por acaso que ostenta o título de Património Mundial). E o Rio Douro, polvilhado de singulares barcos rabelos. Esta típica embarcação portuguesa passa a ter identidade desde 1792. De construção nórdica (tábuas sobrepostas, tábua trincada), transportava antigamente as pipas de Vinho do Porto desde o Alto Douro, aonde as vinhas se localizam, até às Caves, em Vila Nova de Gaia. Hoje é utilizado apenas como transporte fluvial, para gáudio dos muitos passageiros que com eles «dançam» nas águas calmas.
As características incomparáveis do Vinho do Porto não são apenas fruto da sua vinificação. Tal como os restantes grandes vinhos mundiais, dependem igualmente de uma conjunção invulgar de factores: Solo, clima e casta. Enquanto contemplo o rio que se espreguiça no horizonte, a imagem do berço do Vinho do Porto - a Região do Douro – surge dentro de mim. O vale encantado. A paisagem teatral. O solo de xisto. Os impressionantes socalcos feitos por mão humana nas íngremes encostas. Os ventos húmidos soprados pelo Atlântico. Os invernos rigorosos. Os secos verões solarengos. As férteis vinhas com a sua multiplicidade de castas. Primeira Região Demarcada do mundo, é considerada Património Mundial. Sem dúvida, um epíteto justo.
O soprar do vento varre subitamente as minhas memórias. Com determinação, caminho a passos largos pela Cidade Invicta. Através dos caminhos do Romântico, chego ao Palácio de Cristal e aos seus espaços verdes encantadores. Mais à frente, deparo-me com a Quinta da Macieirinha, aonde se encontra o Museu Romântico - o magnífico jardim e a bela casa do Século XIX. Na parte traseira, depois do jardim das rosas, situa-se o Solar do Vinho do Porto. O fresco aroma das flores impregna de magia este local deslumbrante. Comovida, contemplo a vista sobre o Porto e o Douro, emoldurados pela Ponte de Arrábida.
A tarde envelhece lentamente. Sem demoras, sento-me num dos confortáveis sofás do bar e olho atentamente para a ementa. As possibilidade são infindáveis - existem centenas de tipos e marcas de Vinhos do Porto. Embora o preço seja mais elevado do que os meus padrões habituais, aceito a sugestão do afável funcionário: Um Vintage maduro da Graham's. O aroma superiormente elegante leva-me a uma nova dimensão sensorial. Quando descubro o seu sabor distinto, deixo, por momentos, a vida terrena. Um pedaço de paraíso apodera-se da minha boca. E da minha alma. Este vinho é uma obra-prima. A natureza criou-o. A maturidade revelou-o. O nosso grande Fernando Pessoa salientou uma vez: «Boa é a vida, mas melhor é o vinho». Eu acrescento: O Vinho do Porto. De preferência, Vintage.
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