É uma cidade cheia de segredos escondidos em cada esquina, de mistérios e lendas milenares que fascinam quem a visitam
Reza a lenda que uma cidade alentejana nasceu de Elbur que era hermafrodita. Como homem casou e teve uma filha que chamou de Évora. Morrendo-lhe a mulher, tomou ele a forma feminina e, chamando-se então Elbura, voltou a casar. Ao dar à luz um filho, que nomeou Evorinho, morreu. Évora e Evorinho cresceram na torre que Elbur/Elbura construíra, e que ainda lá está. Começaram a governar a cidade em conjunto, mas cada uma das facções que apoiava um e o outro desejava o poder exclusivo. Assim, os dois irmãos acabaram por se zangar e separar. Ora, um dia, Evorinho propôs a paz à irmã, aconselhado pelos seus sectários que o induziram a uma traição. Montou-se um grande banquete para celebrar as pazes, na torre de Elbur/Elbura, banquete esse em que estavam presentes todos os habitantes da cidade. A certa altura, Evorinho atraiu a irmã ao alto da torre, a pretexto de recordar os pais, mas com a finalidade de a matar, empurrando-a cá para baixo. Évora, apercebendo-se da intenção do irmão, no momento em que ele ia empurrá-la, resistiu, lutou e... acabaram por cair, morrendo agarrados um ao outro. São as suas cabeças que as armas da cidade perpetuam.
Um conto curioso no mínino, sobre uma urbe que sofreu a influencia de vários povos ao longo do tempo, com particular destaque para a influência romana e árabe. Tal qual a lenda, o que ficou de recordação perpetuada no tempo merece uma visita. A primeira impressão que temos ao percorer as suas ruas e becos da cidade antiga, é o peso do tempo, com as suas pedras brancas e a muralha centenária que nos persegue a cada esquina. A primeira paragem é o templo de Diana, que ainda se ergue para os céus apesar da sua provecta idade. Mas, a marca romana não ficou esculpida apenas neste monumento, as termas são outro dos vestígios deixados nesta cidade e que podem ser visitados.
Não é uma levada, mas uma redescoberta da ilha.
A jornada que proponho é tal como o abandonar o éden luxuriante da ilha e penetrar no seio de montanha de pele ressequida pelo trilho que nos levará até o extremo mais a este da ilha da Madeira, a Ponta de São Lourenço. Um nome que segunda reza lenda provém da caravela do descobridor João Gonçalves Zarco. Trata-se de um passeio que encerra os mistérios da origem vulcânica da Madeira. Vamos por partes. O percurso tem início no Caniçal, a nossa espera está uma pequena roulotte que fará as delícias dos mais viciados em café. A aventura começa. Avistámos desde logo o longo caminho decalcado no rochedo pelos milhares de passos que marcaram esta geografia ao longo dos séculos. À nossa espera escarpas que deslizam até um mar tão azul inebriante que nos enfeitiça o olhar. Nas rochas cortadas pelos ventos, resquícios de outros tempos, podemos ver a evolução do planeta nas suas diferentes camadas. É como uma viagem num universo pré-histórico.
A hora passa a correr ao sabor da brisa e eis-nos no cinturão da ilha, a Ponta do Castelo, o mar cerca-nos de ambos os lados, é como um istmo muito estreito que em dias de bom tempo, nos permite avistar o Porto Santo. Falta pouco e só é preciso estar atento as pequenas rochas soltas, embora já tenham colocado pequenas vedações em alguns pontos. Continuámos o nosso percurso. Nas reentrâncias da montanha, escondidas do sol escaldante vemos pequenos grupos de caminheiros que aproveitam este oásis para descansar e tirar fotografias. Seguimos a rota traçada por milhares de anónimos, quando finalmente avistámos um palmeira e uma casa em pedra é a casa do Sardinha, o nome ficou, o proprietário é que não. Todo este trilho está englobado por uma zona protegida pela sua fauna e flora endémica e esquiva e interesse geológico. Ao longe ouvem-se as gaivotas. Aproximámo-nos à baia de Abra. É uma espécie de fenda numa escarpa que termina com um lance de escadas até um pequeno esconderijo onde nos espera um banho bem merecido. É tempo de temperar forças com um farnel merecido e apreciar as águas transparentes que nos deixam enxergar o fundo cravejados de calhaus basálticos. Tempo de voltar pelo mesmo caminho, mas em sentido inverso, não existe outro acesso pedestre. Na subida, fazemos uma paragem da Casa do Sardinha para conversar com os vigilantes da natureza e ao fundo descortinámos o ilhéu da cevada e o farol, apenas alcançáveis pelo mar revolto da travessa. Valeu a pena pela paisagem agreste que nos persegue, pelo vislumbre de um mundo perdido e pelo mar, sempre o mar.
É a mais antiga sala de espectáculos da ilha. Acompanhe-me por esta viagem no tempo.
Já tive muitos nomes. Ao princípio era Dona Maria Pia. Com a implantação da república passei ser chamado de Funchalense, imagina-se! Como se tal não bastasse decidiram mudar novamente a minha identidade para Manuel de Arriaga. Por fim ficou decidido, Teatro Baltazar Dias, em homenagem a um autor teatral cego! Não é inverosímil que tenha sido baptizado com o nome de alguém que se estivesse vivo nunca poderia admirar a minha longa e alva fachada? O dia em que o ultimo retoque foi aplicado, não sei dizer ao certo, o ano era de 1887, no mês temperado de Julho. Tenho ao todo bem somados 124 anos de existência bem conservados, quem olha para mim nunca me dá mais do que setenta. Sou um privilegiado. Mas, entrem, não se acanhem!
Venham daí, até a arcada principal que dá acesso ao hall de entrada, repleto de rostos de outros tempos, de artistas que por aqui entraram e deixaram a sua marca nas minhas brancas paredes. O acesso à plateia é um passadiço estreito, é de propósito, assim nunca sabe o que lhe espera. Não se assuste com o ranger das minhas tábuas, é da idade sabe? A repentina penumbra ao princípio engana o olhar, depois serão banhados pela luz do meu ventre, cento e cinquenta cadeiras encarnadas encaram o palco, o altar dos artistas como lhes gosto de chamar. Olhem em volta! Pequenas ínsulas, como já ouvi alguém sussurrar, circundam todo o espaço, acessíveis através de pequenos lances de escada com corrimões de ferro. No cimo, os querubins espreitam por entre flores de vidro, felizes, divertidos e ao mesmo tempo curiosos, para o que se passa bem lá no fundo. Apesar da minha provecta idade, a minha acústica é das melhores. Sem mácula. Ainda recordo com saudade o meu primeiro concerto, promovido pela associação musical 25 de Janeiro. Foi uma inauguração triunfal, por pouco a casa vinha abaixo, tal era a quantidade de gente e curiosos que me agraciaram com a sua visita. Claro que me aguentei valentemente, era mais jovem. Apareci até na capa do diário de notícias daquele tempo, afirmaram mesmo que era encantador. Não é para me gabar, mas apesar da minha rígida figura e da minha vestuta aparência, quem me conhece bem sabe até que sou um teatro muito acolhedor. Ao longo desta centena de anos de existência por mim já ecoaram grandes vozes de renome nacional e internacional, se fizeram sentir as mais belas melodias alguma vez tocadas e se ouviram os textos mais alegres e trágicos jamais escritos. Fui construído para ser um templo de comoções, por aqui os públicos que por mim passaram já choraram, riram e se emocionaram até o âmago. É o meu fado, o meu destino. Acolher todos e não privilegiar nenhum. Por isso, albergo todos de braços abertos, espero que por mais um século pelo menos. Até lá, cai o pano e está findo este espectáculo. Até uma outra oportunidade. Volte sempre!
É uma das cidades mais belas da Europa e uma visita obrigatória para os amantes da arquitectura.
Alguma vez visitaram um lugar e tiveram a nítida impressão que estavam num novo mundo? Barcelona teve esse efeito em mim. É uma cidade onde não há limites para a imaginação. A capital da Catalunha é como uma revelação em que cada esquina, os seus recantos são sempre uma surpresa cheia de fascínios e fantasias. La Rampla é sempre o ponto de encontro para todos os que vivem nesta urbe e para os turistas. É um longo passeio, na praça de Catalunha, ladeado por belos edifícios, onde podemos encontrar de tudo um pouco, arte, música e pessoas muitas pessoas até altas horas da noite. É um rumor forte constante, que se sobrepõe aos ruídos próprios da cidade. É vivo, colorido, tem movimento e parece que nunca mais acaba. Ao saíres das ramplas mais surpresas estão à espreita.
Uma delas é a La Pedrera, um dos grandes edifícios criados por Antoni Gaudí para uma das famílias mais ricas da Catalunha. É um complexo de apartamentos singular inspirado na natureza, é imponente e labiríntico ao mesmo tempo. É uma edificação orgânica, com os seus estranhos arcos e as suas varandas ondulantes em ferro forjado. É um templo de parábolas e tons inusitados. O telhado é dominado pelas chaminés guardiães que auscultam os céus da cidade. São corredores de esculturas irrealistas e silenciosas que parecem ganhar vida quando são acariciados pelos primeiros raios do por do sol. Viver abrigados pelas paredes palpitantes da Casa Milá deve ser uma experiencia de vida única, diferente todos os dias. Não há espaço para a monotonia.
Seguindo os traços de Gaudí, nada melhor para alegrar os olhar do que o parque Guell. É uma viagem serpenteada por mosaicos coloridos. De jardins suspensos. É um sonho onírico, povoado de criaturas estranhas que guardam os seus portões para nos dar as boas vindas. É um lugar mágico. A sua beleza inspira-nos e esmaga-nos ao mesmo tempo. A sagrada família exige acordar às primeiras horas do dia, as filas são gigantescas, tal qual este monumento que domina a paisagem urbana de Barcelona. As torres de Gaudí parecem querer alcançar o infinito, desafiando as forças da gravidade com os seus estranhos braços baços. É um templo inspirado num divino que só existia nos pensamentos deste homem muito singular e genial. Faz-nos sentir pequenos e medíocres perante tanta beleza alva e cinza. Desviando-me agora para visitar el Palau de la musica Catalunya, é um edifício requintado, o seu interior é de um assombro intimidante que nos deixa sem palavras. É uma caixa de música feita de vitrais multicolores. São caleidoscópios de diferentes tonalidades que nos inundam a vista. Idealizado por Luís Domenèch i Montaner para albergar o Orfeó Català, este edifício representa a nova arquitectura catalã e é património da UNESCO, assim como as edificações que já referi. Mais uma sugestão, uma visita ao museu Miró, pela beleza da sua arte muitas vezes tão incompreendida.
A antiga cidade olímpica, no Montjuïc, é a única área que foi alvo de uma reapreciação urbana, já que esteve um pouco abandonada. A piscina, sobranceira à cidade, continua a ser utilizada para encontros desportivos. Tem uma paisagem privilegiada sobre a urbe e também foi palco de um dos vídeos de Kylie Minogue, não vou dizer qual. Adivinhem! É um óptimo lugar para passear e praticar desporto ao ar livre. Um aviso há uma senão nesta cidade, alguns catalães. Mesmo que falem castelhano respondem em Catalão, é uma questão de orgulho. Nunca, mas nunca, os chamem de espanhóis. Grande, gigantesco pecado mortal! Erro fatal.
A última paragem deve ser sempre no mar. O Mediterrâneo, que domina a orla da cidade. Merece um mergulho nas águas temperadas e uma caminhada final pela promenade sempre ornada de esculturas. Verá ainda uma praça, que não vou dizer o nome, se calhar vai reconhece-la como eu, como sendo um dos cenários do filme de Almodóvar de “todo sobre mi madre”. Fica o desafio, descubra-a. No meu último entardecer em Barcelona, despeço-me com um até a volta, a partir dos telhados de uma casa no bairro mouro.
É a minha perspectiva pessoal de uma viagem inesquecível.
A capital da Itália é considerada uma das cidades mais belas do mundo e não é por acaso. É uma das urbes mais fascinantes e ao mesmo tempo mais complexas que já conheci. Comecemos pelo centro histórico. A designação de cidade eterna faz todo o sentido, a cidade ergue-se sob a égide do império romano e há inúmeros monumentos que podemos visitar para recordar a influência de grandes figuras históricas do então mundo conhecido. O coliseu é uma dessas paragens obrigatórias. É uma estrutura em pedra imponente que nos remete para um passado cruel, onde bestas e homem morriam na arena para divertimento das massas. O fórum romano ficam mesmo ao lado e vale a pena passear pelas suas ruínas, na sua época era o centro nefrálgico do vasto domínio romano e onde Júlio César pereceu à traição, o local é de fácil acesso e o mais curioso é que as pessoas hoje ainda colocam flores e oferendas no que se julga ser o exacto local onde acabou por falecer.
A fonte de Trevi é outro dos pontos turísticos que merece uma visita, fica no conclave entre várias artérias comerciais e em frente ao panteão romano. Milhares de turistas visitam por dia este belo exemplar arquitectónico. Foi sentado no colo de Neptuno que vi d’artagnan pela primeira e última vez. Não é quem estão a pensar! É uma personalidade caricata da cidade, que decide quando entende invadir o fontanário e dizer que se vai suicidar com uma lâmina de barbear apontada ao pescoço, porque segundo ele, a sua vida não tem sentido, porque não consegue trabalho. A polícia como é natural, impediu o acesso ao local e tiveram de fechar a água para evitar que os três agentes que foram destacados para a tarefa de demove-lo do seu intuito insano não escorregassem e caíssem, perante uma audiência global que não parava de filmar e tirar fotos. O mais caricato foi a reacção de um grupo de espectadores americanos mesmo ao meu lado, turistas como eu, que se questionam pela completa ausência de meios de comunicação social. Onde estavam as televisões? Os helicópteros para filmar este acontecimento? E o aparato policial? Bem-vindos ao sul da Europa, meus senhores! Loucos há muitos é o que não faltam no lado de cá do Atlântico. É o sangue latino que nos sobe à cabeça. Como é evidente o nosso amigo não se queria matar! Li no dia seguinte numa pequena notícia, que já não era a primeira vez que tinha cometido tal façanha e afinal, pelo que parece também não gostava muito de trabalhar, porque no passado tinha tido ofertas de emprego que amavelmente declinou, como é evidente. O que ele gosta eu sei! Gosta é de aparecer, como diz e bem uma personagem dos contemporâneos. O mais estranho foi a sentença do juiz, que o proibiu de voltar a fonte de Trevi, em vez da multa que não podia pagar. A minha dúvida era como poderia impedi-lo de lá retornar novamente?
O título cidade eterna acaba por pesar na dinâmica urbana desta grande metrópole. Se por um lado, há um orgulho patente pelo passado, por outro torna-se insuportável para quem lá reside. Em termos de arquitectura contemporânea, o conceito não existe, simplesmente colide com o estilo românico dos edifícios da cidade. Se reparem não existem construções mais sofisticadas e arrojadas. Nada. Não é pura e simplesmente permitido. A especulação mobiliária é de tal forma galopante que o centro da cidade, onde pululam os velhos palazzos, pertence apenas e exclusivamente aos estrangeiros com capacidade financeira suficiente para adquirir estas antigas residências senhoriais que ainda por cima comportam impostos elevadíssimos. Como a cidade está dividida por sectores os montantes de compra para habitação variam consoante a proximidade com áreas históricas, o sistema de transporte, estabelecimentos de ensino e instituições ligadas à saúde. A única forma sustentável para a maioria é arrendar casa. Alugar uma habitação em Roma é um luxo que tem de ser compartido. Uma renda pode variar entre os 1,500 euros até os 5,000 euros consoante a localização. Muitos romanos combatem este grave problema habitacional de uma única forma, ocupam edifícios antigos e são os “futuros moradores” que procedem as melhorias estruturais do prédio e dos respectivos apartamentos, embora seja uma ocupação ilegal. Agora devem estar a questionar-se porque é que eles não são expulsos pelos legítimos donos? Pela mesma praga que assola os tribunais portugueses, os processos nestes casos arrastam-se durante anos e assim prevaricar compensa. Apesar que neste caso a minha simpatia pende para os usurpadores.
Os meios de transporte urbanos são outro do calcanhar de Aquiles desta densa e povoada cidade. É o caos absoluto e total. Sabem porque o metro só tem duas linhas? Cada vez que equacionam a abertura de mais uma via, surpresa das surpresas, esbarram com ruínas antigas romanas! É proibido depois construir porque são históricos. Os autocarros são a única via possível, mas com horários imprevisíveis já que a cidade é assolada ao longo do ano por grandes manifestações que complicam ainda mais a fluidez e escoamento do trânsito. Os famosos motorinos, ou vespas, são a melhor opção. Mas, cuidado! As regras de trânsito não regem os habitantes de Roma. Os condutores ignoram as passadeiras e nas rotundas tudo é possível. Não é para amadores. Não há prioridades ou policia que nos valha. Se estiverem atentos verificam quais são os veículos que estacionam na rua e os que dispõem de garagem. A diferença é patente nos que estacionam na via pública, mossas em todo o lado e até se vêem pára-choques amarrados com corda e luzes partidas. Não há acordos amigáveis para ninguém, eu vi, acreditem. Se por acaso houver um embate e nenhum ferido, as pessoas saem dos veículos discutem, insultam-se e se os automóveis funcionarem cada um vai a sua vida passado muito pouco tempo. O tempo urge em Roma. Toda a gente tem sempre pressa para estar em algum lugar. É uma cidade que nunca dorme. Funciona quase 24 horas por dia. É eterna até no tempo.
A idiossincrasia dos italianos está intrinsecamente ligada a sua gastronomia e origem geográfica. Não vou falar da comida, porque é uma redundância, só vou referir que distinguimos perfeitamente de que zona do país procede uma pessoa pela forma como prepara a sua pasta. Em Roma, os ingredientes não são os mesmos para a mesma receita comparando com outra localidade, por exemplo, Nápoles. A maneira como os portugueses cozinham massa é um atentado para os italianos. Um horror e com razão! Não deixa de ser divertido. Num ponto estamos de acordo, no café. Forte e aromático e nada de mixórdias aguadas. Devo acrescentar que, adoro comida italiana e não foi como no filme amar, comer e orar. Quando visitarem Roma não se esqueçam de beber a água fresca e saborosa que brota das fontes gratuitas espelhadas pela cidade. Já conheci pessoas que nunca compreendiam, porque motivo só encontravam água com gás engarrafada à venda, agora já sabem o porquê! Bebam à vontade, é maravilhosamente refrescante no verão. E mais um último conselho, não visitem a Roma em Agosto, é um forno! Mesmo assim, o meu amor por ela é eterno!
Dançando com a diferença é um pequeno projecto que nasceu da vontade de poucos, cresceu e pulou o estigma da deficiência. Este grupo de dança inclusiva rasgou consciências, libertou-se dos preconceitos e mostrou que dançar é uma expressão corporal sem limites. Não há fronteiras físicas, ou mentais que não possam ser derrubadas. Peço só que me acompanhe nesta viagem pelo percurso de um dos seus intérpretes, Telmo Ferreira.
Quando era miúdo não sonhava sequer com o que sou hoje. Um bailarino numa companhia de dança inclusiva. No meu mundo não havia espaço para o ser artista, era apenas uma criança que tinha trabalhar de sol a sol para ganhar dinheiro para levar para casa. Estudei numa escola pública em Câmara de Lobos, mas devido as minhas dificuldades de aprendizagem foi transferido para um outro estabelecimento de ensino, a Quinta do Leme. Foi aí que descobri o que era a dança. Aí, tive que combater os meus complexos e as minhas limitações mais profundas. Sentia no olhar dos outros o estigma da deficiência, quando eu sabia no fundo que não o era. Apenas não sabia como expressar-me. Dançar com a diferença ajudou-me nessa transição. De mostrar o que tens dentro de ti. Um lugar onde não há limite. Não há fronteiras. Depende o teu corpo, não mostra a tua escrita, ou a tua leitura, mostra o que sentes, quem és e o que fazes aqui.
Sempre que piso o palco sinto um grande frémito. Todas as fibras do meu ser vibram. É como uma força, são ondas de entusiasmo que te empurram para aquele momento. Dançar para mim é como respirar. É primordial, permite exprimir-me sem palavras. Ter uma maior consciência de cada membro, cada batida do meu coração, cada gesto do meu corpo. É levitar. Sem ter noção de tempo ou do espaço. Fazes o que gostas e isso basta. Só dás conta do final, quando ouves a ovação do público, batem com os pés em sinal de agradecimento. Sentes o amor e o carinho de quem está do outro lado. É como uma energia que flui, que te alimenta.
É o local ideal para passar umas férias longe de tudo e de todos. Venha daí conhece-lo, faça esta viagem com o Henrique Afonso.
Comprei uma casa muito velha, mesmo muito velha. Estava já abandonada a vários anos. Achava irónico que eu que odiava tanto este sítio, agora tenho um poiso aqui. Fui fazendo obras ao longo do tempo, sempre com a ajuda dos meus amigos, e foi um deles que sugeriu o nome, Maktub. Porquê e o que isso? Quer dizer estava escrito, em árabe. Era o meu destino voltar ao Jardim do Mar. Aquelas palavras ficaram gravadas na minha memória, relembrei todos aqueles anos fora daqui e sem saber bem como, voltei e comecei a fazer melhoramentos na minha casa, porque tenho três filhos. Construí um quarto para cada um deles, para terem o seu canto sempre que me viessem visitar. Aproveitei ainda mais o terreno e como tenho muitos amigos, criei um espaço só para eles. Foi assim como tudo começou. Tudo está feito para mim. Ao meu gosto. Não há uma peça que seja que esteja aqui, para agradar-te a ti, a aquele ou ao outro. Dá-me prazer partilhar e não gosto da solidão, estive trinta dias sozinho e já bastou, por isso convido sempre os meus amigos.
As festas e os convívios sempre atraíram muita gente e um dia um surfista americano pediu-me para alugar um quarto. Eu ao princípio disse que não. O Maktub não é para alugar, é a minha casa, mas acabei por recebe-lo. O passa-palavra fez o resto. O meu filho entretanto inicia-se no surf. Começa a arranjar as pranchas e com elas vêm os amigos, o Jardim do Mar, torna-se o paraíso ideal para a prática deste desporto radical e começo a receber surfistas de todos os cantos do mundo. Temos locais fantásticos nesta zona oeste para surfar, a Ponta do Tristão, a Ponta Pequena e o Paul de Mar. São três nesgas de mar onde não há muita gente, são ondas muito grandes e muito fortes, o calhau é perigoso, não são para qualquer surfista. Só para os mais experientes. Por isso, são muito poucos.
Um grupo de irreverentes jovens universitários vive a maior odisseia das suas vidas.
Todos os anos a academia da Universidade do Porto promovia um fim-de-semana radical na Serra da Estrela. Nesse ano para esquecer de 1991, um grupo de jovens aventureiros decide participar no que seria, mas ainda não sabiam, um dos piores dias das suas vidas. Parece a sinopse de um filme de terror de teenagers americanos, sinto muito, não é. Aconteceu.
Reza a história, que na montanha mais alta do país, são 1993 metros de altura de um colosso rochoso, os nossos intrépidos amigos iriam fazer escalada, rappel, slide e a tirolesa. Doce engano, à chegada naquela manhã fria de Março, o tempo ameaçava com chuva. Um nevoeiro denso que espreitava pelo dorso da montanha acabou por ditar à partida da cordilheira central para o transporte colectivo. Cada grupo seguiria o trilho acompanhado pelo respectivo guia até o autocarro que aguardava na berma da estrada. Partimos. O percurso que serpenteava pela montanha de repente deixava de ser tão nítido, com a súbita queda de neve. Seguimos em grande algazarra, extasiados pela queda de flocos brancos, tão raros de avistar abaixo destas altitudes, quando subitamente o guia estaca. Parece aturdido. Hesita e retrocede pelo mesmo trilho e perante a sua patente confusão, apercebemo-nos da nossa súbita nova realidade, estamos perdidos. O silêncio é gelado. Que ironia tão cruel. Ninguém ousa dize-lo, proferi-lo seria torna-lo real. Inevitavelmente acontece. Gritámos como é que é possível? Onde esta o mapa? A bússola? Foi apanhado desprevenido pela neve. Não trouxe. Nem sequer me lembrei de trazer. Como é possível? Não vale a pena lamentar-se mais. É necessário partir, o frio começa a afectar os membros, o grupo toma uma direcção aleatória.
A neve que caia levemente, lentamente se transforma num nevão, é preciso continuar. Não podemos parar. Devo dizer que não há nada mais assustador do que uma paisagem totalmente branca. O nosso sentido de orientação desaparece. Não há pontos de referência. Está tudo coberto por um manto de cor alba. O pânico instala-se silenciosamente. A visibilidade é nula. Só conseguimos avistar as marcas das nossas botas na neve, somos envolvidos por um denso nevoeiro. É urgente fazer alguma coisa, ou vamos perecer aqui transformados em cubos de gelo. Estacámos de novo perante o que parecer ser um penhasco. O grupo decide descer. Não há caminho. Pois bem, vamos abri-lo. Tanto quanto sabemos devemos estar a andar em círculos a já várias horas. A descida cautelosa começa. As nossas pernas afundam-se na neve, escorregámos e alguns deslizam alguns metros pela ravina. Nada de grave acontece. Continuámos a descer abrindo caminho pela vegetação rasteira que começa a aparecer. Á medida que a altitude diminui, a neve transforma-se em chuva, a terra transforma-se em lama. Seguimos munidos pela esperança que acalenta os nossos corpos cansados e pesados pela água que se condensa no nosso vestuário. Ouvem-se gritos de alegria. Alguém avistou um trilho. Ri-mos, saltamos e abraçamo-nos na chegada. É a civilização que se avizinha. Estamos salvos. Corremos pelo pequeno caminho em busca de algo, ou alguém e eis a estrada. Nunca fiquei tão feliz por ver alcatrão. Agora sim, o cansaço começa a tomar conta de todos. Tentámos avistar casas, mas nada. Estamos circundados pela paisagem serrana molhada. A chuva finalmente cedeu.
É o maior e mais sumptuoso exemplo do barroco em Portugal. Nasceu de mais uma promessa de um rei português.
Enfim, chegou o mais glorioso dos dias. A data imorredoira de vinte e dois de Outubro do ano da graça de mil setecentos e trinta, quando el-rei D. João V faz quarenta e nove anos e vê sagrar o mais prodigioso dos monumentos que em Portugal se levantaram, ainda por acabar, é verdade, mas pela catadura se conhece o catacego. Assim, José Saramago termina o seu memorial do convento. Mas, retrocedamos um pouco no tempo. Tudo começa com: Era uma vez, um rei que prometeu levantar um sumptuoso templo e um cenóbio anexo, como promessa ao senhor, altíssimo e sereníssimo tanto no céu, como na terra, em troca de um herdeiro. A previsão cumpriu-se, mas não da forma que o rei mais desejava, nasceu uma menina, como o prometido é devido e para evitar à cólera de Deus, num lugar outrora chamado de sítio da vela, mandou o nosso soberano construir um magnífico monumento artístico que haveria de causar assombro as gentes desta e de outras terras.
Passados 281 anos, dez meses e quatro dias, o convento de Mafra é um projecto colossal, que engloba, um convento, um palácio e uma basílica numa área estimada em 40,000 m2. À entrada, temos de recuar perante os 232 de altura da sua fachada ladeada por dois torreões imponentes. Percorremos o corredor marmóreado que nos conduz ao palácio. A sala amarela era um dos locais favoritos de convívio dos soberanos. Um dos outros compartimentos a dos troféus com as suas paredes cravejadas de hastes de veados e cervos que os reis caçavam na tapada que faz parte deste monumento.
É uma das capitais europeias mais alternativas na sua forma de estar, mas nem sempre tudo é o que parece.
Amesterdão é uma cidade interessante, mas com algumas contradições. As aparências enganam. Um dos pontos obrigatórios e pouco conhecidos da capital, é o Museu Amstelelkring, mais conhecido como o Senhor no sótão, trata-se de uma casa com uma capela católica por dentro, confusos? Passo a explicar, quando os movimentos protestantes varreram a Europa, os holandeses responderam ao chamado e nasceu à Igreja Reformada Neerlandesa. Assim, como havia perseguições religiosas aos não-cristãos, a infame inquisição, os holandeses, por seu lado, perseguiram os católicos no seu território. Houve uma família de mercadores muito ricos que, em segredo continuaram a professar a sua religião construindo um pequeno santuário no interior da sua residência, que era também local de culto para outras famílias católicas. Foram descobertos, julgados e desprovidos da sua fortuna. Para trás ficaram esses tempos e hoje, Amstelkring é um símbolo da intolerância religiosa.
A casa de Anne Frank. Paragem mais que obrigatória, mas é necessário levantar-se muito cedo para a visitar, as filas dão à volta ao quarteirão e o espaço em si é muito exíguo. É uma casa antiga. Fiquei muito emocionada durante a visita, tinha lido o diário e claro, estava ali para ver com os meus próprios olhos e tentar imaginar o que viver num sótão, escondida de um mundo intolerante. Conheci um grupo de judeus americanos, que relataram as suas experiencias de vida. Como foi perder amigos, familiares e irmãos numa guerra sem sentido. Fiquei verdadeiramente comovida, felizmente espero nunca passar por tal provação, ao mesmo tempo senti-me privilegiada, porque ouvi a história ser contada na primeira pessoa. No rés-do-chão, não hesitem e entrem, tem uma pequena sala interactiva que aborda a intolerância sob todas as formas e que nos faz pensar.
Os mestres da pintura são uma opção deliciosa. Eu sei que há um largo espectro de pessoas que, acha um verdadeiro martírio perder uma tarde vendo quadros velhos, mas não consigo resistir a tanta beleza. Quando olho para uma destas obras-primas penso que existe algo de verdadeiramente divino na forma como, eles, os artistas, interpretam o mundo. As pinceladas frenéticas nas ondulantes paisagens. As cores intensas que eternizam o momento. Um entardecer em Arlés por Vincent van Gogh. Na casa de Rembrandt apreciámos os utensílios, as figuras e os modelos que o pintor usava nas suas grandes telas, que podem aí sim, ser vistas no famoso Rijksmuseum.
A arquitectura da cidade demonstra o grande engenho dos holandeses. São os famosos canais que serpenteiam a cidade e uma constante recordação de que este pequeno país situa-se abaixo do nível médio da água do mar. Devido a exiguidade de território disponível, a cidade assenta os seus edifícios em grandes estacas, e muitos dos cidadãos devido ao elevado preço das casas, residem em embarcações que se podem avistar nessas estradas aquáticas. Uma das curiosidades comportamentais dos habitantes da cidade, é que não tem cortinas nas janelas, e não se trata de uma questão de luminosidade, muito pelo contrário, os holandeses acreditam desde tempos remotos, que só colocam cortinas aqueles que tem algo para esconder! Outro hábito cultural no mínimo intrigante, é que o comércio não fecha à hora do almoço e como tal, as pessoas comem no local de trabalho, ou seja, não é de todo inusual que alguém o atenda ao balcão com um prato de massa ao lado e coma grandes garfadas enquanto fala consigo. Os holandeses são extremamente práticos, para dizer o mínimo.
A famosa rua da luz vermelha é um quarteirão dedicado à prostituição. As meninas em lingerie fluorescente propagam os seus serviços, através das janelas das casas. É uma zona segura para sair á noite, aliás é um dos pontos mais turísticos da cidade, sendo por esse motivo fortemente policiado. Oferece ainda, shows de striptease e sexo ao vivo, acompanhados de bananas splits, vai-se lá saber porquê! As rendas são muito altas nesta zona. É uma das áreas mais caras de Amesterdão, daí que, os preços cobrados pelas meninas sejam muito elevados, uma triste notícia para todos aqueles que dispõem de pouca capacidade financeira. Temos pena.
Os coffe shops, não vendem café como toda a gente deve saber. A marijuana é legal nesta cidade e como tal existe uma panóplia de ervas e ácidos de venda livre, o que atrai inúmeros turistas. Se forem cafeína dependentes, isto é, se beberem café, preparem-se! Não só não se comercializam nestes locais apesar do nome. Tem se mentalizar psicologicamente para beber uma mixórdia com sabor a nada que eles apelidam de capuccinos. A água potável de toda a cidade é reciclada e como tal não sabe mesmo a nada e ergo o café é uma porcaria.
Uma grande obsessão nacional é as tulipas. A Holanda é um dos maiores exportadores do mundo de flores. Eles manipulam e criam espécies que são vendidas em grandes lotes para os mercados internacionais. Fiquem ainda sabendo que as mulheres holandesas adoram ser presenteadas com flores e é um hábito mais frequente do que se imagina! À saída de Amesterdão, Keukenholf é um parque com 32 hectares de paisagem floral florestal. Na primavera, florescem milhares de tulipas de todas as cores e feitios e há mais, existem viveiros de rosas. São estufas perfumadas, com inúmeras novas espécies, uma autêntica ode aos sentidos e estranhamente invadidas por hordas de japoneses com câmaras fotográficas em riste. Nunca vi tamanha concentração nipónica. Era o último lugar do mundo, onde os esperava encontrar, mas depois lembrei-me, são um povo que aprecia a beleza em todos os sentidos. Nos mercados ao ar livre, tudo se vende. Produtos provenientes de todo o mundo, inclusive bacalhau seco. Imaginem!
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