O Laboratório de Práticas Performativas da Universidade de São Paulo, criou o grupo desvio colectivo, liderado por Marcos Bulhões, Marcelo Denny e Priscila Toscano, com o objectivo de criar experimentos em performance em espaços públicos, através do projecto "cegos" que visa, intervir poeticamente na cidade e provocar um momento de reflexão dando margem a diferentes leituras, o aprisionamento e a petrificação da vida por meio do excesso de trabalho, a automatização da vida quotidiana, a degeneração ética que se instaurou no eixo político, financeiro, jurídico e religioso da sociedade em geral.
Este projecto artístico pelo que percebi começa na universidade de São Paulo (USP)?
Marcos Bulhões: Exactamente. Eu e o professor António Araújo criámos um grupo de pesquisa que se chama laboratório de practicas performaticas da USP, é uma graduação cénica, através das artes performativas, mas actuámos também na pós-graduação, temos mestrados e doutorados nesta área. Organizamos ainda este grupo que actua fora dos muros da universidade, neste campo da actuação universitária, onde desenvolvemos dois módulos de cursos que chamámos "experimentos em performance" em parceria com o estudo da arte da universidade Unoeste, também com a professora Carminda Mendes André e o professor José Manoel Lazaro e esses cursos geraram um trabalho de onde surgiu o grupo desvio colectivo e que em parceria com o laboratório gerou os "cegos".
Qual é o objectivo deste grupo? Porque saiu dos muros da universidade e se tornou algo mais palpável?
Marcelo Denny: A ideia, como a característica da arte da performance, é dialogar com outros lugares fora do meio académico, com artistas de outros lugares, outras escolas, outros grupos e colectivos de intervenção urbana. Então eu acho que o rico da intervenção humana nesse sentido é o lugar híbrido de cruzamento entre pessoas, escolas e entidades, o que deixa que a experiência vai ficando cada vez mais diferente.
Então quem são as pessoas que fazem parte do colectivo? E o que procuram nele?
Priscila Toscano: O desvio colectivo é actualmente regido por mim, pelo Marcos e pelo Marcello Denny e conta com 30 participantes, entre actores, actrizes, performers, iluminadores e técnicos de palco. No caso da performance "cegos" a sua capacidade envolve mais ou menos 30 ou 40 pessoas, da cidade ou não, que desejem fazer parte da experiência connosco. Então vai haver um workshop de preparo para as pessoas que possam ajudar à performance, trata-se de um treinamento que passa pela teoria da performance urbana, no panorama mundial, especialmente no Brasil e depois passámos para uma oficina corporal, porque nos "cegos" andámos todos em câmara lenta e conectados, pelo colectivo, esse grupo de pessoas umas ligadas as outras.
MB: É a ideia da formação de um coro, desenvolver uma noção de uma coralidade performativa, ou seja, que esta num estado diferente, poético, por a ideia de uma câmara lenta, vestidos de executivos, com fato, gravata e sapato, arrumados, com maletas, mas cobertos de argilas e vendados. O facto de andarem em câmara lenta cria um choque no público, é um momento extremamente poético na cidade.
Um filme divertido e descomprometido de Marcelo Galvão.
Lembram-se de uma campanha que andou a circular pelas redes sociais, aliás, foi mais um apelo divertido de um jovem actor, com síndroma de Down, à Sean Penn para que viesse até o Brasil? Bem, tudo esta bem quando acaba bem e o facto é que Ariel Goldenberg foi apresentado ao homem que o fez sonhar e ambicionar ser actor. E embora o actor norte-americano não tenha vindo à estreia de "colegas", o filme por si só transformou ao jovem e aos seus companheiros em autênticas estrelas de cinema no seu país natal. Este filme acima de tudo se me permitem é uma homenagem ao cinema, aos filmes que fizeram sonhar gerações e não apenas sobre pessoas que com deficiência. É um momento de cinema divertido e descomprimido, é filme pipoca, que no final nos deixa com um sorriso nos lábios. Gostei das maravilhosas paisagens de um Brasil que desconhecia, com a vantagem, de ter um elenco super-divertido e descontraído como se nota ao longo de quase todo o filme. Curiosamente, há lá um português no meio disto tudo, Rui Unas, que faz de policial mal-humorado, que não esteve nada mal, mas o meu louvor vai para os três protagonistas, o famoso líder de um bando de insurrectos criminosos, Ariel Goldenberg, a femme fatale que qualquer filme de policias e bandidos necessita, Rita Pokk e o herói de serviço e parceiro em quase todo o tipo de crime, Breno Viola. Deixo o meu apreço aos restantes actores, em particular, Duarte Lima que aqui num voz off incrível na maior parte do filme, confere-lhe um tom de conto de fadas. Peço-vos, vejam e apreciem este "colegas", porque é a prova cabal que a amizade e o amor movem montanhas. Bom cinema.
Djanira Costa é o rosto do Gabinete de artes e desenvolvimento pessoal, em São Pedro de Moel, na Marinha Grande. Para além disso, é também mentora do projecto Interartes, uma ponte cultural que visa promover o trabalho de artistas portugueses no Brasil e dos artistas brasileiros em Portugal. Um projecto artístico que tem vindo a ganhar visibilidade em ambos os lados do Atlântico, graças ao amor que esta aquitecta carioca nutre pelo nosso país.
Porquê criar uma gabinete de artes e desenvolvimento pessoal em São Pedro de Moel?
Djanira Costa: Em 2009 eu era uma das gerentes de uma obra, tinha muita responsabilidade mais de 50 pessoas na minha coordenação, só que quando cheguei lá a obra já estava com um certo atraso e tive de trabalhar muito para colocá-la em ordem. Um dia ao fazer uma vistoria, ao baixar a cabeça pingou uma gota de sangue na calçada e aquilo foi como um acordar, ainda bem que aconteceu porque se não saisse aquela pinga eu não tinha decidido o que decidi. Pensei, isso aqui é a minha vida, estão tirando o meu sangue literalmente e não posso ficar dessa forma e então eu pedi umas férias ao meu chefe. Ele só me liberou em 2010 a meio do ano, pedi para outra pessoa ser relocada na obra e voltei para a firma com projectos mais tranquilos, na área de projectos, que é a minha. Decidi então fazer uma viagem e num lugar que me esvazie. Olhei para o mapa, o meu inglês é pouco, não sentia muita firmeza para estar num país onde se falasse essa língua e tivesse que ficar vinte dias, então decidi ir para Portugal. Foi conhecer Lisboa com fado no ouvido, parecia que estava em outro planeta. Então chegou a hora de conhecer a região centro e quando cheguei aqui me falaram de um lugarzinho meio escondido e diferente, São Pedro de Moel. Era um dia cheio de sol, os raios iam passando pelos eucaliptos e pinheiros e aquilo foi-me despertando uma coisa que não sabia o que era, me sentia livre e bem, porque no Brasil não temos esse tipo de mata e foi como se tivesse voltado para um lugar que já tinha conhecido. Não sei explicar porquê. Eu voltei com papel e aguarela debaixo do braço, ia para beira do mar e pintava. Bem passado vinte dias, estava na hora de voltar, mas quando cheguei ao Brasil sentia falta do cheiro do café, da mata que é muito especial, porque é o cruzamento entre a maresia e o cheiro do pinhal e tinha saudade. Decidi voltar em Dezembro e fiquei mais uns vinte dias, enquanto subia e descia, conheci uma menina que trabalhava numa loja, mas ia fechar. Decidi naquele momento ficar com o espaço, pensei, se dou meu sangue no projecto dos outros, porque não posso acreditar nos meus sonhos? Ao trabalhar para os outros o benefício é sempre deles, uma coisa é trabalhar para você e até pode beneficiar outros e isso foi muito gritante.
Mas, o gabinete tem uma componente de artesanato.
DC: No Maranhão, numa feira artesanal, conheci uma índia que fazia trabalhos com açai, sementes, que eram excelentes, porque tinha que levar para Portugal algo que mais ninguém tinha. Também conheci uma senhora, a Janira que me acolheu na sua casa, ela é artesã do capim dourado e eu queria conhecer as pessoas que faziam isso, o que aconteceu? Ela falou que podia ir até casa dela para me mostrar quem são as pessoas que fazem isso, eu falei também. E fui. Ela me levou para a sua aldeia onde todos se juntam, cada um com os seus materiais e fazem as peças, depois alugam um carro para levar as pessoas até à feira. São pessoas muito humildes, quando cheguei, de noite já tinha à minha cama pronta na sala, deitei e não vi a casa, nessa altura estava num período de trabalho de muito stress e estava realmente cansada por isso adormeci rápido. Quando acordei, olhei em volta e vi um chão de cimento batido, que chamam vermelhão, era uma casa com cozinha, ela dormia lá numa rede, as filhas dormiam numa cama de solteiro no cantinho, tinha geladeira e um fogão e uma mangueira lá fora. Eu chorei, porque essa mulher não me conhece e eu estou recebendo o melhor dela. Isso me emocionou e quando lhe perguntei onde podia tomar banho, ela falou que não tinha banheiro, mas podia ligar a borracha a partir do poço. A Janira ligou o motor e foi o melhor banho que tomei em toda a vida, eu senti que lavava à minha alma, quando saí já era outra. Era ficar na casa dela um dia e fiquei três. Pensei, eu tenho tanto, mas recebi mais do nada. Como me apaixonei pelo trabalho dela, comprei as peças, fiz as minhas contas e voltei para o trabalho. Depois tive que contar para os meus pais, meus irmãos e amigos que ia estar três meses fora, meu coração tinha palpitação, mas reuni todos e falei o que ia fazer e eles falaram como é que pode, você tem o seu trabalho, a sua família. A loja estava alugada e eu voltei para Portugal com todo o material e vendi tudo.
Então viste que podias ter uma vida aqui?
DC: Aqui é complicado fora do verão, eu tenho o estúdio onde vivo também. Então comecei em 2011 a fazer saraus para as pessoas conhecerem o espaço que continou em 2012. Então, decidi fazer algo para captar capital, recursos para pagar a loja e realizei chás e jantares da poesia e em 2013 já entrei com o terapia ocupacional que é uma outra área e em que acredito, acho que ser arquitecta é muito mais, mas é uma visão que tenho.
Quando começou o projecto Interartes?
DC: Em princípio do ano do ano passado, uma das pessoas que ajudava se apropriou do projecto dos saraus e começou a fazê-los de graça, a parceria implicava que houvesse um recurso financeiro para mim fora do verão, não posso gastar todo o dinheiro que ganho dos projectos como freelancer aqui, a arte é difícil para toda a gente, como estava insatisfeita decidi criar o Interartes. Eu conheci o Afonso Lopes Vieira e o projecto surge desse diálogo em que ele me disse para fazer algo em grande, conheci também o Rui Mendes, em Coimbra, que acionou as pessoas ligadas as artes e como ele passa férias em São Pedro, me cedeu os seus contactos, me disse para ir em frente e fazer isso no Brasil. Tive de montar tudo do zero, em todos os lugares, contactar essas pessoas, mas quando as portas se vão abrindo e você já tem uma brecha vai passando. Num determinado momento encontrei na internet uma pessoa chamada Zan Quaresma, que é um arquitecto de São Paulo, ele era amigo de amigos meus arquitectos e falei do projecto, enviei todo o material sobre o Interartes, como ele fazia parte do sindicato dos arquitectos de São Paulo, então me convidou para fazer a exposição na sede. A casa tem história, foi dos obreiros ingleses que vieram fazer a estação da Luz na capital Paulista, quando a vi fiquei maravilhada, o público e os arquitectos foram maravilhosos e então apresentei lá os artistas portugueses.
Um concurso de Educação Ambiental pela Ong Baobá, pretende salvar a mata Atlântica, através de um concurso junto das escolas locais.
"O Parque das Dunas e suas árvores para a paz" tem por objetivo incentivar os alunos para a reflexão sobre a importância das árvores na segurança de vida no planeta, à relação da necessidade de mudanças de comportamentos, além de promover a construção de atitudes simples para a sustentabilidade. É uma iniciativa gratuita e a qual poderão concorrer qualquer aluno matriculado na rede pública, ou privada que more em Natal ou Nova Parnamirim, com idades entre 8 até 12 anos, e terão que enviar um desenho e um texto sobre o tema com no máximo 600 caracteres (ver regulamento). São 10 alunos vencedores do concurso, e cada um irá receber 5 mudas de árvores nativas da Mata Atlântica e 5 vasos de 25 litros, para ser cuidadas durante um ano, no final destes 12 meses, às árvores serão plantas preferencialmente na região, ou bairro onde cada aluno mora.O plantio definitivo acontecerá na semana de comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente, entre os dias 1 a 5 junho de 2015.
As inscrições irão decorrer no período de 19 a 30 de maio de 2014. Os melhores trabalhos apresentados sobre o tema "O Parque das Dunas e suas árvores para a paz" irão ser escolhidos por uma comissão de professores constituída por Mary Sorage Praxedes (Parque das Dunas), Alídia Ribeiro (UFRN), Maria das Dores Melo (UnP), Nivaldo Calixto Torres (IFRN), Rogério Câmara (EE Nestor Lima) e as ativistas sociais Maria das Neves Valentim e Gabriela Baesse. O resultado deste concurso é publicado, dia 02 de junho, no blog árvores da paz da Ong Baobá. No mesmo dia e no dia 03, começarão a distribuição e entregas nas casas dos 10 alunos vencedores do concurso.
Outro dos objectivos desta iniciativa visa também fazer uma importante reflexão sobre as datas de comemoração do Dia Internacional da Biodiversidade dia 22 d Maio e o Dia Nacional da Floresta Atlântica no dia 27 do mesmo mês
A Ong Baobá, liderada por Haroldo Mota e organizadora deste evento, foi criada em 09 de outubro de 2003 e actua predominantemente em Natal, com o objetivo de conscientizar ambientalmente a população norte-rio-grandense. Ela apresenta projetos que defendem o desenvolvimento sustentável, focando principalmente na questão das mudanças climáticas. A proposta central da Organização é estabelecer um diálogo com a sociedade sobre sua atitude em relação ao meio ambiente. Pretende ainda, plantar uma árvore por habitante no Estado do RN (Rio Grande do Norte), ou seja 3,2 milhões. É um projeto ousado que consiste sensibilizar o máximo de pessoas, sobre a neutralização de carbono frente as mudanças climáticas. Além disso, apoia a ideia do uso mais frequente da bicicleta como meio de transporte, diminuindo a emissão de gases poluentes dos veículos motorizados, consumidores de combustíveis fósseis. Para isso, promove passeios ciclísticos, principalmente na capital.
http://arvoresdapaz.blogspot.com.br/2014/05/concurso-de-educacao-ambiental-eu-cuido.html
http://ongbaoba.wordpress.com/quemsomos-2/
Foi uma iniciativa criada por Andreia Nóbrega e um grupo de amigos para alertar para a destruição dos espaços naturais da ilha da Madeira, em particular, na Praia do Portinho, no Caniço.
Num passado não muito longínquo, no inicio do século XX, desde o topo da falésia da praia do Portinho, avistavam-se as brancas velas dos navios próximos da costa e o movimento frenético das gentes na sua labuta diária mesmo à beira do calhau. O ruído ensurdecedor da caldeira de carvão, de martelos a bater e das correntes a arrastarem-se pelas negras pedras rolantes ajudavam a marcar o compasso ritmado dos muitos braços que içavam para terra os barcos que por aqui passavam em busca de passageiros, o povo que carregava às costas o fruto do seu trabalho, os seus pequenos nadas, para serem transportados até à cidade. A pequena baía protegida por muros de rocha vulcânica constituía o refúgio ideal para a propriedade da família Blandy e o estaleiro que garantia o concerto das fragatas flageladas pela força do mar e do tempo. Era um buliço constante de pessoas, trabalhadores e bens que só terminou em 1970, quando a empresa inglesa decidiu transferir toda à sua actividade até o Funchal. Desse ano em diante tudo mudou... o barulho das máquinas e o ecoar das vozes marcados pelo sal e pelo sol foram substituídos pelo rolar dos calhaus embalados pelas ondas, o vento a acariciar as canas selvagens e o piar passageiro das aves marinhas. O arsenal, construído pelo homem, pouco a pouco foi-se desmoronando e a natureza invasiva foi ocultando esses resquícios de um passado já sem nome.
Mário Laginha é um nome incontornável da música portuguesa, porque não se esgota no jazz. Prova disso é o seu último trabalho discográfico, de autor, "terra seca", onde explora outros terrenos musicais, mas não só. É uma necessidade de experimentar que o acompanha sempre em tudo o que faz e com quem o faz.
Neste último trabalho acrescenta um instrumento, a guitarra portuguesa, que é algo pouco vulgar nos seus discos.
Mário Laginha: O desafio era esse. É um instrumento de que gosto, mas é um pouco peculiar, dá para algumas coisas que outros instrumentos não dão e vice-versa. Apetecia-me experimentar a guitarra portuguesa para um universo fora do seu lugar de conforto, que era o fado, e conheci um grande guitarrista, que é também uma pessoa que se sente atraído pela experimentação, pelos desafios. Passado uns tempos convidei-o para um trio, ele aceitou e foi assim que tudo começou.
Tendo uma longa carreira como músico, porque só agora esta experiência?
ML: Porque apareceu a pessoa, o problema é que há guitarrista fantásticos, mas não estão disponíveis para sair da sua área de conforto, isto não tem nada de crítica, mas o Miguel Amaral sentiu-se muito tentado por experimentar outras coisas e eu encontrei a pessoa certa, era preciso de alguém que se prestasse a isso.
Como decorreu o processo de tocarem juntos. Foi difícil ou nem por isso?
ML: Nós já nos conhecíamos. Tínhamos tocado juntos numa peça do Ricardo Pais, o "sombras" e tinha-me apercebido que tinha um enorme potencial. Como conhecia um bocado o guitarrista e tinha trabalhado com ele sabia que era fácil estabelecer essa relação. Uma das coisas muito importantes num projecto musical é sentir-se bem com quem se esta a tocar e o Miguel é esse tipo de pessoa. Ele foi de uma ajuda enorme, porque quando estava a compôr a música tinha-lhe de perguntar se o que estava a escrever era possível fazer em guitarra portuguesa ou não e ele foi fundamental nesse processo, para me ir guiando. Era do genéro: este acorde só se for assim, queres? Eu dizia quero! (risos).
Este um álbum escrito quase na íntegra pelo Mário, excepto um tema, porque o que inclui?
ML: Porque é dele. Trata-se de um tema com o fascínio de escrever algo para este trio, que tivesse algo de clássico e a ideia da fuga. Eu achei que em todo o disco puxava para um outro lado, para o universo deste trio, ou seja, eu acho que a sonoridade fica mais completa de alguma forma com este tema.
Esta primavera-verão vista pelas escolas de design portuguesas.
Por norma os jovens designers portugueses apostam pelo seguro, no que se refere as suas colecções, procuram evidenciar-se pela forma e pelo design usando tecidos básicos que transmitam uma ideia de neutralidade, inovação e andróginos. Gosto desse lado quase futurista dos coordenados e curiosamente para esta primavera-verão ficaram em evidência duas das tonalidades muito fortes, o branco e o preto, devo dizer que uma das minhas combinações preferidas, sofisticada e ao mesmo tempo clarividente, quente e fria, mas acima de tudo elegante. Tanto a Esad, como a escola Árvore e a Modatex escolheram peças dinâmicas e volúveis e fica a prova que a moda portuguesa segue e soma para um futuro que se espera risonho e pleno de criatividade.
É sem sombra de dúvida o livro mais conhecido e reconhecido pelo público do escritor joão de Melo. Trata-se de uma saga familiar que atravessa vários países e que evoca as ilhas interiores.
É de certa forma autobiográfico?
João de Melo: De certa forma, não totalmente, se calhar nem pela metade. Porquê? Precisámos talvez de revêr o conceito de ficção. Há pessoas que dizem que a ficção é a pura mentira que se faz passar por ser verdadeira, dámos-lhe o aval da escrita, publicámos, fazemos livros, etc. Existem outros ainda que dizem que não é bem assim. Dígamos que há um ponto pessoal de partida do autor, daquilo que é, do que viveu e dos sítios e das pessoas que conheceu, que ajudam a ver melhor à realidade de que ele quer falar, embora possa transportar de um lugar para outro o próprio testemunho do que relata. Mas, no caso de "gente feliz com lágrimas" a ideia foi essencialmente o seguinte, adequar à narrativa ao tempo português daquela altura, no caso dos Açores, que se caracterizava por uma extrema pobreza e famílias muitos numerosas, com muitos filhos, como uma espécie de clã familiar onde o pai era uma espécie de voz de autoridade. De uma enorme necessidade de fuga da ilha para fora e é a partir daí que o livro claramente descola da chamada infância açoriana para povoar os destinos quer dos açorianos, madeirenses, ou continentais, porque abre os caminhos da emigração. E a partir do momento em que o livro vi identificando esses itinerários, nós já estámos não a falar propriamente de uma família, mas sim de um país, que vai até África, que tem a experiência da guerra, que vai para o Canadá e para o continente. Depois a narrativa evoluí em espiral para o tempo português e faz uma espécie de baixo relevo da própria quotidianidade portuguesa ao longo destes 40 anos.
Mas, quem leu o livro fala que aborda a essência do ser ilhéu, de como era sofrida a vida nas ilhas e não tanto um retrato do país.
JM: Naturalmente que esta lá, mas eu aceito todo o tipo de leituras desportivamente e com cara alegre de qualquer livro meu, mas repare que a insularidade não existe só nas ilhas, se for a uma aldeia numa região como a Serra da Estrela, ou Trás-os-Montes vai encontrar ilhas, pessoas insularizadas, não tem o mar em volta, mas tem as montanhas, as grandes penedias de que falava Torga e o mesmo instinto de saída da "terra maldita" para ir à procura da libertação económica e isso faz parte das crónicas portuguesas da contemporaneidade. No fundo eu quis que este livro fosse profundamente e autenticamente açoriano, não para ficar lá, mas também para propôr a ilha como analogia para outros lugares, outros sítios, em outros países. E houve coisas muito belas que se disseram sobre este livro, recordo imensas delas, este é um livro que tem 25 anos de existência, mas uma dessas belas ideias que se disseram sobre "gente feliz com lágrimas" foi que se tratava de um livro sobre ilhas interiores, quando foi traduzido para castelhano foi dito que poderia ser um livro espanhol e coisas do genéro. Estas coisas, claro, que caem muito bem no coração do autor, que é sinal de que no fundo escrevemos por uma causa, ou para identificar à condição humana ligada ao lugar e ao tempo, que é como sabe, igual aqui, na China, ou no Japão e temos todos os mesmos anseios.
Abordando os 25 anos de "gente feliz com lágrimas" acha que olhando para atrás poderia ter feito outro livro ou não? Pelo menos diferente?
JM: O "gente feliz com lágrimas" foi um livro que me fugiu das mãos, porque era para ser como na primeira parte, três irmãos a lutarem pela sua vida, a sua aventura e já na segunda parte seriam eles a narrarem. Só que há uma altura em que o livro tem 800 páginas e eu disse: isto não pode ser. Ou é uma trilogia, ou é um calhamaço que ninguém vai ler, então voltei para atrás para reescreve-lo em espiral e a personalizar na figura do Nuno e no seu casamento para organizar a história. Mas, repare que poderia ter feito uma triologia porque daria, mas as coisas são como são, acontece por acaso que dei por mim com aquele excesso e acontece por acaso que foi assim que o público gostou. Não tenho garantia nenhuma que se tivesse sido uma triologia teria sido um sucesso, até porque se fossemos para o primeiro, segundo e terceiro volume, ou algo parecido, há sempre um fim abrupto que deixa antever que o livro não esta completo e podia não ter tido a fortuna crítica que teve até agora. Dígamos que é um caso muito assinalável.
Falando da linguagem deste livro, há um tom muito cruel, muito directo que é pouco habitual na literatura portuguesa que gosta muito de palavras pomposas, de metafóras e analogias.
JM: O livro é muito oral, porque vive de alguém que ouve as histórias, é um senhor, pergunta-se muitas vezes quem é, mas sabemos que esta lá e tinha que ter um estilo mais ou menos oral. Ninguém fala da maneira como escreve, a oralidade é o fio condutor da narrativa, mas depois existem outros livros e aí já o autor emerge como prosador, mais ou menos poético. Depois há o modo característico de falar dos emigrantes quando já estão contaminados por uma língua estrangeira e adoptam termos e criam palavras que não existiam antes, por exemplo, nos Açores da minha infância não havia figrorificos e é evidente que quando toda aquela gente saí da Achadinha, do Concelho do Nordeste e vai para o Canadá e aparece um frigorifico na ilha, chamam-lhe frizer e chamam television a televisão, eu quis que isso aparecesse no livro e também as bengalas em inglês, como, "do you know?" que faz parte da linguagem do quotidiano e que ouvi imensas vezes nas viagens que fiz junto dos emigrantes da América do Norte. No livro este discurso são marcas da oralidade e que de alguma forma também arrastam o leitor consigo.
Ricardo Dinis é um aventureiro, mas acima de tudo é um empreendedor. Não fica à espera sentado que os seus sonhos se concretizem, corre atrás deles e coloca em prática os projectos que fazem sentido para sua vida. Uma viagem até ao Brasil de barco à vela para celebrar a Portugalidade, a selecção nacional e o mundial de futebol é o seu actual devaneio, na companhia da sua gata bebé, Victoria.
Sei que o objectivo é navegar até o Brasil, mas quanto leva em média para organizar uma viagem com esta envergadura?
Ricardo Dinis: Há muitas áreas, tem-se que preparar o barco e é preciso seleccionar e preparar a equipa. Para este projecto foi buscar pessoas diferentes que não tinha ido buscar para os outros desafios, embora tenha sempre o meu "core team" principal. É preciso também procurar os parceiros certos para a viagem, nós nunca abordámos uma empresa por ser grande ou conhecida, percebemos o que queremos fazer, estabelecemos o propósito da viagem e questionámos: este tipo de projecto faz sentido a quem? E só depois vamos à luta. Começámos logo a reunir os parceiros em mês e meio, preparámos o barco em tempo record, tivemos que alterá-lo em alguns pormenores, porque vamos estar em climas muito quentes e a embarcação tinha várias zonas de cor preta que tinham de ser alteradas para branco. Desde o princípio que tive essa enorme vontade de apoiar a selecção, não só para ver os jogos, mas também como português de mostrar-lhes à minha força e vontade e espero que tenham uma prestação muito digna. A bordo tenho uma linda garrafa com milhares de mensagens impressas, num papel de cortiça enrolado, de portugueses de todo o mundo, esta numa caixa muito bonita com azulejos pintados à mão em que cada um tem como tema a cultura portuguesa. Esse presente é para dar força à equipa e desejar boa sorte para o mundial, que é maior evento do mundo falado em português este ano e para lá fomos à vela 514 anos atrás. Para mim é muito importante desenvolver este tipo de projectos, em 19 de Novembro de 2013 quando estavámos a jogar com a Suécia estava um pouco preocupado, porque tínhamos que ganhar, se não ganhassemos não íamos ao mundial e perdia-se toda esta ligação com o Brasil. Acho que é importante criar estes laços não só ao nível político, empresarial e diplomático, mas também humano e cultural.
Fazes alguma preparação psicológica, já que vais estar sozinho tanto tempo no mar?
RD: Sim, a parte de psicológa não tanto, mas já trabalhei com uma psic]ologa de desporto durante uns anos, a Ana Ramirez, que trabalha com atletas de alta competição. Ela tem sido uma peça muito importante no puzzle de todos os meus projectos. Ainda antes de viagem estivemos sozinhos 20 minutos, já fazia um ano e meio ou dois que não nos víamos e estivemos a conversar durante esse bocadinho. Não é tanto pelo estar sozinho no mar, mas sim pelo saber gerir todas as frentes que um projectos destes envolve. É muito exigente para mim, porque eu estou no centro de tudo mesmo que tente não estar e portanto tenho todos os dias as pessoas da minha equipa a pedirem coisas, a confirmar outras e a última palavra é a minha e isso é muito difícil, porque para além deste projecto tenho outras actividades e o ter de gerir essa agenda e não poder falhar no "guião" isso é muito exigente. Quanto a parte de estar sozinho no oceano, estou sempre bem nessa situação, sinto-me muito feliz no mar e é muito especial, não sinto solidão, ou outra qualquer preocupação, sei que estou obviamente isolado e que estou longe de tudo e todos, mas sinto-me bem com isso. A parte física este ano levei mais a sério, treinei na "fisiogaspar", onde também muitos elementos da selecção se preparam.
Mas, há um treino muito específico?
RD: Sim, foi 100% feito para mim, para além da parte nutricional onde também foi acompanhado por profissionais do mesmo centro e tenho produtos da golden nutrition, que é uma empresa portuguesa que fabrica suplementos de treino com proteínas e hidratos de carbono. Tenho tudo isso à bordo, porque beber água não chega. Só para colocar a vela no topo do mastro,que pesa 700 quilos, demoro cerca de 45 minutos e isso necessita de um treino muito intenso.
Quantas horas em média treinavas?
RD: Às vezes entrava as oito da manhã e saia quando estava a escurecer. Tinha duas horas de fisioterapia e comia lá, cheguei a fazer cerca de 6 à 8 horas de exercicio por dia.
É uma curta-metragem de Pierre-Marie Jézéquel do ano de 2010.
Trata-se de uma narrativa um tanto quanto assustadora, parece até uma daquelas notícias que se lê nos jornais quando alguém é abandonado à sua sorte e de certa forma há um corte com a sociedade e o seu tempo. Gostei deste pequeno filme. Fala de solidão e de como a mente humana tem sempre necessidade de criar mundos, mesmo que sejam imaginários, para não ceder a loucura, ao isolamento e ao silêncio. Gostei dos jovens actores nas suas versões mais ou menos adultas, ambos demonstram e bem uma certa inocência fruto de uma existência quase selvagem, sem limitações que se extende à paisagem infindável do Alentejo. É também o retrato da uma certa forma de vida empobrecida, da tal "terra maldita" de que fala o escritor João de Melo, que tende a ser abandonada sob várias formas e visível sob muitas formas neste filme. Mas, não se fiquem pela minha opinião, vejam e apreciem.
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