Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

terça, 04 março 2014 18:22

Gritos de liberdade

  

Um olhar sobre os protestos na Venezuela.

Simón Bolívar em tempos idos afirmou que " fazer a revolução na América é como arar o mar". Passado três séculos, a mesma pátria que o viu nascer implantou uma nova revolução, apelidada de bolivariana, liderada por Hugo Frias Chaves que deixou para a posterioridade...uma nação dividida. A história da Venezuela escreveu-se à sangue, ferro e fogo, assim como a de toda a América Latina, e nada disto é mais verdade do que hoje. Quando vejo as notícias sobre o país que me viu nascer, de irmãos lutando contra irmãos, os constantes atentados à liberdade civil que leva as ruas da cidade de Caracas estudantes em protesto, jovens mulheres a serem selvaticamente agredidas pela guarda do povo, líderes da oposição detidos acusados de secessionismo e mães em luto marchando para honrar a memória dos seus filhos mortos, recordo as palavras do libertador e lamento profundamente cada gota de sangue derramada em prol dessa utopia, afinal é possível a igualdade social e política numa nação movida pelo poder do ouro negro?

terça, 04 março 2014 18:16

Micróbio vivo

É um dos registo musicais de Adriana Calcanhotto.

Felizmente para o mundo existe a Adriana com a sua voz veludo, o seu violão e as suas palavras de encantar. Ela não samba, ela não quebra, ela não balança, ela não judia, ela não castiga e talvez por isso, "já reparô?" Ela é uma das grandes vozes femininas do Brasil. O seu "micróbio do samba" derivou para "o micróbio ao vivo" que transporta todo o universo de Calcanhotto e a aparente simplicidade das suas melodias para o palco e nem se nota a diferença, essa é porventura a sua maior força, a sua serena e bela figura acompanhada apenas pela guitarra, as suas canções e a sua inconfundível voz são tão hipnóticas em CD como ao vivo, derrete até a alma mais impenetrável e seca de emoções. É impossível ficar indiferente. Escolhi este álbum talvez por ser um dos menos conhecidos, o que não implica que seja um trabalho menor, muito pelo contrário, eu "vivo a sorrir" quando o oiço e fico inspirada pelas pequenas histórias que vai contando ao longo deste trabalho discográfico, é uma homenagem ao samba ao estilo de Adriana, com classe, bom gosto e "tão chic", como tudo o que faz na vida, por isso, aceite este "convite pro samba" e "vem ver"!

terça, 04 março 2014 18:08

Arroz de palma

É um romance da autoria de Francisco Azevedo.

Arroz de Palma é um daqueles livros que faz água na boca, a começar pelo título e como poderão constatar ao virar das páginas, a fome junta-se à vontade de comer e chegámos ao fim plenos e felizes com o desfecho. O autor até pode ser brasileiro, mas a história que conta é tão portuguesa que pouco ou nada surpreende e esta não é de todo uma afirmação depreciativa, muito pelo contrário. É curioso como Francisco Azevedo, dono de uma escrita despretensiosa e desempoeirada, traça o percurso da sua família emigrante de uma forma tão carinhosa, divertida e emocionante sem ser piegas e tudo é baseado num saco de arroz! É verdade. Esta novela é uma homenagem digna as mulheres de sua vida, o autor capta habilmente natureza dessas mulheres portuguesas avessas a grandes manifestações de ostentação, sua sabedoria peculiar, a cumplicidade entre mães, filhas e irmãs, o seu amor incondicional a família, seus sacrifícios pessoais e tudo o que implica essa quase inata discrição subvalorizada, mas isso não significa em nenhum momento que é um sinal de fraqueza. Acho que não há dúvida sobre o facto de que eu gostei imensamente esta leitura de "Arroz de palma" e já agora um conselho, lê-lo com uma barriga cheia.

terça, 04 março 2014 18:02

O terceirense acidental

Luís Filipe Borges é uma das caras mais conhecidas da televisão portuguesa, é um dos apresentadores do programa "cinco para a meia-noite", mas não só, é também argumentista, escritor e comediante. São as várias facetas deste açoriano de gema que fazem dele um dos nomes a reter no cenário artístico nacional.

O riso ainda é o melhor remédio?
Luís Filipe Borges: Eu não gosto muito de frases feitas. Tenho a certeza que o riso é um dos melhores paliativos e não só. É a melhor forma de encarar os tempos mais difíceis e uma das melhores armas para reflectir sobre eles, dizer a verdade a brincar como se costuma dizer.

Sabemos que a comédia é uma das áreas que não sofre muito com a crise, é pelo facto de que os portugueses necessitam de rir-se mais.
LFB: Não concordo nada com isso, a comédia sofre com a crise como outra área qualquer, por exemplo, eu e o António Raminhos temos feito mais espectáculos do que nunca, mas é porque corremos riscos. Para vir à Madeira pagámos os bilhetes de avião, para ir a qualquer lado não temos cachet, dependemos das bilheteiras dos teatros e sofremos como qualquer outra área sofre. Quando não há dinheiro para pagar um cachet à partida combinado, como seria o ideal, temos duas opções, ou deixámos de fazer as coisas, ou arriscámos e portanto optámos pela última e nesse sentido um comediante sofre como qualquer outra pessoa. Ao nível mais filosófico com a crise tem-se sempre mais material de inspiração, mas há um grau de responsabilidade que aumenta exponencialmente, porque as pessoas divertem-se mais facilmente quando os problemas da sua vida não são tão dramáticos. Ao apresentar o "cinco para a meia-noite" há temas mais ligeiros que deixei de tocar, porque sinto que seria irresponsabilidade da minha parte estar a fazer humor com férias, por exemplo, comparar a cultura portuguesa com a de outros países e ao mesmo tempo subtilmente passo a mensagem (aos espectadores) que eles não podem viajar e eu posso, seria algo delicado nos tempos que correm. Acho que temos uma responsabilidade social nobre que é entreter as pessoas sem dúvida, distraí-las das suas agruras durante algum tempo, mas eu não acredito na comédia feita de non sense, devemos distrair as pessoas, mas ao mesmo tempo tocar na ferida. É por isso que digo que a nossa responsabilidade, enquanto comediantes, até aumenta com a crise.

Mas, a exposição mediática da televisão ajuda na carreira, embora tenhas focado as dificuldades inerentes.
LFB: Claro que sim que ajuda. A televisão é um meio de massas muitíssimo forte, fazer um programa como o "cinco para meia-noite" que é bastante apreciado, claro que traz mais trabalho.

Focaste o tema das férias, mas fora do contexto da crise, como comediante tens temas tabus?
LFB: Há temas tabus. Eu acho que não tenho um tema, mas acho que existem limites, eu vou dar um exemplo, se aquilo que aconteceu há quatro anos na Madeira onde morreram imensas pessoas se tivesse acontecido ontem eu queria ver qual era o comediante que faria uma piada em público sobre isso, porque a maioria dos profissionais gosta muito de dizer, que não há limites para a comédia, o único limite é o bom gosto, ou a inteligência. Claro, que há limites até de ordem ética, eu sempre vi as coisas assim, existem questões de timing e de temas. Em Portugal, começou uma subcultura do humor negro, ou pelo menos consideram-se assim, eu acho que o humor negro português é miserável, o Rui Sinel de Cortes que é o seu expoente máximo, eu nunca me ri das suas piadas, porque acho que um comediante que não pratica a auto-depreciação e que procura apenas o choque gratuito não é alguém interessante, o chocar por chocar é fácil, para isso eu chegava ao teatro cheio baixava as calças que as pessoas com certeza se riam.

terça, 04 março 2014 17:58

Sombras

É um curta-metragem de Nuno Dias.

Trata-se de um filme sem falas. Toda a acção decorre num meio aberto, livre de referências geográficas, poderá ser ou não no Alentejo, mas isso pouco importa, o que interessa é ampliar da ideia de solidão absoluta, da desolação e deriva da personagem, o que torna a acção ainda mais excitante e interessante, os ruídos da natureza actuam como auxiliares sonoros nesta curta-metragem negra cuja premissa é simples, "quando ela encontra um homem morto no meio do nada, ela decidiu tirar-lhe a sua única posse", e basta para perceber perfeitamente a história, a forma como foi filmada é deveras cativante, só notei um senão, um pequeno erro, um foco de luz que "persegue" a personagem pelas costas quando ela anda à deriva pelo descampado no meio da noite. Gostei imenso do trabalho da jovem actriz, Rita Martins, da sua fisicalidade, das expressões do seu rosto que não deixam ninguém indiferente, foi soberba a sua prestação, totalmente convincente até o último segundo, daí o prémio de melhor actriz no "Los Angeles International Underground Film Festival". O final é inesperado pela sua brutalidade crua e de uma caracterização da personagem maravilhosa! Vejam este "sombras", um bom exemplo de cinema português.

terça, 04 março 2014 17:52

A dupla jané

  

Teresa e Helena Jané, são irmãs e artista plásticas que apostaram numa marca que não se define como sendo um estilo, mas é um conceito que abrange as várias vertentes da criação da cerâmica e não só. É acima de tudo uma visão pessoal que assenta nas mais diversas influências que as rodeiam e que transportam para as suas peças.

O que vós atraiu na cerâmica?
Helena Jané: Eu julgo que foi a sua plasticidade e as inúmeras possibilidades do material em si. Quanto a área estavámos muito familiarizadas, a nossa mãe foi professora de trabalhos manuais e de artes do fogo, desde muito cedo aprendemos a reconhecer trabalhos de grandes artistas e ceramistas portugueses, acompanhávamos à nossa mãe nesses estágios e era de facto uma área muito familiar. Fora isso, o nosso irmão, já em 1998, também tinha um projecto ligado à cerâmica, na vertente de azlejaria. Eu julgo que foi inúmeros factores, conhecendo o mercado, aquilo que se fazia e se desenvolvia por parte dos ceramistas e acompanhando o todo o processo de criação da nossa mãe, decidimos apostar em algo diferente.

O que define o estilo THJané?
HJ: Não é um estilo. Eu julgo que conseguimos construir uma identidade que não se encaixa nessa ideia, muito pelo contrário, quando iniciámos o projecto era um dado adquirido, até porque tínhamos diferentes formações, um conhecimento alargado e na nossa actividade profissional tocámos em muitas vertentes culturais extra THJané, isso fez com que um dos nossos grandes objectivos fosse diversificar, nunca encaixar, ou deixar-nos encaixar a nossa criatividade num determinado género e também por questões de motivação. Essa é talvez uma das razões que não nos leva a apresentar poucos elementos numa colecção. Trabalhámos vários materiais e temos um portfolio diverso que vai desde a pintura, a escultura até a cerâmica. Esse era também outro objectivo que era não nos fidelizar-nos, agarrar-nos a um estilo, mas acredito que estejamos a construir uma identidade. É o nosso paradigma.

Uma das vossas apostas são os acessórios, onde se inspiram para criar as colecções?
HJ: As jóias são uma das nossas vertentes mais ligadas à moda. As fontes de inspiração são muito diversas, nomeadamente para as grandes colecções que lançámos, a actualidade e as suas consequências na nossa própria vida pessoal e profissional. A natureza, uma conversa de café, uma discussão informal entre amigos poderá servir para nos lembrarmos de um determinado acessório. Eu julgo que basicamente é isso. Nós temos peças que são puramente decorativas, mas tentámos sempre que tragam alguma história, algum conceito por detrás dessa mesma peça. No início quando avançámos em 2004 com as jóias, os puxadores foram 2002, estavámos mais viradas para a natureza, para aspectos mais visuais do nosso quotidiano, ultimamente a nossa fonte de inspiração é muito ligada a nossa experiência, o dia-a-dia, a actualidade, as crises, as questões pessoais, a perda de entes queridos, tudo isso interfere muito e leva-nos a colecções muito mais conceptuais, com muito mais história do que inicialmente.

Então como é que se transpõem todas estas ideias para a cerâmica? Verifiquei que utilizam nas vossas peças materiais inusitados, como a corda, há uma certa influência de áfrica.
HJ: A questão dos objectos que nos rodeiam no nosso dia-a-dia, desde míúdas, desde sempre, não passam apenas pela cerâmica.Estão misturadas com outros trabalhos que vieram de África, que os nossos pais trouxeram de Angola, ou inspiradas durante o estágio que à minha mãe foi executando enquanto professora e por não virmos de uma família rica, não termos muitos recursos porque éramos quatro filhos e os nossos pais eram ambos funcionários públicos, nunca houve muito dinheiro, foi-nos sempre incutido tentar alcançar os nossos objectivos para suprir as nossas necessidades, por isso, estavámos habituados a fazer grandes malabarismos, a inventar coisas e ao mesmo tempo sermos pessoas muito práticas, acabámos por trazer isso tudo para o nosso projecto. Somos ceramistas sim, e estamos numa era de que gostámos, com uma criatividade brutal ao nível nacional e não só, enfiar-nos na tal prateleira de cerâmica e ter um certo preconceito com qualquer material, eu julgo que isso não vai ajudar a tornar-nos diferentes e trazer inovação ao mercado. A mistura de materiais é de facto importante, a sua orgânica é algo que nos preocupa, o entendermos que há determinados materiais que se dão melhor com a cerâmica, mais terra, que tem mais a ver com o que fazemos, por isso, optámos pelos tecidos, fios, alguns deles executámos, outros adquirimos, mas damos sempre um toque diferente, bordámos, trazemos sempre a inovação à peça, como foi o caso da borracha e da "Fisgay"em que todos ficaram todos na dúvida se seria um colar ou um objecto. Achei piada, porque no CCB(Centro Cultural de Bélem) foi exposto como sendo uma jóia e havia ali uma dúvida de interpretação por parte dos lojista e da gerência, mas julgo que deve haver essa preocupação. Até porque cerâmica numa jóia é limitante, precisámos sempre de um apoio para tornar a peça mais resistente, a colecção mais vestível e entendemos que é necessário aplicar ali outro género de materiais.

 

terça, 04 março 2014 17:43

O meu pequeno pónei

Uma quarta raça de cavalos em Portugal foi reconhecida oficialmente.

O Pónei da Terceira foi finalmente reconhecido como raça autóctone. Para trás ficam 14 anos de trabalho de campo desenvolvido pelo cientista do Centro de Biotecnologia dos Açores, Artur Machado, que liderou todo o processo, tendo o pedido oficial propriamente dito sido feito há cerca de dois anos, à Direção-Geral de Alimentação e Veterinária de Raça de Equinos Autóctone. Numa primeira fase foi feito um levantamento dos animais existentes na ilha, depois foi selecionado um grupo que correspondiam às caraterísticas típicas do Pónei da Terceira e antes de ser pedido o reconhecimento houve um aumento do efetivo.
Atualmente existem 118 especiméns de acordo com os censos do investigador, sendo que só na Universidade dos Açores estão 54 e seis foram exportados para o continente, numa tentativa de divulgação da raça.
O que distingue o Pónei da Terceira como raça é o facto de se assemelhar morfologicamente a um cavalo, mas ter a dimensão de um pónei, o que o torna o cavalo ideal para o ensino da equitação nas camadas mais jovens, embora seja usado desde sempre pelas populações da ilha da Terceira para o transporte de viveres e pessoas e usado na lavoura.

quarta, 05 fevereiro 2014 09:03

Os eletrustic

  

São um projecto musical, liderado por Paulo Gouveia, que resulta de uma fusão entre o jazz, a música electrónica e a repercussão. Uma experiência única e inusitada que resulta do diálogo improvisado permanente entre os músicos e que apesar dos aplausos do público acabou, mas resta o "best of 2014" para ouvir e ficar surpreendido.

Quando surgem os eletrustic?
Paulo Gouveia: Em junho de 2013, foi uma proposta de um amigo nosso o Paulo Lima, da freshmoods, que nos pediu criar algo dentro da improvisação do jazz, que é uma área que eu e o João Correia, o trompetista, estamos mais ligados. Queríamos fazer algo diferente, fora do habitual e tentámos trazer a música electrónica à improvisação, ou vice-versa, depende como se analisa. O que aconteceu foram alguns concertos, um trio com João no trompete e Juan Pestana nas teclas em toda a
área do digital, light samplying e com outro tipo de ferramentas, da minha parte, sou baterista, tentei procurar algumas sonoridades diferentes, a partir dos instrumentos que utilizo. Tentámos ir ao encontro da música electrónica, com o tal conceito de improvisação do jazz. O projecto acaba por ganhar uma dimensão maior do que Portugal e que acabou por não acontecer, porque o Juan vai sair do país e vai tocar fora durante alguns anos, daí ser o nosso último concerto. Até o final do mês teremos disponível o nosso álbum, que vai chamar-se "the best of 2014".

É o primeiro EP que lançam?
PG:Sim.

Mas, como é que fizeram a selecção musical se é feito na base da improvisação? Gravam todos os concertos?
PG: Sim, gravámos sessões de improvisação e escolhemos determinadas faixas para compilar tudo num registo, num disco se é assim que se pode chamar.

O que tens de ter em consideração para seleccionar certos momentos musicais, que os restantes não tinham?
PG: A improvisação como qualquer tipo de diálogo tem alturas mais felizes, outras menos, embora funcionámos sob alguns padrões que estão programados e tentámos sempre seleccionar um ambiente em que notámos que as coisas funcionaram melhor, e esse processo ainda esta em curso. Mas, trata-se de um projecto muito aliciante nesse sentido, trabalhar em improvisação em diferentes ambientes, aos que os músicos de jazz não estão habituados, como o house music, o drummer bass, e mesmo outras linguagens com a mesma raíz, mas que possuem outra notoriedade hoje em dia. As pessoas estão habituadas a ouvir Dj's, a fazerem o seu trabalho e acho que o que transpareceu neste projecto foi fascinar os espectadores nesse sentido, verem como as coisas são tocadas, em que os sons não são todos adulterados. Esse também tem sido o fascínio, para mim, a pesquisa de sons de outros universos.

 

quarta, 05 fevereiro 2014 09:01

A viagem por vermeer

  

Uma ida revisitada à Delft por causa de um homem com uma obsessão.

Quando visitei à Holanda uma das minhas paragens preferidas foi Delft, para conhecer a cidade, mas sobretudo para visitar os locais onde viveu e morreu o pintor Veermer, foi inclusivé até o pequeno museu local e ainda tive tempo de avistar a fachada da casa onde pintou algumas das suas mais famosos obras-primas. Isto sem falar do famosso Rijskmuseum onde deliciei-me durante horas com as grandes obras pictóricas dos mestres holandes, ele incluído.

E para aqueles que não sabem, Johannes Vermeer tem sido alvo de acaloradas discussões académicas e artistíscas ao longo dos anos por causa do quase inexplicável e misterioso hiperrealismo dos seus quadros. A pergunta que muitos se fizeram é como é que o Vermeer o conseguiu em pleno século XVII? Philip Steadman professor de arquitectura e o artista David Hockney defendiam que a precisão de alguns do pormenores das suas pinturas advinham de algum tipo de cámara obscura, ou equipamento óptico de grande dimensão que lhe permitia aceder aos mais pequenos detalhes para poder criar algumas das suas famosas cenas domésticas, contudo não passavam de teorias até bem pouco tempo.

 

quarta, 05 fevereiro 2014 08:54

As ecléticas

  

Diana Coelho é uma jovem designer de jóias que nasceu em Lisboa, mudou-se para a Inglaterra, quando tinha 21 anos, onde concluiu um Master of Arts na Universidade Metropolitana de Londres. Fundou a sua marca em 2010, um conceito de design de joalharia contemporânea urbana, funky e moderna, que continua a desenvolver novos conceitos. Actualmente reside na Índia onde lecciona numa escola de design.

Gostava que me falasses do teu percurso, como é que uma lisboeta tira o curso em Londres e acaba na Índia?                         Diana Coelho: É verdade vivi em Lisboa, estive no secundário no agrupamento de artes, sempre tive desde pequena um gosto pelos trabalhos manuais e achei que esse seria o meu caminho profissional. Acabei por optar por arquitectura, mas não o acabei, fiz apenas dois anos, porque na altura tinha uma ideia diferente do curso, afinal era muito técnico e achei que não o queria ser arquitecta em termos de futuro. Decidi arriscar em joalharia, acabei por fazer uma formação técnica em que trabalhava com ouro e prata. Londres aparece depois, ainda cheguei a inscrever-me num escola em Portugal, mas o meu pai sugeriu-me fazer o curso nesta cidade inglesa ao mesmo tempo que aprendia inglês. Arrisquei e fui à aventura, foi uma mudança total da minha vida, estava habituada à minha zona de conforto e Londres é um mundo completamente diferente. Quando terminei o curso voltei para Lisboa, por saudades da família e trabalhei como designer de jóias durante quatro anos, fazia as minhas próprias peças e criava para várias empresas portuguesas. A crise acabou por mudar um pouco os meus planos e achei que valia a pena continuar a crescer profissionalmente fora de Portugal. Sempre apostei em ambientes internacionais e surgiu esta oportunidade na Índia. Estou a trabalhar para uma corporação privada em Singapura, que tem escolas de design pela Ásia.

Mas, ensinas apenas?

DC: Sou professora de design e joalharia e na parte da técnica ensino os alunos a trabalhar metais ou outros materiais, há um ano e um mês e tem sido muito bom.

Como tem sido essa experiência até agora?
DC: Tem sido um grande desafio, tem corrido bem, ao princípio tinha um certo receio por ser uma cultura tão diferente e encontrei alguns obstáculos, há muito caos, é um país com muita gente, a comida é diferente, mas é uma aventura. Eu gosto, por isso, tem sido um crescimento pessoal e profissional muito bom, é enriquecedor estar numa cultura tão díspar, acho que todas as pessoas deviam vir à Índia. Mesmo aquelas que dizem que nunca viriam até este país, nem que seja para aprenderem a valorizar o que tem, temos tanta sorte comparando com o indianos, aqui o contraste é muito grande, são mesmos muito pobres e fazem com tudo com uma maior leveza na vida.

Em termos de joalharia propriamente dita, continuas a criar colecções?                                                                                             DC: Obviamente que o meu tempo é mais limitado, devido ao ensino. Em termos do meu trabalho pessoal eu não digo que ficou de parte, eu sempre vivi da minha marca própria enquanto estava aliada a outros projectos. Em termos das minhas jóias, desde que vim para à Índia tenho tido muitas ideias que nunca teria se estivesse em Portugal, mesmo em termos de materiais. Por isso, não o vejo como algo que me prejudicou, mas sim como um complemento daquilo que sou enquanto designer, estar em contacto com os alunos, não é só a ensinar, mas também a aceitar as suas ideias e visões, mesmo que tenham menos experiência. A joalharia indiana é muito importante em termos culturais, mais nos casamentos. Mas, também na maneira como vêem a vida, são os maiores consumidores de ouro do mundo. A minha visão pessoal da joalharia acaba por ser muito diferente e isso acaba por adicionar uma outra perspectiva que não teria antes. Na Europa é mais um conceito de design, as jóias são mais contemporâneas. Aqui tem a ver mais com rituais simbólicos ligados a família, dar a uma noiva jóias em ouro é quase se fosse um dote e isso tudo inspira-me, dá ideias e acaba por ser uma mais-valia para aquilo que sou enquanto designer.

 

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