Trata-se de uma personagem criada pela designer Mariana Costa que pretende exorcizar, através do desenho, os demónios que a perseguem, bem como os anjos que abomina, tudo misturado com o toque de humor muito peculiar.
Porquê Mariana, a tua alter-ego é tão miserável?
Mariana Costa: Porque eu também sou.
Se a Mariana não fosse tão miserável, o que poderia ter sido quando crescesse num universo paralelo.
MC:Sempre gostei de pensar que teria sido uma óptima florista. Agrada-me a ideia de ganhar sempre o mesmo ao fim do mês e ter fins de semana e férias.
A personagem tem ver com facto se seres muito portuguesa na tua forma de ser? Ou nem por isso?
MC:O nome apareceu por acaso, mas serviu como uma luva. Para mim foi mais fácil avançar como Mariana, a miserável porque sentia que estava a passar as responsabilidades para outra pessoa. Primeiro inventava histórias sobre essa personagem como "vendeu o seu coração numa loja de souvenirs para pagar a conta da água" mas, passado pouco tempo, percebi que essa personagem sou eu e comecei a contar um bocadinho da minha própria história.
Ela tem um traço um tanto quanto tosco, foi algo propositado, quando a imaginaste?MC:O traço tosco é fazer uso da minha falta de jeito e tendência natural para o desastre a meu favor. É gostar dos erros fazer de propósito para que isso que note.
Este ano, pela primeira vez, no território nacional haverá mais de 300 bandeiras azuis.
Serão 298 praias, 280 costeiras e 18 fluviais e 17 marinas, o que coloca o número total de bandeiras a hastear este Verão em 315.O Algarve continua a liderar em número de praias galardoadas: são 82, uma delas fluvial, contra 69 no ano passado. A seguir vem a região norte, com 66 praias, uma a menos do que no ano passado, devido à saída de Leça da Palmeira.
Na zona do Tejo, são 49 praias, o mesmo número do ano passado. Cinco são fluviais. Há quatro praias novas: três fluviais em Pampilhosa da Serra em Santa Luzia, Pessegueiro e Janeiro de Baixo e a praia da Lagoa da Albufeira do Mar, em Sesimbra. Quatro perdem a bandeira: Crismina, Calada, Algodio e Castelo.
Há ainda 27 praias com o galardão no centro,19 costeiras e oito fluviais. Oliveira do Hospital faz a sua primeira aparição na lista, com a praia fluvial de Alvôco das Várzeas. No Alentejo também haverá 27 praias com bandeira, uma delas fluvial, em Mértola. Nos Açores existem 32 praias galardoadas, mais cinco do que em 2013 e 15 na Madeira, mais duas.
Em baixo a lista oficial:
É uma reflexão sobre os tons musicais, os seus músicos e a sua ainda influência no nosso tempo.
Dizer que a música portuguesa tem um papel muito importante no 25 de Abril é redundante, já que, podemos efectivamente reproduzir mentalmente uma banda sonora sobre revolução dos cravos, o difícil é a escolha. E lanço um desafio, aos leitores mais pacientes, escolham às vossas músicas. Eu começo obviamente com o "depois do adeus" uma belíssima canção de Paulo de Carvalho, que foi a senha para o princípio do fim da ditadura. O segundo tema é "Grândola vila morena", de Zeca Afonso, uma canção proibida pelo Estado Novo, que tocou na Rádio Renascença, na alvorada da revolução, como segundo sinal nacional, para dizer aos revolucionários que as manobras revolucionárias podiam prosseguir em segurança e que se tornou no actual contexto social e político, o hino da protesto do povo português, 40 anos depois. Como não poderia deixar de ser tenho de falar de Pedro Barroso e à minha escolha recai na canção, "lutas velhas e canto novo" que " a resistência de um povo também se cria a cantar!". José Mário Branco é outro dos nomes que não podem ficar de fora deste períplo musical, "alerta" que reflecte bem esse período no tempo e tendo esse espírito em mente, Carlos Mendes louva, na Lisboa da esperança e do contentamento, o "monólogo do operário" e enquanto tivermos voz "até sempre companheiros" de Fernando Tordo, com letra de José Carlos de Ary dos Santos. Embora não tão conhecido, Vieira da Silva canta o Portugal revolucionário com esta certeza de que o "povo há-de vencer" e termino com o inigualável Sérgio Godinho que afirma que, só há paz, o pão habitação, saúde e educação quando há "liberdade" e nunca uma frase foi tão verdadeira e actual. Curiosamente, nesta minha "viagem" pela música portuguesa dos anos 70, poucas ou quase nenhumas cantoras aparecem como referências musicais desse período revolucionário, o que não deixa de ser curioso, tendo em conta que também elas de certeza cantaram Abril.
"É um livro para a história" como referiu Miguel Real, durante a apresentação nacional que decorreu no último Festival literário da Madeira de 2014. Aborda os conflitos sociais na altura do PREC e faz uma literatura interpretativa sobre o pós-revolução de Abril.
Defende no seu livro que o Partido Comunista Português (PCP) durante o período revolucionário foi afinal uma força bloqueadora.
Raquel Varela: Aquilo que é determinante no período revolucionário é a participação massiva de pessoas anónimas, que não faziam parte da política, claro que havia os partidos de extrema-esquerda o PCP e o Partido Socialista (PS), o próprio Partido Popular Democrático (PPD) que vão crescer e tentar influenciar. Mas, nós temos qualquer coisa como um terço da população, 3 milhões de pessoas, directamente envolvidas em manifestações, greves e ocupações e portanto é um país profundamente envolvido na democracia crítica, hora-a-hora, dia-a-dia, nas fábricas, nas empresas e nas escolas. É uma revolução tão importante que vai servir de exemplo, ao contrário do caso de Espanha e da Grécia, onde a ditadura franquista e grega ficam assustadíssimas com a revolução portuguesa. Na verdade, estas ditaduras do sul da Europa caem a seguir da revoluçáo de Abril e é um momento determinante para isso, trata-se de uma revolução muito extensa no sentido da participação operária e popula. O PCP actua aqui muito mais como uma força de contenção social e tenta fazer a ligação deste povo ao Estado, do que tentar que esse povo tenha autonomia.
Aborda também no seu livro os comités de trabalhadores, que tinham muita força, tanto quanto ao povo na convocação de greves.
RV: Sem dúvida alguma. Nós tivemos milhares de comissões de trabalhadores, alguns números apontam para 4 mil, mas para além destas, havia várias nas fábricas que não estão oficializadas como comissões de trabalhadores, mas significa que se reúnem democraticamente no local onde trabalham, em cada escola, centro de cultura, teatro, hospital e posto médico e onde decidem como organizar a sua vida. A democracia passa a ser isso, passa a ser o voto de dia-a-dia, de braço no ar, toda a gente vota. Até os dirigentes podem ser revogáveis, ou seja, são mandatados e se não cumprem ordens são destruídos, não é preciso esperar por uma eleição como é o caso dos sindicatos, ou da democracia representativa.
Refere ainda que no entanto todas estas comissões falharam, porque nunca se reuniram todos num único comité central.
RV: Claro, no fim não é um comité central, dígamos é que nunca houve uma coordenação central de todas essas comissões de trabalhadores e moradores. Se tivesse havido teria aumentado a sua capacidade...mas não sei porque é que falhou, é uma pergunta muito importante e a qual não sei responder.
Se tivesse vingado, o que teria acontecido?
RV: Não sei, porque sou historiadora, sei o que não aconteceu, de facto não houve uma resistência coordenada ao golpe de 25 de Novembro. Milhares de pessoas saíram à rua e tentaram resistir, mas não havia nenhum comando central para resistir a esse golpe.
A propósito de uma palestra, que decorreu no festival literário da Madeira´14, sob o mote "o admirável mundo novo" de Aldous Huxley, falámos com Paula Moura Pinheiro, jornalista, sobre os 40 anos de Abril e o seu programa "visita guiada".
Vivemos num admirável mundo novo actualmente?
Paula Moura Pinheiro: O mundo é sempre admirável, mesmo quando os momentos são menos bons. E não estou a dizer isto, porque é simpático dize-lo, há um lado fabuloso no estar vivo. Agora, às vezes, podemos viver um momento complicado e como comunidade estamos a vivênciar um desses momento. Eu creio que é um título irónico, em 1974 sonharam com esse mundo, sendo que o sonho não era exactamente igual para cada uma das pessoas que sonhavam, porque também há essa questão. Haviam vários sonhos por vezes até antagónicos, mas que se sonhou e muito há 40 anos, é verdade.
E na sua visão pessoal deste tema?
PMP: O balanço que faço do 25 de Abril é incomensuravelmente positivo. Eu era pequena quando aconteceu, tinha oito anos, não tenho uma memória, é construída.
Mas, não acha que todos esses sonhos da revolução dos cravos, estão paulatinamente a morrer aos poucos?
PMP: Isso é uma afirmação?
Sim.
PMP: Eu não acho. Estamos a viver momentos conturbados que exigem de nós que nos coloquemos e avancemos e dígamos: isto é negociável, o outro não é. Até porque temos que perceber que já não estamos felizmente no orgulhamente sós, como estávamos antes de 74 e não estando, fazendo parte de uma malha altamente complexa que é internacional estamos muito limitados por isso. Eu acho que, e muitos achámos, que estamos condicionados e que é não é sinónimo de paralisados. Portanto, temos de ser pró-activos e ver efectivamente aquilo que estamos dispostos a negociar e onde é que estamos dispostos a ceder relativamente aos sonhos de Abril. A liberdade parece-me inegociável em todos os sentidos, de expressão, de livre circulação, enfim, mas há outro tipo de aquisições que eventualmente tem de ser revistas e essa discussão deve ser tida no espaço público e deve envolver-nos a todos. O que estámos dispostos a abrir mão? E no que não cedemos absolutamente? Cada um de nós tem de pensar e agir em conformidade.
Um documentário de José Vieira Mendes que evoca 40 Anos da Revolução dos Cravos e 50 Anos do Golpe de 64 no Brasil.
O que levou a fazer este filme?
José Vieira Mendes: Foi uma espécie de 'encomenda' do FESTin-Festival Itinerante da Língua Portuguesa, que nasceu de uma ideia que partiu de mim de evocar neste festival a Democracia e a Ditadura, num ano de comemorações em Portugal e no Brasil.
Porquê quiseste estabelecer o paralelo entre o os 40 anos da revolução em Portugal e os 50 anos do golpe no Brasil?
JVM: Estamos em 2014 numa altura em que muitas liberdades e garantias dos cidadãos em Portugal e no Brasil (e em todo o mundo também, como vemos todos os dias nos telejornais) estão sendo ameaçadas pelo poder político e pelo capitalismo financeiro sem rosto, que não cria riqueza, mas desigualdades e instabilidade nas nossas vidas. É preciso lembrar a todos e principalmente aos jovens que me parecem um pouco acomodados, que em Portugal e no Brasil, muitas pessoas, foram presas, torturadas e lutaram pelo estabelecimento da democracia, contra a repressão e a ditadura. Isto precisamente em dois países ligados pela língua e a cultura. E depois porque o exemplo da Revolução dos Cravos influenciou muito as primeiras aberturas e a transição para a democracia no Brasil.
Porquê entrevistar um padre, o Alípio Freitas, qual é a sua importância em termos da revolução de Abril?
JVM: O Alípio já não é padre há muito tempo. É uma figura quase mítica e um símbolo da resistência e da luta armada no Brasil, que faz muito bem a ponte com o 25 de Abril, já que o Zeca Afonso, lhe dedicou uma canção chamada precisamente 'Alipio de Freitas', incluído no álbum 'As Minhas Tamanquinhas'. É uma canção no fundo dedicada a todos os presos politicos e resistentes às ditaduras e repressão. Apesar de estar preso no Brasil, o Alípio acompanhou com grande emoção, clandestinamente, às escondidas dos carcereiros e através de um pequeno rádio a pilhas a Revolução dos Cravos em Portugal. Assistiu no fundo como muitos portugueses do interior do País e da Madeira também (as movimentações deram-se basicamente em Lisboa) à revolução através na altura do media mais democrático e com maior poder de penetração.
Durante a rodagem do teu filme o que foi mais difícil e desafiante no decorrer do processo?
JVM: O filme é basicamente uma longa entrevista com o Alipio de Freitas (1h30), reduzida a um filme de 32', combinando com imagens da Revolução dos Cravos e do Golpe de 64. Desafiante foi a apropriação e selecção dessas imagens. Fiz como o Jean-Luc Godard 'apropriei-me' dessas imagens disponíveis no Youtube e remonteias-as e trabalhei-as, graças ao precioso trabalho do Eduardo Amaro (o editor).
Que ilações retiras no final do documentário?
JVM: Esperava mais impacto nos media até pela figura do Alipio de Freitas, que entretanto está bastante doente e infelizmente não pode assistir à estreia do filme.
O que significa agora o 25 de abril para ti 40 anos depois?
JVM: Tinha 14 anos quando se deu o 25 de Abril. Vivi intensamente essa evolução na minha juventude, sabendo que felizmente não ia à guerra e seria a grande oportunidade de nos tornar-mos uma democracia e um país mais aberto ao mundo. Para mim o 25 de Abril é agora um misto de utopia e desilusão! Numa altura em que vivemos um verdadeiro retrocesso civilizacional, em que se está a perder o mínimo que é o direito ao trabalho e em que se teima em apagar a memória, os valores do 25 de Abril. Estou um pouco desiludido com esta sociedade! À minha maneira vou continuar a lutar (mesmo que seja a escrever ou a fazer filmes), por aquilo que acredito, lutar contra a ganância, por uma sociedade mais justa e de bem estar para todos. Não quero acabar com os ricos, quero acabar com os pobres e como o Alípio de Freitas e o Zeca Afonso, acreditar na 'capital da alegria'.
A Bellysketcher, literalmente em português a desenhora de barrigas, ou seja, Inês Pargana, influenciada pelas suas memórias, regista em sessões de desenho uma essência cuja recordação perdurará indefinidamente. Fragmentos de tempo que captam os estados de espírito, os sonhos, os medos e as esperanças das futuras mamas e mais tarde, os estágios plenos de vida dos seus rebentos. É um momento Kodac, só que é ainda mais especial...
A BellySketcher (BS) começa com o teu filho Tomé, quando ainda estava grávida, disseste que tiveste uma vontade de voltar a desenhar, porquê?
Inês Pargana: Sobretudo depois dele ter nascido, porque sabia que tudo passava tão rápido, mesmo que tirasse fotografias, eu nunca conseguiria captar o que agarro através do desenho. Ele cada vez estava mais crescido e que queria fazer mais coisas e pela fotografia parecia que não estava lá, queria agarrar aqueles momentos e comecei a desenhá-lo. Houve uma fase que desenhava imenso e foi bom para os dois, porque recomecei a desenhar e porque queria agarrar esses momentos que sabia que iam desaparecer.
Quando começaste a desenhar tiveste logo a ideia de começar o blog? Ou foi uma sugestão?
IP: Eu tive logo essa ideia. Eu tinha muitos blogs onde punha os desenhos do Tomé, depois as pessoas comecaram a comentar e tirar dúvidas, mas quando comecei era algo mais para mostrar aos amigos que outra coisa, queria mostrar o seu crescimento. Mas, depois foi começando a crescer e a ter visitas de pessoas que não conhecia e aos poucos começou a ganhar uma dimensão maior.
E foi aí que começaram a surgir os teus primeiros pedidos?
IP: Numa primeira fase foram as mulheres a pedirem para desenhar os seu filhos e depois passaram a ser as grávidas, não me lembro bem como foi o processo, mas foi algo muito natural. Depois passei a desenhar mais as grávidas e não tanto os bebés, passei também a desenhá-los depois de nascerem.
É mais uma reflexão sobre a arte de viajar ao longo do tempo.
Começo por dizer que sou do tempo em que viajar de avião significava trazer quase tudo o que coubesse na mala, ou fora dela e quando digo quase tudo, é um eufemismo. Devo mesmo acrescentar que as hospedeiras da TAP air Portugal, a nossa transportadora exclusiva durante longos e tortuosos anos, por vezes, olhavam para mim com o mais absoluto ar de reprovação silencioso perante a quantidade de bagagem de mão que conseguia transportar, sem falar da mala a rebentar pelas costuras que enviava para o porão, dígamos que só me faltava mesmo pendurar um saco no topo da cabeça, tais eram as minhas necessidades de transportar...coisas. Em abono da verdade, elas embora horrorizadas, sempre me ajudaram pacientemente a encontrar um lugarejo para os meus múltiplos sacos e saquetas e falo disto porquê, perguntarão vocês? Pelo facto, de que hoje em dia, se assiste a um autêntico período de terror na aviação internacional que nos levou ao que chamo um cenário bizarro que se assiste nos aeroportos na actualidade. Senão vejamos, uma pesssoa praticamente ter de se despir para não apitar quando passámos pelos detectador de metais, desde o tirar de cintos, bijuterias, piercings, calçado e ainda no final ainda somos brindados com uma revista personalizada. Mas, isso até não é o mais estranho, agora quando vejo funcionários do aeroporto provar das bebidas que as mães transportam nas malas de mão para os seus bebés, eu pergunto-me, não será demasiado? Mas, afinal a água, ou o sumo de um biberão de que forma vai contribuir para um atentado terrorista? E penso, oh tempo volta para atrás!
E recordo, não com muitas saudades é certo, que quando terminei o curso, como vivia na Madeira e os meus pais não podiam propriamente trazer o carro para transportar toda a tralha que acumulei ao longo dos anos, e como os custos para o transporte via contentor eram demasiados para o meu bolso de estudante, decidi ir trazendo tudo aos poucos, e devo salientar que transportei quase tudo desde livros, panelas até as facas que adquiri para a cozinha e penso se tentasse, ou melhor, ousasse, hoje em dia passar pela segurança do aeroporto com tais artefactos era logo presa e acusada de terrorismo. Isto sem falar das plantas, frutos e outros items que transportei comigo ao longo dos anos, via avião. Uma das viagens mais engraçadas que fiz, foi quando decidi trazer um periquito como presente de natal para a minha mãe, entenda-se vivo, oferecido por um primo meu, criador deste tipo de aves canoras. Claro, que não podia coloca-lo na mala que iria para o porão, porque o pobre animal morreria asfixiado, então, o bom senso ditou a mala de mão. Como é evidente não tinha nenhum certificado do veterinário, mas decidi arriscar e devo dizer que foi um dos momentos mais hilariantes que tive num aeroporto, ao passar pela famosa máquina dos raios X, já estando eu do outro lado, pude apreciar a cara de surpresa do funcionário quando visualizou entre outros objectos do quotidiano, um esqueleto com contornos de pássaro, que continha um pequeno coração que batia descontroladamente, após o susto inicial, o senhor começou a rir-se e chamou um outro colega para observar o tal fenónemo estranho, depois de uma curta conversa em surdina, ambos muito divertidos pouco tempo depois viraram-se na minha direcção, olharam para o meu saco, olharam de novo de para mim e tentando dar um ar de muito sérios, disseram-me que iam fazer de conta que nada viram. Só nesse momento consegui respirar de alívio, rir-me nervosamente e pensei como é bom viver em Portugal. Como devem calcular este tipo de coisas só acontecem no nosso país, ao meu ver, outros povos mais rigorosos teriam-me retido o animal, eu teria ouvido um sermão e acto contínuo teria sido multada no mínimo, felizmente somos mais tolerantes do que julgámos. O periquito radioactivo, chegou são e salvo à ilha, após duas horas e meia de viagem, na qual não quis comer, nem beber, naquela que foi a sua primeira e última viagem de avião e garanto que após esta peripécia viveu por longos e muitos anos para grande alegria da minha mãe que gostava muito da sua cantoria matinal.
Paula Oliveira, a grande diva do jazz e Luiz Avellar, um virtuoso do piano, dois grandes nomes da música nacional e internacional reuniram-se por um acaso do destino e desse elo nasceu um simbiose perfeita sem paralelo, ou ponto final. Desse encontro inusitado nasceu projecto musical de grande qualidade que tem como mote o prazer de estar juntos.
Como é que surge este vosso projecto, mistura fina.
Paula Oliveira: Este projecto tem a feliz coincidência de termos um amigo em comum, que é o Bernardo Moreira, que já trabalhou comigo em projectos anteriores e que nos apresentou. Apaixonei-me completamente pela maneira de tocar do Luiz Avellar e pela sua música. Sobretudo cresceu uma química que acontece naturalmente, esta alma que é universal e que nos une a todos, que não é material, mas sabemos que esta aí, é a música. Decidimos chamar a este projecto mistura fina, não sabemos se vamos alterar ou não, mas ficou. Para já porque tem um significado duplo, é uma mistura e fina, que provém do termo refinado, também é alusiva a um fenómeno no Brasil e que esta a acontecer aqui, que é o encerramento de espaços onde a nossa música se passava e havia a verdadeira tertúlia. Mistura fina é também um clube histórico do Rio de Janeiro que fechou e por onde passaram as maiores vedetas mundiais, como nós temos o Hot Clube cá e portanto tem esta duplicidade. E por ser tão óbvio não tem mal nenhum, se me perguntares se eu quero tocar para a toda vida com o Luiz, não é preciso palavras para acontecer e essa certeza no momento de vida em que já estamos, ele tem quase 58 e eu tenho 48 anos, é uma tranquilidade, sem nenhuma tensão, nem ciumeira, é um espaço muito respeitado, é um pouco como um casamento musical, as pessoas estão porque querem estar ali, não é um papel, ou um contracto que vai estipular o tempo desta relação, acontece pela sua raíz mais profunda, naturalmente.
Fala-me um pouco do vosso repertório, és uma diva do jazz, mas o Luiz Avellar apesar de estar nesta área há vários anos, provém de outros meios musicais, como é que estabelecem esse diálogo entre os dois?
PO: O Luiz tem jazz, tem música brasileira e clássica e é uma mistura disto tudo e faz com que toque como toca. Ele poderá falar-te desse percurso de uma forma mais organizada. É interessante abordar isto, porque nas passagens isso nota-se, nas várias linguagens quando tocámos, isso acontece.
Na composição como é que tudo isso se processa?
PO: Essa é uma questão que muita gente faz, mas que não há uma verdadeira explicação lógica e não existem fórmulas, ou regras, existe sim, um processo empiríco muito forte, que parte dessa ligação com a música que nos envolve, que nos mexe, que nos move e empurra a fazer. E daí enquanto cantora as palavras aparecem, porque a música é feita de palavras e estas dizem-me sons musicais e não há uma lógica, apenas é algo que acontece. Para não entrar em detalhes técnicos, que é o que menos interessa aqui, o que desperta é sabor que para nós tem e o apetite que possámos causar nestas pseudo-receitas. A composição às tantas acontece com a individualização que cada um de nós traz para a música, com a sua carga e história pessoal. Mais do que isso não te posso dizer, há momentos mais felizes que outros, palavras mais contentes que outras, identidades mais próximas das pessoas do que outras e a música é isto. Tudo pode acontecer. O que não pode suceder é o contrário, vir de fora para dentro, isto é algo que nasce de dentro para fora, eu não posso falar de mim, se não souber de mim, não posso falar de determinados sentimentos se não os tiver experienciado e saber pelo menos como é que são. Depois há pessoas que se identificam ou não com esse estado de espírito, isto para explicar o sucesso ou não das composições, mas isso não me perguntes, porque não sei. Só sei do que gosto de tocar, de cantar, que acho que é minimamente honesto, que exige entrega e para o qual me entrego.
Mas, qual foi o fio condutor para depurarem este repertório?
Luiz Avellar: Foi a criação de uma amizade, fomos ficando amigos, eu considero a Paula uma grande amiga, e sinto o mesmo da parte dela. E pensámos muito parecido em música, temos gostos musicais muito próximos, quer na melodia, quer no lirismo. Ela não vêm só do jazz, ela é uma cantora portuguesa, com as influências portuguesas, com tudo o que isso acarreta. Só que ela é uma cantora inteligentíssima, que percebe todos os outros, quando canta jazz tem aquela beleza portuguesa do sentimento e nós nos aproximámos com isso. Para mim tem muito a ver com a música clássica e com o lirismo da epóca romântica, com Chopin, Debussy, Ravel e tudo o mais, em que as tonalidades são misturadas, não existe um padrão reescrito, continua a ser modal, sem muita prisão em certos comportamentos e nós os dois somos muito interessados e atentos a estética sonora. Tenho a certeza que a Paula o vê assim, vejo a música como um quadro, uma pintura.
Os estilistas portugueses decidiram colorir as passarelas com várias tonalidades.
A primavera-verão 2014 vista pelos designers portugueses é uma temporada pautada por uma palete de cores diversificada que vai desde o branco, ao preto passando pelos pastéis que abrangem vários tipos de público. Há tons para todos os gostos, o difícil por ventura será escolher.
Outro das apostas fortes dos estilistas nacionais foram os estampados que são um bom indício para uma temporada pautada pela vitalidade, pela alegria e ousadia. As fontes de inspiração foram muitas, desde os elementos tribais, até os azulejos, que marcaram muito as colecções de uma forma muito positiva.
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