Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

terça, 01 abril 2014 19:10

Deus providenciará

1985. Maria esta sozinha. Ela é violada em casa no último reduto da sua solidão. O seu santuário é agora o seu calvário. Um automóvel desgovernado ao cruzar a rua pode ser a solução... Esta é permissa de uma curta-metragem, cujo argumento foi escrito por Jaime Monsanto em parceria com Nuno Campos Monteiro, que se encontra em plena campanha de crowdfundig até o mês de Junho, com o objectivo de angariar fundos para financiar a edição e restante produção de um projecto que aborda a temática do aborto.

De que fala este filme?
Jaime Monsanto: Tentámos abordar um tema de uma forma mais universal. Sendo que no limite há sempre uma pessoa com uma decisão a tomar, só ela vive com essa resolução quer queirámos, ou não e com as suas consequências.

Mas, porquê logo esta temática do aborto?
JM: Por várias razões, uma delas é o referendo, esta nova lei e parece-me que o tema caiu entretanto no esquecimento. A verdade é que este enquadramento jurídico não resolve absolutamente nada, levanta é uma nova exigência em termos de responsabilidade e civismo, a lei concede-me de certa forma o direito a uma escolha, que é exigente por si só em termos da consciência, do que a pessoa esta a decidir e o porque do que esta a decidir, ou seja, é uma decisão sobre a vida. Exige da pessoa atenção, abertura, apoio e formação, impõe todo um conjunto, a lei por si só é pouco, é também necessária uma educação, um percurso, que leva uma pessoa a tomar essa decisão. Essa era uma preocupação minha, não ter uma inclinação nem muito num sentido, nem noutro, quero ir na direcção da importância, do relevo e a dificuldade que uma mulher tem ao tomar uma decisão como aquela.

Sim, mas isso de ter sido uma escolha pessoal não vai ao encontro do facto da lei de certa forma ignorar a opinião dos homens nesta matéria? Dos potenciais pais, porque no fundo são sempre as mulheres que decidem?
JM: Sabes, eu se calhar sou um esquisito de um homen, reivindico um papel, uma participação numa decisão destas, sim. Verdade seja dita, se eu tivesse uma parceira, namorada, ou esposa e tivessemos de tomar uma decisão destas e ela quer abortar, eu posso exigir pelas minhas convicções que não. Agora, é ela que tem que engravidar, aguentar a gravidez durante nove meses, tem de ter a criança, assumir o papel de ser mãe e tem de decidir tudo isto, sobre o seu corpo e o oposto também se dá. Digo: não quero que o faças e ela tem de decidir por imposição minha externa e olhará para o seu corpo dessa forma, com tudo o que isso acarreta em termos fisícos e emocionais.

Transpuseste todas essas questões para uma personagem feminina?Não achas que é uma contradição, tendo em conta, que és um homem e por motivos óbvios não consegues colocar-te no lugar de uma mulher.
JM: Pois não e somos dois argumentistas, mas é essa a essência desta lei, é uma procura, não é uma certeza nessa questão da mulher. Como individuo participante nessa decisão, que foi colocada à sociedade, eu tenho de participar na procura e pessoalmente estou numa procura, não estou em certeza absolutamente nenhuma.

Para obter apoios criaram um trailer que mais parece um pequeno documentário...
JM: É mais um trailer sobre um documentário.

terça, 01 abril 2014 19:04

O expressionista da imagem

  

Nuno Moreira iniciou uma carreira solo através de um projeto em nome próprio, o NM estúdio, em 2007, que é especializado em Direção de Arte, Fotografia e Livro / CD de Design. Suas referências visuais são diversas e vêm de diferentes áreas de seu interesse pessoal, como o cinema, a música, a pintura ou a arquitetura.
O seu trabalho fotográfico tem como foco o detalhe e textura, trazendo uma atmosfera particular e uma narrativa visual para cada projeto. Actualmente reside em Tóquio, no Japão, onde promove o seu trabalho em torno dos países asiáticos e planeja futuros projetos e exposições.

O que procuras na fotografia?
Nuno Moreira: Eu não faço da minha vida a fotografia. É mais uma forma de expressão, do que tentar agradar alguém ou ter um próposito definido, tem a ver com cada projecto, mas que acabam por estar interligados. Portanto, é uma forma de expressão própria e individual na qual me consigo refugiar para pesquisar algumas questões que me interessam.

Então em que se distingue o teu olhar dos outros fotógrafos que conheces?
NM: Eu não sei se me cabe a mim responder, porque eu obviamente vejo fotografia, mas não é algo que compare com o meu trabalho, provavelmente o que me interessa mais explorar não tem muito a ver com fotografia, mas tem mais a ver com estados emocionais e interiores que algo intrínseco de nós enquanto humanos, não sei se tem muito a ver com fotogradfia em si, ou se tem muito a ver com essa questão de estar a comparar, o que distingue o meu trabalho de outros fotógrafos. É uma pesquisa por algo visual, pelo interior. Este último trabalho que fiz tem a ver com estados, de olhar para o outro, de pessoas, o movimento enquanto viagem, levantar questões primeiro porque gostode observar os outros, sou um observador nato e gosto de perceber não só o que estou a pensar, mas os que outros pensam, é óbvio que são meras possibilidades sobre o que esta a acontecer as pessoas. Mas, foi isso que me levou por exemplo ao ultimo trabalho, embora já esteja a pensar em outro, mas tem sempre uma pesquisa por algo.

Ainda bem que focaste o teu último trabalho, são estados de alma que simbolizam reflexão, como é que abordastes essas diferentes culturas, qual foi a linha comum para todas aquelas imagens?
NM: Primeiro foi surpreendente descobrir que essas imagens já me acompanhavam há tanto tempo. Foi algo que não foi consciente, eu saí à procura de imagens, elas foram aparecendo enquanto viajava por diferentes motivos, quer pessoais, quer em termos profissionais porque trabalho como artista gráfico, foi sempre tirando fotografias, vou-me servindo deste meio para alicerce de outras questões, mas este projecto só avançou depois de ter vindo viver para o Japão e ter organizado os meu arquivos, percebi que havia um género de um padrão, de uma linha visual que tinha a ver com pessoas isoladas num determinado ambiente citadino, ou urbano, ou com pessoas com quem me cruzava, algumas conhecidas, outras desconhecidas e tinha sempre ver com esse momento entre o tempo, de um intervalo, de sonhar acordado, perdida num pensamento ou a sonhar acordado e quando se esta sozinho isso é mais propício de acontecer, porque não somos interrompidos. E eu reparei que tinha muitas imagens que de alguma maneira eu me sentia atraído, porque eu clicava, olhava para elas. Era algo de que não me tinha apercebido, mas que só tem a ver com isso, esse momento individual.

Não achas que isso acontece, porque tu mesmo te inseres nesse tipo de situação? Vivestes em vários países e agora estas no Japão, inserido numa cultura completamente diferente da europeia, é como se estivesses só e isolado, dentro de uma multidão que não te compreende.
NM: De alguma maneira sim, mas principalmente não por uma questão de incompreensão, mas por gostar de viajar sozinho, de ser um momento que tiro para me questionar e resolver em termos pessoais ou de trabalho, no fundo limpar a cabeça, sem dúvida que sim, que estou mais propenso a olhar em meu redor e ver esses espelhos nas outras pessoas e diferentes situações.

 

 

 

Mostraste em várias exposições pelo mundo as imagens do "states of mind" há diferenças entre o olhar de um europeu e de um asiático? Ou nem por isso?

NM: Eu acho que sim, eu reparo que as imagens são muito abertas e ambiguas, porque a pessoa quando esta a olhar para elas a criar uma história, normalmente num contexto de exposição, ou galeria, ou que mostro o meu trabalho de forma pública, ou a pessoas mais chegadas, noto que analizam a imagem e constroem uma história em torno delas que é completamente diferente da cabeça do observador, é uma ficção que criam em voltam da imagem e que é mais interessante do que a realidade. Se há uma diferença? Tem a ver meramente com o observador, não posso dizer que haja padrão por ser ocidental ou asiático, depende com a pessoa naquele momento e não tanto com a cultura.

Vamos falar do "from Russia with love" que é outra reflexão sobre a cultura russa, em particular, os seus símbolos. O que te atraiu nesta temática?
NM: Foi um trabalho diferente, porque foi o primeiro que fiz que foi mais politizado e que não é a intenção destes trabalho artísticos, que normalmente são pessoais. Para além disso, não se trata de um tema que tenha dedicado muito tempo a pensar, mas durante uma viagem pelos países de Leste, estava em Portugal e fiz essa viagem com amigos e o que nos apercebemos é dimensão do país ao nível geográfico, a Rússia é imensa e ao mesmo tempo o seu contexto social tão fechado, diria quase facista e vi imensos paralelismo com a situação que Portugal viveu com o regime da ditadura e durante a viagem fomos questionados pelos próprios russos donde vinhamos e como era o nosso país e havia esse termo de comparação, no fundo essas imagens e esse projecto foi um questionar, quase uma forma irónica de como via a Rússia, foi mais um conceito de instalação, para além de um vídeo de estilo karaoke onde era cantado uma canção da saga James Bond, havia imagens.

Outro dos teus trabalhos fotográficos, que reflecte os estados emocionais foi o "what remains", mas neste caso foste buscar estructuras e paisagens, porquê?
NM: Esse projecto obedece a lógica do que estivemos a falar, mas é um conjunto de imagens mais pequeno e diversifiquei mais para expôr em Almada e que sim, esta muito ligado com este projecto que é o "state of mind" e que de alguma maneira, o que se passa muitas vezes é que temos imagens de pessoas e outras que são só paisagens, ou interiores de espaços. E de certa maneira é engraçado, essa série "what remains" tinha a ver com isso, algo deixado por completar, no caso também tem a ver com o questionar relações humanas, o que é isto de darmos tempo as pessoas? E nos darem tempo? Como é que isso se transpõe para a imagem? Tem um lado mais melancólico talvez de aproximação desse tempo.

Depois fizeste um trabalho conceptual "Caindo depressa de um sonho", com uma artista, como esta surgiu esta parceira? E o que te atraiu neste projecto?
NM: Foi muito interessante fazer em paralelo um projecto com uma pessoa que é-me bastante chegada que é a Carla Fragata, que é fotógrafa e surgiu através de um conversa, nem sempre directa ou relacionadas com o projecto, mas com outro tipo de divagações e depois surgiu essa necessidade de criar um projecto em conjunto e então houve uma troca de ideias e no qual fomos desenvolvendo uma imagem fictícia, críamos uma caracterização, de onde ela vinha, como se sentia e fizemos um mini casting, com duas mulheres e dois homens, que representaram essa personagem que era a Eva e como era um projecto mais conceptual fotografámos mais rapidamente, foi feito em dois dias.

A escolha do preto e branco foi algo instintivo?
NM: Sim, foi instintivo, primeiro porque tem a ver com o meu olhar, quando olho através da máquina, gosto de pensar a preto e branco, gosto do contraste. Mesmo em termos da fotografia em si, com o analógico, ou a fazer a escolha entre um filme a preto e branco, ou a cores a minha escolha é sempre a primeira. Não é algo que me sinto condicionado, é algo mais familiar.

O último trabalho "venha a nós o vosso reino" porque a escolha de caixas de peditórios em concreto?
NM: Na realidade foi algo que veio ao meu encontro, foi confrontado com o assunto de uma forma diria rídicula, estava à espera de uma pessoa, em Alvalade, enquanto esperava decidi entrar na Igreja de Alvalade e reparei nas diferentes caixas de esmolas, eram muitas e decidi fotografa-las e não me recordo quantas, mas serão umas vinte, achei aquilo violento quase para quem esta a visitar o espaço e depois do ponto de vista religioso tão equilibrado. Achei interessante esse projecto e na altura surgiu uma oportunidade de desenvolver um projecto num espaço que gosto muito que é a Canarte, que é uma associação de artes e no fundo pude trabalhar com eles e resolvi pegar nesse trabalho, foi muito específico por causa que tinha a ver com um espaço que iria utilizar e acabei fazendo uma instalação em que utilizei umas mesas de marmóre que cobri com maçãs e coloquei uma caixa onde pedia ao visitante para reformular um desejo e colocá-lo na caixa e no final lia todos os desejos dos visitantes. "venha a nós o vosso reino" é um reflexão sobre a religião e sobre rituais que não nos questionámos no nosso dia-a-dia. Queria estimular um ritual no visitante da exposição, com uma mensagem diferente, mais livre, menos condicionado.

Consideraste um artista conceptualou um mero documentalista do que vês?
NM: Considero-me um conceptualista porque não me imagino a fazer um trabalho sem pensar profundamente nele, vivo com esse projecto e tem de fazer sentido, se não o fizer, se não me continuar a questionar provavelmente nunca chega a acontecer, ou a ser visivel. Têm de ser conceptual, por ser pensado e que tenha alguma coisa para as pessoas olharem e se colocarem algumas questões.

http://nmphotos.org/

terça, 01 abril 2014 18:57

De volta ao futuro

O esquilo vermelho voltou ao nosso país após séculos de ausência.

Há muito, muito tempo atrás existia um pequeno roedor de pinhas, trepador de árvores exímio, de cor fusca, que habitava as florestas de Portugal. Um dia porém chegaram grandes grupos de madeireiros que cortaram quase todas as árvores do reino para construir as caravelas que iriam navegar em direcção a mundos desconhecidos. O nosso pequeno amigo felpudo que nada entendia desses desatinos dos humanos, viu-se forçado a "emigrar" para outras paragens em busca de abrigo e alimento. Até que um dia...cinco séculos depois, o esquilo vermelho voltou a ser avistado no já não mais reino, mas sim república portuguesa, para grande alegria de uma bióloga, Rita Gomes Rocha, investigadora da Universidade de Aveiro (UA), que criou um projecto para o efeito denominado de "Esquilo vermelho em Portugal". O estudo surge no âmbito do seu pós-doutoramento, que visa "como objetivo primordial perceber a expansão deste espécimen no território nacional, quais os factores que influenciam esse alargamento e os seus padrões de comportamento".
Em desenvolvimento com a Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da UA, este projecto científico quer ainda "fazer a caracterização genética da espécie para que, no conjunto final dos resultados, se perceba qual o futuro do esquilo em Portugal e se a sua expansão irá continuar ou, pelo contrário, reverter-se". Para conseguir obter dados sobre esta espécie no nosso território, "na impossibilidade de estar permanentemente presente nas áreas florestais de Norte a Sul do país, a bióloga agradece o contributo de todos quantos avistarem esquilos ou indícios da sua presença enviando os registos através de um inquérito online, ou da página de facebook do projeto".
E para que não haja dúvidas quando vir algum, a investigadora descreve o animal como sendo "um simpático roedor com uma cauda bastante felpuda e que pode ser avistado nas florestas, principalmente na copa das árvores. Apesar do seu nome esquilo vermelho a sua coloração varia bastante, desde acastanhada a totalmente preta, por isso, é normal haver alguma confusão quando se fala em esquilo vermelho".
Contudo, não se pretende apenas a recolha de avistamentos deste esquilo esquivo, outro dos objectivos do estudo é mapear uma série de observações que indiciem a sua existência num determinado lugar, nomeadamente "pinhas roídas que têm um padrão peculiar, pois estes animais deixam as escamas do topo que formam um pequeno tufo, e são bastante fáceis de reconhecer no chão das florestas". Infelizmente, e porque esta espécie é afetada pela rede rodoviária, "também se pode testemunhar os animais mortos encontrados nas estradas" afirma Rita Gomes Rocha.

https://docs.google.com/forms/d/1oR3qkgQg-O4aON7_XQMIh-I-bJ3l7rGHzJckhkbrrWk/viewform


https://www.facebook.com/pages/O-esquilo-vermelho-em-Portugal/547722785306913?id=547722785306913&sk=info

http://uaonline.ua.pt/pub/detail.asp?c=37682

terça, 18 março 2014 20:53

Arte na moda

É o destaque mensal para um verão cheio de cor.

Uma das tendências de moda desta primavera-verão 2014 são os estampados gráficos, inspirados na arte contemporânea, que farão as delícias das mulheres mais avant-garde em termos de guarda-roupa. Aliás, foi uma das apostas fortes dos designers de moda portugueses nas passarelas da Moda Lisboa, no caso de Luís Carvalho e Ricardo Dourado.

 

terça, 18 março 2014 20:41

Os homem mau

Formaram-se em Novembro de 2002 e desde ai nunca mais pararam. São uma banda rock que aposta numa sonoridade diferente que foi evoluindo ao longo dos seus 10 anos de existência. Agora, brindam os fans com um novo trabalho musical, intitulado "de um tecto igual a nós", mas querem mais.

Queria que me definisses o som do "homem mau", embora se considerem uma banda alternativa.

Claúdio Alves: Nós acima de tudo fazemos música tendo em consideração aquilo que são as nossas influências e o que ouvimos ao longo da nossa vida. Enquanto banda, que já tem dez anos, o nosso som sofreu algumas alterações ao longo do tempo e que estão definidas na evolução que houve enquanto pessoas que somos, adeptos de música e de coisas diferentes que fomos aprendendo a ouvir ao longo destes anos. O que é então o nosso som? É caracterizado sobretudo pelos instrumentos que escolhemos o baixo, a bateria e o facto de só termos uma guitarra tem influência nas músicas, individualiza mais a nossa sonoridade. Eu acho que o nosso som é um bocadinho cru, porque preocupámo-nos acima de tudo por fazer algo verdadeiro, mostrar os nossos conhecimentos e não demonstrar uma grande produção posterior, embora ache difícil para aqueles que fazem uma coisa verdadeira estar a definir o que é o seu som, a melhor forma de mostra-lo é pedir as pessoas que façam uma pesquisa, que nos ouçam, porque essa é a melhor maneira de nos conhecerem.

Mas, dirias que é uma banda rock?
CA: Agora no final acabámos por dizer que nós somos rock. Hoje em dia o campo lexical da música é algo tão grande que não o consigo compreender, nem conhecer, então, definimos a banda como rock, é o que tocámos, que aprendemos desde pequeninos.

Vamos falar do primeiro álbum, de "dentro para fora", de 2007, afirmam que esse trabalho discográfico foi o vosso nascimento e que surgiu depois de vários anos em tournée, as canções foram escolhidas consoante o gosto que verificaram junto do público, ou o alinhamento dos temas foi apenas da vossa responsabilidade?
CA: Eu acho que foi um bocadinho das duas hipóteses que abordastes. Porquê? Ao longo do tempo fomos tocando as músicas que foram crescendo com a interacção que obtivemos junto das pessoas, o que o público dizia e o que sentíamos que era a música ao vivo, mas também foram pensadas exclusivamente depois para o alinhamento, decidimos em conjunto o que achámos que soaria bem e que melhor construiria um discurso e não apenas um conjunto de músicas dispersas sem um conteúdo.

Escreveste a maior parte das letras e sei que são muito pessoais, o que te inspira para escrever músicas?
AC: Já me disseram por várias vezes que são letras muito pessoais, o facto é que todos temos experiências de vida diferentes, a minha não tem nada de especial, é super vulgar, mas a verdade é que temos de pensar em algo que ajude a escrever e construir músicas. Baseio-me no momento, acima de tudo em coisas que acontecem à nossa volta, acontecimentos de que quero falar. Alguma das ideias para construir temas aparecem sem dar por elas, surgem, por exemplo, numa paragem de autocarro pelo simples facto de estar sozinho, deu-me vontade de escrever aquela letra, que faz parte do último álbum e se calhar mais tarde vai ser compreendida de uma forma diferente pelas pessoas que a estão a ouvir, julgando que estou a dizer algo diferente, no entanto, estava a ter uma ideia que não vai ser compreendida da mesma forma, mas as palavras tem isto.

terça, 18 março 2014 20:30

Opus1

Jorge Baptista de Figueiredo é o heterónimo de José António Santos, músico, professor e escritor. Enquanto músico foi premiado pela juventude musical portuguesa e foi agraciado ainda com o prémio de jovens músicos. Ao longo da sua carreira gravou álbuns com Dulce Pontes e a Ala dos namorados, mas a música não é a sua única faceta artística, a escrita ocupa também um lugar cativo na sua vida, como é o caso deste livro de poesia.

Porquê escolher um heterónimo?
Jorge Baptista de Figueiredo: Para ser um prolongamento do que somos, da nossa identidade, uma espécie de upgrade e tem de ser um heterenónimo que tenha que ver connosco. A história deste nome não é tabu, Jorge porque é o nome do meu irmão mais novo, que obviamente adoro, Baptista advém de uma tradição judaico-cristã, se quisermos, é alguém que inexoravelmente diz a verdade e Figueiredo porque estive num sítio no Brasil chamado Figueira durante três semanas, no início da década de noventa, que me marcou muito pela positiva.

O facto de teres escolhido um heterónimo também advém de seres um grande admirador do Fernando Pessoa?
JBF: É o mestre da poesia, é impossível ficar indiferente de tal maneira com o aparecimento de Pessoa porque a poesia nunca mais foi a mesma. Ele operou uma revolução sem precedentes neste estilo literário, tornou-o mais leve, mais acessível e mais profundo simultâneamente. Quando o li fiquei completamente contagiado, electrocutado, pela forma como escreve, a profundidade do que aborda contribuiu definitivamente para a forma como esse livro foi escrito.

Qual foi a linha de pensamento que seguiste para a escolha dos poemas que fazem parte do Opus 1?
JBF: Houve uma grande depuração dos poemas, havia todo um conjunto de poesias que foi seleccionada, escolhida e depois formatada para caber dentro do livro. A minha poesia é muito sentimental, autobiográfica, muito íntima e que teve de ser adaptada para ser incluída neste livro.

Adaptada em que sentido?
JBF: Para não ser demasiadamente evidente do ponto de vista íntimo, havia poemas que eram dedicados a terceiros, ou terceiras e por isso teve de ser formatados e adaptados de forma que tivesse a coerência de um livro e pudesse passar a mensagem da poesia. Depois houve o enquadramento, muito mais que a esquadria é a substância, basicamente o livro conta com sonetos, duas quadras e dois tercetos, que é por excelência o sistema utilizado. Temos 70% de sonetos e depois pentipticos, dois conjuntos de 5 poemas e um hexiptico que são seis e que falam das estações e dos sentidos, portanto foi criar uma coerência geral em termos de conteúdos.

 

terça, 18 março 2014 20:22

O guerreiro ambiental

Eugénio Sequeira é engenheiro agrónomo e esteve ligado a várias universidades portuguesas como docente. Destacou-se pelas duas vezes que ocupou a presidência da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), entre 1996 e 1999 e entre 2005 e 2009. Deu impulso a projectos-piloto emblemáticos da LPN, como o de compatibilização da agricultura com a protecção de aves em Castro Verde, comunmente apontado como um caso de sucesso. Foi ainda entre outros cargos, Coordenador do Grupo de Trabalho Agricultura/Ambiente do Instituto Nacional de Investigação Agrária, tendo participado na preparação da reunião do Rio de Janeiro (Agenda 21) e na elaboração da Convenção de Combate á Desertificação, sendo actualmente representante das ONG de Ambiente Portuguesas na Comissão Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável(CNADS).

Quanto é que vale a natureza em Portugal?
Eugénio Sequeira:A sobrevivência do homem. O nosso futuro e dos nossos filhos.

Como membro do CNADS referiu que há muitos estudos sobre os solos em Portugal que não foram tidos em consideração para as leis sobre ordenamento do território nacional.
ES: A lei de bases do ordenamento do território só é válida para o urbanismo e não tem nada a ver com os solos, tentou-se resolver esse problemas das cidades, mas sobre a salvaguarda deste item não há uma palavra sobre a ocupação dos solos pelas barragens que não servem para nada, que não vão ter água. As melhores terras estão debaixo de água, e quando se faz uma barragem como a de Aguieira a população só teve uma solução, emigrar toda para a Suiça. Outro dos problemas é que os bons solos para o gado, em vez de cabras ou vacas, tem como única solução económica o eucalipto. O ordenamento é vital, mas não é só onde se põem as casas, é também o sítio para a agricultura e para a floresta. E se a queremos salvar não estou a dizer que se acabe com os eucaliptos, mas antes de os plantar é necessário ordenar primeiro, porque em caso de incêndio é necessário uma zona de carvalhos e uma
área aberta para diminuir a velocidade do fogo, ou se houver ribeiras tem de ser ladeadas de freixos. No topo, na encosta, ou no cume tem de existir uma zona de pastagem com algumas árvores isoladas e de um lado e de outro tem de haver carvalhos antes de plantarem eucaliptos outra vez, porquê? Se o fogo vem de baixo para cima, chega lá em cima e perde-se antes de chegar as árvores, porque tem atrás de si terreno aberto, funcionando como contra-fogo para não arder mais nada. Se o fogo vier de cima até o vale só atinge os eucaliptos e acabou, e para isso tem-se que ordenar o território. Para fazer este trabalho tem de haver pessoas para a agricultura para manter o gado nas zonas abertas, tem de haver escolas e trabalho para manter os jovens para que não se vão embora e só fiquem os velhos que mal conseguem manter esses terrenos abertos.

Então os relatórios da comissão nacional do ambiente não adiantaram nada junto das forças políticas?
ES: Não, porque não temos força, eu fiz parte da comissão e não consegui salvar nenhum metro quadrado de terreno para uma rede ecológica. Mas, o desinteresse não é só da hierarquia política é de toda a gente. Repare, 30% do PIB provinha da construção, agora acabou tudo mas ficaram as casas vazias, existem neste momento 1 milhão e 200 mil habitações e sabe quanto é que os bancos portugueses devem lá fora dos empréstimos que concederam às empresas de construção? 180 mil milhões e a pergunta é quem é que vai pagar? E julga que parou a especulação? Estou como testemunha em dois processos em tribunal, porque é preciso parar com esta loucura.

Mas, neste momento já se assiste a um retorno a agricultura, através de iniciativas privadas, ou públicas com as hortas camarárias.
ES: Sim, mas onde é que encontra a pêra rocha, ou morangos como os nossos? Os queijos, mesmos as carnes, como o porco bísaro, ou como a posta mirandesa, já quase não se encontra. Porquê é que Sintra que tinha o queijo saloio e uns morangos maravilhosos, agora não os tem? Quando pedi para os agricultores voltarem para essas tradições iam-me batendo, porque o que queriam era vender os terrenos para fazerem construções para os turistas, diziam-me que a terra dava muito trabalho. Eu passei toda a vida de enxada a cavar buracos e sei o que é duro, a trabalhar no barro, e se trabalhassem assim não andavam com tantas doenças.

terça, 18 março 2014 20:18

Perdoa-me

Um pequeno filme de André Dias e Joana Silva.

É um bom começo para uma pequena produtora como a catvision films, "perdoa-me" tem um enredo simples e emocionante, mas do que gostei mesmo foi da fotografia e da montagem. Apreciei o facto de terem filmado no centro histórico da cidade do Porto, de noite, e se não conhecesse a invicta tão bem poderia afirmar que esta história sobre redenção teria lugar em qualquer cidade portuguesa. Eu chamar-lhe-ia um mito urbano, se não fosse pura ficção, um conto de Natal se quiserem, de como um encontro fortuito pode gerar um momento de perdão. Esta curta-metragem tem outra mais-valia que é o seu actor principal, Agostinho Magalhães e a também jovem actriz, Karina May que "persegue" o nosso sem abrigo pela ruas da cidade com o objectivo de recuperar um objecto que lhe é precioso. Outro facto que deve ser realçado é a banda sonora de Yann Tiersen e Sigur Ross, que confere a força a necessária a este argumento delicioso, que, aliás, foi premiado no concurso de curta-metragens de Canelas. E sim, é um filme de 2012, mas natal é quando o homem o quer e apetece-me esta semana. Bom cinema.

http://vimeo.com/37541271

terça, 18 março 2014 20:06

O caminheiro fotógrafo

 

Duarte Belo já percorreu milhares de quilómetros com o intuito de captar Portugal. É um fotográfo que possui um portefólio com mais de um milhão de imagens, desde o Minho mais profundo, ao Alentejo mais esquecido até as ilhas perdidas no meio Atlântico, que visa mostrar o que ainda há por descobrir de extraordinário no nosso país.

Como definirias a tua fotografia?
Duarte Belo: A minha fotografia é sobretudo de paisagens e de arquitectura. Tem mais uma vertente documental do que artística, se bem que a fotografia não deixa de ser interpretação.

É a fotografia ainda um mistério ou não?
DB: Eu penso que sim, isso vai ser sempre porque é o próprio mistério da vida que a fotografia nos relata, nos mostra.

A escolha dos temas que fotografas recai sobretudo nas paisagens e na arquictetura por causa da tua formação em arquitectura? E não falo apenas da fotografia de monumentos, na nas tuas imagens há uma busca pelas linhas e pelo enquandramento.
DB: É sem dúvida nenhuma. Eu já fazia fotografia antes de fazer arquitectura e depois com o estudo aprofundei muito mais a minha sensibilidade para a questão das formas e da paisagem.

Então como é que te diferencias? Como olhas para um monumento para seres diferente de outros fotográfos?
MB: Isso se calhar não sou a melhor pessoa para responder, mas acho que todos os fotográfos procuram pontos de vista inovadores, da forma como se fotografa um plano, como procurar situações de luminosidade que sejam pouco habituais, à noite, com uma luz artificial, ou com diversas formas que mostrem a singularidade do monumento e a nossa forma de interpretar.

 

terça, 18 março 2014 20:02

A sortuda

Um acaso levou a preservação de uma planta endémica portuguesa.

A Leuzea Longifolia é uma planta endémica de Portugal, raríssima, em perigo de extinção. Conhecem-se apenas alguns núcleos geograficamente afastados no nosso país, e portanto isolados biologicamente, compostos por um número muito reduzido de indivíduos, o que, a juntar ao isolamento e à perturbação a que o homem os sujeita, contribui decisivamente para a sua vulnerabilidade em termos ecológicos, daí que a descoberta casual de uma população significativa desta planta em Leiria, tenha suscitado a rápida intervenção da Quercus e das autoridades, nomeadamente o Serviço de Protecção da Natureza da GNR, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e Município de Leiria.

Toda esta aventura começou, por um mero acaso, quando alguns responsáveis da organização ambiental ao passar junto de um terreno em Pouzos, que estava a ser preparado em termos de solo para a plantação de eucaliptos, verificaram a existência de um núcleo considerável desta pequena flor. A Quercus de imediato perante a perda definitiva deste património de flora raro mobilizou-se para a adquisição dos 10.500 metros quadrados de terreno e constituiu uma microrreserva que garantiu a sobrevivência dos cerca de mil espécimes que se presume existirem no local. Este processo levou à criação do sítio de importância comunitária Azabuxo-Leiria, no concelho de Leiria e a sua subsequente integração na rede natura.

http://www.regiaodeleiria.pt/blog/2013/06/13/flor-em-vias-de-extincao-com-direito-a-microrreserva-nos-pousos/#more-66127

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