Vera Duarte estudou Direito na Universidade Clássica de Lisboa, tendo posteriormente sido juíza conselheira do Supremo Tribunal da Justiça e Conselheira do Presidente da República em Cabo Verde. Em 1995, recebeu o Prêmio Norte-Sul do Conselho da Europa, em reconhecimento à sua luta na defesa dos direitos humanos. Ela está integrada na Comissão Africana dos Direitos do Homem e dos Povos e na Comissão Internacional de Juristas. Em 1993 edita o seu primeiro livro de poemas Amanhã Amadrugada. Em 2003 editou o seu primeiro romance, "a candidata", que recebeu o Prêmio Sonangol de Literatura.
Foi a primeira mulher magistrada do seu país e esta ligada aos direitos humanos.
Vera Duarte : É verdade. Digamos que sou uma mulher muito do meu tempo, vivi uma época histórica de mudanças, assisti a muita coisa, Cabo Verde era uma colónia e tornou-se independente. Acompanhei a fundo todo este processo de emancipação e empoderamento da mulher em África e no mundo e presenciámos ainda vários momentos históricos desde o Maio de 68, através das notícias, o Woodstock, a luta pelos direitos cívicos nos EUA, a queda de regimes totalitários. Ao mesmo tempo, eu, devido a minha maneira de ser, foi pioneira em algumas coisas nomeadamente na magistratura de Cabo Verde, foi a primeira mulher magistrada e porquê? Porque era proíbido no tempo colonial as mulheres acederem a esse tipo de cargos, como também não podiam ser diplomatas, ou funcionárias das alfândegas, etc. Eu e outros trabalhámos numa legislação em que revogámos todas essas normas discriminatórias, seja no campo laboral, ou no estatuto civil da mulher.
Então como é que foi todo esse processo sendo a única mulher num universo completamente masculino, num país africano que embora dê muita importância à mulher em termos culturais é ao mesmo tempo muito machista?
VD: Cabo Verde não fugia a regra de esses outros países africanos com uma cultura profundamente machista, não esquecendo que o nosso país vem de uma sociedade escravocrata, onde homem não era só dono de terras, dos escravos, mas também de mulheres com quem tinha filhos e usava ao seu belo-prazer, por tudo isso a nossa sociedade cabo-verdiana era profundamente machista. É evidente que com o processo de libertação do país, da guerra pela independência, embora não se tivesse estendido ao nosso território, mas sabemos que muitos cabo-verdianos foram participar na luta armada pela independência da Guiné-Bissau e na clandestinidade em vários países do mundo, é evidente que todo o ideário da libertação assentava na emancipação da mulher, porque Amílcar Cabral, o líder pela luta armada, pela independência de Bissau e Cabo Verde, esse sim era um homem que viveu muito à frente do seu tempo, desde os anos 50 já fazia discursos aos guerrilheiros e também as populações das zonas que foram posteriormente libertadas em que falava dos direitos da mulher, delas serem tratadas como igual, de serem respeitadas, até de as tratarem com toda a dignidade. Eu diria que todo esse pensamento tinha começado a frutificar entre a população e sobretudo nas camadas digamos mais intelectualmente preparadas de Cabo-Verde. Portanto, quando acedemos à independência e a esse processo imediamente de revogação das leis herdadas do regime colonial com carácter discriminatório, eu que tinha o curso de direito acabei por ser nomeada procuradora da República, depois fiz carreira na magistratura e foi juíza conselheira do supremo tribunal de justiça.
Quais foram os seus primeiros desafios nesses cargos?
VD: Um dos primeiros desafios foi os homens de Cabo-Verde ver uma mulher numa posição que antes era ocupada apenas por homens, essa foi a primeira constatação. Depois eu tinha apenas 21 anos, então os ouvia-os dizer que “havia uma mulher bonita lá na procuradoria, mas ela é dura”. Obviamente não vou dizer que foi fácil, nunca o foi, mas eu sempre tive esse gosto pelo desafio em mim, sempre fez parte da minha personalidade e como era sensibilizada pela luta, pela emancipação e igualdade de direitos da mulher, não foi difícil ter essa consciência de que para abrirmos novos caminhos, aquelas que tivessem indo à frente tinham de ir pagando algum preço, mas foi algo que fiz com o espírito leve, embora me doesse algum tratamento mais discriminatório. Aliás, passou-se o mesmo com a escrita onde também quis ser uma voz feminina e houve as mais diversas interpretações, mas eu sempre achei que o meu objectivo era sempre maior, por algo que valia a pena lutar e como a Florbela Espanca dizia a minha emancipação é maior do que o universo e por isso vale a pena tudo.
Passaram-se já 29 anos de democracia em Cabo Verde e sei que hoje a sua luta é contra a violência contra as mulheres.
VD: É algo que vêm de atrás. Enfim, uma das manifestações mais aberrantes, mais flagrantes e mais violentas passo à expressão desse discriminação em relação as mulheres era a violência doméstica. O facto de termos vindo de uma sociedade escravocrata também mostra como esse flagelo era arreigado, o homem sempre se habitou a tratar a mulher como se ela fosse um ser inferior, uma criança que se ensina, através da pancada e isto desde cedo me sensibilizou. A luta contra a violência doméstica posso dizer que foi das primeiras grandes causas que me interpelaram, a mim e a outras mulheres, obviamente, e desde o início trabalhámos essa questão.
Trata-se de uma curta-metragem desenvolvida no âmbito de um projecto fotográfico proposto pela galeria dos Prazeres à fotográfa Camila Watson.
Camilla Watson nasceu no Reino Unido. Começou a sua carreira como fotógrafa de cena em teatro, tendo-se depois dedicado ao retrato e à reportagem. Hoje mora em Lisboa onde tem o seu atelier no Largo dos Trigueiros, na Mouraria. O trabalho desta artista distingue-se pela experimentação de novos suportes imprimindo directamente em pedra, madeira, mosaicos e mesmo nas paredes das casas, utilizando uma câmara escura móvel que ela própria desenhou. Camilla gosta de trabalhar especialmente com comunidades e expôr em sítios públicos. Algumas das suas fotografias podem ser vistas nas ruas do bairro da Mouraria, em Lisboa, e agora na vila dos Prazeres.
A artista plástica Teresa Gonçalves Lobo em parceria com a fundação Ricardo Espírito Santo, através do museu de artes decorativas, criou duas cadeiras para o seu espólio a “ichair” e a “ichair long”, um longo processo criativo conjunto que culminou com uma exposição, um catálogo e ainda um álbum de gravuras com os “is”.
Como é que surgiu este convite do “i em pessoa”?
Teresa Goçalves Lobo: O convite surgiu do museu de artes decorativas portuguesas, da Fundação Ricardo Espírito Santo, em 2012 para fazer uma exposição no mesmo local no ano seguinte. O ponto de partida foi o próprio museu poderia inspirar-me em algumas das peças que constavam do espólio, o que eu quisesse, ou na fundação. Estive a analisar a colecção muito atentamente, claro que houve imensas peças que me fascinaram, mas o que me encantou mesmo foi a forma como os mestres da própria fundação trabalham. Foi como se regredíssemos mais de 100 anos no tempo, quando entrei ali, estava noutra epóca, as pessoas tem tempo para fazer as coisas, colocam todo seu empenho e dedicação, nota-se que tudo o que é feito com cuidado, há um amor enorme à arte. É um tempo diferente e isso fascinou-me, como as pessoas trabalham as peças, o amor que dedicam ao que fazem e estive a pensar que o que eu queria era valoriza-los. Mais do que um museu, a fundação tem vindo a preservar as artes decorativas, para o efeito foi necessário formar mestres nas artes portuguesas, achei que isso era excepcional e que não deveríamos deixar que o nosso património desaparecesse e o seu fundador teve esse cuidado. Depois há todos os mestres que por ali passaram, é uma instituição que fez 60 anos, no fundo quis homenagear todos os que lá estão e os que passaram por aquela casa para a manterem de pé.
Como é que surge o “i em pessoa”?
TGL: O “i” já existia, tinha os “is” que apenas necessitavam de uma oportunidade para aparecer, já tinha mostrado um em 2007 e em 2009 cheguei a expôr mais dois, sempre inseridos numa colectiva, mas como já possuia um grupo de “is” bastante significativo, até alguns que nunca expus, achei que precisavam de aparecer em conjunto, um quadro sozinho perde-se e pensei que fazia sentido mostrá-los todos juntos. Acabei por expôr 42 desenhos alguns de 2008 e outros de 2013, uns a tinta da china, outros a preto e vermelho que são cores que aparecem muito no meu trabalho, outros ainda em carvão e depois fiquei com vontade de fazer uma cadeira a partir do “i”. A paixão pelas cadeiras era algo que tinham em mim e nunca tinha pensado muito nisso, depois reparei que tenho vindo a fotografar cadeiras ao longo dos anos, pelos diferentes países por onde vou passando, ao meu ver este tipo de peça mostra imenso o que é uma cultura, da forma como as pessoas se sentem, se sentam e das tradições. Em 2005 estive na China e achei fantástico que as pessoas neste país sentam-se num círculo para conversarem, não é necessário uma mesa, ou um café, as cadeiras estão no passeio para que as pessoas se sentem e conversem ou não. São pequenos pormenores que tenho vindo a notar e fotografar ao longo do tempo. O facto de ter sido guia na Madeira fez-me olhar para estas peças, nomeadamente o espólio do Museu da Quinta das Cruzes, é uma paixão que possuo.
Então desenhaste a cadeira e há uma certa símbiose com os mestres da fundação?
TGL: Claro, o museu de artes decorativas ao me convidar também quer essa ligação, não foi algo que me fosse sugerido explicitamente, mas também não poderia ser encarado como uma sala de exposições, teria de ser olhado como um sítio onde vamos partilhar ambas as partes, é uma junção do trabalho, o saber das mãos dos mestres e os meus desenhos. Desta união surge um projecto conjunto, se bem que nunca tal me foi dito, foi um processo natural e achei que era bonito juntar estas duas paixões que tinha, os “is” e as cadeiras. É verdade que nunca tinha desenhado uma peça deste género, não sabia nada sobre cadeiras e acho que continuo a não saber, mas tive o cuidado de medir o meu corpo, o de uma mulher e do meu marido, um homem, daí pensar que tinha de ser confortável para ambos os sexos, com alturas diferentes, depois passei o desenho ao meu sobrinho, o Miguel Gonçalves que o materializou em 3D. Eu achei que era importante chegar à fundação não mostrando apenas dois traços, mas um desenho final, por duas razões, a primeira porque pretendia que os responsáveis dissessem que sim, o segundo motivo prende-se com a minha necessidade de me sentir bem, ou seja, eu mostrava apenas uns traços, os mestres materializavam o desenho e eu assinava a cadeira, isso não era o meu trabalho, portanto tinha que chegar à fundação com todo o material possível, com tudo o que me era exígido, em termos até de medidas e aí já pedia a opinião dos mestres para saber se era exequível, lógico ou não e tinha de ter esse feedback. Esse foi o projecto da “iChair”, foi a minha primeira cadeira, também a primeira na minha cabeça, depois estava a desenhar um “i” e sem pensar em nada vi uma outra peça, que é o chair long, com um pé no chão e outro esvoaçante e que ao mesmo tempo podem ser dois “is” que se fundem num só, agrada-me essa ideia, por isso, as peças não estão coladas, encaixam-se uma na outra, fundem-se, de um dos lados podemos sentar-nos, do outro podemos deitar-nos. Foi uma peça sonhada por mim e pelos mestres da fundação, onde foi-me posta a possibilidade também de escolher a madeira que pretendia para estas peças e fiquei incrédula quando ouvi e a minha resposta imediata que foi vinhático e til é a minha ligação à ilha da Madeira e as suas peças de mobiliário. É, claro, que são duas árvores protegidas, mas existia vinhático na fundação, vindo do Brasil que estava lá armazenado há 15 anos e eu disse até, na altura, que parecia mentira, mas aquela madeira parecia que tinha estado à minha espera, então as cadeiras são nessa madeira e o ponto do “i” é em pau santo. Curioso que nos dois pontos dos “is” tanto da “ichair” como da “ichair long” há uns pontos brancos que raramente aparece e os mestres disseram-me que é a alma desta madeira.
Como é que surge esta colectânea para um livro?A exposição, todo este processo para uma compilação?
TGL: Acho que no final após a exposição fica o catálogo e é sempre um pouco redutor quando vemos as fotografias dos quadros, mas é o que fica, para quem a viu e para quem não pode apreciar é uma forma de ver o trabalho e todo esse processo, mas achei que neste caso era importante não só mostrar todos os “is” que desenhei, mas ter a fotografia dos mestres que comigo trabalharam. Na altura quando abordei esta ideia na fundação os responsáveis alertaram-me para o facto que se iria reproduzir a imagem de uns e não de outros, mas eu estive um ano a acompanhar todo o processo e fotografei-os a todos, só a “ichair long” foram cerca de 5 meses e as pessoas que trabalharam na gravura e na passamanaria eu tive o cuidado de os fotografar, por norma aparecem sempre as mãos dos mestres, mas eu achei que a cara também tem de estar e foi emocionante até ver a felicidade destas pessoas por estarem reproduzidas, por terem uma imagem no catálogo.
O território português tem sofrido com a falta de precipitação nas várias regiões do país.
Neste mês de Outubro o Instituto de Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) espera uma melhoria significativa dos índices hidrológicos após se ter verificado que até 30 de setembro 85% do território estava em situação de seca meteorológica: 24% em seca fraca da costa norte, 29% em seca moderada em algumas zonas do norte interior e 32 % em seca severa em algumas áreas do centro e sul do país.
Segundo dados veículados pelo IPMA entre outubro de 2014 e janeiro de 2015 não se verificou a ocorrência de um período de seca contínuo. No final de fevereiro 2015 confirmou-se o surgimento da situação de seca meteorológica fraca em grande parte do país, situação que se estendeu a todo o território do continente e intensificou-se gradualmente até ao final de Julho e mantendo-se idêntica em Agosto. Em Setembro verifica-se um desagravamento da área afetada e da intensidade da situação de seca meteorológica.
A seca de 2015 teve uma extensão territorial importante, com 79% de território (no final de julho) nas classes de seca severa ou extrema, apenas inferior à das secas de 2011/2012, 2004/2005 e 1944/46, no entanto a duração (número de meses consecutivos em seca severa e extrema) desta seca foi, até ao final do mês de Setembro, inferior à generalidade de outras secas ocorridas em Portugal Continental.
https://www.ipma.pt/pt/oclima/observatorio.secas/pdsi/monitorizacao/situacaoatual/
Os peixe:avião são um grupo indie de rock alternativo que encontrou a sua sonoridade própria ao longo de vários anos de carreira.
O vosso primeiro álbum foi um sucesso em termos de críticas ao nivel nacional, depois lançaram o “Madrugada”, no qual decidiram escrever as músicas todos juntos em vez de isoladamente, decidiram fazer isso porquê há um maior peso neste segundo trabalho já que o primeiro foi muito bem acolhido?
José Figueiredo: Entretanto lançámos um terceiro que é o homónimo que é o peixe:avião. É esse que te estas a referir?
Sim.
André Covas: Não teve a ver com o peso da recepção dos álbuns anteriores. Teve incialmente a ver com uma certa maneira de trabalhar característica e nós queríamos fazer algo diferente. A única forma que encontrámos de garantir que faríamos algo assim e maior era começar logo pelo trabalho de composição. O não estarmos em casa a pensar em melodias e partilharmos isso com outros, mas em vez disso, irmos todos para o estúdio, para a sala de ensaios, sem pensar e só fazer música, era uma maneira de garantir que íamos fazer algo diferente. Não tem a ver com o peso da crítica tem a ver com o facto de querermos fazer algo novo.
Em termos melódicos o que distancia o homónimo, peixe:avião, dos trabalhos anteriores? Parece haver um maior amadurecimento em relação aos discos anteriores.
AC: Sim, esta forma de trabalhar que nos auto-impusemos acabou por trazer outras coisas imediatas ao resultado musical do disco e que era também algo que desejavámos fazer construções harmónicas e melódicas mais simples, não tão complexas como o “Madrugada”, ou o “40.02”. Nesse primeiro álbum notou-se um crescimento de complexidade que quissemos contrariar neste trabalho e o facto de estarmos sempre juntos, os cinco a compor, porque quando se esta em casa isso acaba por conceder uma liberdade que é um pouco perversa, por ser se calhar excessiva, estamos com o computador, ou com o instrumento à frente e podemos gravar 40 instrumentos à vontade, depois podemos aplicá-los a um disco e adaptá-los para tocar ao vivo. Mas, como neste trabalho quissémos os cinco compôr ao mesmo tempo, nunca havia mais do que cinco coisas a acontecer e isso faz com que haja composição mais despida, faz com que seja mais essencial e não decorada, ou trabalhada com outras camadas por cima. O resultado final é mais conciso nos arranjos e mais simples na composição em si e depois o facto de estarmos a trabalhar com instrumentos e não com o computador, estámos a compor com o que é o resultado final fez com que trabalhassemos melhor o som, plasticamente, o álbum é mais duro, mais cru, porque somos menos, pegámos nas guitarras e tocámos com amplificadores. Todos esses aspectos fizeram com que o foco seja especial e isso faz com que o disco seja mais aberto do que os anteriores.
Em relação as letras, como é que funciona em termos de processo criativo, pelo que me apercebi primeiro trabalham o som e só depois acrescentam as letras. É difícil compor em português para este tipo de sonoridades ou não?
JF: Se calhar é mais difícil para o Ronaldo Fonseca.
AC: Sim, é mais difícil. Ele tem essa missão solitária de escrever as letras nas composições que entregámos-lhe em mão e acho que nunca dissemos que nunca gostámos.
JF: Podemos fazer algumas sugestões, mas as letras são o seu departamento.
AC:Acho que houve fases mais difícies e que lhe podemos chamar de falta de inspiração, que é algo muito complexo, mas ele vai tendo essa luta pessoal e fazendo esse caminho. Para nós é muito mais simples, fazemos o que nos apetece e dizemo-lhe safa-te rapaz!
JF: Já fizemos várias músicas, não em letras, mas em melodias vocais. Mas, de facto o processo é de composição para a letra e nunca interpretámos as letras dele com música.
É mais um texto de reflexão sobre os parâmetros corporais da moda.
Recentemente foi publicada uma notícia sobre uma jovem modelo de apenas 14 anos de idade que foi contratada pela Dior para a suas novas futuras campanhas, nos próximos dois anos e fiquei chocada. O anúncio como seria de esperar de imediato gerou imensas críticas por parte de várias personalidades e organizações não governamentais e lançou de novo a discussão sobre esta matéria. De facto, ao longo dos anos tem-se notado cada vez esta “corrida” quase insana das marcas por rostos cada vez mais jovens com corpos quase sem formas, diria mesmo imaturos, para promover vestuário para mulheres com faixas etárias superiores. É um contrasenso que se banalizou de tal forma e que não é apenas comum à marca francesa, mas também afecta outras empresas do sector moda internacional, como é o caso da Zara. Sim, é verdade. Eu sei que a marca espanhola é notoriamente conhecida pela sua aversão à publicidade institucional, contudo, o novo catálogo muito estranho por sinal e as imagens espalhadas pela loja que tive a oportunidade de apreciar recentemente, também deixam muitas dúvidas no ar, afinal que idade tem aquelas jovens? Algumas delas parecem mesmo meninas e nota-se até que em alguns casos a roupa lhes fica mal, porque as peças foram desenhadas para outros tipos de corpos. O que me leva a reflexão desta semana, como é possível que as empresas de moda continuem a achar perfeitamente normal contratar estas jovens modelos, na sua grande maioria menores de idade, para promover peças de vestuário apenas acessíveis a mulheres com corpos amadurecidos pelo tempo? Quando se tornou simplesmente aceitável usar como parâmetro de beleza feminina teenagers, cuja estructura corporal ainda se encontra em pleno desenvolvimento hormonal, para promover roupa num mercado em que o público-alvo é claramente mais amadurecido? E se a sociedade tende a boicotear neste momento as marcas que utilizam trabalho infantil na produção fabril, porquê é que no caso das modelos tal comportamento é quase ignorado? Por todos estes motivos deixo aqui o meu protesto e sublinho que simplesmentes não desejo comprar peças de vestuário que miúdas vestem, por vários motivo, o primeiro dos quais porque já não sou uma delas e não me sinto reflectida nesse tipo de imagens, mas tenho orgulho em ser mulher e em algumas da minhas curvas! Para além disso, condeno este tipo de publicidade enganosa, porque transmitem uma mensagem errada para as novas gerações de raparigas e jovens mulheres de todo o mundo, mostram uma estética corporal que em nada abona para à sua auto-estima. O que acham que uma jovem de 25 anos pensa quando olha para estas fotografias? Que é gorda! E não o é! Essa é que é a tragédia! E em terceiro lugar, de facto é trabalho infantil e não me interessa que as miúdas tenham licença parental para o fazer, são marcas que nem sequer são apropriadas para à sua idade, se estas raparigas querem ser modelos que comecem as suas carreiras em empresas que comercializem produtos de moda adequados apenas à sua faixa etária. Defendo mesmo uma maior fiscalização e regulamentação para o sector da moda que tem vindo a gozar de uma certa complacência e impunidade por parte de da sociedade em geral e em particular das próprias mulheres, sim que em vez de protestar, apenas se culpabilizam diante do espelho, quando devem é pressionar cada vez as maiores marcas para que façam algo que se esquecem com demasiada frequência, ouvir as suas potenciais clientes! E eu sou uma delas! Eu gosto de moda, mas não desta maneira!
É uma compilação de contos da escritora e professora Lúcia Bettencourt.
Devo confessar que desconhecia por completo esta autora brasileira e só tomei conhecimento da sua ainda pequena obra literária, através da sua agente que me fez o favor de enviar alguns dos seus livros para a minha caixa de correio. Devo confessar que ao princípio desconfiei, porque por norma apenas escrevo sobre livros de que gosto e cuja escolha é aleatória, não garanto nada a ninguém, neste caso em concreto posso afirmar que gostei mesmo deste pequeno compêndio. Já devem estar fartos de saber que aprecio contos, é um genéro que muita gente desdenha, mas para mim não há limites de palavras quando se escreve uma boa história, “a secretária de Borges” é um desses exemplos. A escrita de Lúcia Bettencourt é dinâmica, surpreendente e inteligente pelas temáticas e pelos narradores que escolhe o que a torna acessível a qualquer tipo de leitor. Um dos contos que de facto mais me entusiasmou desta colectânea foi o “insecto”, a história é simplesmente... como hei-de colocar isto sem ferir susceptibilidades? É viciante pela sua viscosidade! Sei perfeitamente que não fiz sentido absolutamente nenhum, mas tem de ler e só depois irão entender. Foi aliás o meu preferido. O conto principal, que dá o título ao livro e que nos remete para o grande escritor Borges, é inusitado e hábil pela sua permissa, assim, como “4%”. De facto o que achei curioso ao longo das várias narrativas é que a Lúcia Bettencourt coloca sempre o leitor num lugar pouco usual, o de ouvido amigo, sabem aquela pessoa que houve os desabafos dos outros? Em todas as pequenas histórias nota-se que ela conta a sua história a alguém, a nós, não ao colectivo, mas ao eu individual, tem esse quase tom de confessionário, percebem o que quero dizer? Bem, se não sabem, bem, só há um remédio! Como é meu apanágio, não sou grande apreciadora de levantar demasiado o véu quando falo de livros. Por isso, boa leitura.
Ricardo Machado, bailarino e coreógrafo, trabalhou como intérprete com diversos coreógrafos e encenadores, tais como, Aldara Bizarro, Né Barros, Carlos Silva, Moncho Rodriguez, Victor Hugo Pontes, Rui Lopes Graça, Fernanda Fragateiro, Kurt Demey, Marielle Morales, Madalena Victorino. Desde 2006 que trabalha frequentemente com Joana Antunes como intérprete, co-criador e assistente de direcção artística. Em 2010 trabalhou com a Companhia Olga Roriz na criação A Sagração da Primavera e com a Companhia Instável na criação "Tuco” da coreógrafa Karine Ponties. No início de 2011 fundou a "outro vento". Criou através desta plataforma, o solo "Mulher de vermelho" em parceria com Raquel Rua. Actualmente trabalha com a Circolando no "Arraial” de André Braga e Madalena Victorino e neste momento está a colaborar com Madalena Victorino na performance "Vale” e com Karine Ponties na criação de "Lamali Lokta", além de continuar a digressão de "Tuco”.
Tu possuis um longo percurso profissional como bailarino em várias companhias de dança nacionais e não só, foste um pouco saltimbanco, o que retiraste dessas experiências profissionais?
Ricardo Machado: Acima de tudo o que me tem interessado mais ao longo destes anos todos e já lá vão doze a avançar profisisonalmente é ir beber a várias fontes. Experimentar, ver como as pessoas trabalham e tirar o melhor delas, é quase como um parasita (risos). É interessante, porque é assim que aconteceu como com a Karine Ponties, que é uma coreógrafa francesa, mas trabalha na Bélgica, trabalhámos em quatro projectos diferentes e fomos aprofundando essa relação coreógrafo-bailarino, criámos uma relação artística forte e agora com a “Circolando” estou a trabalhar há muito mais tempo.
Mas, desde o início sempre almejaste ser coreógrafo e primeiro experimentaste ser bailarino ou foi uma vontade que cresceu naturalmente?
RM: Não, cresceu naturalmente. Quando comecei tinha esta paixão pela dança, pelo corpo e pelo movimento. Mesmo a minha forma de estar na dança foi evoluindo ao longo do tempo e mais tarde veio essa vontade de dizer coisas, desenvolver e de como queria dize-las.
Então como te defines como coreógrafo? Como é que te destacas dos restantes profissionais desta área ao nível nacional?
RM: O que me interessa muito neste momento é explorar o homem comum que também pode estar dentro do palco, tanto pode ser um bailarino, como um actor e não ser um acrobata, ou um intérprete fantástico. Então, tem-me interessado explorar este lado simples de só estar e de ser uma pessoa também comum no palco e daí estar a fazer este espectáculo do “Rei Sol”.
Emtão fala-me um pouco sobre este espectáculo? Tiveste mesmo de requisitar voluntários pelas redes sociais.
RM: O “Rei Sol” nasceu há cerca de três anos e nessa altura nem sequer tinha nome quando o comecei a pensar. A primeira ideia que tive foi fazer um solo sobre a solidão, de um homem sozinho no espaço, nunca penso num bailarino, ou actor, pensei que se queria falar sobre solidão precisava dos outros.
Luis Campos é um jovem cineasta que co-produziu com outros quatro colegas, uma curta-metragem premiada, o “Azeitona” que foi o mote da nossa conversa sobre filmes, cinema e o inconfundível Manuel de Oliveira.
“Azeitona” foi um ideia que surgiu a partir de uma experiência pessoal ou não?
Luís Campos- O “Azeitona” é um filme de quatro pessoas, a Ana Almeida, o Humberto Rocha, João Gazua e eu, que têm em comum o facto de todos termos estudado cinema na Covilhã. Logo, a personagem da Olívia tem muito das nossas experiências pessoais relacionadas com esse facto, alguns dos decors, situações, actores ou mesmo personagens do filme dizem respeito a essa nossa experiência comum.
É a tua homenagem pessoal ao trabalho de Manuel Oliveira foi esse o mote da curta-metragem?
LC: Foi um desafio lançado pelo corpo docente do curso de cinema na UBI (Universidade da Beira Interior), para o nosso projecto final de Mestrado, todos os alunos teriam de fazer um filme relacionado com Manoel de Oliveira, que celebrava o seu centenário nesse ano, com total liberdade de abordagem. Nós os quatro soubemos desde logo que queríamos prestar homenagem à pessoa, à singular personalidade de Manoel de Oliveira, uma vez que mantemos um sentimento muito especial, de reconhecimento e de admiração, perante a obra e vida de Manoel de Oliveira. Embora o filme não pareça à partida uma homenagem e a narrativa do filme ir muito de encontro aquelas que eram as nossas principais influências na altura, filmes desde "Juno" a "O Fabuloso Destino de Amélie", que é um tipo de cinema contraditório ao cinema de Manoel de Oliveira , criar o "Azeitona" foi uma forma de perpetuar esse sentimento.
Usaste algumas das famosas técnicas de filmagem, os planos estáticos, do cineasta português?
LC: Curiosamente, o plano fixo mais “longo” que utilizámos em "Azeitona", dotado de força icónica e semiótica ao melhor estilo do cinema de Oliveira é quando Olívia sai de casa e se senta no muro em frente ao Quinto Império, a tasca do senhorio Manoel, com uma porta fechada e outra aberta do seu lado foi comentado por muitos espectadores como demasiado longo e ineficaz no desenvolvimento da narrativa. Isso pode servir como uma espécie de reflexo a como a maioria da população interpreta o cinema de Manoel de Oliveira. Podemos dizer que o filme de Manoel de Oliveira que mais influenciou "Azeitona", pelo menos, em termos de tom ou recurso de linguagem cinematográfica, foi o "Aniki Bóbó". Há várias referências ao seu cinema ao longo do Azeitona, mas focámo-nos essencialmente na constatação de como a população geral reage perante a filmográfia de Manoel de Oliveira e perante o cinema em geral, num meio pequeno como a Covilhã. Essa relação do povo com o cinema de Manoel de Oliveira é uma personagem com vida própria em "Azeitona" e o seu arco narrativo sustenta-se muito na forma em como esse conflito vai da superficialidade ao entendimento e reconhecimento colectivo.
Curiosamente o filme foca um determinado local do pais, onde acontece toda a acção, mas decidiste não incluir planos paisagísticos, porquê a história era mais importante?
LC: Criámos um guião com mais de 30 páginas e sabíamos que isso corresponde a cerca de 1/3 de uma longa-metragem. Tínhamos cinco dias para rodar o filme, com a presença na Covilhã dos actores que aceitaram o nosso desafio e tivemos de tomar algumas decisões em relação ao pleno aproveitamento desse tempo. Nesse sentido, sim. O nosso foco era essencialmente em conseguir que a narrativa funcionasse de acordo com a visão inicial. Temos uma sequência na Serra da Estrela, em que conseguimos incluir alguns planos gerais com a paisagem da Cova da Beira, e uma outra sequência de Olívia a caminhar pelas ruas da Covilhã, que revela um pouco da arquitectura e da história do local. Mas sempre considerámos que Azeitona seria um filme de narrativa, com recurso a muitos diálogos e muitas posições de câmera, em contraste com a maioria do cinema de Oliveira. Mas que, na sua contradição, se acabasse por complementar com a obra de Oliveira. O cinema é universal, tem infinitas possibilidades. Fizemos questão de entregar um exemplar a Manoel de Oliveira. Não sabemos se alguma vez ele chegou a assisti-lo, ou qual a sua opinião perante "Azeitona", mas o filme é essencialmente dele, foi feito para ele. Foi a forma que encontrámos para, ao nosso estilo, lhe agradecer pelo incrível legado que deixou.
É um trabalho de campo desenvolvido pelo jovem artista plástico Miguel Ângelo Martins. Trata-se de um estudo sobre tintas mas sem pintura sobre tela, confuso? Vá ver e tentar perceber até o dia 4 de Outubro na galeria dos Prazeres.
Decidiste fazer uma exposição após um trabalho de campo sobre os Prazeres.
Miguel Ângelo Martins: Sim, estive cerca de um mês, já tinha estado cá nos Prazeres no ano passado, porque acompanhei uma artista e depois comecei a pensar sobre este espaço e as pessoas. Como o meu trabalho esta aliado à pintura pensei que poderia associar esta arte à aplicação da cor que esta nas paredes da casas e fui um pouco por aí. Iniciei este estudo fotografando as habitações que me pareciam mais evidentes ao nível da cor e depois comecei a catalogá-las e foi ao terreno fazer uma mistura in sitium.
Fostes catalogar as cores no respectivo espaço?
MAM: Não catalogar, foi até essa casa e levei comigo as cores primárias e localmente fiz a mistura e a apliquei directamente, foi por insistência até obter a tonalidade das paredes da respectiva habitação.
Apresentas também mapas topográficos, porquê tiveste esse cuidado de apresentar os imóveis na sua localização correspondente?
MAM: Porque me parecia interessante poder ter essa cor guardada como um testemunho para o futuro de forma a saber que cores se utilizavam nas paredes. É um pouco como recuperar o património dos Prazeres. As casas desta zona estão em decadência e havia muitas das paredes que já haviam perdido a cor com o tempo, eu assim pude recuperar essa memória.
Disseste também que este levantamento cromático tem vindo ao encontro de um trabalho que tens vindo a desenvolver sobre a cor.
MAM: Não sobre a cor, mas sobre a pintura. A relação com o quadro e as peças que são usadas na sua concepção, como a tela e o vestidor. O que faço é pensar sobre a pintura e não usá-la como um meio para criar algo, ou representá-la com profundidade no próprio suporte bidimensional, mas dou importância à pintura, não é apenas um quadro, ou uma superfície é também um aglutinante e um pigmento. Com essa parte líquida é que tento criar diálogos.
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