Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

segunda, 31 dezembro 2012 15:06

O saber do teatro


A CETbase é a maior base de dados no país sobre estudos para teatro. Trata-se de uma rede online aberta a investigadores, artistas e ao público geral onde se pode consultar mais de um milhão e meio de informações relacionadas com as artes do palco. É um repositório de conhecimentos coordenado pela professora Maria Helena Serôdio, da faculdade de letras de Lisboa e uma pequena equipa de investigadores que todos os dias trabalham para o bem comum.

Em que âmbito surge a CETbase?

Maria Helena Serôdio: Ela aparece ligada a duas realidades fundamentalmente, a existência deste centro investigação para estudos de teatros nesta faculdade, por outro lado, um curso de pós-graduação de teatro. Os alunos e os professores aperceberam-se de que havia falta de alguns instrumentos de trabalho e a necessidade de avançar não só para escrita, mas também para a criação de uma plataforma online que permitisse um maior rigor na recolha dos espectáculos e a possibilidade de estarmos sempre a produzir acções, acrescentos, relações entre os vários dados, etc.

Como é que fazem a selecção dos dados, na recolha que fazem desses elementos como distinguem o que é superfulo do essencial e importante preservar?

MHS: Nada é superfulo. A questão fundamental que talvez interesse perceber é que registos como estes são enormes: espectáculos registados temos mais de 23 mil, pessoas caracterizadas pelo seu percurso profissional temos mais de 44 mil, instituições entre companhias de teatro, ou que financiaram o teatro são 11 mil, textos levados a cena quase 15 mil, temos a caracterização onde foram apresentados esses espectáculos que são mais de 3 mil eventos, festivais ou comemorações que impliquem o teatro há mais de 1500 registos e depois desde um princípio tivemos um cuidado muito grande que foi não impor a realidade do teatro em Portugal aquilo que é uma única formatação. Explicando, se é verdade que a palavra encenador para algumas companhias é importante sabemos que na história do teatro essa palavra não era usada, era o director, ou actor principal que tinham essa função, nós fazemos o registo exacto do termo usado pela companhia o que não significa que não tenhamos uma rede de equivalências que permite quando nos queremos saber quem é a figura do encenador, também na ficha do espectáculo aparecem como directores. Há redes de conceitos que estão muito bem fundamentados e nos permitem entender em conjunto, mas ao mesmo tempo em cada um, ver as diferenças em termos da nomenclatura. Outro aspecto que também é importante referir é que independentemente de darmos um cuidado maior e fazermos um registo mais completo das companhias profissionais, nós temos também registos de espectáculos de escolas, de universidades, de teatro amador, temos muito mais seguramente do que aquilo que são as chamadas companhias principais. Do ponto de vista cronológico é evidente que não vamos perder a informação do que se esta a fazer actualmente, mas também é preciso adequar. Há já registos dos espectáculos do século XIX e alguns do XVIII. Isto porque o centro de estudos de teatro desenvolve vários programas, tivemos durante dois anos um projecto sobre o século XVIII apoiado pelo Fundação de Ciência e Tecnologia onde se procedeu a recolha quer de documentos originais, peças, anotações da censura, quer das instituições que permitiam levar os textos aos palco, algumas dessas realidade nesses documentos que são passados para a CETbase. Esta é uma plataforma o mais inclusiva possível, depende é das investigações que fazemos.

Em termos dos registos propriamente ditos, vêm em vários formatos ? Em fotografia, vídeo, em ficheiros pdf é isso?

MHS: Temos é uma rede. Há um projecto de investigação que terminou agora, que reúne um conjunto muito apreciável de fotografias de cena, de publicações de livros, que se chama Opsis, também financiado pela FCT e em alguns casos podemos encaminhar para os dados obtidos em fotografia. É mais fácil trabalhar em rede, embora se possa ter acesso a outras bases de dados que não apenas da própria CETbase, por exemplo, quem estuda o século XVIII tem acesso também a estes dados na página da História do Teatro em Portugal(htp) online onde também terá acesso a documentação digitalizada e promovida digamos de forma mais contemporânea. O que fazemos é distribuir a rede, anotar todas as transversalidades que permitem que uma pessoa que estiver de fora possa consultar através da internet.

Quem são as pessoas que consultam esta base de dados?

MHS: Tanto quanto nos é dado a perceber, sobretudo na CETbase, são os próprios actores, por exemplo, quando querem saber se determinada peça de teatro foi representada em Portugal, quantas vezes determinado autor foi representado no nosso país, eles são os que provavelmente tem um interesse mais imediato dessa informação. Depois relativamente a Opsis e o HTP online são muitos professores, investigadores que estão a pagar esse acesso e sentem a necessidade de recolher estes dados online. Tudo isto, o facto de estar na internet e de ser de acesso aberto não permite que tenhamos propriamente um rasteio, mas sabemos pelas consequências, aparecem teses de mestrado, de doutoramento, mesmo não sendo da área de teatro, que requerem a consulta dessas áreas.

segunda, 31 dezembro 2012 15:04

O senhor comunicação


Daniel Oliveira tornou-se um dos rostos mais familiares da televisão portuguesa. O programa “Alta definição” granjeou-lhe o reconhecimento do público e da crítica, conversas intimistas com variadas personalidades nacionais e internacionais que agora podem ser apreciadas em livro.

Em relação ao programa “alta definição” e outros que já fizestes em televisão, qual é o teu método de trabalho? Como preparas as entrevistas?

Daniel Oliveira: Eu tenho um arquivo pessoal que conservo desde os 14 anos com todas as entrevistas que saíram sobre as personalidades mais relevantes do mundo mediático e não tão relevantes do ponto de vista temporal, tenho depois acesso a um serviço de clipping que o grupo tem sensivelmente há dez anos com todas as coisas que saíram no mercado sobre a pessoa que vou entrevistar e depois há o conhecimento empírico dessa personalidade. Procuro saber tudo o que existe sobre essa pessoa de forma a saber que tipo de palavras-chave e temas que posso introduzir sem que esse conhecimento mine a entrevista, isto é, eu posso saber o que determinado convidado esta a dizer, onde quer chegar com determinado assunto, mas não minar a conversa com esse meu conhecimento. Eu dou um exemplo prático, se eu sei que um convidado teve um grande amor na Madeira, eu poderia ostensivamente perguntar: sei que viveu um grande amor na Madeira fale-me sobre isso, eu assim estava a colocar o entrevistado numa posição de fragilidade, se eu perguntar o que a Madeira tem de especial? O convidado sabe que eu sei a que me estou a referir e coloco dois patamares, duas estradas, para ele percorrer, ou abre essa porta ou não abre. A pesquisa serve sobretudo para isso. Para abrir caminhos para serem percorridos.

Quanto tempo demora para preparar uma entrevista?

DO: Depende da pessoa, mas quatro a cinco horas.

Há temas tabus? Ou seja, quando fazes esse percurso mental, essa pesquisa sobre o teu entrevistado, há questões que evitas, porque sabes á partida que será difícil obter uma resposta por se tratar de um tema sensível?

DO: Não, a pesquisa serve também para saber qual é essa sensibilidade em relação a determinado tema, mas levo-o sempre comigo. Esse conhecimento faz parte da vida daquela pessoa, tudo o que é do conhecimento público para mim é relevante, porque saber um facto mais delicado pode ajudar-me a saber que ela é determinada maneira, ou que gosta de determinadas coisas, ou que aprecia determinados gestos. Alguém que tem uma perda da sua família da qual não fala e é muito amargurado, (estou a falar em abstracto) provavelmente toda essa amargura vem dessa perda, nesse sentido esse conhecimento é fundamental. Se eu não o souber, no decorrer da entrevista posso incorrer numa falha grave não sabendo porque determinada coisa é assim.

É uma espécie de autocensura?

DO: Tudo pelo contrário, levo tudo comigo.

segunda, 31 dezembro 2012 15:03

De vento em popa


O Programa de Observação de Pescas para os Açores (POPA) existe desde 1998 com o intuito de recolher dados de caris científico a bordo de embarcações de pesca comercial. Para alcançar este objectivo, são integradas equipas de observadores que tem como função a recolha contínua de dados relativos à dinâmica das embarcações e recolha de informação sobre as espécies alvo da pescaria nos mares do Açores.

Em que âmbito surgiu o popa?

Miguel Chancerelle de Machete: O popa surgiu em 1998, porque a determinada altura era necessário ter uma certificação “dolphin safe” nos Açores. Trata-se de uma iniciativa que começou nos EUA e depois chegou à Europa. Nos Açores como havia uma intensa actividade piscatória, capturavam-se por vezes golfinhos nos atuneiros. Estes animais eram também pescados para confecionar delicadezas gastronómicas, porque se apreciava a carne, ou como engodo para isco vivo. A pesca de salta e vara do atum tinha essa componente , embora os números fossem relativamente baixos comparativamente a outros locais, extra Portugal, foram estes dados que precipitaram as acções das organizações não governamentais nesse sentido e por isso, houve a necessidade de adoptar esta medida também no arquipelago.

Porque a Universidade dos Açores e a secretaria regional do ambiente e do mar tiveram a necessidade de criar um instituto para este efeito?

MCM: Não se criou um instituto. Na altura, o instituto do mar, a estrutura já existia, a Universidade dos Açores tinha condições, em termos de pessoal e know-how para poder gerir este programa, todas as entidades assim o entenderam, inclusive o governo regional. A origem esteve o “dolphin safe” mas depois as pessoas que estão a bordo recolhem muitos dados quer sobre a pesca, quer sobre as pescarias associadas. Temos uma base com mais de 2 milhões de registos neste momento, sendo a única da Europa no género que pode ser aproveitada tanto pela administração regional, como pelos investigadores e a indústria.

Fale-me um pouco sobre o trabalho dos voluntários nas embarcações.

MCM: Observadores quer dizer, hoje em dia não temos voluntários. Temos duas modalidades, uma de trabalhadores contratados digamos assim por alguns meses e voluntariado, mas nestes últimos anos nem sequer temos tido muitos voluntários, porque interessa-nos ter uma equipa permanente durante toda a safra dos seis meses. Os observadores são importantes porque vão ganhando cada vez mais experiência, recolhendo melhores dados e interessa-nos ter essa qualidade. Isso só funciona com pessoal especializado dentro do barco para monitorizar, acompanhar e fazer a cobertura da pescaria.

segunda, 31 dezembro 2012 15:02

De pedra e fogo

Elsa Ferreira é a única produtora-engarrafadora de vinho de mesa na ilha da Madeira, o pedra de fogo. Tem uma produção de 1.5, que corresponde a 15 mil metros quadrados de videiras. Dois hectares de terreno bruto no parque agrícola do Caniçal, que produzem 11 toneladas de uvas anuais por vindima. São dez mil garrafas de um vinho suave e com travo atlântico.

Como surgiu o projecto pedra de fogo?

Elsa Ferreira: Eu instalei-me como agricultora no parque agrícola do Caniçal, um espaço construído para jovens na área da viticultura. O objectivo era criar um vinho tinto de mesa. Concorri através de um concurso público, eu e mais dois colegas, e depois foi-nos atribuído um lote.

Porquê um projecto de vinicultura?

EF: Eu tenho formação nessa área e depois surgiu o parque agrícola, que se apresentou como um caminho, uma saída e por gosto pessoal.

O que tem de tão especial aquela zona da ilha?

EF: Tem boas condições climatéricas, é numa cota mais baixa, mais próxima do mar, entre 40 a 50 metros de altitude, depois tem uma boa exposição solar que promove o amadurecimento das uvas e é um pouco ventoso. O vento não é muito prejudicial desde que não seja no período da floração e de certa forma até ajuda a arejar as videiras.

A escassez de água não é um problema?

EF: Não, porque a cultura da vinha não é muito exigente em termos de água. As vides possuem um sistema radicular bastante profundo. É exigente na plantação das videiras, mas depois um inverno chuvoso é suficiente. Há dias em que as temperaturas são mais elevadas e aí temos de regar, mas em termos gerais não é necessário.

segunda, 31 dezembro 2012 15:00

O bom insano


Nuno Morna é uma das vozes mais dissonantes do panorama artístico regional. Criou a produtora a COM.TEMA (companhia de teatro da madeira) com o intuito de fazer o que lhe dava mais prazer pisar as tábuas da sua sala de jantar, agora à sério, do teatro e espalhar a sua “insanidade” pelos vários recantos do arquipélago madeirense e fora de portas.

Tens uma carreira como actor, em Portugal e ainda vives numa ilha.

Nuno Morna: Para mal dos meus pecados é uma coisa da qual não consigo viver. Ou seja, não consigo ser actor a 100% portanto, nem consigo profissionalizar-me naquela que considero ser a minha actividade principal. Tenho um trabalho como todas as pessoas têm, que me permite pagar as contas, a educação dos filhos e por outro lado, exerço esta actividade de uma forma profissional, tanto eu, como as pessoas que comigo colaboram e toda a gente recebe, mas não é suficiente para autonomizar-mos ao ponto de considera-la a nossa principal profissão. Infelizmente é assim, mas sempre digo que sou actor.

Com uma carreira com quase 30 anos…

NM: Faço 30 anos de carreira para o ano que vêm.

É a carreira que almejaste quando começastes? Há uma desilusão?

NM: Eu não sei se será uma desilusão, houve talvez no principio até perceber que a minha carreira no teatro nunca poderia ser, nem como actor, desde que tomei a decisão de ficar na Madeira , porque não me vejo a viver em outro sitio. Desde que tomei essa opção, houve alguma amargura quando percebi que não conseguia viver disto, da carreira artística e pensei: afinal vou ter de arranjar outra coisa para fazer, isso acabou por provocar uma paragem de 3 a 4, acabou o ser actor, se não consigo fazer disto uma vida. Contudo, coisas foram surgindo, foi sendo aliciado com um projecto aqui e outro ali e foi-se retomando com uma certa dinâmica que tinha deixado de ter. Depois foi participando em espectáculos com outras companhias , como TEF e o MADS. A partir dessa altura, achei que era chegado o momento, e neste aspecto sou muito demorado em tomar decisões, de fazer o que me apetecia e não apenas aquilo que me propunham fazer. Foi aí que fundámos a com.tema, faz dez anos no próximo dia 25 de Novembro, por um lado, para fazer o que me dava na real gana e por outro,  para desenvolver as minhas pequenas experiências como encenador, praticamente todas as peças que fizemos até hoje  foram encenadas por mim e também dei os primeiros passos como cenógrafo.  As pessoas associam-me a mim e a com.tema com a comédia, mas não é a coisa que gosto mais de fazer.

segunda, 31 dezembro 2012 14:59

A comunidade dos monstrinhos

A “monster models” é um lugar onde te podes expressar livremente, onde podes ser tu mesmo sem preconceitos, sem causar controvérsias, onde és único, mesmo sendo mais um de uma minoria de pessoas que acredita que não vivemos num mundo com uma única visão. É uma plataforma onde podes traçar o teu percurso peculiar de forma positiva.

Explica-me o contexto em surge os monsters models?

Daniela Sousa: O Monsters Models surgiu em volta da ideia do estilo alternativo. É toda uma subcultura que envolve o gótico, o cyber industrial metal, os anos cinquenta, ou seja, à volta de pessoas diferentes, sejam eles pintores, fotógrafos, modelos ou tatuadores. Estamos já a preparar um site para unir todos esses portugueses de forma a criar uma página que possa também catapultar oportunidades de emprego as pessoas dessa subcultura.

Mas, primeiro começaram com as fotografias?

DS: Sim, foram um primeiro passo, só para dar a ideia do que considerámos ser alternativo. Neste momento a nossa página monstersmodels.net ainda não é pública, por isso usámos o facebook como mecanismo para partilhar o que achámos que é belo dentro da nossa subcultura, seja fotografia, escultura, ou tatuagens.

Vocês criaram esse tipo de imagens cuidado, que nos remetem para uma certa época, porque não havia nada no mercado nacional?

DS: Exactamente. A nossa ideia não é original no mundo global, mas é um conceito novo em Portugal, é único, não há nada igual no género. De facto é uma estética cuidada, que remete para um certo estilo de vida alternativo, fora do dito normal.

Ou seja, se uma pessoa pretende fazer um ensaio fotográfico diferente, vocês tem uma equipa que prepara todo esse ambiente?

DS: Neste momento ainda não, estamos a ultimar o site e fizemos uma primeira versão com a modelo Francisca Ribeiro onde tentámos mostrar aquilo que procurámos. Depois vamos mostrar os nossos serviços para quem quiser ter essa experiência, ser um “monstrinho” dígamos.

segunda, 31 dezembro 2012 14:58

Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és

Um dos debates de maior actualidade é a alimentação, sobretudo o que comemos ao longo do dia. Trata-se de uma questão que ganha relevância quando se verifica que há uma causa e efeito entre o que digerimos e a saúde pública e com grande impacto no ambiente. Então o que comer? Ou não? E porquê? As respostas da especialista em medicina biológica, Ana Moreira.

Uma das questões mais debatidas sobre a temática da alimentação são as farinhas. Diversos especialistas defendem que as refinadas são prejudiciais à saúde. Concorda com esta afirmação?

Ana Moreira: É verdade, além de termos um tratamento com químicos principalmente, excluindo a agricultura biológica, a dita convencional utiliza pesticidas em que os solos são sujeitos a um processo de muito cansaço, porque não se respeita os tempos de cultivo como antigamente. O milho é dos alimentos mais transgénicos que existem, por exemplo. No trigo a questão coloca-se no seu aspecto refinado que implica químicos e os ácidos que são usados para dar a cor branca que a sociedade pede. Este cereal deve ser integral, em inglês é mais interessante, porque diz-se “whole”, o que quer dizer todo, tem o grão e a capa. Mas, mesmo considerando que se trata de um trigo integral temos o problema de ser transgénico e de terem pesticida que advém do próprio cultivo.

Então qual é a solução?

AM: A solução passa por ter uma alimentação em que tem de haver rotatividade dos cereais, ou seja, trigo-sarraceno, centeio, aveia e os mais antigos, a quinoa, o milé e o amarante. O ideal seria comer um trigo integral e de cultura biológica. Desta forma diminuímos imenso o factor de risco e pelos nomes que referi podemos constatar que existem imensos cereais aos quais não se faz publicidade na televisão e nas revistas e que as pessoas não conhecem. Os que recomendo mais é o Kamut, a espelta e a aveia que não seja transgénica.

No entanto, há um factor económico relevante associado a esses produtos, são sempre mais caros, na actual conjuntura comer bem é difícil.

AM: Isso não posso justificar, uma família que mal se pode alimentar quer lá saber de agricultura biológica, nesse caso não há nada que possa dizer, não há dinheiro ponto final. Falando de uma faixa de pessoas que possa comprar, mesmo que não seja 100%, podem priorizar os legumes e as frutas, porque aí já há uma boa fatia que se previne. Não comemos o dinheiro literalmente falando, temos é que dar o devido valor a agricultura biológica, porque é óbvio que tem de ficar mais cara, não se gastam os solos, não levam pesticidas ou produtos que faz as plantas crescerem mais e com mais peso. A maçã biológica, por exemplo, são mais pequenas, não tem o tal aspecto tão brilhante, são mais tocos digamos assim, quem teve contacto com o mundo rural recorda na infância que a fruta tinha esse aspecto. Portanto há dois casos muito interessantes, por um lado há as pessoas que estão muito alertas para um tipo de vida em ressonância com a natureza e com o corpo e esse procuram não é preciso convence-los, são pessoas que não tem problemas de saúde, mas apostam na medicina preventiva. Os outros casos são as famílias com problemas de saúde e aí aconselhámos a cultura biológica, porque entendemos que de facto estamos a ajudar as pessoas a ficar mais saudáveis.

Outro dos seus cavalos de batalha são os açúcares, porque provocam diabetes, estão associados à obesidade e a outras doenças cardiovasculares.

AM: Certo, o açúcar branco e o sal refinado são os maiores inimigos que temos na actualidade, não é a crise, não é a troika são estes dois ingredientes, porque o açúcar sofreu um processo de transformação química que faz com que ao ingerirmos há uma serie de reações que começam na mucosa intestinal e acabam na matriz extracelular, portanto no tecido conjuntivo. O problema é que conseguimos relacionar o açúcar com a obesidade, com os diabetes ao nível mundial, mas ao nível das doenças osteoarticulares isso não é tão evidente cientificamente, a relação causa e efeito, entre a digestão do açúcar e a patologia, no dia-a-dia ao trabalhar com pessoas noto que melhoram imenso nesse tipo de doenças quando deixam de o ingerir.

segunda, 31 dezembro 2012 14:56

A flor das desertas


Rosa Pires é uma das biólogas ao serviço da reserva natural das ilhas desertas. Um dos seus objectivos e dos seus colegas de serviço é monitorizar e acompanhar as diversas espécies que residem neste conjunto ilhas, com destaque para a freira do Bugio, as cagarras e o lobo-marinho e estuda ainda a sustentabilidade e evolução dos fundos marinhos.

Em que ano começou a trabalhar no parque natural das ilhas Desertas?

Rosa Pires: Comecei a trabalhar aqui em 1993, na altura vim fazer um estágio de final de curso na área de biologia marinha sobre o lobo-marinho.

Nessa altura a colónia de lobos-marinhos era muito pequena.

RP: Sim, a colónia já estava em recuperação, havia 5 anos de trabalho desenvolvido nesse campo, mas 1988 estava estimada entre 6 a 8 animais apenas. Neste momento tem vindo a reproduzir-se, há entre 1 a 3 nascimentos por ano, a população anda a volta dos 40 animais distribuídos entre a reserva das Desertas e a Madeira. Na ilha, já temos conhecimento de que se reproduzem também. Neste momento temos camaras que disparam de hora a hora e se houver lobos-marinhos apanha-os. Depois a partir dessas imagens tentámos identifica-los, ver que tipo de comportamento que tem entre si, se há crias e obtemos assim muita informação que nós vai ajudar a conhecer melhor o comportamento desta espécie.

Na zona de Santa Cruz verifica-se o aparecimento de um macho enorme assim como de outros espécimens em outras áreas da ilha. Os pescadores andam a queixar-se que os animais furam os covos

RP: Os pescadores não andam muito contentes com os lobos-marinhos por causa dos covos. É uma situação complicada, tudo bem estamos a preservar uma espécie, mas não podemos desprezar os pescadores. Aqui, o problema é que se há alguém que pode fazer a diferença não é o lobo-marinho, já que este é um animal selvagem, mas sim o homem. Se eu estou a pescar num sítio onde aparecem sistematicamente lobos-marinhos se calhar vou faze-lo num outro sitio para que os animais não se habituem a ir aos covos. Mas, nem todos os pescadores estão dispostos a mudar, porque dizem que aquela é a sua zona e não vão mudar.

Mas, não se poderia alterar os materiais usados na construção dos covos para evitar esse tipo de situações?

RP: Sim, eu sei por exemplo, que os covos, no Caniçal, têm um sistema que evita que os lobos-marinhos os possam rebentar e comer o peixe. Isto passa pela atitude do pescador e se pretende fazer esse investimento ou não. Se os pescadores viessem até nós no sentido de pedir apoio se calhar fazíamos um esforço nesse sentido, mas por vezes o que acontece é que há um conflito e a comunicação torna-se difícil. Há uns anos atrás contactámos os pescadores e oferecemos redes para repor a parte dos covos destruídos, mas os pescadores entenderam que em parte a situação era da nossa responsabilidade, quando não é assim. Nós podemos sensibilizar e apoiar até determinado ponto, mas a minha posição é tentar fazer a diferença, no entanto é complicado. Quando há conservação da natureza e o homem a ser prejudicado, tem de haver uma sensatez de ambas as partes, não do lobo-marinho, que é um ser irracional.

segunda, 31 dezembro 2012 14:55

Os fabricantes de ideias

A confederação núcleo de investigação teatral é uma associação cultural e recreativa com várias áreas de intervenção que visa um outro olhar sobre a cultura portuguesa e não só. É sobretudo um veículo de cidadania, desde 2009, e que pretende criar uma massa critica atenta através do universo das artes.

Em que contexto surge a confederação? Quando e como foi criada e os seus objectivos como entidade cultural?

Miguel Ramos: Não lhe sei dizer se a Confederação tem contexto de aparecimento. Há um surgimento gradual acompanhado de uma feitura constante, que nos tem ajudado a perceber o que realmente nos interessa enquanto cidadãos.

A Confederação tem várias vertentes artísticas, teatro, música e cinema, como é que todos estes vectores se conjugam? Sob a forma de espectáculos? Ou apenas na formação?

MR: Temos uma equipa plural, o que faz com que tenhamos constantemente que pisar caminhos que não trilhamos antes. Forçar novos pontos de vista, para que de algum modo possamos sair transformados a cada passo que damos. Se o contexto criador ou de feituras novas pretende uma transformação no individuo que experimenta, entendemos que o experimentado deverá ser transformado também. Deste modo torna-se mais justa e generosa.

Qual é o balanço que faz da actividade da confederação desde que esta à frente do destino desta instituição? Os pontos positivos e negativos, caso houver.

MR: Acho engraçado falar em instituição. Eu não sei bem o que é a Confederação, ainda. Para mim, tem sido uma escola tremenda. Sinto que cada dia é um exame sem números clausus.

Uma das vossas apostas é o cinema de autor, sentem que havia uma lacuna nesta área daí organizarem vários ciclos de cinema?

MR: Eticamente é o cinema que mais nos interessa. Isto seguindo o que entendo por cinema de autor. Na verdade a nossa aposta é o cinema Português, porque gostamos do cinema Português. O cinema nacional é autoral.

segunda, 31 dezembro 2012 14:50

O resistente

Tiago Pereira criou um projecto sem final à vista que celebra a agradável variedade da música portuguesa, intitulada “ a música portuguesa a gostar de si própria” e agora embarca num nova memória visual de um país, através do “ciclo da lã em tempo real” e em breve pretende elaborar uma recolha em vídeo sobre a guitarra campaniça.

Como é que nasce a ideia da “música portuguesa a gostar de si própria?

Tiago Pereira: Eu nasci numa família de músicos e portanto sempre estive perto da música tradicional, porque o meu pai tocava cavaquinho e em criança já ia ver os constructores de instrumentos e lidava com essa realidade. Antes de começar a fazer vídeos e filmar, já gravava sons, tinha um “mini disc” e andava pela rua a captar sonoridades e conversas. Em 1998 gravei um senhor que imitava som de acordeão e isso despertou-me a ideia de gravar músicos, depois comecei a filmar também os músicos de rua, fazia muitas recolhas etnográficas pelos país e gravava também pessoas a cantar. Em 2008 fiz um filme do B Fachada a cantar, em Trás-os-Montes, em cima do telhado, ao pé dos sinos que se tornou viral e em 2011 ao ver os filmes no “blogotec” comecei a perceber que já fazia aquilo tudo muito bem sem dar um nome, que possuía um arquivo e achei que gostava de fazer algo que tivesse a ver com o estado do país em relação a sua cultura. Como tinha feito um documentário sobre “o significado da música portuguesa gostar dela própria”, decidi, criar um canal de vídeo em que filmava as pessoas na rua como se fosse num palco e mostrava todo o tipo de música que existe em Portugal, mais a portuguesa.

Daí o nome? Achas que não se valoriza a música portuguesa?

TP: Não é uma questão de não se valorizar, um estudioso tinha uma equação que afirmava que a música portuguesa não tinha qualquer tipo de autoestima e que havia um hiato em que o nosso estudo tinha-se perdido, ou seja, há um momento em que as recolhas não se tinham estudado, nunca se tinha aprofundado, divulgado e tornado comercial a partir de um determinado momento. Nós sempre fomos muito permeáveis as influências de outras culturas musicais desde sempre. A grande questão da “música portuguesa a gostar dela própria” é debater é o porque de estarmos mais próximos culturalmente de um negro que canta nos EUA no meio do nada, do que de um senhor que canta enquanto cava batatas em Maçainhas? Sempre estivemos mais perto de uma cultura musical anglo-saxónica do que uma cultura musical popular portuguesa e, isso num país tão pequeno como o nosso, não se entende. A música portuguesa não se conhece a ela própria, não se sabe o que se faz em outros sítios e como tal não pode gostar dela própria, nesse sentido nasce o conceito e tem essa terminologia. Não quer dizer com isto que considere que Portugal tem menos autoestima em relação a sua cultura popular, por mais anos que tenha passado o 25 de Abril, o preconceito em relação ao fascismo e que de certa forma as pessoas não esqueceram, é uma espécie de subconsciente colectivo, aplica-se a ideia de que o rural é pobre e como tal é uma pobreza de espirito estar ligado as estas questões, como o artesanato, a manufactura e isso estende-se à música. Cada vez mais vivemos num mundo em que isso não sinónimo de pobreza, mas sim de riqueza cultura e a verdadeira economia que se pode desenvolver a partir daí. Por isso, assistimos ao aparecimento do artesanato contemporâneo, porque as pessoas estão a voltar a essas origens, mas as pessoas mais velhas, de um determinado extracto social, acham que isso é pobreza. Nós vivemos num país em que as mantas em Minde eram feitas em muitos dos teares que havia na aldeia, todas as pessoas tinham um tear em casa, actualmente só existe um e de repente há uma encomenda da Alemanha que pretende 300 num mês, mas não há pessoas e teares para faze-las. É um contrassenso, há o preconceito e a música popular segue o mesmo trajecto, ela já podia ter singrado e saído para fora, mas só se ouve o fado da Amalia e nada mais há para além disso.

É um projecto em aberto? Vais continuar a gravar estes músicos ou vais parar a um dado momento?

TP: Sim, o projecto não tenciona acabar. Em Portugal há que resistir e nós somos resistentes.

Em paralelo, tens um outro projeto que é a “lã em tempo real”.

TP: Sim, tenho-o com a Rosa Pomar e basicamente documentámos os ciclos da lã em Portugal e deslocamo-nos a vários sítios para ver as pessoas dobar, estivemos na Madeira a filmar uma senhora a fazer uns barretes de vilão, nos Açores gravamos outra senhora a fiar com uma roca apoiada e ver e em Fernão Joanes fomos ver como se fazem os enfeites das ovelhas para a festa de Maio onde os animais são benzidos pelo padre.

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