Nasceu em Lisboa, mas traz sempre consigo o seu imaginário cabo-verdiano para onde quer que vá. É um outro lado mundo que transporta para a música de uma forma muito peculiar, muito pessoal. Carmem Souza canta as suas memórias com um cheiro a jazz, é reconfortante, tem um odor muito familiar, mas é definitivamente um aroma diferente.
Desde o princípio da tua carreira sempre tiveste a ideia de fundir o jazz e a música de Cabo verde?
Carmem Souza: Sim, nunca um músico, um artista, ou um criador dígamos assim, sabe bem por onde a música o vai levar. Mas, a minha ideia foi sempre fazer uma mistura das minhas raízes africanas, neste caso cabo-verdianas com algo mais contemporâneo que era o jazz. Comecei por misturar ritmos por cima de ritmos e descobri que combinam muito bem e até tem coisas em comum e isso é muito interessante, nunca se pode dizer qual é o produto final. Acabei um álbum novo que sairá em Setembro ou Outubro em que levo o standard jazz para a realidade cabo-verdiana e o contrário, as músicas mais tradicionais de Cabo Verde para o jazz. Está gravado. Ao vivo pode ganhar vida e levar-me para outros caminhos da música.
Sei que estiveste em Cabo Verde. Qual foi a reacção da população a esta nova sonoridade que não é bem tradicional, mas uma fusão?
CS: Foi muito bom, foi reconhecer algo que era cabo-verdiano, porque estavam lá os ritmos. Para uma audiência como esta não é preciso explicar o que é uma morna, uma coladeira, ou um batuque, eles identificam-se, sabem o que é, e daí sabem que é música nacional, mas veem-na como uma evolução e então é interessante.
Os mais puristas não disseram nada?
CS: Não houve nada disso. Fiquei muito contente com isso, acho que é uma questão de comunicação. Desde o início sempre fiz muita questão de passar isso as pessoas, eu não sou purista cabo-verdiana, não nasci em Cabo Verde, nem cresci lá, mas faço parte de uma diáspora que nasceu em outro país, que sempre se sentiu muito próximo das suas raízes, porque os pais sempre as tiveram presente, desde a comida, a música e o crioulo. Sempre vivi muito rodeada de um imaginário que era-me muito familiar e quando estamos em Cabo Verde nada parece é estranho.
Misturastes músicas icónicas de Zeca Afonso e Cesária Évora, só para citar alguns exemplos, sentiste um certo pudor em mexer nessas sonoridades tão pessoais e quase intransmissíveis ou não?
CS: Eu quando pego em músicas como "song of my father", ou músicas como os "os bravos" e "saudade" no fundo tento transforma-las em músicas minhas, ou quero dar-lhes um bocadinho de mim. Há tantas versões destas canções, cada artista deu à sua realidade a cada um desses temas e eu quis transmitir isso. Brad Mehldau é um pianista que transforma temas, pode ser rock, ou pop e dá-lhes uma versão completamente diferente, então foi isso que foi buscar mas mais para o jazz.
O tema saudade tem uma melancolia, uma pujança, uma tristeza patente. Na tua versão eu não noto isso, há uma nostalgia mas é mais leve.
CS: Sabemos que temos umas saudades desse lugar, mas esse sítio está dentro de nós e notámos que não estamos desamparados e que qualquer dia iremos lá voltar. É quase isso.
Miguel Rocha Vieira é português, lisboeta, determinado e um apaixonado pela sua profissão, a cozinha. Aliás sem estas características jamais teria conseguido a primeira estrela Michelin da sua carreira e para o restaurante Costes, na Hungria.
Depois de ter ganho a estrela Michelin para o Costes, voltastes para Portugal como sous chef porquê?
Miguel Rocha Vieira: Saí da Hungria porque estava muito cansado. Foi a abertura de um restaurante desde o zero, trabalhei dois anos, sete dias por semana e estava esgotado não tanto ao nível físico, mas mental. Vim-me embora em janeiro de 2010 e em Março ganhei a estrela Michelin. Ao mesmo tempo em Lisboa as coisas não corriam bem, não me estava a adaptar, porque vim como chef e passei a ser sous chef de outra pessoa com a qual não concordava e os donos do Costes voltaram a chamar-me e eu pensei se trabalhei tanto e agora há uma recompensa, devia disfrutar dela se puder.
De volta a Hungria, o teu objetivo agora é uma segunda estrela Michelin é isso?
MRV: Falava-se nisso este ano e mantivemos a estrela, mas o meu objectivo é continuar o trabalho que tenho feito, se isso é uma segunda Michelin não é o mais importante, não devemos olhar apenas para as estrelas, mas para os nossos clientes que vão e pagam e isso é o que me faz ir contente para o trabalho.
Qual é o teu prato preferido de confecionar?
MRV: Eu gosto muito de cozinhar peixe e marisco. Sou de Lisboa e na Hungria é um pouco difícil porque não há mar. Não tenho um prato de assinatura, mas prefiro cozinhar com esses ingredientes.
Qual é o prato que mais detestas cozinhar?
MRV: Não há nenhum prato que detesto cozinhar. Pastelaria faço menos.
Inestética é um grupo que transcende o significado da palavra teatro, vai para além disso. É uma companhia vanguardista, que coloca em cena espectáculos multidisciplinares que impedem a indiferença, que cultivam o pensamento crítico e acima de tudo, que mostram uma criatividade inquietante.
O grupo chama-se inestética e contudo, nota-se uma preocupação no vosso trabalho no sentido contrário, ou seja há uma grande inquietação estética. Podes explicar essa contrição?
Alexandre Lyra Leite: O teatro é uma contradição, é uma provocação. É colocar sistematicamente coisas em causa. O nome inestética surge de uma linha que queríamos seguir de grande rigor estético, muito vanguardista, com grande cuidado e que tem a ver com toda a concepção do espectáculo que é multidisciplinar. O nome em si é já uma provocação para o espectador que é vem ver algo inestético e provavelmente encontra o oposto.
Notei que para além dos espectáculos a partir de textos de outros autores. Tu escreves peças para teatro. Essa escrita surge pela necessidade que sentes por textos específicos para o tipo de encenações que realizam no inestética?
ALL: Penso que resulta da linguagem que utilizámos. Eu estudei cinema e talvez esse facto e o de ter fundido o meu trabalho teatral com uma série de linguagens das artes visuais, cénicas e cinematográficas resultou em projectos muito específicos. Por vezes, eu não encontro os textos com os tons certos, com um certo ponto de vista, a visão certa e por isso acabo por escreve-los. O que não quer dizer que, não tenhamos feito adaptações, por vezes, de autores consagrados. É o caso de Frank Kafka e do Edgar Allan Poe. Eles têm a ver com o nosso imaginário fantástico, que vive muito da imagem e da criação de ambientes.
Porquê colocas os teus textos online?
ALL: Devia colocar mais.
Parece outra contradição, qualquer pessoa pode copiar.
ALL: Eu ficarei super contente se alguém pegar num texto meu e ser capaz de interpreta-lo desde que me avise. Que mande um email. Mas, vou colocar mais.
O Clube pés livres nasce em Novembro de 2000 com um único objectivo fomentar a prática de caminhadas por todo o território do arquipélago da Madeira e não só. Uma associação dedicada ao montanhismo que nasceu da paixão de Isidro Santos que defende uma forma de vida saudável, que ajuda a preservar não só os percursos pedestres da ilha, mas sobretudo que concilia os ilhéus com o exuberante meio ambiente que os rodeia.
Como é que começou a aventura do clube dos pés livres associação de montanhismo?
Isidro Santos: Em 2000 tínhamos um grupo de pessoas que andava a pé. Erámos um número já elevado de caminhantes e acabámos por decidir criar uma associação para dar um maior apoio. Uma entidade que desse uma maior credibilidade a iniciativa. Então achámos por bem cria-la. Houve alguém que sugeriu e bem o nome clube dos pés livres e na altura tínhamos entre nós um jovem que estava a tirar curso de design e fez-nos a bota que é o nosso logótipo. Quando começámos erámos cerca de 100 pessoas e continuámos a caminhar. Organizámos passeios e sempre com um programa de percursos pedestres de quinze em quinze dias. Já são 11 anos de existência e continuámos a manter essa actividade.
O seu gosto pelas caminhadas começou como?
IS: A paixão pelos passeios a pé começa desde muito jovem. Foi escuteiro, mais tarde cumpri o serviço militar e dá-se o 25 de abril que gerou uma certa revolta nas instituições e o grupo de escutismo ao qual pertencia fechou. O bichinho continuava cá dentro e assim, criei o grupo de campismo de Santo António. Tive à frente dessa instituição durante quase vinte anos e dado momento tive uma nova colaboradora que através de eleições propôs uma nova direcção e eu foi posto na rua. Mal sabiam que um ano depois iria criar uma nova associação, que é o atual clube de pés livres. Curiosamente o grupo de campismo fechou e nós continuámos a existir.
Qual é o balanço que faz de um percurso com 11 anos?
IS: É um balanço positivo. Cada vez temos mais membros, temos cerca de 660 inscritos. É um número que sobe todos os anos. Aparecem sempre sócios novos, outros vão desistindo. Continuámos com uma dinâmica bastante engraçada, como exemplo, no percurso do Chão da Ribeira foram necessários dois autocarros. Levar 125 pessoas para uma caminhada é sempre complicado. É contra os meus princípios. Mas eu não posso manda-los para casa, as pessoas aparecem e de facto fazemos essa divulgação, não podemos dizer-lhes que só pode ir metade. Mas, sempre que é possível evitámos levar mais do que 50 pessoas por percurso.
Maria Lada é uma poetisa galega. Descreve emoções, dor, mas também discorre sobre as alegrias, sobre a magia do seu povo desde os seus 17 anos e já tem publicado cinco livros. Miguel Seoane é músico, com formação clássica, que a acompanha em veladas literárias que vão para além dos recitais de poesias. São encenações poéticas que aspiram inspirar o público que os acompanha, ou quem assiste pela primeira vez. Em itinerância pelo nosso país ouvimos o Nove com a Casa da Esquina.
Como é que surge este projecto com a casa da esquina?
Maria Lada: A casa da esquina organiza umas residências para artistas em Coimbra e ofereceram-nos um tempo para estarmos ali, montando um espectáculo e a proposta que criámos os quatro, o Filipe, o Ricardo, o Miguel e eu foi trabalhar sobre o meu livro chamado nove. São poemas para poder montar mais do um recital, que é o que faço com o Miguel. Leio os textos, recito os poemas do livro e ele toca, é como se fosse um concerto sem paragens. Então propússemos fazer algo mais, que se assemelha a uma peça de teatro, com acção, com imagens físicas e trabalhar sobre os meus textos. Então, escolhemos alguns e estivemos em Coimbra em Dezembro desenvolvendo ao longo de vários dias a maneira como poderíamos passa-los para cena e assim fizemos.
E como é que surge a parceria com a Maria?
Miguel Seoane: Eu faço música e falando com Maria decidimos não fazer o recital standard, com melodias. Eu faço uma roupagem com ambientes sonoros.
Crias sonoridades de propósito para os textos dela?
MS: Sim, há uns quantos sons que se repetem. O que eu faço é usar a guitarra de uma forma não convencional. Faço sons evocando coisas muito orgânicas, rasgando as cordas, golpes. Crio mais um ambiente, não tanto um concerto, dando importância primordial aos textos. Fazer um arredondamento, fazendo com que a música não interfira, ou que se sobreponha à palavra.
Como é que se parte de poemas para uma encenação? Como é que se faz essa transição?
ML: Bem, levo muito tempo escrevendo. Comecei a escrever e a publicar desde os 17 anos de idade. Comecei a trabalhar numa associação de poetas, em que cada qual escrevia os seus poemas com estilos diferentes, versos livres, sonetos. Dávamos uma importância primordial ao ato de transmitir os poemas as pessoas, através de leituras e recitais de poesias. Então sempre trabalhei muito com a posta em cena. Sempre fugi da imagem do poeta que está concentrado na leitura do livro e que apenas levanta a vista para o público. Depois tenho uma formação teatral que fiz na universidade e agora estou mesmo a trabalhar como actriz em espectáculos profissionais e então sempre tentei fazer uma coisa intermédia, do que apenas uma leitura normal quando vou apresentar um livro. É uma interpretação dos poemas. Então faço sempre esse trabalho, são recitais com um ponto de verdade, de teatro, de interpretação. O texto do ponto de vista teatral sempre me interessou muito. Fiz algumas experiências em Galiza com diferentes livros e quando conheci o Miguel começámos a fazer algo diferente. Construí uma cena e acho que a minha experiência teatral tem muito peso na minha maneira de ler.
Encenada por Álvaro Correia, sob a chancela do Teatro a comuna, esta peça presentou o público com uma visão da vida hedonista, sob o ponto de vista de três personagens. Uma concepção literária de Nöel Coward com quase cem anos, mas de uma actualidade acutilante que nos faz reflectir sobre a liberdade das relações e o peso das convenções sociais.
A escolha para encenar esta peça resulta do facto de ser muito contemporânea na sua temática?
Álvaro Correia: Foi escrita a quase cem anos. Em 1932. Pelo facto de ter sido escrita nessa altura é quis fazer. Fiquei muito surpreendido com a forma como ele expõe este tema, de forma tão inteligente e acutilante que até hoje é pertinente faze-la.
Houve também um grande cuidado com o design do cenário.
AC: Sim, há sempre essa condicionante, porque na peça original o que ele pede, o Nöel Coward, são três grandes cenários. Aliás, para além de não ter dinheiro, não faria tal investimento, porque não acredito que no teatro seja preciso grandes espaços, para mim o essencial é o trabalho dos actores. Quando fiz a dramaturgia desta peça não alterei nada, a não ser pequenos cortes que poderiam datar a peça, ou seja, que tinham a ver com o que era o teatro naquela época dos anos 30. Eu centrei-me muito mais nesta dinâmica das relações e como se iam experimentando. Vai para além da questão da homossexualidade, ou da heterossexualidade, é mais espécie de viver a vida de uma forma hedonista, pelo prazer das pessoas que encontrámos independentemente da sua sexualidade e como nos podemos relacionar entre nós.
É uma forma muito inglesa de olhar?
AC: Não sei se é inglês, eu diria mais que é humano. Inglês é na forma da escrita, isso sim. Esta ideia hedonista acho que não é muito inglesa, há pessoas que são mais do que outras independentemente da nacionalidade. Os ingleses são até conservadores a esse nível, nós é temos a ideia que eles pela frente fazem uma coisa e por detrás outra, não é? O que achei extraordinário foi a linguagem, como ele escreveu. Havia nessa altura uma tradição da escrita de Óscar Wilde, que tem uma grande influência neste tipo de peças. Só que depois é um bocadinho mais ácida, mas cínica até. É uma espécie de passa à frente. Tem a ver com altura em que ele a escreveu. Esta questão das relações, essa problemática mantém-se inalterável. Não sei até se actualmente não vivemos momentos mais conservadores do que na própria época.
Referiste a pouco que fizestes alguns cortes, em termos da dramaturgia desta peça em que te concentraste?
AC: Tentei criar uma peça o mais simples possível. Toda a gestão do espaço, chegámos a esta ideia eu e a cenógrafa, traduzia a evolução da vida deles. Mesmo a profissional. O espaço foi ficando maior à medida que o conforto interior fosse proporcional.
São dez dias de teatro para todas as idades e para todos os tipos de público. Com um programa ambicioso, o grupo de teatro experimental da Camacha pretende fazer a festa das artes cénicas. Um festival único no género ao nível nacional e que dá a conhecer o que de melhor se faz no nosso país. Apareça.
Esta terceira edição do “amo-te teatro” expandiu-se. Porque decidiram tomar essa decisão no terceiro ano?
Sara Branco: Nós vamos crescendo aos poucos. No primeiro ano tivemos cinco grupos, dinamizámos um do continente e quatro locais. O ano passado tivemos 14 agrupamentos, sendo quatro de fora e os restantes de cá. Nesta edição temos 18 grupos e assim vamos crescendo aos poucos. Da mesma maneira que as pessoas vêm até o teatro e este evento vai-se expandindo, nós também queremos propagar este festival à região. E eventualmente até a Europa. O objectivo é crescer em quantidade, qualidade e espaço.
Na edição anterior um das apostas foi mostrar um teatro não convencional. Continuam com essa vertente?
SB: Tivemos imenso sucesso com esse tipo de escolhas. O público aparece. Houve um grupo que apresentou um misto de água, imagens e luz e tivemos casa cheia. O teatro não é apenas peças de teatro. O artista é uma combinação de vários factores, ele pode não fazer nada, ser apenas uma estátua, mas está ali de frente para um público, ou esta misturada entre as pessoas. O ser artista tem muitas vertentes e a arte performativa e não se trata apenas de algumas pessoas em cima do palco, pode ter pintura, música e tudo isto resulta em criatividade. É um pouco de tudo que queremos mostrar neste festival.
Nas edições anteriores notaram que o público provinha de outras localidades para assistir aos espectáculos?
SB: Sim, foi uma grande aposta e esse é outro motivo de regozijo para a organização. O público não é apenas da Camacha, embora a população local seja fidelíssima, isso temos de dize-lo. Mas, as pessoas vêm do Funchal, do Caniço, Machico, de outros concelhos, e acabam por ser fiéis aos nossos espectáculos. Nos primeiros dias, aparecem os locais e nos restantes nota-se que vêm de fora. A palavra passa e as pessoas são sensíveis ao teatro.
É uma rádio online feita pelo Nuno, o Élson, o Mané, o Noel e muitos mais para um mundo global que fala português. São todos muito jovens, simpáticos, bonitos e cheios de garra que procuram levar até si uma emissão verdadeiramente especial. São profissionais que criam conteúdos inovadores para manter as audiências fidelizadas e garantir o sonho de um projeto que não querem deixar morrer.
Como escolheram o nome?
Nuno Timóteo: É quase um segredo. É uma história engraçada, mas não podemos divulgar. O que interessa é que chame a atenção e fique no ouvido.
Como começou a rádio?
NT: Começou comigo e com o Élson. Eu estava no Porto FM e o Élson era um ouvinte que depois começou a trabalhar como designer na parte dos programas. Mais tarde, descobrimos que erámos ambos da Madeira começámos então a falar via net. A rádio Upalala começou sem nos conhecermos pessoalmente, não tínhamos meio de transporte para nos podermos reunir. A primeira vez que nós vimos até, eu estava embriagado. O Élson tinha criado um blog chamado Upalala e chamou-me à atenção, porque era sobre um exame que estava a demorar muito tempo e aí surgiu a ideia da rádio. Saí do Porto FM para dar início a este projeto, a primeira edição aconteceu no dia 4 de Dezembro de 2008 e o site veio depois.
Quem são os vossos ouvintes, pelo que me apercebi são muito interactivos?
NT: Aqui na Madeira pode ir dos 14 anos até os 25 anos. Se for na Inglaterra, ou outro país são mais velhos, porque na sua maioria são emigrantes. Desde a África do Sul, Angola e Brasil. Nos conseguimos ver através da nossa estatística e existe algum contacto através do chat.
EP: Temos muitos brasileiros a ouvir-nos, mas a maioria é de Inglaterra. O site é em português e ouvem na mesma.
NT: Aconteceu-me em Julho uma situação caricata, um colega meu que já não via há anos começou a ouvir-me, não me reconheceu pela voz e acabou por descobrir o meu nome na nossa página da web. Começámos então a falar de novo e ele disse-me que ouvia a rádio já há algum tempo e que tinha um bar e punha a rádio a emitir para os ingleses ouvirem.
Mas, como é funciona tudo isto, cada um tem uma mesa de mistura em casa é isso?
Élson Ponte: Nem é preciso isso. Nós fazemos a emissão a partir de casa, basta que o microfone do computador tiver alguma qualidade, o Nuno tem uma mesa de mistura em que coloca um canal para cada pessoa e a partir desse momento estamos aptos para entrar no ar. Ele tem software que usámos para falar através da internet, ou seja, ele recebe o áudio, trata tudo e envia desde a casa dele. Quando colocámos no ar o programa dos 4Litro, eles não estão no nosso estúdio, tudo é feito a partir da casa deles, eles falam e nós pomos no ar a partir do nosso equipamento.
Manuel Vasconcelos: Se tiver alguém a fazer uma reportagem na rua, o Nuno está no seu estúdio e então nós estabelecemos a ligação. Falámos com as pessoas para inclui-las na emissão da rádio. Fazemos imensos diretos. No rali do Porto Santo estivemos sempre em direto durante uma semana. Eu estava na ilha e acabou por ser possível. Isso foi o ano passado. A ligação através do skype dá para fazer isso tudo e inclusive vídeo chamada. Nós temos o chat aberto.
NT: O estúdio principal é na minha casa, depois a partir do servidor eles conseguem conectar-se. Eu recebo tudo via skype e consigo fazer mixagem do programa.
EP: As pessoas também podem interagir a partir da sua webcam e nós podemos entrevista-los a partir do chat. Um estúdio fixo acarreta muitos custos, temos que nos deslocar fisicamente para lá e ter equipamento para toda a gente. Assim, não é necessário. O Nuno organiza tudo a partir da sua casa e só temos de falar com ele. Nós conseguimos pelo Skype de uma maneira com muito mais qualidade. Deparámo-nos com complicações de hardware, neste momento consegue-se fazer a emissão bem, existem contudo limitações, como ecos das pessoas a falar e quando tem música ligada no PC, nós ouvimos isso tudo. Ouve-se também o ruído das pessoas na rua, acontece como num estúdio normal. A tecnologia ajuda muito.
Idalina Perestrelo já tem um longo percurso na direcção regional da Quercus. Uma trajectória feita de batalhas ganhas e outras perdidas que resultam do autismo das autoridades e da sociedade em geral em relação as questões ambientais. Mas, esta guerreira ambiental não desarma e o futuro por um mundo mais sustentável passa pela educação e sensibilização das novas gerações para a importância do meio ambiente. Seja por isso, bioactivo e dê uma mão ao seu planeta.
Qual é o balanço que faz a estes dez anos de actividade na direcção regional da Quercus? O que mudou?
Idalina Perestrelo: A maturidade resultado da idade e a experiência adquirida na direcção da Quercus tem sido extremamente positiva. Aprendi imenso a vários níveis. Foi muito importante e continua a sê-lo, quer no que diz respeito a preparação de documentos, reuniões e todas as questões mais burocráticas relacionadas com os temas ambientais da ilha. Cresci percebendo melhor a educação da ambiental, já não a vejo como a dez anos. Antes achava que uma palestra numa escola tinha grande sucesso e agora sei que é fundamental, mas não basta. Para além disso, é preciso complementar com actividades práticas, com exemplos.
Quando chegaste à direcção como imaginastes que seria?
IP: Já estou na associação há dezasseis anos. Comecei devagar, a ver como se faziam as coisas e quais eram as verdadeiras questões ambientais. A algum tempo atrás a temática do ambiente era posto de lado, não tinha importância. Eu própria quando me iniciei nestas andanças, não tinha a noção exacta de quanto era importante mudar e alterar algumas mentalidades, tendo em vista uma melhoria do meio ambiente. Sabia que era necessário fazer recolha selectiva e outras pequenas coisas. Mas, verifiquei que as questões ambientais vão muito para além disso. Hoje em dia sei que a interligação entre o ambiente e a economia é indissociável. Tem de coexistir, queiramos ou não.
A pouco referistes que no inicio quando começaste, pensavas que as palestras eram suficientes, agora o que achas que deve ser feito para sensibilizar mais as novas gerações?
IP: É necessário sobretudo dar o exemplo. Eu costumo dizer, que ser o exemplo é a melhor maneira de educar, sensibilizar e de ensinar. Quando vou ao supermercado tenho o meu saco e para as frutas e os legumes levo num cesto, por norma as pessoas olham e perguntam. Ao demonstrar sirvo como exemplo e se calhar o cidadão comum aprende mais desta forma. Tanto as pessoas, como as entidades governamentais necessitam de dar um grande passo que é passar à prática.
Reconhecemos-lhe a tonalidade cálida da voz que espalha suavemente pelas ondas hertzianas a décadas. Conhecemos-lhe todos os contornos do rosto quando entrava com um sorriso aberto pela nossa casa adentro, através da caixa que mudou o mundo, mas afinal Teresa Mizon não se resume à comunicadora inata. É uma autêntica titã capaz de mudar o rumo da sua existência aos cinquenta e um anos, sem medos, sempre de coração aberto e com uma paixão inabalável pela vida…e pela macrobiótica.
Sempre estiveste ligada à área de comunicação social, mas de repente decidistes mudar de rumo. Porquê?
Teresa Mizon: A vida é feita de ciclos. Há muitos anos tinha deixado uma carreira na gestão hoteleira, que me tinha levado a muitos sítios do mundo, abandonei-a quando vim para a Madeira. Iniciei uma nova etapa na comunicação social, aconteceu na mesa de um café a conversar, alguém que me perguntou se não queria falar para a rádio. Adorei todos os anos em que me dediquei à televisão e à rádio, embora não tivesse abandonado totalmente esta última. Fiz o melhor que pude. Apaixonei-me. Mas, havia sempre um bichinho dentro de mim que estava ligada as medicinas alternativas, ao orientalismo e à alimentação. Desde a minha adolescência que sonhava um pouco ter a minha vida ligada a estas áreas. Claro, que estar na comunicação foi fantástico, não parámos e vivi intensamente esse período da minha vida profissional, mas cheguei a uma certa idade em que pensei que era altura de mudar e seguir o meu sonho de adolescência e decidi seguir a macrobiótica à seria.
Mas, foi uma vontade desde sempre?
TM: Foi sempre uma área que me interessou desde os dezoito anos. O orientalismo, o taoismo, o budismo e as filosofias orientais. Houve uma altura em que foi vegetariana, sempre tive muito cuidado com a alimentação, mas enfim como a maioria, acabava por não se alimentar adequadamente quando não se conhece as bases de todas as coisas. Não comia carne, “embebeda-me” em doces e lacticínios que é algo que os vegetarianos fazem muito. Assim, há dez anos resolvi, mesmo antes de tirar o curso, ligar-me a macrobiótica sem ser institucionalmente. Eu sabia no fundo que estava próxima da mudança, já tinha vivido muita coisa, com muito stress e velocidade. A comunicação requer muito de nós, estamos sempre a faze-lo e quando chegou a altura em que já não podia ouvir mais telefones, não me apetecia estar “consciente”, mudei e hoje em dia gosto de estar com as pessoas. Tenho agora uma vida que me permite conhecer muita gente nova. Estou aberta a outras coisas, quando estava ligada à comunicação social havia uma serie de workshops e palestras aqui e no estrangeiro que gostaria de ter feito e não fiz, porque estava muito presa a produção televisiva, que é uma actividade estimulante. E chegou a altura de fazer tudo isto.
Como é que se chega aos cinquenta e se decide mudar?
TM: Como sabes como orientalista que sou, essa é a fase da vida em que nos tornámos mais sábias. Sabemos muita coisa, acumulámos muita informação ao longo da vida e temos a certeza de onde queremos ir. A palavra menopausa por exemplo, não existe no extremo-oriente, inclusive no Japão. Essa época da nossa vida que no Ocidente esta conotada com coisas terríveis, como doenças, depressões e uma serie de calamidades, no oriente não existe. Uma mulher que siga os seus ciclos naturalmente, que se cuide, que se ame e tenha amor-próprio como hábitos da sua vida vai chegar a esta idade e dizer a si própria: Eu tenho este sonho, ou ainda quero fazer isto e é agora ou nunca. Eu devo dizer que prescindi financeiramente de imenso, agora tudo é mais difícil nesse campo. Estou felicíssima e é essa mensagem que deixo as mulheres com mais de quarenta anos.
Mas, as tuas amizades mais íntimas não te “preveniram contra a loucura” que estavas prestes a fazer?
TM: Toda a gente! Mas, eu desde miúda que ouço que as decisões que tomo são sempre uma loucura! (risos). Quando larguei a faculdade onde estive inscrita em arquitectura e cheguei à casa a dizer o meu pai que queria fazer hotelaria, ele na altura achou que estava absolutamente doida. Obrigou-me a fazer cursos de francês e secretariado preocupado com o meu futuro. A partir daí fiz sempre o que quis. Tive cargos de chefia no Sheraton do Porto, já na área de hotelaria, que larguei para fazer rádio. Estudei e fiz todas as formações possíveis e era também efectiva na RTP quando decidi despedir-me, porque a minha filosofia de vida era incompatível com a deles. Na altura, até me ofereceram promoções. Eu só sei que faço as coisas por paixão, por gosto e não por frete. As grandes empresas têm filosofias e comportamentos com os quais não consigo identificar-me. Fui então para a TSF, fiz parte do projecto inicial aqui na Região, foi algo que me deu imenso gozo. Assim, como abri uma loja de decoração e artesanato regional que também me deu imensa felicidade e voltei depois para RTP como freelancer há já quinze anos. Quero ser livre e esse é um dos meus valores mais importantes da minha vida. No entanto, temos de ter grandes doses de auto-disciplina e de responsabilidade e por isso, estou habituada que me chamem de “maluca”. No entanto, nunca me arrependi de nada.
O Museu Marítimo de Ílhavo reabre o Aquário dos Bacalhaus, depois de um período de obras de...
No dia 15, sexta-feira, às 21h00, há uma estreia que resulta de uma coprodução entre o Cineteatro...
O último programa do ano que encerra como sempre com música... Feliz ano novo 2025...
A Oficina desvenda os primeiros dois concertos de 2025, a 18 de janeiro e 26 de fevereiro, no Centro...