Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

domingo, 30 dezembro 2012 22:57

Biomares em acção


O parque natural professor Luiz Saldanha é um caso de sucesso na preservação sustentável de espécies que interagem com os seres humanos ao longo de 12 anos de existência.

O impacto da pesca intensiva na biodiversidade marinha tem sido uma das maiores preocupações da comunidade científica. A questão tem suscitado grandes debates no mundo global, já que é necessário implementar respostas bio sustentáveis, eficazes e atempadas tendo em conta as necessidades humanas por uma grande fonte de alimento que até bem pouco tempo se dizia que era inesgotável. Afinal, o cenário é bem mais dramático do que se imaginava. Contudo, há sempre uma luz ao fundo do túnel, e é aí que entra o projecto biomares que teve lugar no parque marinho prof. Luiz Saldanha, entre a praia da Figueirinha e da Foz, ao norte do Cabo Espichel. O objetivo foi “criar padrarias marinhas, outrora existentes na costa da Arrábida, através da plantação de três espécies diferentes de algas marinhas muito importantes do ponto de vista da manutenção da população piscícola, da qualidade da água e da retenção da areia e biodiversidade marinha”, como refere o relatório para leigos da Biomares.
“Foram replantadas ao longo de três anos 60 parcelas ente a zona do Portinho e da Galapos. As plantas marinhas foram recolhidas na Ria Formosa e estuário do Sado para o efeito. A experiência científica não teve o resultado esperado, devido a contingências exteriores, ou seja constrangimentos naturais motivados por tempestades que ocorreram nessa área e a capacidade herbivoria das salemas. Apesar dos percalços, verificou através da contagem das larvas dos peixes existentes, para além das 28 espécies que residem neste parque marinho, graças ao projeto foram introduzidas neste local 220 novos espécimenes ao catálogo de Luiz Saldanha. É de realçar que 37 destes animais marinhos são tubarões e raias. O cação-liso e o cação-perna-de-moça são dois cartilagíneos com um estatuto de vulnerável e por esse motivo constam da lista vermelha das espécies em via de extinção. É ainda de realçar a raia-branca que também esta registada como em perigo de desaparecer dos mares e que já se pode avistar nestas padrarias marinhas.
Verificou-se ainda que o número de peixes aumenta se a monitorização for constante e houver uma maior proteção de uma zona costeira designada para o efeito” concluem. Os resultados mostram que áreas protegidas parcialmente permitem a recuperação da biodiversidade contribuindo para a pesca sustentável e uma maior consciencialização das futuras gerações para estes espaços marinhos.


http://www.projetobiomares.com/

domingo, 30 dezembro 2012 19:51

O outro fernando

Ao longo de mais de 20 anos de carreira, Doio Kaosos, heterónimo de Fernando Santos, trabalhou com nomes de referência da música portuguesa como a Lena D’Agua, Lara Li, Cândida Branca Flor, Carlos Paião e Raul Indipwo e fez parte das bandas Doyo, Davinci, Zanzibar e ainda da banda alemã Waveband, que considera a sua preferida até ao seu projeto atual, com Claudia Vau. Mas, actualmente conquista milhões de fans no mundo global com a sua música que já atingiu o top da lista da reverbnation.

Porque decidiu seguir a sua carreira musical em Londres, quando em Portugal possui uma carreira cimentada, fez parte de várias bandas nacionais, tinha trabalho como compositor nas áreas de documentários e publicidade?

Fernando Santos: O factor principal para essa mudança foi apaixonar-me por uma pessoa que reside em Londres, a Cláudia Vau. Na altura ainda vivia em Portugal, tinha uma filha pequena não vaticinava ficar longe por muito tempo, porque me era difícil separar dela. A partir do momento em que passado uns anos me encontrei em Londres consegui promover a minha música original, porque em Portugal nunca encontrei resposta para as coisas que faço, aliás, não há sequer resposta, é simplesmente ignorada. A maioria das rádios só passa música dita pimba e nas que obtive algum feedback disseram-me que não a passavam, porque eram tocadas num piano acústico e tinha na altura até um trabalho com bastante sucesso, “Aragón, el Griffin”, portanto são respostas parvas, enquanto as rádios dependerem de listas, assentes nessa identidade, as respostas são esquisitas. É esse meu tipo de percepção.

Mas, em londres o panorama é diferente.

FS: Sim, também na forma como criticam, são mais objectivos, embora não sejam especialistas, notam que há algo ali muito bom, é qualquer coisa. Penso que no geral com o tipo de cultura que temos em Portugal, em termos musicais, é difícil para as pessoas perceberem se a música é ou não original, porque só estamos expostos a um tipo determinado de fontes, no caso de Londres, a exposição é o mundo, porque tem muitas comunidades, muito mais culturas, nas escolas, no seu quotidiano. A comunidade Shik, a paquistanesa, chinesa e de vários outros países que sempre trouxeram consigo a sua cultura e os londrinos vivem envoltos nesses artistas de todos os géneros e essa influência tem peso naquilo que lhes é apresentado, quando ouvem um trabalho diferente, penso que lhes é mais fácil perceber se é ou se é não é uma cópia. Em Portugal o que se assiste é a cópia de géneros musicais originais de outros países. Mesmo na música pop ouvem-se versões, há trabalhos de cantores que estão a ser plagiados e esse espirito analítico para deslindar se é mesmo um original não existe. Eu sempre trabalhei com a minha música, foi em Nova Iorque que primeiro me descobriram e só depois é que chegou a Londres, na altura a tabela americana era a maior agora não, é a “reverbnation”. Tudo esta sempre a variar. A minha música instrumental já esteve em primeiro lugar e agora está em terceiro, na área do clássico, num mundo altamente competitivo, as pessoas que ouvem tem uma grande capacidade de análise. Não serei com certeza o maior pianista do mundo, mas no conjunto deram valor ao que ouviram, ao equilíbrio da técnica. A internet tem um problema que são as cópias é verdade, mas as pessoas percebem quando ouvem um determinado tema que pode não ser do músico do original, pode parecer que a rede é amiga dos piratas, mas não é, embora pareça, é mais amiga dos vampiros.

Denomina a sua música de diferentes, mas parece-me mais de fusão. É importante fazer a desconstrução desses sons diferentes que impregnam a sua música?

FS: É e é muito natural, a parte etnográfica digamos assim, da música do mundo, sempre existiu no meu trabalho. Sempre o carreguei interiormente, quando era miúdo. Comecei a tocar quando tinha oito anos e vivia em frente do casino Figueira da Foz. Na pascoa, no verão, nas festas em geral, havia as comunidades de vários países que vinham passar férias neste local, a música ibérica acontecia nas ruas. As pessoas saiam de casa e ouviam o bater de palmas da comunidade cigana. Por isso, esta minha relação com esses sons, esta minha abertura para outras estéticas culturais sempre foi muito natural. Também, sou de uma geração que nos anos 70 teve muitas influências do orientalismo, tivemos a introdução do budismo na nossa cultura e minha abertura começa com esse sentimento. Eu não pesquiso a música de outros países para a introduzir nas minhas composições, isso eu nunca fiz, pesquisei sim, ideias, sentimentos, sensibilidades e sensações que depois aparecem na minha música, por isso, tem muito de world music universalista.

Já falou um pouco dessas listas musicais globais, mas qual é a importância de uma reverbnation?

FS: É uma lista que nos permite saber directamente quem esta a ouvir, qual o seu interesse e quantas fazem o download. Se por um lado tem um público muito diversificado, também podemos encontrar pessoas ligadas á música, no caso do “reverbnation” é uma comunidade de músicos, o meu trabalho está ser ouvido por meio milhão, de entre os 2 milhões de projectos de todo no mundo, é uma comunidade que esta sempre viva. Em 2006 foi quando me registei, quando descobri este movimento, é um espaço que as pessoas podem consultar e verificar a minha evolução ao longo do tempo. A sua importância ultrapassa a ideia do CD que tenho de enviar para as rádios, gasto dinheiro em contactos e em correio, e na maior das casos como já disse, não me dão sequer uma resposta, ainda se regem pelo antigo sistema de vendas de música em Portugal. A internet, por outro lado, é imediata, permite-me atingir um público mais vasto, global.

 

domingo, 30 dezembro 2012 19:49

A vocalista

 
Joana Machado vive e respira jazz. Tendo iniciado uma carreira de sucesso nesta vertente musical, decidiu recentemente mudar de registo e apostar num novo trabalho discográfico, ainda sem editora, de fusão. Um desafio como outros que encara com muito entusiasmo e profissionalismo.
 

Entrou numa nova fase na sua carreira que aposta num outro tipo de vertente musical. É uma mudança permanente?

Joana Machado: Não vou abandonar o jazz, queria simplesmente alargar o esprecto da minha actividade e incluir naquilo que faço outros estilos musicais. O jazz permite essa fusão de estilos. Aquilo que resolvi fazer foi integrar a música pop, o R&B e o rock com as ferramentas que disponho e tornar a minha música um pouco mais acessível a um público mais vasto. O jazz ainda é uma elite muito fechada e tive vontade de prolongar um pouco esses horizontes.

Esses horizontes vão resultar num trabalho discográfico?

JM: Espero que sim. O trabalho está feito, a música já existe e estou a fazer esforços para grava-lo o mais depressa possível, infelizmente não tem sido possível.

Têm um título?

JM: “Blame it on my youth”. Curiosamente é o título de um estandart de jazz que achei aprópriado, a tradução é culpem a minha juventude. O voltar para o pop e o rock teve muito a ver com o revisitar da música que ouvia na adolescência e foi precisamente isso que me aproximou de uma carreira musical, é também uma piada, um trocadilho.

 

domingo, 30 dezembro 2012 19:45

Filho de peixe sabe nadar

Mikkel Solnado granjeou a fama em Portugal com uma canção que demorou trinta minutos e 20 segundos para ser escrita, “We can do anything” abriu-lhe as portas para a o universo musical nacional e para uma carreira internacional. Um êxito que também atribui ao sobrenome que respeita e que sente como sendo uma bênção.

Quando iniciaste a tua carreira musical tocavas dark metal e hard rock, como se passa de um registo tão pesado para outra vertente musical completamente diferente?

Mikkel Solnado: Eu comecei por ouvir metal, se calhar foi a minha maneira de me revoltar contra o mundo. Mas, quando apareceu a banda nirvana comecei a perceber que também havia intensidade na melodia e eles abriram-me a mente para outros estilos de música e agora oiço de tudo, o que prefiro ouvir é música que não faço, electrónica que adoro, mas não tenho nenhum jeito para a fazer.

Tu vivias na Dinamarca quando o tema “we can do anything” começou a passar nas rádios portuguesas, foi para ti uma surpresa começar a tua carreira desta forma no país do teu pai?

MS: Sim, foi muito intenso, porque o meu pai faleceu e eu voltei para a Dinamarca. Estava lá a morar nessa altura, de repente a minha irmã liga-me e diz-me: estás a tocar na rádio comercial. Eu pensava que ela estava a mentir, não fazia ideia nenhuma. Mas, tinham apresentado a canção à rádio, eles gostaram, foi aquela sensação de que ninguém sabia que eu existia, que o Raúl Solnado tinha um filho e acho que tudo isso que ajudou a empurrar também o tema. Foi uma surpresa para mim, porque nem era suposto fazer um álbum, mas como o “we can do anything” teve tanto sucesso, achei que devia fazer um disco, também para homenagear o meu pai, depois apaixonei-me por uma portuguesa e isso inspirou-me imenso para escrever música e de repente após um ano tinha um álbum na mão feito.

É o álbum que querias fazer?

MS: Não, mas isso foi porque era o álbum que podia fazer naquela altura. Se calhar foi um processo muito caótico para mim, porque o disco foi feito em vários sítios, na Dinamarca, em Portugal e na Inglaterra. Os sons do álbum e das canções diferem muito umas das outras, porque foi gravado em locais diferentes. Não sei se foi feito à pressa, mas despachei-me um bocadinho, porque o “we can do anything” saiu e eu não tinha um álbum, normalmente faz-se um disco e lança-se um single. Esta canção saiu e eu não tinha mais nenhuma música, despachei-me, produzi o álbum e foi lança-lo rapidamente.

O que inspirou “we can do anything” porque trata-se de uma canção muito positiva.

MS: Olha por acaso a história não é assim tão romântica, mas é ao mesmo tempo. Os primeiros 20 segundos foram feitos para um anúncio da Volkswagen e sem pensar muito na letra, depois como a agência de publicidade gostou tanto da música, pediram-me para termina-la e todos os músicos e compositores sabem que é muito difícil começar uma canção e depois de uns meses termina-la, estamos num outro lugar em termos musicais. A música surge de um encontro com uma rapariga e não deu em nada, mas imaginei que desse e consegui escrever a música em 30 minutos, foi uma inspiração brutal. Foi através dessa música que a minha esposa me conheceu, ouviu o tema na rádio e escreveu-me um mail a dizer que tinha gostado da canção.

 

domingo, 30 dezembro 2012 19:42

Os transformadores de sons

A Deolinda é um grupo de musical que rompeu com as fronteiras que separam a música popular portuguesa e o fado. As canções são um reflexo de várias influências musicais e o próximo álbum promete algo de novo, fruto das deambulações da banda pelo mundo.

O som dos deolinda é associado ao fado, uma vertente musical que ficou mais patente no vosso segundo trabalho “dois selos e um carimbo”, estão já a pensar num terceiro álbum?

Ana Bacalhau: Sim estamos já a concretiza-lo. Temos canções novas e esperámos entrar em estúdio no final do ano e lançar o novo trabalho no próximo ano.

Em termos musicais em que este terceiro álbum vai diferir dos restantes?

AB: Bom, em primeiro lugar vai ter quilómetros e quilómetros de estrada à mais. Somos uma banda diferente do que quando gravámos o primeiro e o segundo álbum também. Essas diferenças vão-se reflectindo na música, já visitámos imensos países e com certeza a influência dessas viagens vai estar patente. Neste terceiro trabalho queremos experimentar novos formatos de canção, queremos brincar mais, com certeza vai ser Deolinda, mas um novo trabalho.

Quando falam em influências vão também beber a outros estilos musicais?

José Pedro Leitão: Tudo o que nos rodeia acaba por interferir na escrita do Pedro e qualquer influência é bem-vinda.

Pedro da Silva Martins: O facto de termos contactado com outras realidades musicais e só para dar um exemplo, o Luís mandou fazer um instrumento de cá, da Madeira que é o machete e portanto há essa procura de buscar novas sonoridades, novos instrumentos e ideias. Tudo isso traz cargas novas para aquilo que somos nós agora neste momento e quando gravarmos outros discos seremos pessoas diferentes já com outra maturidade e outra experiência.

Este novo trabalho vai ter mais cantos de revolta ou não, desde o “que parva que eu sou”, tornou-se quase um hino de Portugal?

JPL: Acho que isso faz parte da nossa maneira de ser, dos quatro, e muito antes do “que parva que eu sou”, já o primeiro disco tinha essa carga e vamos continuar.

AB: E infelizmente há muitos motivos que nos levam a falar.

 

domingo, 30 dezembro 2012 19:39

IX madeira dig festival

É um festival de música alternativa avant-garde, entre os dias 30 dse Novembro e 3 de Dezembro, com raízes nas sonoridades experimentais, digitais e audiovisuais que fazem do seu alinhamento um evento único em termos mundiais. A nona edição promete uma programação equilibrada, com grandes referências nacional, como é o caso do Carlos Zíngaro e a participação de uma das editoras de referências nestas áreas artísticas, a Touch.

Em que contexto surge o Madeira Dig?

Rafael Bicoito: Surge em 2004 no programa de divulgação de tecnologias de inovação em comunicação. Na altura elaborámos um projecto para a secretaria regional de educação chamado madeira digital, que tinha várias vertentes, uma delas era a aplicação destas TIC no campo das artes. Foi assim que surgiu o Madeira Dig.

O MadDig não é um mero festival com bandas, em que se distingue em termos musicais?

RB: Essencialmente começou por ser uma demonstração do que se poderia fazer em termos de música com computadores e com software, pretendendo mostrar uma vertente mais avant-garde, mais experimentalista deste sector. Fazendo a análise deste evento, pela qualidade dos artistas internacionais e pela exposição mediática que teve, apercebemo-nos que todo este acontecimento tinha as condições ideais para se afirmar como um evento por si próprio, não apenas dirigido a um público local, por ser na ilha, mas também poder sobretudo captar público de fora, sobretudo estrangeiros dos países do norte da Europa. A partir daí o projecto ganhou a sua autonomia, passámos a ser nós, a agência de promoção cultura atlântica, a ter direitos sob a marca e o conceito. Em 2005/06 o festival decorreu no Funchal explorando a vertente da música feita por computador e também sob o domínio do audiovisual, através de projecções. Está pode-se dizer que é a sua primeira fase. Em 2008 demos um salto e decidimos explorar o turismo cultural, que se adivinhava neste projecto. Daí surgiu a parceria com o Museu da Casa das Mudas, que ao fim ao cabo é o espaço natural para um evento desta natureza, é um edifício vanguardista de referência ao nível mundial e por ser alternativo e experimental também se adequava ao festival. Foi um casamento natural. O outro vértice desta nova fase do Madeira Dig, da sua implementação, foi a parceria com a Estalagem da Ponta do Sol. Nessa altura conseguimos reunir o que faz do festival ser diferente nestas áreas.

É o único neste momento ao nível nacional.

RB: Existem outros, embora esporádicos. Com regularidade só temos o Madeira Dig, que entra no seu nono ano e um outro evento em Braga o “Semibreve” que realizou recentemente a sua 2ª edição. Mas, este é único ao nível mundial, porque reúne cultura avant-garde em termos de música e de vídeo, aliado ao turismo porque as pessoas não vêm apenas para os concertos, mas também para desfrutar da ilha, do bom tempo que ainda se faz sentir no inicio de Dezembro, enquanto no resto da europa, em particular no Norte, as pessoas convivem com temperaturas negativas. Todo este conceito em termos de panorama internacional faz do festival um evento singular e felizmente há cada vez mais estrangeiros a virem assistir os concertos, paralelamente, o público regional tem vindo a aderir mais.

Quem é esse público que gosta do Dig?

RB: De uma forma geral posso dizer que são pessoas ligadas as indústrias criativas. Pela sua formação, são mais sensíveis a este tipo de oferta cultural. São designers, fotógrafos, são pessoas ligadas as artes, cinema, produtores e isto tanto se verifica tanto no público que vem de fora, como o da ilha.

domingo, 30 dezembro 2012 19:36

O coração da Guiné-Bissau

Kimi Djabaté era já um prodígio musical aos três anos de idade. Os seus pais sabiam que tinha nascido para a música e toda a aldeia de Tabato reconhecia-lhe o talento inato. A música corre-lhe nas veias, um traço genético que atribui as suas origens giots, uma etnia de músicos africanos cuja herança ancestral transmite através do som do seu balafón e dos restantes instrumentos tradicionais de repercussão que transforma numa sonoridade única e pessoal com sabor africano.

Disseste em tempos que o teu primeiro disco, o Tereké, não ficou como desejavas, porque era muito comercial.

Kimi Djabaté: Eu não diria que ficou comercial, acho que foi uma experiência, saiu bem, na altura achei que era o que devia gravar naquele disco, não me arrependi, apesar de não ter tido uma grande projecção internacional eu fiz o disco com amor e carinho

No segundo álbum Karam houve uma evolução?

KD: Sim, neste segundo pus o que queria e o mesmo aconteceu com o meu primeiro trabalho. Fiquei muito feliz de gerir duas coisas complemente diferentes.

Ambos os trabalhos são de música africana, da Guiné Bissau, mas em que se distinguem?

KD: Eu acho que houve uma evolução, porque me tornei mais maduro, de facto a pessoa vai ganhando experiência como músico. Eu gravei o primeiro disco e passados quatro anos pensei muito bem, tive tempo para idealizar o segundo. Acho que a diferença é essa, embora, o Karam fale muito de África e tem muito sentimento sofrido, portanto acho que nesse contexto são diferentes. Este último CD mostra a dificuldade que passa o meu país, não estou bem, porque vejo que não se lida com a situação política, vejo-o como um emigrante.

No Karam introduz novos instrumentos musicais isso também aconteceu no primeiro trabalho?

KD: Em Karam toquei mais instrumentos africanos que no Tereké.

domingo, 30 dezembro 2012 19:30

A fada orgânica

A “snailorganic” é um conceito sustentável, uma forma de vida ancestral que permite reaproveitar tudo o que a terra nos dá e reciclar o já existente de uma forma eficiente . É um projecto biológico da Sandra Lopes Santos que abrange a gastronomia, a decoração e os utensílios do quotidiano. É uma forma de estar mais ecológica, em harmonia com o que nos rodeia. Sem pressões, sem pressas.

Em que consiste o projecto snailorganic?

Sandra Lopes Santos: É um projecto orgânico, ou seja, começou com as casas de banho ecológicas e depois explora tudo o que a terra nos fornece. Buscar tudo o que os animais nos dão, reutilizar no bom sentido. Não é viver numa barraca, é usar os materiais menos nobres e dar-lhes uma nova roupagem.

É um conceito que aplicas na tua casa, ou também pode ser usada nos outros?

SLS: Na minha casa e em todo o lado. Recentemente alterei a casa de uns amigos belgas, que vivem na Ponta do Pargo, revirei tudo e eles apanharam um susto quando voltaram. O que fiz foi reorganizar tudo no bom sentido, não é que a casa estivesse desarrumada, mas uma pessoa fora desse ambiente consegue ver tudo com mais nitidez. O objectivo foi tornar mais eficiente um gesto quotidiano, por exemplo, eles têm cactos que em termos de rega não era eficaz, adaptei-o de forma a ser mais eficiente.

Mas, a decoração não é a tua única vertente. Também fabricas as tuas próprias bolachas orgânicas, doces, queijos etc. Retiras tudo do teu terreno?

SLS: Sim, a maioria. As bananas-prata não são minhas, mas são certificadas, provém de um amigo produtor na Ponta do Sol. Tiro proveito de tudo o que a ilha oferece. É uma terra maravilhosa. As pessoas, por vezes, não usufruem tudo o que ela tem para oferecer. O tecido madeira é fantástico, por exemplo. Foi tão explorado naquele padrão que é difícil retira-lo desse contexto, mas é interessantíssimo e temos que estar abertos para outro tipo de indumentárias, de aí ter feito uns cintos, acho que alterou e limpou essa imagem. Gosto de misturar e as pessoas tem-me transmitido um bom feedback nesse sentido.

Recentemente mostraste o teu trabalho numa feira. Achas que o público esta muito atento a estes novos conceitos?

SLS: Muito atento. Claro, que umas pessoas podem não aceitar, há sempre um mas, ou um se. Existe sempre uma interrogação. Actualmente, temos mais meios de ser nós próprios, divulgar e termos a certeza daquilo que estamos a afirmar. Há vinte anos atrás, ninguém sabia o que era uma casa de banho seca, mas já o fizemos. O caminho é este, contudo, estou consciente que não é uma trajectória para todos, claro que não. Por outro lado, porque não? O caminho passa por retomar o que sempre fizemos, pescar, caçar, plantar e colher. A sociedade desumanizou-se, eu inclusive, nesta loucura de vida. Quando parei, tentei observar o que estava à minha volta, tentei transmitir aos outros coisas boas, nem que seja agradável à vista. Mesmo que o meu projecto ficasse por aqui, senti que o tinha concretizado.

domingo, 30 dezembro 2012 19:29

A pioneira

O nome Guida Scarllaty ficará para sempre gravado na memória colectiva como uma das personagens míticas do travestimos em Portugal. Uma lenda da noite lisboeta que deslumbrava o público que assistia com as suas performances glamourosas e figurinos cheios de brilho que lhe granjearam fama internacional. Após dez anos de ausência, Carlos Ferreira, volta para o país que afinal nunca esqueceu verdadeiramente o seu inigualável alter-ego.

Começou uma carreira artística aos 16 anos, como é que se estreou?

Carlos Alberto Ferreira: Eu estava em belas artes, mas ao mesmo tempo fazia teatro na mocidade portuguesa e depois foi convidado pelo mestre ribeirinho para a companhia de teatro popular. Quando chega á altura de fazer a tropa, isso obriga-me a uma paragem, mas ao mesmo tempo serve para fazer uma reflexão do que tinha feito até o momento e que não era realmente aquilo de que gostava. Queria ter maior protagonismo e mais oportunidades no teatro, que na época eram muito difíceis e decidi continuar a estudar. Acabo o curso de arquitectura e começo logo a trabalhar. Deixo o teatro completamente. Ainda fiz cinema aos 19 anos, participei no filme “o crime da aldeia velha”, do mestre Manuel Guimarães e outros pequenos apontamentos.

Depois surge o 25 de Abril…

CAF: Veio a revolução de Abril estando eu numa empresa de construção de imóveis, que é praticamente encerrada, os quadros foram todos para o Brasil, eu era o arquitecto-chefe na área de decoração e senti-me abandonado. Achei que não já tinha ali cabimento, havia as comissões de trabalhadores, todos os dias era uma história nova, havia sempre um problema novo e eu não aguentei mais. Decido então recolher as minhas coisas todas e as pessoas perguntaram-me: onde vais? Eu disse, vou ali e já venho, até hoje! Passei uns sete meses sem trabalho, comecei a ficar preocupado e como tinha um dinheiro de reserva lembrei-me de abrir um bar, o Scarllaty Clube. Nessa altura contratei alguns amigos do teatro para fazerem a noite do cabaré, mas há uma célebre noite que um dos actores decide não participar e eu disse: Não há problema nenhum, o espectáculo faz-se na mesma. Fui para o camarim e como as roupas me serviam fiz todos os números. É nessa noite da passagem do ano de 1975 que nasce profissionalmente a Guida Scarllaty em Portugal. Antes já tinha feito no estrangeiro espectáculos de travesti e transformismo. No nosso país, nessa altura, era mal visto e eu resguardava-me um pouco. Depois do 25 de Abril, assumo essa faceta plenamente.

Porquê o nome Guida Scarllaty?

Guida Scarllaty: O meu primeiro nome é um diminutivo de Margarida, é o nome dado as miúdas de bairro, é popularucho. O sobrenome inspirei-me na personagem Scarlett O’Hara do filme “ E tudo o vento levou” que é uma mulher de grande caracter, queria associar o personagem a uma pessoa com garra, uma aventureira. Em termos de marketing foi muito importante, porque resultou estes anos todos.

O Scarllaty Clube é um sucesso. Todas as grandes personalidades de lisboa estão lá, tem sempre cada cheia e decide vender, porquê?

GS: Passei-o por uma questão de cansaço, na altura ao mesmo tempo que tinha o bar, estava no teatro de revista e fazia todos os dias, cinco espectáculos. Começava com as matinés as quatro da tarde, outra sessão às 20 horas e a última às 23 horas e depois ainda ia para o bar fazer um espectáculo à meia-noite e meia e outro a uma e meia de manhã. Atingi um tal grau de exaustão, que disse já não dá. Tive uma boa oportunidade para o passar, estava o clube no auge. Curiosamente, mas não foi agradável que isso tivesse acontecido, o bar não dava nada sem mim. As pessoas quatro anos depois de ter saído ainda iam procurar a Guida Scarllaty. O empresário que lá ficou acho que não aguentou e hoje o espaço é uma loja de antiguidades. Imagine!

domingo, 30 dezembro 2012 19:27

O lírico

Pedro Macedo Camacho é um jovem que divide a sua vida entre a engenharia e a composição de música para concertos e jogos. Aliás, é esta última actividade que lhe tem granjeado reconhecimento e alguns prémios ao nível internacional. Recentemente compôs um Requiem para Inês de Castro, interpretado pela Orquestra Clássica de Coimbra para coro, soprano e barítono.

Reparei que a tua carreira musical começou com bandas sonoras para jogos, como é que te surgiram essas oportunidades?

Pedro Macedo Camacho: Eu estudei composição clássica durante muitos anos e como gostava muitos de jogos, achei por bem criar banda sonoras para os jogos mais complexos, que necessitam mais do que uma mera faixa, porque envolve uma produção com equipas com mais de 100 elementos. São projectos mesmo em grande. Basicamente enviámos a nossa música, pessoas qualificadas ouvem-nos para o efeito e escolhem de um painel de 10 compositores de todo o mundo, os que tem qualidade para fazer uma demonstração, são novamente ouvidos e tomam uma decisão.

Como é que te candidatas, fazes uma pesquisa e depois envias os teus trabalhos?

PMC: Não, é convite por email. Ou porque de alguma forma eu os contactei para mostrar o meu portfólio, ou porque hoje em dia e já acontece ouviram falar de mim e decidem se pretendem contratar-me ou não.

Qual é o desafio que se coloca em termos musicais compor uma banda sonora para um jogo? É diferente de compor para um filme, por exemplo?

PMC: É igual, já fiz banda-sonoras para alguns filmes e para publicidade, mas dedico-me mais aos concertos e aos jogos. A única coisa em que diferem é que compor para um filme é linear, numa cena sei perfeitamente onde começa e acaba a música. Para os jogos nunca sabemos o que vai acontecer e o que o jogador vai fazer, porque é um sistema aberto, então temos de compor música para cada uma das possibilidade e criámos mecanismos para que a música se adapte ao jogador. Nunca sabemos como vai começar e como vai acabar. Temos de compor para cada uma das variáveis e para o pode acontecer.

Tens de jogar o jogo para perceber essa dinâmica?

PMC: Depende do projecto, uns tenho que jogar, outros basta uma descrição, um vídeo para que possa perceber qual é o ambiente e com a experiência adquirida já sei como tudo funciona.

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